A IMPORTÂNCIA DO CULTIVO DE PLANTAS ALIMENTARES EM QUINTAIS DE RIO BRANCO
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Na Amazônia os quintais urbanos são importantes para a sobrevivência de habitantes pobres da periferia das cidades porque permitem o cultivo de plantas que complementam a dieta e contribuem para a segurança alimentar dos moradores. Na região, já foi observado que muitas atividades agrícolas originalmente praticadas na floresta estão sendo modeladas na periferia das cidades, construindo um novo mosaico agrícola urbano.
No caso do Acre, o intenso êxodo rural dirigido para a sua capital, Rio Branco, resultou na criação de diversos bairros com uma população formada por numerosos ex-extrativistas de baixo poder aquisitivo mas com grande conhecimento empírico sobre o cultivo de espécies alimentares.
Esta particularidade da capital acreana estimulou o pesquisador Amauri Siviero, da Embrapa-Ac, a realizar um estudo sobre as espécies vegetais de uso alimentar cultivadas por moradores de três importantes bairros da periferia de Rio Branco. O estudo, que contou com a colaboração de pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal do Acre (UFAC), foi publicado na revista científica Acta Botanica Brasilica.
A pesquisa consistiu na visita e avaliação dos quintais de 53 residências no bairro Aeroporto Velho, 44 no bairro Placas e 35 no bairro Novo Horizonte. Os dados foram obtidos via entrevistas com os moradores e observações diretas em cada residência. Foram pesquisados aspectos qualitativos e quantitativos dos quintais, das espécies alimentares cultivadas e as características socioeconômicas dos moradores entrevistados.
Os resultados revelaram o cultivo de 77 espécies de uso alimentar, com predominância de frutíferas (62,0%) e hortaliças (38%). Dentre as frutíferas, as mais comuns foram: “coco” (Cocos nucifera), citros – “laranja”, “tangerina” e “limão” (Citrus spp.), “cupuaçu” (Theobromagrandiflorum) e a “acerola”(Malpighia glabra). Entre as espécies hortícolas destacaram-se a “cebola de palha” (Allium schoenoprasum) e o “quiabo” (Abelmoschus esculentus (L.) Moench). Das espécies alimentares identificadas, 28,9% também tem uso medicinal e 16,8% uso ornamental.
As espécies frutíferas são cultivadas diretamente no solo enquanto as hortaliças (folhosas e condimentares) são cultivadas em canteiros suspensos, pois demandam solos de melhor qualidade, maior luminosidade e proteção contra a ação de animais domésticos.
A maior parte das espécies cultivadas (68%) é exótica, provavelmente devido ao fato de quase metade dos moradores entrevistados ser oriunda de cidades não Amazônicas e ao intercambio de mudas e sementes entre parentes e vizinhos. As plantas cultivadas são consumidas majoritariamente frescas (67%) e na forma de sucos (25,6%).
O estudo socioeconômico revelou que a maioria dos responsáveis pelo manejo dos quintais é do gênero feminino, casado e cerca de 60% apresenta baixa escolaridade. Aposentados e donas de casa foram as principais categorias de ocupação citadas. A maioria (79-88%) nasceu no Acre, filhos de país imigrantes do nordeste, especialmente o Ceará, e 55% eram oriundos de cidades do interior do Acre.
Foi observado que os fatores socioeconômicos não apresentam correlação direta com a riqueza de plantas cultivadas nos quintais avaliados. Os moradores possuem um bom conhecimento tradicional acerca das plantas cultivadas, mas isso não está relacionado ao nível de escolaridade dos entrevistados.
