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30 julho 2008

OS GANHOS DO BRASIL COM A REDUÇÃO DOS SUBSÍDIOS AGRÍCOLAS AMERICANOS

Trabalho premiado de professor da UFSCar calcula impacto no agronegócio brasileiro de eventual redução dos subsídios agrícolas nos Estados Unidos. Produção poderia aumentar em até R$ 5 bilhões, com queda nos preços internos de produtos

Barreiras ao crescimento

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Um estudo realizado pelo professor Adelson Martins Figueiredo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), calculou os impactos que uma eventual redução nos subsídios agrícolas norte-americanos teria sobre o agronegócio brasileiro.

Os resultados mostraram que sem subsídios a cada ano o país poderia aumentar sua produção agrícola em até R$ 5 bilhões e elevar as exportações em pelo menos R$ 220 milhões. Além disso, diversos produtos teriam preço reduzido no mercado interno – em até 4,5% no caso da soja e 4% no caso do algodão.

A tese, defendida em 2007 na Universidade Federal de Viçosa (MG), recebeu na semana passada o prêmio Edson Potsch Magalhães 2008, concedido pela Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural.

De acordo com o pesquisador, que leciona no Departamento de Economia da UFSCar, no campus de Sorocaba (SP), o estudo confirmou um modelo teórico que sugere que a política de subsídios causa um aumento de produção agrícola nos Estados Unidos e, conseqüentemente, uma elevação dos excedentes exportáveis do país.

“Para os norte-americanos, isso reduz a necessidade de importação e possibilita a exportação dos excedentes, derrubando os preços do mercado internacional. O resultado é que o Brasil vende menos e por um preço menor”, disse Figueiredo à Agência FAPESP.

Para chegar aos resultados, o pesquisador montou um modelo econômico – o Modelo Aplicado de Equilíbrio Geral – e fez simulações das reduções dos subsídios de acordo com as propostas que foram apresentadas na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que foi iniciada em novembro de 2001 com o objetivo de reduzir barreiras comerciais em todo o mundo.

Segundo Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, a Rodada de Doha, que leva esse nome por ter começado na capital do Qatar, fracassou definitivamente nesta terça-feira (29/7), após nove dias de negociações na sede da organização em Genebra, Suíça, que tentaram quebrar a paralisia em que se encontravam as conversas, mas mais uma vez não levaram a acordo algum.

Ganho per capita

“Se os Estados Unidos adaptassem suas metas às propostas da Rodada de Doha, haveria um impacto dramático em seus setores agrícola e agroindustrial. A produção de soja seria reduzida de 6% a 7% e a de milho cairia em até 12%. Outros setores agrícolas teriam redução de 3% a 4%”, disse Figueiredo.

A simulação feita mostra um efeito positivo na produção brasileira. Haveria um aumento de 4% a 5% na produção de soja e de 2,5% a 3,5% na de milho. Outros produtos agroindustriais teriam crescimento entre 2% e 2,5%. De acordo com o pesquisador, esse crescimento seria equivalente a um aumento da produção brasileira que poderia ir de R$ 3 bilhões a R$ 5 bilhões por ano.

“Analisamos apenas o aumento de produção no Brasil, mas certamente haveria um aumento significativo também em outros países exportadores, como Argentina e Chile. Por outro lado, as perdas para os Estados Unidos não podem ser consideradas tão grandes”, disse.

As perdas para a produção norte-americana só seriam de fato significativas, segundo os cálculos feitos por Figueiredo, se a redução dos subsídios superasse os US$ 10 bilhões. Acima disso, haveria queda tanto no Produto Interno Bruto (PIB) como no bem-estar das famílias norte-americanas. “E eles estão apresentando justamente uma proposta de reduzir seus subsídios dos atuais US$ 25 bilhões para US$ 15 bilhões”, comentou o pesquisador.

De acordo o pesquisador, há diversas formulações matemáticas utilizadas para medir variações no bem-estar de uma sociedade. Na tese, foi utilizada a “estimativa da variação equivalente”, que é a quantia adicional de renda necessária para manter inalterado o nível de bem-estar dos consumidores quando há uma mudança causada por algum motivo adverso.

Segundo ele, uma redução dos subsídios em até US$ 3,51 bilhões elevaria o bem-estar das famílias norte-americanas, compensando a contração do PIB. Entretanto, com reduções superiores a esse valor, os ganhos de bem-estar não compensariam as quedas no PIB.

Na tese, o economista mediu também o custo social das políticas norte-americanas de subsídios, avaliando, caso eles fossem reduzidos, qual seria o ganho per capita para o Brasil. “A redução promoveria aumentos de R$ 7,71 a R$ 9,58 no PIB per capita e de R$ 4,86 a R$ 6,08 no bem-estar per capita”, disse.

Os impactos nas exportações também foram quantificados. “O Brasil aumentaria suas exportações de produtos agrícolas em, no mínimo, R$ 220 milhões por ano, caso fossem adotadas as metas propostas na OMC”, disse, acrescentando que 40% das exportações brasileiras são provenientes das vendas externas de produtos agroindustriais.

Para Figueiredo, o estudo demonstra que a redução dos subsídios agrícolas nos países ricos é de grande relevância para o Brasil, elevando produção e exportações e tornando o país mais competitivo no comércio internacional.

“Não esperamos que os Estados Unidos reduzam a taxa de subsídios de todos os seus produtos. Mas é preciso que a redução seja feita em relação a produtos apontados como essenciais pela OMC, como a soja, o milho e o algodão”, afirmou.