MOTOQUEIROS SUICIDAS
Interior de Pernambuco tem alto índice de acidentes por motocicleta. O uso da motocicleta como meio de trabalho contribuiu para o aumento do número de acidentes
Rita Vasconcelos
Agência Fiocruz de Notícias
Quase 36 mil mortos por ano e mais de 513 mil feridos. Estes números não são de um território em guerra. São dados relativos aos acidentes de trânsito no Brasil, apenas no ano de 2005. Neste cenário, uma personagem vem contribuindo para elevar esses números: a motocicleta. Em Pernambuco a situação não é diferente. No estado, no período de 2000 a 2005, 1.366 pessoas morreram vítimas de acidentes com motos. Neste intervalo de tempo, o número de óbitos por acidentes com moto pulou de 173, em 2000, para 293 casos, em 2005, um aumento de 70%.
Quando se observa a relação entre o número de mortos e o número de habitantes por município, a ocorrência de acidentes fatais por motocicletas se concentra no interior do estado e não na Região Metropolitana do Recife (RMR), detentora da maior frota e população. A constatação foi feita pelo Laboratório de Estudos em Violência e Saúde (Leves) da Fiocruz Pernambuco, que estuda a distribuição espacial de acidentes com motos ocorridos no estado.
São consideradas zonas críticas pelos estudiosos os municípios pernambucanos de Ouricuri, Trindade e Ipubi, no Sertão; Serra Talhada, Santa Cruz da Baixa Verde, Triunfo, Calumbi e Betânia, na região do Sertão do Pajeú; Petrolina, Afrânio e Lagoa Grande, no Sertão do São Francisco; e Brejo, Tacaimbó, São Caetano, Saloá e Bom Conselho, na região Agreste.
A falta de planejamento de tráfego e de transporte para as vias públicas, com sinalização e circulação adequada para esse meio de transporte que substituiu o cavalo, o burro e a carroça, entre outros meios de transporte animal, a falta de uma fiscalização mais efetiva do porte da carteira de motorista e dos equipamentos de proteção individual, como o capacete, são alguns dos fatores atribuídos pelos pesquisadores para explicar o fenômeno. O aumento do uso da motocicleta como meio de transporte e de trabalho, principalmente por motoboys e por mototaxistas, e a falta de educação para o trânsito e demais condicionantes para um pilotar seguro também são apontados como fatores que contribuem para o crescente número de acidentes envolvendo motociclistas no interior.
Embora a frota de motocicletas, em Pernambuco, também tenha crescido consideravelmente (144% entre 2001 e 2005), Paul Nobre, um dos autores do estudo, explica que, por si só, a relação entre o aumento de motos circulando e o aumento do número de acidentes fatais não é condicionante para o crescimento do número de mortes. Ele exemplificou comparando os índices de vítimas fatais a cada 100 mil veículos no Brasil com os índices nos Estados Unidos, em 2005. Nesse ano, a população brasileira era de 182,2 milhões de pessoas. Dessas, mais de 36 mil morreram em decorrência de acidentes de trânsito (incluindo todo tipo de veículo).
Com uma frota de 42 milhões de veículos circulando no país, isto significou que, para cada 100 mil veículos, 85 pessoas morreram vítimas de acidentes de trânsito. Já nos EUA, no mesmo período, com uma população estimada de 296,4 milhões de pessoas e uma frota bem maior, com 245,6 milhões de veículos, o número de vítimas fatais foi de 43.400 pessoas. O que significa que para cada 100 mil veículos circulando nos EUA, o número de vítimas fatais em acidentes de trânsito foi de 18 pessoas.
Para Nobre, a diferença nos dois cenários está nos hábitos e fatores culturais. "Os americanos têm mais intimidade com os veículos e mais noção de risco", explicou. Ele acredita que há uma correlação direta entre exclusão social e o número de óbitos "A violência, inclusive no trânsito, tem raízes de ordem socioeconômica. Falta acesso à escola, à saúde, à informação", sentenciou.