Existem diferenças estatísticas significativas entre a riqueza de espécies cultivadas nos bairros avaliados. O bairro Placas (8,3 espécies/quintal) difere significativamente do Aeroporto Velho (4,6 espécies) e Novo Horizonte (3,9 espécies). Isso pode ser parcialmente explicado pela maior área física dos quintais e maior área efetivamente utilizada para o cultivo no bairro Placas, que apresentou quintais com tamanho médio de 397,9 m², ante 84,25 m² no Novo Horizonte e 169,6 m² no Aeroporto Velho. A área efetivamente usada como quintal – excluindo a área construída com residência e outras benfeitorias – foi de 82%, 44% e 62% nos bairros Placas, Novo Horizonte e Aeroporto Velho, respectivamente.
No bairro Placas, o arranjo dos cultivos nos quintais é similar a sistemas agroflorestais rurais, sem regras de espaço e alinhamento entre as plantas. No entanto, observou-se certa setorização na escolha do local de plantio com espécies ornamentais dispostas na frente da residência e as alimentares nos fundos do quintal.
Para os autores do estudo os quintais com áreas maiores apresentam maior potencial para uso agrícola. Em Rio Branco, estes tipos de quintais são uma fonte de recursos genéticos vegetais e contribuempara a segurança alimentar e saúde das famílias,além de eventualmente gerar renda com a venda de excedentes.
Apesar disso, os benefícios decorrentes do cultivo de plantas alimentares em quintais urbanos não poderão ser desfrutados pelas centenas de famílias contempladas no atual programa de habitação desenvolvido no Acre, pois as unidades habitacionais são edificadas em quintais minúsculos.
Considerando os benefícios, especialmente para as famílias de baixa renda, e a grande disponibilidade de terra nas cercanias de Rio Branco, seria importante que os planejadores habitacionais considerassem um incremento no tamanho dos quintais dos futuros conjuntos habitacionais planejados para a cidade.
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O trabalho ‘Cultivo de Espécies Alimentares em Quintais Urbanos de Rio Branco, Acre, Brasil’, de autoria de Amauri Siviero, Thiago Andrés Delunardo, Moacir Haverroth, Luis Cláudio de Oliveira e Ângela Maria Silva Mendonça foi publicado em setembro de 2011 na revista Acta BotanicaBrasilica (vol.25, no. 3, páginas 549-556).
Foto: Eletrobrás/CGTEE
Blog Ambiente Acreano
Na Amazônia os quintais urbanos são importantes para a sobrevivência de habitantes pobres da periferia das cidades porque permitem o cultivo de plantas que complementam a dieta e contribuem para a segurança alimentar dos moradores. Na região, já foi observado que muitas atividades agrícolas originalmente praticadas na floresta estão sendo modeladas na periferia das cidades, construindo um novo mosaico agrícola urbano.
No caso do Acre, o intenso êxodo rural dirigido para a sua capital, Rio Branco, resultou na criação de diversos bairros com uma população formada por numerosos ex-extrativistas de baixo poder aquisitivo mas com grande conhecimento empírico sobre o cultivo de espécies alimentares.
Esta particularidade da capital acreana estimulou o pesquisador Amauri Siviero, da Embrapa-Ac, a realizar um estudo sobre as espécies vegetais de uso alimentar cultivadas por moradores de três importantes bairros da periferia de Rio Branco. O estudo, que contou com a colaboração de pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal do Acre (UFAC), foi publicado na revista científica Acta Botanica Brasilica.
A pesquisa consistiu na visita e avaliação dos quintais de 53 residências no bairro Aeroporto Velho, 44 no bairro Placas e 35 no bairro Novo Horizonte. Os dados foram obtidos via entrevistas com os moradores e observações diretas em cada residência. Foram pesquisados aspectos qualitativos e quantitativos dos quintais, das espécies alimentares cultivadas e as características socioeconômicas dos moradores entrevistados.
Os resultados revelaram o cultivo de 77 espécies de uso alimentar, com predominância de frutíferas (62,0%) e hortaliças (38%). Dentre as frutíferas, as mais comuns foram: “coco” (Cocos nucifera), citros – “laranja”, “tangerina” e “limão” (Citrus spp.), “cupuaçu” (Theobromagrandiflorum) e a “acerola”(Malpighia glabra). Entre as espécies hortícolas destacaram-se a “cebola de palha” (Allium schoenoprasum) e o “quiabo” (Abelmoschus esculentus (L.) Moench). Das espécies alimentares identificadas, 28,9% também tem uso medicinal e 16,8% uso ornamental.
