ABELHAS AFRICANIZADAS ‘NÃO INVADIRAM’ A FLORESTA AMAZÔNICA
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
Muitos de vocês já assistiram filmes sensacionalistas
de Hollywood no qual abelhas ‘assassinas’ matam os humanos com quem contracenam.
As tais abelhas são invariavelmente de origem africana e tem uma característica
em particular que despertou o interesse da indústria do cinema: o comportamento
extremamente agressivo.
Introduzidas acidentalmente no Brasil
em 1957, as abelhas africanas (Apis
mellifera scutellata) cruzaram livremente com espécies europeias (Apis mellifera ligustica, Apis mellifera mellifera e Apis mellifera carniça) produzindo
populações poli híbridas denominadas africanizadas, com predominância de
características das abelhas africanas: alta capacidade de adaptação a ambientes
inóspitos, maior resistência a doenças e patógenos, ciclo de vida mais curto e alta
capacidade de formar novos enxames, alta produtividade, maior capacidade de
defesa e agressividade.
A agressividade dessas abelhas, em
contraste com a mansidão das espécies europeias, se traduz em ataques a pessoas
e animais que se aproximam de suas colmeias e podem, dependendo da intensidade
do ataque, resultar em mortes. Isso aconteceu com muita frequência nos
primeiros anos após a introdução das abelhas africanas em razão do
desconhecimento, por parte da população e dos apicultores, dos riscos
representados pelas abelhas africanizadas.
A fama de assassinas vem desse período
e o pavor que se estabeleceu na época derivou de notícias sensacionalistas
difundidas nas redes de TV, jornais e revistas do Brasil e do exterior. O
interesse dos estúdios de Hollywood por essas abelhas, no entanto, só se deu na
década de 70 quando ficou claro que as ‘abelhas assassinas’ estavam migrando em
direção à América do Norte e sua chegada ao território americano era apenas
questão de tempo, tendo se concretizado no ano de 1990. Este fato passou a impressão de que as
abelhas africanizadas estão tomando de conta das Américas. A velocidade de sua
migração em direção ao continente norte americano foi de 400-500 km/ano
corrobora essa impressão, pois equivale à distância entre Rio Branco e
Tarauacá, por exemplo.
Apesar dos problemas relacionados com a
agressividade excessiva, a introdução das abelhas africanas foi benéfica para a
apicultura brasileira que antes da introdução produzia entre 3 e 5 mil
toneladas de mel/ano e algumas décadas depois passou a produzir mais de 40 mil
toneladas/ano.
Entretanto, apesar da reconhecida rusticidade e capacidade
adaptativa, uma situação tem intrigado os pesquisadores: as abelhas
africanizadas dificilmente são encontradas no interior das extensas áreas
florestais primárias da região Amazônica.
Para entender o ‘fracasso’ da
colonização dessas abelhas nas florestas primárias da região, os pesquisadores Marcio
Luiz de Oliveira e Jorge Alcântara Cunha, do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA), testaram a capacidade dessas abelhas de penetrar florestas contínuas
ou fragmentos florestais e, quando isso ocorria, medir a distância que adentravam
no interior da floresta. Para isso foram espalhadas iscas no interior da
floresta na Amazônia central e em áreas desmatadas das proximidades. O
resultado mostrou que nenhuma abelha africanizada visitou as iscas no interior
da floresta, somente nas áreas desmatadas.
Os motivos de as abelhas africanizadas
não terem visitado o interior da floresta ainda não estão claros, mas algumas
hipóteses são sugeridas: (a) Parece existir uma baixa densidade populacional de
abelhas africanizadas na Amazônia; (b) Em regiões de trópico úmido colônias dessas
abelhas são muito debilitadas por fungos, doenças, ataques de formigas e vespas
ou destruídas por vertebrados predadores de ninhos; (c) O excesso de chuvas faz
com que o aporte de néctar seja menor que o consumo, pois as operárias não forrageiam
durante a chuva e após a mesma só encontram flores lavadas, resultando na diminuição
do alimento disponível para as crias, que ficam mal nutridas e sujeitas a
doenças; (d) É mais fácil obter recursos em ambientes abertos, onde o forrageio
pode ser feito nos estratos mais baixos (±15 m), ante os 30 m das copas das
árvores no interior da floresta.
Os autores concluíram o seguinte: (a) Apesar
da floresta exuberante e rica em floradas, a apicultura em grande escala na Amazônia
parece ser inviável nas áreas mais densamente vegetadas, que, conforme mostrou
o estudo, não são visitadas pelas abelhas africanizadas; (b) Se o
desenvolvimento da apicultura requer grandes áreas abertas, uma alternativa
seria a utilização das áreas degradadas existentes; (c) A ausência de abelhas africanas
visitando as iscas na floresta indica a inexistência de competição por recursos
com as abelhas nativas (melíponas) no interior da floresta.
Para saber mais: Marcio Luiz de
Oliveira e Jorge Alcântra Cunha. 2005. Abelhas
africanizadas Apis mellifera scutellata
Lepeletier, 1836 (Hymenoptera: Apidae: Apinae) exploram recursos na floresta
amazônica? Acta Amazonica, 35(3): 389-394.
Imagem: abelha africana (Apis mellifera scutellata).
Fonte: http://zootecniae10.blogspot.com.br/2012/04/principais-racas-de-abelhas.html
Fonte: http://zootecniae10.blogspot.com.br/2012/04/principais-racas-de-abelhas.html
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