CASO ISABELLA: INVESTIGAÇÃO SÉRIA OU SHOW PARA A IMPRENSA?
Investigação policial está sendo deturpada em razão da atração midiática. Delegado e Promotor envolvidos viraram atração nacional. Reconstituição do caso, anunciada pelo MP, promete ser um show
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
A mídia tem um magnetismo impressionante e poucas são as pessoas que não querem ter seus 15 minutos de fama. Afinal, quem não gostaria de aparecer como destaque principal do Jornal Nacional (JN) da TV Globo?
É isso que estamos vendo neste caso relacionado ao assassinato da pequena Isbella, que morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas na noite de sábado, 29 de março.
E o pior é que a 'oportunidade de aparecer' que a mídia está dando às autoridades envolvidas na investigação do caso pode ser prejudicial para a elaboração de um inquérito policial robusto e conclusivo.
Primeiro foi o Delegado, que corretamente observou que não houve acidente, mas um possível assassinato. Entretanto, no lugar de manter a discrição, 'atiçou' a imprensa e aproveitou a oportunidade para 'dar suas impressões pessoais' sobre o caso. Isso antes da perícia ter concluido seu trabalho de coleta de provas. Não é preciso dizer que os acusados viram, via TV, o que acontecia e, se forem mesmo responsabilizados pelo crime bárbaro, provavelmente tiveram tempo para alterar a cena do crime ou esconder provas.
A participação estelar do Delegado durou poucos dias. Na sexta (04/04) ele foi deixado de lado pela imprensa e um promotor de justiça foi alçado ao papel principal da investigação. O Jornal Nacional mostrou inclusive imagens do promotor visitando a cena do crime. Uma visita desnecessária pois quem visita o local do crime para colher provas são os peritos. A visita foi, obviamente, acompanhada por dezenas de fotógrafos e cinegrafistas. O Promotor parecia um astro, um desses cantores famosos. Só que no lugar de fans, quem gritava por ele eram os repórteres, ávidos por imagens decentes para publicação na mídia.
O pior e, mais constrangedor, foi mesmo a entrevista coletiva dada pelo promotor. Parecia que ele era, além de promotor, Delegado de Polícia. E não se furtou de emitir 'suas impressões' sobre o crime (veja abaixo os links para matérias relacionadas com a entrevista do promotor). Tudo isso sem que o inquérito policial esteja sequer próximo de ser concluído.
O show e a atração midiática são realmente irresistíveis.
Para comprovar a impressão de show em que o caso se transformou, esperem para ver a reconstituição do caso prometida pelo MP. Para ser fiel ao acontecido, ela deveria acontecer no período noturno. Mas isso não vai acontecer porque a noite a luz é péssima para as televisões e apenas os 'vultos' dos organizadores e participantes aparecerão nas telas. E tem mais. O dia vai ser cuidadosamente escolhido. A chuva que não se atreva a cair para atrapalhar o show.
Quem assistiu ao Jornal Nacional da última sexta ficou com a impressão de que o inquérito policial passou a ser conduzido pelo promotor de justiça. Suas intervenções na imprensa mais pareciam a de um Delegado de Polícia. Esperamos que seja apenas impressão pois promotor não pode conduzir investigação criminal.
Em 2002, Nelson Jobim, então ministro do STF, determinou arquivamento de pedido da Procuradoria-Geral da República para investigação sobre o então deputado José Dirceu (PT) porque, para o ministro, "a Constituição conferiu ao MP atribuição para requisitar inquéritos à polícia, mas não previu a possibilidade de os promotores fazerem o papel de policiais".
Diante disso, é bom que a imprensa não deixe de alertar a sociedade para não ficar chocada se o desfecho do caso na justiça vier a se arrastar por alguns anos. Bastam algumas falhas no inquérito policial para os advogados dos acusados começarem a interpor recursos que levarão anos para serem decididos. Ai todos vão dizer que a nossa justiça é lenta e incompentente. Será que é mesmo?
Imagens ilustrando o post: Print screen de matéria exibida no Jornal Nacional do dia 04/04 mostrando o Promotor de Justiça Francisco Cembranelli visitando a cena do crime. Vejam que haviam dezenas de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas cobrindo a visita do Promotor. Pura coincidência?
