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29 janeiro 2009

FORMIGAS E O RISCO DE INFECÇÃO HOSPITALAR

Presença de formigas em ambiente hospitalar pode representar risco de infecções, segundo estudo publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Pesquisadores isolaram, em animais coletados, 208 microorganismos como bactérias fungos e leveduras

Infestação perigosa

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – As formigas, animais cujo comportamento é frequentemente associado aos modelos de organização social humana, adaptam-se facilmente aos ambientes urbanos. Essa característica, no entanto, vem despertando a atenção de pesquisadores por representar um risco à saúde: um novo estudo, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, demonstra que as formigas podem ser veiculadoras de microrganismos em ambiente hospitalar.

O estudo teve o objetivo de isolar e identificar os microrganismos associados às formigas em ambiente hospitalar e os resultados apontaram que as formigas coletadas apresentaram alta capacidade de veiculação de grupos de microrganismos.

De acordo com a professora do Instituto Básico de Biociências da Universidade de Taubaté Mariko Ueno – coautora do artigo ao lado de Rogério dos Santos Pereira, do Departamento de Biologia –, uma das grandes dificuldades para o controle da densidade populacional de formigas em ambientes urbanos é o fato de que elas não são normalmente reconhecidas como agentes veiculadores de doenças em potencial.

“As formigas transitam, de maneira geral, por lugares limpos, o que faz com que não se pense no fato do real perigo que elas representam” disse Mariko à Agência FAPESP.

A pesquisa aponta que a estrutura arquitetônica, a proximidade de residências, as interferências climáticas e as oscilações térmicas são alguns dos fatores que influenciam a presença de formigas nos hospitais.

Os pesquisadores coletaram 125 formigas, todas da mesma espécie, em diferentes unidades de um Hospital Universitário. Cada formiga foi coletada com um swab – instrumento usado para a coleta de material microbiológico em laboratórios de análises clínicas –, embebida em solução fisiológica e transferida para um tubo com um meio de cultura de microrganismos composto de caldo BHI (Infusão de cérebro e coração, na sigla em inglês). Ali, os animais ficaram incubados a 35 graus Celsius por 24 horas.

Os resultados apontam que 98,40% das amostras coletadas apresentaram crescimento. Foram isolados 208 microrganismos, como bacilos Gram positivos, bacilos Gram negativos, cocos Gram positivos, leveduras e fungos filamentosos.

Segundo a pesquisadora, os testes comprovam o que estudos feitos anteriormente descreviam. “A porcentagem de 98,40% é um fator contundente na possibilidade de veiculação mecânica e ou biológica de microrganismos”, afirma.

Ela alerta que a descoberta, associada às características biológicas, torna as formigas “potenciais veiculadores de microrganismos e sua infestação em ambiente hospitalar constitui um risco à saúde pública”.

Atualmente, segundo o estudo, as enterobactérias e a bactéria Staphylococcus coagulase negativa são os maiores responsáveis por infecções hospitalares.

“É grande a variedade de espécies encontradas. E esse fato pode ser explicado devido à grande versatilidade na exploração e capacidade de disseminação desses organismos, que se caracterizam por apresentar ampla distribuição geográfica”, acrescenta Mariko.

Nas últimas décadas, segundo a pesquisadora, as infecções por fungos oportunistas têm emergido como as grandes responsáveis pelo aumento dos casos de morbidade e mortalidade de pacientes imunodeprimidos, tendo como principal causa a Aspergillus spp.

De acordo com a professora, é possível associar as formigas aos fungos devido ao ambiente explorado por esses insetos, “onde coincidem as condições físico-químicas propícias para a proliferação desses microrganismos”.

“Essas condições de associação são muitas vezes criadas pelas formigas de forma a conseguir benefícios, oferecendo situação propícia para a proliferação de fungos de modo geral, devido à semelhança da biologia desses microrganismos”, diz.

O conhecimento e a constatação dessas associações, afirma, podem ser considerados um grande problema para a sociedade tendo em vista a grande capacidade de adaptação das formigas ao ambiente urbano, pois elas potencializam a capacidade de dispersão dos fungos.

“Tanto de forma mecânica, transportando partículas de ambientes contaminados para locais ou objetos não contaminados, como de forma biológica, atuando como um reservatório de fungos patogênicos ao homem”, explica Mariko.

Segundo o estudo, levantamentos realizados em 12 hospitais do Estado de São Paulo revelam infestação por formigas, apresentando maior índice nos berçários e nas unidades de terapia intensiva (UTI). Os resultados apontaram que 16,5% das formigas coletadas apresentavam bactérias patogênicas.

De acordo com a professora, as formigas possuem capacidade de se deslocar rapidamente e normalmente percorrem extensas áreas. “Além de constituir vetores de microrganismos em ambientes intra-hospitalares, elas agem também como importantes vias de dispersão de resistência a drogas nesses ambientes.”

Para ler o artigo Formigas como veiculadoras de microorganismos em ambiente hospitalar, de Rogério dos Santos Pereira e Mariko Ueno, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.

(Foto: Fiocruz)