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19 fevereiro 2010

DIAGNÓSTICO PRECOCE DE HANSENÍASE

Técnica com base molecular traz nova alternativa de diagnóstico precoce para a hanseníase

Pâmela Pinto
Agência Fiocruz de Notícias

[O controle da infecção ainda desafia cientistas de todo o mundo, principalmente em regiões de alta endemicidade e sem recursos laboratoriais]

Apesar de ser uma doença milenar, uma das principais dificuldades no combate à hanseníase continua sendo o diagnóstico precoce, fundamental para diminuir o risco de sequelas. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) buscou na genética novas alternativas para combater este antigo problema. Os pesquisadores desenvolveram uma técnica molecular, baseada na análise de DNA, que é capaz não apenas de diagnosticar a presença da Mycobacterium leprae, bactéria causadora da hanseníase, mas também de estimar quais as chances do paciente, de fato, desenvolver a doença.

O procedimento poderá ser importante no diagnóstico precoce da doença, além de ajudar a definir melhores esquemas terapêuticos, de acordo com o perfil genético de cada paciente. Ao mesmo tempo, a novidade permite a detecção da infecção pelo microorganismo em pacientes que ainda não desenvolveram sintomas. Isso permitirá diminuir a possibilidade de transmissão durante o período de incubação da doença, que pode chegar a cinco anos.

Alternativa para protocolos atuais

A hanseníase é uma inflamação crônica pelo bacilo M. leprae que afeta o sistema neural e a pele, atingindo 40 mil brasileiros por ano. É caracterizada por formas clínicas que podem ser agrupadas como multibacilar ou paucibacilar, conforme o número maior ou menor de lesões apresentadas pelo paciente.

Os métodos de diagnóstico disponíveis atualmente incluem exame histopatológico (exame histológico de amostras da pele do paciente) combinado com avaliação clínica. Em pacientes caracterizados como paucibacilares ou com a forma neural pura da doença (sem a manifestação de lesões na pele), o diagnóstico é mais difícil. Nestes casos, quando a detecção histológica não é precisa diante da variação do aspecto clínico dos casos, a nova técnica molecular desenvolvida no IOC poderia funcionar como um auxiliador confirmatório da doença.

O novo diagnóstico é feito com base na técnica de PCR em Tempo Real (sigla em inglês para reação em cadeia de polimerase). Os pesquisadores analisam amostras de tecido da pele do paciente e verificam a carga bacteriana, por meio da identificação do DNA e de RNA da bactéria. Assim, é possível detectar a doença precocemente e mesmo nos casos assintomáticos.

“O PCR em Tempo Real é uma técnica muito sensível e possibilita uma quantificação das cópias de bacilos presentes nas amostras de cada indivíduo, o que lhe confere uma vantagem em relação a outras metodologias”, explica a bióloga Alejandra Martinez, que desenvolveu a metodologia sob a orientação do pesquisador Milton Ozório Moraes, do Laboratório de Hanseníase do IOC. Parte da pesquisa foi desenvolvida nos Estados Unidos, em parceria com a Universidade Estadual da Louisiana, onde Alejandra realizou testes laboratoriais.

Além de identificar a presença da bactéria, a metodologia também diagnostica a viabilidade do bacilo no organismo, isto é, sua capacidade de desenvolver ou não a doença e de ser transmitido ou não para outras pessoas. A metodologia é eficaz também nos casos de pacientes que receberam tratamento. Segundo Alejandra, esta informação potencializa os esquemas terapêuticos adotados ao identificar se a bactéria está se reproduzindo no hospedeiro e qual o nível da infecção. “Por ser uma doença crônica, a bactéria interage com o hospedeiro de forma branda e a cada 14 dias completa um ciclo de divisão. Quando identificamos a sua presença, podemos avaliar o efeito da poliquimioterapia e obter tratamentos exitosos”, pontua a bióloga.

Desafios para a ciência

Para Moraes, o controle da infecção ainda desafia cientistas em todo o mundo, principalmente em regiões de alta endemicidade e sem recursos laboratoriais. Nessas áreas, o diagnóstico é, em geral, baseado apenas nos sinais e sintomas apresentados pelos pacientes, no exame da pele, dos nervos periféricos e no histórico epidemiológico.

O biólogo destaca que o diagnóstico por PCR ajuda a reduzir o risco de contágio por M. leprae. “O teste por PCR e a confirmação da viabilidade da bactéria podem ser ferramentas úteis para o combate ao bacilo. Uma das consequências do diagnóstico tardio é a transmissão ativa da doença, pois a enfermidade tem período de incubação médio de 2 a 5 anos”, afirma.