Google
Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

02 abril 2009

LINHA DO TUCUM PARA A PRODUÇÃO DE ARTESANATO NA AMAZÔNIA

Projeto Linha do Tucum já é realidade na comunidade Estorrões, município de Ipixuna-AM. Em breve deve chegar a Rodrigues Alves e Cruzeiro do Sul, no Acre.

Déborah Minardi

A atividade do artesanato, confeccionado a partir da extração de produtos florestais não madeireiros, representa uma alternativa ambientalmente sustentável e economicamente viável de obtenção de renda para diversas famílias encravadas na floresta. Além disso, pode promover o resgate de antigas tradições aprendidas, a partir do contato com tribos indígenas, pelas primeiras gerações de seringueiros que começaram a habitar o território amazônico e que estão em vias de serem extintas.

A necessidade de se recuperar a linha do tucum foi detectada no momento em que o artesanato começou a depender da utilização de linhas de nylon e estruturas de metal que eram trazidas do sudeste num processo demorado e dispendioso, fora da proposta sustentável do artesanato amazônico. As próprias artesãs não gostavam de trabalhar com esse tipo de linha por não acharem o acabamento bonito. Apenas cinco mulheres antigas na comunidade conhecem o processo que envolve a fiação, ficando o artesanato comprometido com a dependência do fio de nylon vindo de São Paulo.

Dessa forma, o uso da linha do Tucum na confecção do artesanato, além de promover o resgate do conhecimento tradicional da comunidade, representa também um diferencial na produção artesanal, agregando valor cultural e econômico ao trabalho dos artesãos da Vila Ecológica Céu do Juruá.

Durante o mês de fevereiro de 2009, integrantes do IECAM (Instituto de Estudos da Cultura Amazônica) juntamente com parceiros do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, acompanharam a viagem do líder comunitário Alfredo Gregório de Melo, até a Vila Ecológica Céu do Juruá, onde está sendo desenvolvido o projeto Linha do Tucum Artesanato Amazônico, patrocinado pela Petrobras através da lei de incentivo à cultura do Ministério da Cultura. A comunidade situa-se no município de Ipixuna-AM. Descendo de barco pelo Juruá, segue-se até o seringal Adélia, aportando na colocação conhecida como Estorrões.

O objetivo do projeto é resgatar e valorizar o artesanato caboclo na arte da fiação da linha do tucum e de outras palmeiras nativas da floresta amazônica, viabilizando a sustentabilidade econômica da comunidade extrativista através da comercialização dos produtos artesanais, e do manejo adequado dos recursos naturais.

Pesquisadores do IECAM, afirmaram durante a viagem que os objetivos do projeto já começaram a ser atingidos. Desde outubro de 2008, quando o projeto Linha do Tucum foi iniciado na comunidade, foi implantada uma oficina-escola de artesanato que conta com uma casa de máquinas para beneficiamento das sementes e com uma oficina de criação e montagem do artesanato. As sementes já começaram a ser beneficiadas, com destaques para o açaí, o patoá e o buriti. A construção da estrutura da oficina-escola foi possibilitada pela mobilização de toda a comunidade que se organizou em mutirões para a realização do trabalho.

As oficinas de fiação da palmeira tucum se desenvolvem nos encontros semanais das mãe-fiadeiras com suas alunas. Já foram produzidos cerca de 5 quilos de linha e alguns artefatos, como redes de dormir, bolsas, a partir de novas técnicas de trançados. Paralelo a isso acontecem os trabalhos de educação ambiental com aulas de ecologia na escola e oficinas de agrofloresta para jovens e adultos. Esse trabalho é considerado fundamental para estimular o manejo sustentável das espécies utilizadas no artesanato. Nesse sentido o botânico Alexandre Quinet, representante do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em conjunto com integrantes da UFAC iniciaram a capacitação de jovens da comunidade na identificação, coleta, reprodução e armazenamento dos produtos florestais não-madeireiros utilizados como matéria-prima do artesanato.

As trocas de informações sobre beneficiamento de sementes e técnicas de manejo do Tucum com outras comunidades ligadas à vila é um fator relevante para a elaboração de um livro cartilha, que está sendo produzido através de registro da história oral, fotos e pesquisa etnobotânica. Essas informações reunidas são muito úteis para a população local que já vem utilizando o artesanato como fonte de renda. Segundo Vera Fróes, historiadora e coordenadora do projeto, é essencial aliar o uso à conservação das espécies, valorizando a biocultura local que faz parte do patrimônio imaterial das comunidades envolvidas.

Após a saída equipe dos Estorrões, permaneceu uma monitora na comunidade para prestar suporte às oficinas de artesanato e ao trabalho de alfabetização do grupo de mulheres fiadeiras coordenadas pelo professor José dos Reis.

Sobre o IECAM

O IECAM - Instituto de Estudos da Cultura Amazônica, com sede no bairro de Vargem Grande em Teresópolis, realiza desde de 1992 cursos, oficinas e projetos voltados para a preservação da flora brasileira e para o cultivo agroecológico das plantas medicinais. As pesquisas realizadas são voltadas para o diálogo entre o conhecimento popular e científico, buscando ressaltar a importância das comunidades tradicionais na preservação dos ecossistemas brasileiros.

Equipe técnica e funções:

Vera Fróes – Coordenadora Técnica /Historiadora
Alexandre Quinet – Botânico Consultor
Regina Abreu – Antropóloga Consultora
Maria Arlete Maciel – Mestra-Artesã
Gabriel Domingues –Pesquisador/ Mestrando em Ecologia
Nina Lys de Abreu Nunes – Pesquisadora Assistente
Déborah Minardi – Assessoria de Comunicação
Veraluz Imperial – Estagiária
José Francisco de Oliveira – Coordenador de Artesanato na Comunidade

Crédito das imagens: Nina Lys de Abreu Nunes