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05 maio 2008

OS FRÁGEIS ARGUMENTOS EM FAVOR DA MUDANÇA DO FUSO HORÁRIO

Mário José de Lima
Economista

Lendo ou ouvindo os argumentos pró mudança do fuso horário, estou convencido que basta perguntar “por quê”, para verificar como são frágeis ou, por vezes, absolutamente incapazes de se ligarem ao assunto.

Vejamos, por exemplo, um desses argumentos, atribuído à senhora Leudah Figueiredo Gallo – gerente-geral da Agência Rio Branco Metropolitana do Banco da Amazônia [na página do Senador Tião Viana]. As passagens, abaixo, em itálico, são atribuídas à senhora Leudah.

“É uma atitude louvável do Senador e é uma mudança que vem ao encontro das reivindicações e dos anseios da maioria da população. Vamos ganhar com isso. Vamos ficar com apenas uma hora de defasagem em relação ao centro comercial, ao centro de negócios do País – Brasília, Rio, São Paulo – isso que dizer, Bolsa de Valores, Banco Central."

Como ela sabe que isto é um anseio da maioria da população se não ocorreu nenhuma consulta sobre esse tema? Será que ela tem uma bola de cristal?

Pois bem, ela afirma que a maioria da população se beneficiará da mudança. Quantas pessoas no Acre necessitam contatar o Banco Central? Quantas realizam negócios com o centro de negócios do país? Quantas operam com a Bolsa de Valores (deve ser a de São Paulo)?

Negócios financeiros podem ser realizados através da rede mundial de computadores. É possível um operador realizar negócios com Tóquio, Frankfurt, Hong Kong, etc. Existirão muitos operadores entre a população de Rio Branco ou do Acre?

E, finalmente, para que mudar o fuso horário visando resolver uma questão que exige apenas técnicas de agendamento? Por que é necessário que todos os membros da população acordem ainda escuro para que alguém, por volta das oito horas da manhã, realize um telefonema ou troque algumas mensagens via Internet?

"Também haverá um ganho muito grande em relação às viagens, pois, atualmente para sair daqui do Estado, só se tem vôos noturnos. Se a gente tem uma reunião na segunda-feira tem que viajar no sábado, senão perde o início das reuniões."

A questão de marcar viagens compatibilizando a hora da chegada no local e no horário previsto para início da reunião, em São Paulo, por exemplo, depende do fuso horário ou depende da distância que estamos de São Paulo e da velocidade dos aviões disponíveis? [meu comentário: falta força política para obrigar as empresas a estabelecer vôos em horários mais adequados]

A mudança do fuso horário mudará o tempo de viagem ou realizará a mágica aproximação física do Acre aos centros de negócios? (Há quem não viaje de avião e necessite transporte terrestre; imagina a mudança do fuso horário que seria necessário).

"Outro ganho muito grande será em relação aos programas disponíveis nos canais de televisão. Principalmente, no que diz respeito ao indevido acesso de crianças e adolescentes a programas adultos. Pais e mães que, como eu, trabalham fora, não têm muito tempo para estar em casa, observando o que seus filhos estão assistindo na TV."

Ôpa! Parece que ela chegou a um ponto interessante. Segundo a imprensa nacional, foi a necessidade do remanejamento da programação das redes, ou seja, a necessidade de cumprir a classificação indicativa exigida pelo Ministério da Justiça que fez as redes de tv lançarem uma forte campanha – prática de lobby – pela aprovação da mudança do fuso horário pelo senado federal.

A tal incompatibilidade da exibição de programas precisaria da mudança do fuso horário para cumprir a indicação do Ministério da Justiça? Não.

Caberia às redes de TV aplicarem o mesmo critério de investimentos que adotam quando realizam a montagem das demais estações repetidoras da rede. Não precisa que a totalidade da população do Acre acorde, ainda escuro, para isso.

Imagem: capa do documento que sintetiza o projeto de mudança do fuso horário acreano, de autoria do Senador Tião Viana. Clique na figura para baixar a versão em PDF do documento. Ele contém várias manifestações favoráveis à mudança.