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27 outubro 2011

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DO TRÁFICO DE DROGAS NO ACRE

Pesquisa revela o perfil sócio-econômico dos traficantes e faz avaliação econômica e financeira do tráfico de drogas no Acre

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

O tráfico de drogas ilícitas, que movimenta anualmente cerca de US$ 750 bilhões, é a atividade ilegal mais praticada no mundo. Se fosse legal, ela ficaria atrás apenas do setor petrolífero e da indústria automobilística.

Dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime indicam que no Brasil, que faz fronteira com os três maiores produtores de cocaína do mundo, circulam anualmente cerca de 80 toneladas de drogas, metade destinada ao consumo interno e o restante à exportação, movimentando cerca de US$ 5 bilhões. O consumo de cocaína no país cresceu mais de 30% nos últimos anos, uma média de 6% ao ano entre 2002 e 2007.

Foi com o objetivo de entender os fatores que levam uma grande quantidade de pessoas a ingressar no tráfico de drogas ilícitas no Acre que pesquisadores das Universidades Federais do Acre e de Juiz de Fora realizaram uma análise econômica e financeira do tráfico de drogas para identificar fatores comuns entre as pessoas que migram para esta atividade criminosa. Especificamente, os pesquisadores tentaram responder a duas perguntas: (1) quais as características dos indivíduos que se envolvem com tráfico de drogas? e (2) quais os ganhos financeiros proporcionados pela prática deste crime?

A importância da pesquisa para o Acre reside no fato do mesmo fazer fronteira com dois dos principais países produtores de cocaína, a Bolívia e Peru, e da grave situação de descontrole do tráfico no Estado, que apresentou em 2009 o segundo maior volume de apreensão de drogas no Brasil.

Para o estudo, foram entrevistados, na penitenciária Francisco D’Oliveira Conde, em Rio Branco, 102 dos 956 detentos presos por tráfico no Estado. A pesquisa, realizada no final de 2009, indicou que o Acre contava com uma população carcerária de 3.036 pessoas em suas 11 unidades prisionais, das quais 31,5% haviam cometido crimes relacionados ao tráfico de drogas. Rio Branco concentrava quase 77% dos presos do Estado, sendo que 33,35% deles encontravam-se presos por tráfico de entorpecentes.

Dos detentos entrevistados, 78,4% eram do sexo masculino, 53,9% consideravam-se morenos e apenas 8,8% branco. Foi constatado que os homens têm o primeiro contato com o tráfico de drogas mais cedo que as mulheres. Para eles, o intervalo de idade entre 16 e 20 anos foi o que apresentou a maior incidência de entrevistados iniciando no tráfico de drogas (24,51%), enquanto que para as mulheres a maior incidência (27,27%) ocorreu na faixa etária entre 31 e 35 anos. A faixa etária entre 16 e 20 anos é também a de maior incidência do primeiro contato com as drogas.

Um dado extremamente preocupante da pesquisa é que aproximadamente 14% dos entrevistados iniciaram no tráfico com idade entre 10 e 15 anos, indicando que uma parcela considerável dos condenados por tráfico de drogas no Acre envolve-se na criminalidade ainda criança, período em que deveriam estar frequentando a escola.

Em relação ao nível de escolaridade dos condenados foi observado que ele é muito baixo, pois mais de dois terços (65%) conseguiu no máximo concluir o ensino fundamental. Desses, 47% pararam os estudos pela necessidade de trabalhar e contribuir com a renda familiar e 21% desistiram dos estudos porque começaram a ter envolvimento com a criminalidade. De todos os entrevistados, apenas aproximadamente 6% chegaram a ingressar em um curso superior.

Com relação à situação de trabalho dos entrevistados, 61,80% trabalhava quando decidiu traficar drogas, ocasião em que recebiam salário médio de R$ 646,00. Entre os motivos para o ingresso no tráfico, as dificuldades financeiras foram indicadas por mais da metade deles como a principal razão, seguida pela idéia de ganhar dinheiro fácil, influência de amigos e desemprego.

A avaliação econômica e financeira do tráfico de drogas sugere que o ganho financeiro na atividade apresenta uma variação muito grande, dependendo do tipo de participação do indivíduo e do local em que ele adquire a droga. Assim, o traficante que obtém o maior nível de renda bruta é o que adquire o entorpecente na Bolívia e promove sua venda no Brasil, auferindo em média uma renda bruta mensal equivalente a R$ 15.174,00. Por outro lado, a maior taxa de lucro é obtida pelo criminoso apelidado de ‘‘mula’’ que transporta a droga do Peru para o Brasil.

Quase dois terços dos entrevistados classificaram o risco de ser preso pela prática do tráfico de drogas entre grande e muito grande, mesmo assim sua alta lucratividade a torna atrativa. Mais da metade deles atribuiu a delatores o motivo da sua prisão, mostrando a importância da população na repressão ao tráfico de drogas.

Foi feita uma avaliação estatística multivariada de 17 variáveis para determinação do conjunto de fatores econômicos e sociais mais importantes relacionados com a decisão dos indivíduos de aderir à atividade do tráfico de drogas. Um perfil simplificado dos envolvidos é sintetizado a seguir:

"Estão cientes do alto ricos da atividade, antes de decidir ser um criminoso possuía um trabalho legal que compunha a renda familiar juntamente com o salário dos outros integrantes de sua família, tem filhos e considerava a renda obtida legalmente insuficiente para atender às necessidades de sua família, tinha amigos traficantes, ao passar a traficar drogas precisa ser cuidadoso para evitar uma eventual prisão, a renda do tráfico é elevada e suprirá suas necessidade e as da sua família".

O artigo “Avaliação econômica do tráfico de drogas no Estado do Acre”, de autoria de Rennan Bitts de Lima, Rubicleis Gomes da Silva e Eduardo Simões Almeida, foi publicado na revista REDES, v. 16, n. 2, p. 102-130, maio/ago. 2011.

Clique aqui para ler a íntegra do artigo.

Fonte da foto: Ecos da Notícias