Matérias relacionadas:
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Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
A mídia tem um magnetismo impressionante e poucas são as pessoas que não querem ter seus 15 minutos de fama. Afinal, quem não gostaria de aparecer como destaque principal do Jornal Nacional (JN) da TV Globo?
É isso que estamos vendo neste caso relacionado ao assassinato da pequena Isbella, que morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas na noite de sábado, 29 de março.
E o pior é que a 'oportunidade de aparecer' que a mídia está dando às autoridades envolvidas na investigação do caso pode ser prejudicial para a elaboração de um inquérito policial robusto e conclusivo.
Primeiro foi o Delegado, que corretamente observou que não houve acidente, mas um possível assassinato. Entretanto, no lugar de manter a discrição, 'atiçou' a imprensa e aproveitou a oportunidade para 'dar suas impressões pessoais' sobre o caso. Isso antes da perícia ter concluido seu trabalho de coleta de provas. Não é preciso dizer que os acusados viram, via TV, o que acontecia e, se forem mesmo responsabilizados pelo crime bárbaro, provavelmente tiveram tempo para alterar a cena do crime ou esconder provas.
A participação estelar do Delegado durou poucos dias. Na sexta (04/04) ele foi deixado de lado pela imprensa e um promotor de justiça foi alçado ao papel principal da investigação. O Jornal Nacional mostrou inclusive imagens do promotor visitando a cena do crime. Uma visita desnecessária pois quem visita o local do crime para colher provas são os peritos. A visita foi, obviamente, acompanhada por dezenas de fotógrafos e cinegrafistas. O Promotor parecia um astro, um desses cantores famosos. Só que no lugar de fans, quem gritava por ele eram os repórteres, ávidos por imagens decentes para publicação na mídia.
O pior e, mais constrangedor, foi mesmo a entrevista coletiva dada pelo promotor. Parecia que ele era, além de promotor, Delegado de Polícia. E não se furtou de emitir 'suas impressões' sobre o crime (veja abaixo os links para matérias relacionadas com a entrevista do promotor). Tudo isso sem que o inquérito policial esteja sequer próximo de ser concluído.
O show e a atração midiática são realmente irresistíveis.
Para comprovar a impressão de show em que o caso se transformou, esperem para ver a reconstituição do caso prometida pelo MP. Para ser fiel ao acontecido, ela deveria acontecer no período noturno. Mas isso não vai acontecer porque a noite a luz é péssima para as televisões e apenas os 'vultos' dos organizadores e participantes aparecerão nas telas. E tem mais. O dia vai ser cuidadosamente escolhido. A chuva que não se atreva a cair para atrapalhar o show.
Quem assistiu ao Jornal Nacional da última sexta ficou com a impressão de que o inquérito policial passou a ser conduzido pelo promotor de justiça. Suas intervenções na imprensa mais pareciam a de um Delegado de Polícia. Esperamos que seja apenas impressão pois promotor não pode conduzir investigação criminal.
Em 2002, Nelson Jobim, então ministro do STF, determinou arquivamento de pedido da Procuradoria-Geral da República para investigação sobre o então deputado José Dirceu (PT) porque, para o ministro, "a Constituição conferiu ao MP atribuição para requisitar inquéritos à polícia, mas não previu a possibilidade de os promotores fazerem o papel de policiais".
Diante disso, é bom que a imprensa não deixe de alertar a sociedade para não ficar chocada se o desfecho do caso na justiça vier a se arrastar por alguns anos. Bastam algumas falhas no inquérito policial para os advogados dos acusados começarem a interpor recursos que levarão anos para serem decididos. Ai todos vão dizer que a nossa justiça é lenta e incompentente. Será que é mesmo?
Imagens ilustrando o post: Print screen de matéria exibida no Jornal Nacional do dia 04/04 mostrando o Promotor de Justiça Francisco Cembranelli visitando a cena do crime. Vejam que haviam dezenas de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas cobrindo a visita do Promotor. Pura coincidência?
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