UM DIA SEM COMER CARNE FAZ DIFERENÇA?
Notícias do Dia IHU
Surgido nos Estados Unidos, movimento que procura diminuir o consumo de carne ganha adeptos em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. A reportagem é de Jennifer Koppe e está publicada no jornal Gazeta do Povo, 26-08-2009.
Um dia por semana sem comer carne pode ajudar a combater o aquecimento global. É o que afirmam os engajados na campanha Meatless Monday (“Segunda sem Carne”), movimento que surgiu nos Estados Unidos em 2003, com o objetivo de incentivar as pessoas a consumir menos carne.
Segundo um estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), as emissões de gases de efeito-estufa – como o dióxido de carbono, o metano e o óxido de nitrato – associadas à cadeia de produção da carne representam um quinto das emissões totais mundiais. Cerca de 18% das emissões provêm do desmatamento para a criação de pastagens, do transporte da carne, do processamento industrial do alimento e do sistema digestivo dos bovinos. “Calcula-se que o gado emita 80 milhões de toneladas de gás metano (por gases e fezes) por ano. Este gás, por sua vez, tem potencial térmico 21 vezes maior do que o gás carbônico”, explica o professor do Mestrado de Gestão Ambiental da Universidade Positivo Maurício Dziedzic.
O impacto de uma ação como essa parece insignificante, mas, se todos os habitantes dos países ricos adotassem a medida, a diferença seria bastante significativa. De acordo com o escritor norte-americano Michael Pollan, autor de O Dilema do Onívoro, a adoção de uma dieta vegetariana durante um dia da semana por toda a população dos Estados Unidos seria o equivalente a tirar 20 milhões de carros da estrada.
Ação global
O movimento Meatless Monday ganhou adeptos em vários países. Na Inglaterra, o ex-beatle Paul McCartney conseguiu chamar a atenção da mídia ao lançar, em 2008, uma cria da campanha americana: o Meat Free Monday. A filha do cantor, a estilista Stella McCartney, o músico Moby, a atriz Kate Bosworth e a artista plástica Yoko Ono, entre outras celebridades, aderiram ao movimento.
A Câmara de Vereadores da cidade de Ghent, na Bélgica, instituiu que restaurantes, escolas e hospitais ofereçam opções de refeições sem carne na terça-feira. O Dia Vegetariano também ganhou força em Israel.
No Brasil, a Segunda sem Carne deverá ser lançada oficialmente no dia 3 de outubro, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. A versão brasileira da campanha é uma iniciativa da Sociedade Brasileira Vegetariana (SBV) em parceria com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo e já conta com o apoio do Slow Food São Paulo, do Instituto Nina Rosa e do Greenpeace.
Em Curitiba, a SBV tenta, aos poucos, conscientizar a população sobre os benefícios da dieta vegetariana. A última ação do grupo aconteceu durante os meses de junho e julho em um shopping da cidade. Vinhetas eletrônicas exibidas na praça de alimentação e nos corredores tinham o objetivo de convencer as pessoas a optar por uma refeição sem carne, que hoje em dia pode ser encontrada em quase todo restaurante. “Só o fato de diminuir o consumo já faz uma grande diferença. Muitos problemas ambientais são causados por hábitos que cultivamos. A alimentação não está isolada do mundo e da sociedade”, lembra Ricardo Laurino, coordenador do grupo em Curitiba.
Será que a moda pega por aqui?
O Brasil está entre os países que mais produzem e consomem carne no mundo. Temos o maior rebanho bovino comercial e somos o maior exportador de carne em toneladas. Segundo dados do Serviço de Informação da Carne (SIC), o país registra um consumo per capita de 40 quilos de carne bovina por ano, contra 30 quilos de carne de frango e 12 quilos de carne suína.
Ao mesmo tempo, cerca de 28% dos brasileiros têm procurado diminuir o seu consumo de carne, segundo um estudo da empresa de pesquisas Ipsos. Os motivos envolvem não só a saúde, mas também a preocupação com o meio ambiente. O boicote de grandes redes de supermercados à carne bovina proveniente de fazendas ilegais na Amazônia, por exemplo, chamou a atenção das pessoas para o desmatamento da floresta e a crueldade praticada com os animais durante o abate.