(Foto: Carlos Augusto/Prefeitura do Recife)
Rita Vasconcelos
Agência Fiocruz de Notícias
Quase 36 mil mortos por ano e mais de 513 mil feridos. Estes números não são de um território em guerra. São dados relativos aos acidentes de trânsito no Brasil, apenas no ano de 2005. Neste cenário, uma personagem vem contribuindo para elevar esses números: a motocicleta. Em Pernambuco a situação não é diferente. No estado, no período de 2000 a 2005, 1.366 pessoas morreram vítimas de acidentes com motos. Neste intervalo de tempo, o número de óbitos por acidentes com moto pulou de 173, em 2000, para 293 casos, em 2005, um aumento de 70%.
Quando se observa a relação entre o número de mortos e o número de habitantes por município, a ocorrência de acidentes fatais por motocicletas se concentra no interior do estado e não na Região Metropolitana do Recife (RMR), detentora da maior frota e população. A constatação foi feita pelo Laboratório de Estudos em Violência e Saúde (Leves) da Fiocruz Pernambuco, que estuda a distribuição espacial de acidentes com motos ocorridos no estado.
São consideradas zonas críticas pelos estudiosos os municípios pernambucanos de Ouricuri, Trindade e Ipubi, no Sertão; Serra Talhada, Santa Cruz da Baixa Verde, Triunfo, Calumbi e Betânia, na região do Sertão do Pajeú; Petrolina, Afrânio e Lagoa Grande, no Sertão do São Francisco; e Brejo, Tacaimbó, São Caetano, Saloá e Bom Conselho, na região Agreste.
A falta de planejamento de tráfego e de transporte para as vias públicas, com sinalização e circulação adequada para esse meio de transporte que substituiu o cavalo, o burro e a carroça, entre outros meios de transporte animal, a falta de uma fiscalização mais efetiva do porte da carteira de motorista e dos equipamentos de proteção individual, como o capacete, são alguns dos fatores atribuídos pelos pesquisadores para explicar o fenômeno. O aumento do uso da motocicleta como meio de transporte e de trabalho, principalmente por motoboys e por mototaxistas, e a falta de educação para o trânsito e demais condicionantes para um pilotar seguro também são apontados como fatores que contribuem para o crescente número de acidentes envolvendo motociclistas no interior.
Embora a frota de motocicletas, em Pernambuco, também tenha crescido consideravelmente (144% entre 2001 e 2005), Paul Nobre, um dos autores do estudo, explica que, por si só, a relação entre o aumento de motos circulando e o aumento do número de acidentes fatais não é condicionante para o crescimento do número de mortes. Ele exemplificou comparando os índices de vítimas fatais a cada 100 mil veículos no Brasil com os índices nos Estados Unidos, em 2005. Nesse ano, a população brasileira era de 182,2 milhões de pessoas. Dessas, mais de 36 mil morreram em decorrência de acidentes de trânsito (incluindo todo tipo de veículo).
Com uma frota de 42 milhões de veículos circulando no país, isto significou que, para cada 100 mil veículos, 85 pessoas morreram vítimas de acidentes de trânsito. Já nos EUA, no mesmo período, com uma população estimada de 296,4 milhões de pessoas e uma frota bem maior, com 245,6 milhões de veículos, o número de vítimas fatais foi de 43.400 pessoas. O que significa que para cada 100 mil veículos circulando nos EUA, o número de vítimas fatais em acidentes de trânsito foi de 18 pessoas.
Para Nobre, a diferença nos dois cenários está nos hábitos e fatores culturais. "Os americanos têm mais intimidade com os veículos e mais noção de risco", explicou. Ele acredita que há uma correlação direta entre exclusão social e o número de óbitos "A violência, inclusive no trânsito, tem raízes de ordem socioeconômica. Falta acesso à escola, à saúde, à informação", sentenciou.
(Foto: Carlos Augusto/Prefeitura do Recife)
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