NÃO PODEMOS ABRIR MÃO DA REVALIDAÇÃO DO DIPLOMA DE MÉDICOS FORMADOS NO EXTERIOR
Evandro
Ferreira
Blog
Ambiente Acreano
O
Ministério da Saúde, sem discutir de forma democrática com a sociedade
brasileira, está avançando em sua proposição de trazer para o Brasil médicos
formados em outros países para atuar em regiões brasileiras carentes desses
profissionais, com prioridade para as periferias das grandes metrópoles e
cidades do interior do país.
O Conselho
Federal de Medicina (CFM), entidade responsável pela fiscalização e
normatização da prática médica no Brasil, concorda com a iniciativa, mas não
abre mão que esses profissionais revalidem seus diplomas antes de iniciar sua
atuação no país. Atualmente, médicos formados em outros países interessados em
atuar no Brasil precisam revalidar seus diplomas no exame nacional de
revalidação - o Revalida - e passar em um exame de fluência em português.
O
Ministério da Saúde tem idéia diferente. Em nome da celeridade na incorporação
desses profissionais no mercado de trabalho local, defende que eles tenham
direito de atuar imediatamente após a sua chegada ao país. Para isso, seriam
expedidas permissões de trabalho temporárias com regras específicas, a serem
criadas por meio de uma medida provisória. Segundo a sugestão do Ministério da
Saúde, os profissionais formados no exterior poderiam trabalhar por três anos
apenas nas áreas consideradas prioritárias, evitando-se, com isso, a sua dispersão
para outras regiões do país. Para aplacar as críticas, o Ministério da Saúde
também deixou claro que o seu programa não prevê a validação automática de
diplomas e impedirá a admissão de profissionais formados em países com menos
médicos que o Brasil. Além do registro temporário a ser expedido pelos
Conselhos Regionais de Medicina (CRM), os profissionais formados no exterior
receberão uma ‘bolsa’ equivalente a R$ 8 mil por mês.
Como resultado da iniciativa do Ministério da Saúde, uma
mobilização nacional liderada por entidades, profissionais e estudantes das
áreas médicas no Brasil lançou o movimento “Revalida, Sim”. Segundo os
integrantes do mesmo, não há falta de profissionais na Brasil, mas má
distribuição dos mesmos nas diversas regiões do país.
O título do
movimento é uma referência ao Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos
(Revalida), instituído por uma Portaria Interministerial em 18 de março de
2011. Este exame é aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em colaboração com a subcomissão de
revalidação de diplomas médicos, da qual participam representantes dos
ministérios da Saúde, Educação e Relações Exteriores e da Associação Nacional
dos Dirigentes de Instituições Federais do Ensino Superior (Andifes), além do
Inep.
O Revalida
surgiu da necessidade de uniformizar e acelerar o processo de revalidação de
diplomas de médicos formados no exterior, que antes era feito de forma
individualizada, em processo moroso e não padronizado, visto que cada faculdade
de medicina brasileira tinha seus próprios critérios de revalidação.
Os
defensores do movimento ‘Revalida, Sim’ tem fortes argumentos para justificar
sua contrariedade com a iniciativa do Ministério da Saúde.
Ao contrário do que se pensa, médicos formados em outros países
não possuem uma formação de alto nível. Na última edição da prova do Revalida,
dos 667 inscritos, apenas 65 foram aprovados, em 2010 o resultado foi ainda
pior: dos 510 inscritos, apenas 2 passaram. Além disso, a possível vinda de
médicos formados em Cuba poderá abrir as portas para a entrada no Brasil de
médicos formados em países cuja formação é reputada como duvidosa.
Outro
argumento diz respeito à questão do idioma. Aceitar a entrada de médicos
estrangeiros sem comprovação de fluência na língua portuguesa tornará
extremamente difícil o estabelecimento de uma boa relação médico-paciente. Como
um médico que não compreende o que o paciente está relatando poderá fazer um
bom diagnóstico do problema a ser tratado?
Existem
também as diferenças nas condutas terapêuticas e diagnósticas. Os sistemas de
saúde pública de cada país são totalmente diferentes, possuindo protocolos de
diagnóstico e de tratamento divergentes para as mais variadas doenças. No caso
de Cuba, essa diferença é ainda mais evidente, já que por causa do regime
Comunista eles acabam por bloquear a entrada de diversos medicamentos que são
imensamente utilizados no Brasil e, logicamente, desconhecidos pelos possíveis
médicos importados daquele país.
Outro
argumento levantando pelos defensores do ‘Revalida, Sim’ diz respeito à
fiscalização das atividades dos médicos formados no exterior que eventualmente
venham a atuar no Brasil por conta do programa do Ministério da Saúde. Em
nenhum momento o Conselho Federal de Medicina, Conselhos Regionais, Federação
Nacional de Medicina ou outras instituições médicas que regem a profissão no
Brasil foram consultadas. Os médicos formados no Brasil são severamente
fiscalizados e banidos quando dos erros de sua profissão. Quem fiscalizará os
médicos vindos do exterior? Quem se responsabilizará por eles?
Por fim, os
defensores do movimento ‘Revalida, Sim’ argumentam que não faltam médicos no
Brasil, que conta com 1,95 médicos por cada grupo de mil habitantes, valor
maior que o recomendado pela OMS (1:1000). A falta de médicos nas regiões mais
carentes da Brasil é consequência de diversos fatores, mas o mais determinante
é a pouca estrutura oferecida aos escassos médicos que se dispõem a ir para a
periferia das metrópoles e cidades do interior. De que adianta diagnosticar com
precisão o problema se não existem formas de se comprovar os mesmos com exames
ou intervir cirurgicamente para solucioná-los?
O movimento
‘Revalida, Sim’ conclui acertadamente que a vinda de médicos estrangeiros não
melhorará significativamente a situação da saúde pública no Brasil já que um
médico, formado no Brasil ou no exterior, bem ou mal pago, pouco ou nada poderá
fazer se não dispuser de condições mínimas de infraestrutura e pessoal de apoio
para atuar de forma eficiente.
Essa iniciativa do Ministério da Saúde se apresenta mais como um paliativo que não resolverá o problema. Com um agravante de que poderá colocar em risco a população que vier a ser atendida pela mesma. Eu apoio o movimento ‘Revalida, Sim’.
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