O designer Érico Almeida, 26 anos, e o engenheiro florestal Gustavo Gatti, 35 anos, fazem parte do time que mudou seus hábitos em nome do planeta. “Já faz três meses que não como frango e carne vermelha. Eu me sinto mais leve não só fisicamente. Fico feliz de estar contribuindo de alguma forma”, conta Gustavo. Há quatro anos que o designer só abre exceções em datas especiais. “No aniversário da minha mãe, não resisti”, confessa.
Já Gustavo, analista de projetos ambientais da Fundação O Boticário, diz que foi o trabalho que o convenceu a mudar de atitude. “Tenho acesso a muitas informações a respeito do prejuízo causado por alguns cultivos, inclusive a pecuária. Os números são assombrosos. Por isso, adotei a redução do consumo de carne como estratégia para conscientizar outras pessoas sobre o assunto”, conta.
O engenheiro não abandonou os prazeres da carne por completo, mas a consome com responsabilidade. “Gosto de carne e não deixo de frequentar um bom churrasco. Mas sempre procuro conhecer a procedência da carne e dou preferência à carne orgânica”, explica.
Maurício Dziedzic, professor do Mestrado de Gestão Ambiental da Universidade Positivo, explica que é possível transformar a pecuária em uma atividade mais sustentável e menos nociva à atmosfera. “Muitos produtores já optaram por alterar a dieta do gado para diminuir a emissão de gases de efeito estufa. O esterco dos animais também tem sido usado para gerar energia”, enumera.
O especialista lembra que, se a ideia é contribuir para a preservação do meio ambiente, diminuir o consumo de carne não deve ser uma ação isolada. É preciso mudar o estilo de vida: usar meios de transporte menos poluentes, reciclar o lixo e evitar o desperdício devem igualmente fazer parte da rotina. “Também não adianta nada não comer carne num dia e comer o dobro no outro”, alerta.
Surgido nos Estados Unidos, movimento que procura diminuir o consumo de carne ganha adeptos em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. A reportagem é de Jennifer Koppe e está publicada no jornal Gazeta do Povo, 26-08-2009.
Um dia por semana sem comer carne pode ajudar a combater o aquecimento global. É o que afirmam os engajados na campanha Meatless Monday (“Segunda sem Carne”), movimento que surgiu nos Estados Unidos em 2003, com o objetivo de incentivar as pessoas a consumir menos carne.
Segundo um estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), as emissões de gases de efeito-estufa – como o dióxido de carbono, o metano e o óxido de nitrato – associadas à cadeia de produção da carne representam um quinto das emissões totais mundiais. Cerca de 18% das emissões provêm do desmatamento para a criação de pastagens, do transporte da carne, do processamento industrial do alimento e do sistema digestivo dos bovinos. “Calcula-se que o gado emita 80 milhões de toneladas de gás metano (por gases e fezes) por ano. Este gás, por sua vez, tem potencial térmico 21 vezes maior do que o gás carbônico”, explica o professor do Mestrado de Gestão Ambiental da Universidade Positivo Maurício Dziedzic.
O impacto de uma ação como essa parece insignificante, mas, se todos os habitantes dos países ricos adotassem a medida, a diferença seria bastante significativa. De acordo com o escritor norte-americano Michael Pollan, autor de O Dilema do Onívoro, a adoção de uma dieta vegetariana durante um dia da semana por toda a população dos Estados Unidos seria o equivalente a tirar 20 milhões de carros da estrada.
Ação global
O movimento Meatless Monday ganhou adeptos em vários países. Na Inglaterra, o ex-beatle Paul McCartney conseguiu chamar a atenção da mídia ao lançar, em 2008, uma cria da campanha americana: o Meat Free Monday. A filha do cantor, a estilista Stella McCartney, o músico Moby, a atriz Kate Bosworth e a artista plástica Yoko Ono, entre outras celebridades, aderiram ao movimento.
