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18 agosto 2009

O ANDAR DE CIMA FAZ A FESTA PARA MARINA

Blog do Tales Faria
Jornal do Brasil

Há muito tempo não se vê uma candidatura presidencial surgir com apenas 3% dos votos e ser tão saudada pela imprensa, como o possível lançamento do nome da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Algo parecido, talvez, tenha sido o aparecimento de Guilherme Afif Domingues em 1989, acho que pelo PL. A turma do andar de cima ficou eufórica com o Afif, mas, como ele não emplacou, tentou-se o “choque de capitalismo” do tucano Mario Covas e, depois, houve o embarque na canoa de Fernando Collor de Mello.

Neste fim de semana, mal surgiram as especulações de que Marina deverá sair do PT para o PV, ela já foi capa das revistas Época e IstoÉ. Na primeira, adianta-se simplesmente a possibilidade de a moça ocupar o Palácio do Planalto, sob o título Marina presidente?. Na segunda, a chamada da primeira página, ao lado da foto da provável candidata, festeja: O Brasil não é só PT e PSDB.

A bem da verdade, no plano regional, a candidatura de Fernando Gabeira a prefeito do Rio, curiosamente pelo PV, também teve o apoio entusiástico e imediato dos mesmos que agora comemoram o nome de Marina. E, de fato, Gabeira cresceu durante a campanha até chegar ao segundo turno. Não é improvável que Marina também cresça, embora não seja seguro apostar que ela ultrapasse o candidato tucano, José Serra, ou a preferida do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), nem mesmo outra alternativa do campo governista, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE).

Segundo pesquisas do Datafolha divulgadas neste fim de semana, Serra continua liderando a disputa, com 37% das intenções de voto do eleitorado; Dilma conta com 16% e Ciro, com 15%. Acima de Marina estaria ainda a ex-senadora Heloísa Helena, do PSOL, com 12% da preferência dos entrevistados. Então por que tanta festa em torno de Marina Silva?

Porque o andar de cima aposta que a entrada da candidata ecológica, antes de mais nada, preenche o vazio de uma candidatura feminina na oposição, em contraponto à governista Dilma, já que a expectativa é que Heloísa Helena se volte para Alagoas. Uma substituição até bem mais palatável para os conservadores do que a ex-senadora alagoana. A ecologia deixou de ser um tema de propriedade da esquerda, como foi nos anos 60 e 70, e passou a transitar por todas as ideologias. O PV de São Paulo, por exemplo, é dominado por políticos de direita acusados de fisiologismo, Gabeira teve o apoio do DEM, o líder do partido na Câmara é o deputado Sarney Filho (MA).

Também porque a candidatura de Marina, mesmo que não chegue a lugar algum, parece ter grande potencial para conquistar votos no campo das esquerdas. Mas, principalmente, porque o aparecimento de Marina embaralha um jogo que estava se encaminhando para o desenho proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva: eleições polarizadas entre Dilma e Serra apenas, o que tornaria a campanha plebiscitária. Nesse quadro, o Palácio do Planalto tem apostado que o grande tema a ser posto na mesa seria a comparação entre o governo Lula e o governo anterior, do tucano Fernando Henrique Cardoso.

Segundo o Datafolha deste fim de semana, a avaliação do governo Lula está em 67% para ótimo/bom, 25% para regular e apenas 8% para ruim/péssimo. Em outubro de 2002, o Datafolha captou uma avaliação positiva (ótimo/bom) do governo Fernando Henrique Cardoso em apenas 23% dos entrevistados.

Ou seja, a polarização apontaria para uma luta desigual, uma verdadeira surra, creem os lulistas. Mas bastou Marina Silva aparecer, e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) voltou a colocar sua candidatura na rua, declarando que está mesmo mais propenso a disputar a Presidência da República do que o governo de São Paulo, e que, se Marina “aceitar a convocação do PV, ela implode a candidatura da Dilma”. Não é certo que imploda a candidatura Dilma, mas tem tudo para implodir a tese da polarização.

Mas fica uma pergunta no ar: e o outro lado? Marina rouba votos da esquerda, mas também rouba votos entre eleitores do PSDB e do DEM. Sua permanência na disputa, junto com Ciro Gomes, praticamente garante que haverá um segundo turno, em que inevitavelmente a campanha se polariza. Ou seja, estaria-se apenas adiando a polarização. Mais nada.