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18 novembro 2008

BARATAS: COMO ESCOLHEM O CAMINHO DE FUGA DE POSSÍVEIS PREDADORES?

Experimentos feitos com baratas da espécie Periplaneta americana mostram que esses insetos escolhem, aparentemente ao acaso, uma entre várias rotas preferidas para fugir de seus predadores

A fuga das baratas: rota escolhida por esses insetos para fugir de predadores é imprevisível, mostra estudo

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line

Quem nunca passou pela situação desagradável de entrar na cozinha no meio da noite e se deparar com uma barata? O pior é que, ao perceber nossa presença, esses seres parecem ter o incrível talento de traçar minuciosas rotas de fuga, iniciando uma verdadeira caçada.

Na verdade, as baratas escolhem, aparentemente ao acaso, um entre vários caminhos preferidos para fugir de seus predadores, como mostra pesquisa publicada esta semana na revista Current Biology.

Quando as baratas sentem um movimento súbito de ar, como o gerado pela aproximação de um predador, a direção escolhida por elas para fugir pode obedecer a uma ampla variação de ângulos a partir da orientação original de seu corpo. Para verificar se essa escolha segue um padrão, uma equipe liderada por Paolo Domenici, do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália, submeteu baratas da espécie Periplaneta americana – muito comum no Brasil – a repetidos testes em que os insetos tinham que escapar de ameaças simuladas.

Primeiro, os pesquisadores filmaram individualmente as respostas de fuga de cinco baratas que receberam de 75 a 93 estímulos de vento de variadas direções. As baratas reagiram se virando e, depois, seguindo uma trajetória em linha reta.

Os resultados mostraram que as baratas escapam de ataques correndo ao longo de rotas preferidas, nenhuma delas voltada para a ameaça original. Os caminhos são fixados em relação ao estímulo externo, e não à posição do corpo dos insetos. “As baratas tendem a escolher uma entre quatro trajetórias principais, afastadas do local do ataque a ângulos de aproximadamente 90, 120, 150 ou 180 graus”, diz Domenici à CH On-line.

Quando sentem a aproximação de um predador, as baratas se viram e tendem a escolher uma trajetória de fuga orientada em um ângulo de 90 a 180 graus do ponto do ataque (seta cinza). Reprodução / Current Biology.

Em novos experimentos feitos com 86 baratas surpreendidas uma única vez, a equipe confirmou que o padrão individual é compartilhado por todos os indivíduos da colônia. Os pesquisadores também analisaram dados de outros laboratórios (com populações de baratas diferentes) e verificaram que todas parecem ter trajetórias preferidas de fuga, mas essas rotas podem variar dependendo da colônia.

Estratégia de sobrevivência

[Quando sentem a aproximação de um predador, as baratas se viram e tendem a escolher uma trajetória de fuga orientada em um ângulo de 90 a 180 graus do ponto do ataque (seta cinza). Reprodução / Current Biology.]

Segundo Domenici, esse comportamento seria uma estratégia vantajosa contra a predação, pois tem a variabilidade necessária para manter a incerteza do predador. “Não é possível prever completamente qual das muitas trajetórias a barata vai seguir, uma vez surpreendida”, explica. “Acreditamos que esse comportamento seja suficientemente imprevisível para evitar que os predadores aprendam qualquer padrão particular de fuga.”

Os pesquisadores ainda não sabem exatamente como as baratas administram esse processo em escala neural. “Será preciso revisar as bases neurobiológicas do comportamento de fuga das baratas”, diz Domenici. A abordagem usada pelo grupo pode ser aplicada a outros animais, já que a alta variabilidade de trajetórias de fuga é uma característica comum. “Isso permitirá a construção de uma teoria mais geral sobre como os animais geram imprevisibilidade para escapar de seus predadores.”

Por enquanto, caro leitor, se você se deparar com uma barata e quiser matá-la, fica a dica: elas escolhem uma rota de fuga dentro de um ângulo de 90 a 180 graus em relação ao ataque. “Esse poderia ser o local para onde mirar, embora nós gostemos de baratas e recomendemos não esmagá-las”, aconselham os pesquisadores.

Foto: Wikimedia Commons