As espécies frutíferas são cultivadas diretamente no solo enquanto as hortaliças (folhosas e condimentares) são cultivadas em canteiros suspensos, pois demandam solos de melhor qualidade, maior luminosidade e proteção contra a ação de animais domésticos.
A maior parte das espécies cultivadas (68%) é exótica, provavelmente devido ao fato de quase metade dos moradores entrevistados ser oriunda de cidades não Amazônicas e ao intercambio de mudas e sementes entre parentes e vizinhos. As plantas cultivadas são consumidas majoritariamente frescas (67%) e na forma de sucos (25,6%).
O estudo socioeconômico revelou que a maioria dos responsáveis pelo manejo dos quintais é do gênero feminino, casado e cerca de 60% apresenta baixa escolaridade. Aposentados e donas de casa foram as principais categorias de ocupação citadas. A maioria (79-88%) nasceu no Acre, filhos de país imigrantes do nordeste, especialmente o Ceará, e 55% eram oriundos de cidades do interior do Acre.
Foi observado que os fatores socioeconômicos não apresentam correlação direta com a riqueza de plantas cultivadas nos quintais avaliados. Os moradores possuem um bom conhecimento tradicional acerca das plantas cultivadas, mas isso não está relacionado ao nível de escolaridade dos entrevistados.
Existem diferenças estatísticas significativas entre a riqueza de espécies cultivadas nos bairros avaliados. O bairro Placas (8,3 espécies/quintal) difere significativamente do Aeroporto Velho (4,6 espécies) e Novo Horizonte (3,9 espécies). Isso pode ser parcialmente explicado pela maior área física dos quintais e maior área efetivamente utilizada para o cultivo no bairro Placas, que apresentou quintais com tamanho médio de 397,9 m², ante 84,25 m² no Novo Horizonte e 169,6 m² no Aeroporto Velho. A área efetivamente usada como quintal – excluindo a área construída com residência e outras benfeitorias – foi de 82%, 44% e 62% nos bairros Placas, Novo Horizonte e Aeroporto Velho, respectivamente.
No bairro Placas, o arranjo dos cultivos nos quintais é similar a sistemas agroflorestais rurais, sem regras de espaço e alinhamento entre as plantas. No entanto, observou-se certa setorização na escolha do local de plantio com espécies ornamentais dispostas na frente da residência e as alimentares nos fundos do quintal.
Para os autores do estudo os quintais com áreas maiores apresentam maior potencial para uso agrícola. Em Rio Branco, estes tipos de quintais são uma fonte de recursos genéticos vegetais e contribuempara a segurança alimentar e saúde das famílias,além de eventualmente gerar renda com a venda de excedentes.
Apesar disso, os benefícios decorrentes do cultivo de plantas alimentares em quintais urbanos não poderão ser desfrutados pelas centenas de famílias contempladas no atual programa de habitação desenvolvido no Acre, pois as unidades habitacionais são edificadas em quintais minúsculos.
Considerando os benefícios, especialmente para as famílias de baixa renda, e a grande disponibilidade de terra nas cercanias de Rio Branco, seria importante que os planejadores habitacionais considerassem um incremento no tamanho dos quintais dos futuros conjuntos habitacionais planejados para a cidade.
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O trabalho ‘Cultivo de Espécies Alimentares em Quintais Urbanos de Rio Branco, Acre, Brasil’, de autoria de Amauri Siviero, Thiago Andrés Delunardo, Moacir Haverroth, Luis Cláudio de Oliveira e Ângela Maria Silva Mendonça foi publicado em setembro de 2011 na revista Acta BotanicaBrasilica (vol.25, no. 3, páginas 549-556).
Foto: Eletrobrás/CGTEE
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