A Câmara de Vereadores da cidade de Ghent, na Bélgica, instituiu que restaurantes, escolas e hospitais ofereçam opções de refeições sem carne na terça-feira. O Dia Vegetariano também ganhou força em Israel.
No Brasil, a Segunda sem Carne deverá ser lançada oficialmente no dia 3 de outubro, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. A versão brasileira da campanha é uma iniciativa da Sociedade Brasileira Vegetariana (SBV) em parceria com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo e já conta com o apoio do Slow Food São Paulo, do Instituto Nina Rosa e do Greenpeace.
Em Curitiba, a SBV tenta, aos poucos, conscientizar a população sobre os benefícios da dieta vegetariana. A última ação do grupo aconteceu durante os meses de junho e julho em um shopping da cidade. Vinhetas eletrônicas exibidas na praça de alimentação e nos corredores tinham o objetivo de convencer as pessoas a optar por uma refeição sem carne, que hoje em dia pode ser encontrada em quase todo restaurante. “Só o fato de diminuir o consumo já faz uma grande diferença. Muitos problemas ambientais são causados por hábitos que cultivamos. A alimentação não está isolada do mundo e da sociedade”, lembra Ricardo Laurino, coordenador do grupo em Curitiba.
Será que a moda pega por aqui?
O Brasil está entre os países que mais produzem e consomem carne no mundo. Temos o maior rebanho bovino comercial e somos o maior exportador de carne em toneladas. Segundo dados do Serviço de Informação da Carne (SIC), o país registra um consumo per capita de 40 quilos de carne bovina por ano, contra 30 quilos de carne de frango e 12 quilos de carne suína.
Ao mesmo tempo, cerca de 28% dos brasileiros têm procurado diminuir o seu consumo de carne, segundo um estudo da empresa de pesquisas Ipsos. Os motivos envolvem não só a saúde, mas também a preocupação com o meio ambiente. O boicote de grandes redes de supermercados à carne bovina proveniente de fazendas ilegais na Amazônia, por exemplo, chamou a atenção das pessoas para o desmatamento da floresta e a crueldade praticada com os animais durante o abate.
O designer Érico Almeida, 26 anos, e o engenheiro florestal Gustavo Gatti, 35 anos, fazem parte do time que mudou seus hábitos em nome do planeta. “Já faz três meses que não como frango e carne vermelha. Eu me sinto mais leve não só fisicamente. Fico feliz de estar contribuindo de alguma forma”, conta Gustavo. Há quatro anos que o designer só abre exceções em datas especiais. “No aniversário da minha mãe, não resisti”, confessa.
Já Gustavo, analista de projetos ambientais da Fundação O Boticário, diz que foi o trabalho que o convenceu a mudar de atitude. “Tenho acesso a muitas informações a respeito do prejuízo causado por alguns cultivos, inclusive a pecuária. Os números são assombrosos. Por isso, adotei a redução do consumo de carne como estratégia para conscientizar outras pessoas sobre o assunto”, conta.
O engenheiro não abandonou os prazeres da carne por completo, mas a consome com responsabilidade. “Gosto de carne e não deixo de frequentar um bom churrasco. Mas sempre procuro conhecer a procedência da carne e dou preferência à carne orgânica”, explica.
Maurício Dziedzic, professor do Mestrado de Gestão Ambiental da Universidade Positivo, explica que é possível transformar a pecuária em uma atividade mais sustentável e menos nociva à atmosfera. “Muitos produtores já optaram por alterar a dieta do gado para diminuir a emissão de gases de efeito estufa. O esterco dos animais também tem sido usado para gerar energia”, enumera.
O especialista lembra que, se a ideia é contribuir para a preservação do meio ambiente, diminuir o consumo de carne não deve ser uma ação isolada. É preciso mudar o estilo de vida: usar meios de transporte menos poluentes, reciclar o lixo e evitar o desperdício devem igualmente fazer parte da rotina. “Também não adianta nada não comer carne num dia e comer o dobro no outro”, alerta.
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