BUSCAR SOLUÇÕES PARA O CLIMA É UMA NECESSIDADE QUE TRAZ BENEFÍCIOS (FINAL) (*)
REJARDINAR A BIOSFERA
Foster
Brown**, Antônio Willian Flores de Melo*** e Sabina Cerruto Ribeiro****
No
artigo publicado no dia 1 de novembro de 20161 neste jornal (1), comentamos que
o aumento de CO2 (Gás carbônico) na atmosfera já está causando problemas como
enchentes, secas, ondas de calor, derretimento de calotas polares e promete
causar muito mais nas décadas futuras.
A
causa deste aumento é simples. Via queima de gás natural, petróleo e carvão
estamos liberando, em décadas, carbono que levou dezenas de milhões de anos
para ser depositado como vegetação morta e transformado com pressão e alta
temperatura abaixo da superfície da terra. Em outras palavras, aceleramos
processos naturais em um fator de um milhão de vezes.
A
humanidade virou uma força geológica. Para quem pensa que isso não é verdade,
mas um complô de chineses, como afirma o novo presidente eleito dos Estados
Unidos, Donald Trump, esse argumento não vale, mesmo sendo endossado pelas
academias de ciência de vários países, inclusive do Brasil, China e Índia.
Talvez
para estas pessoas, seria mais convincente falar com pessoas do campo que não
vivem e trabalham em casas e salas com ar condicionado, e dependem diretamente
dos recursos disponíveis na natureza. Desde 2009 conversamos com dezenas de
líderes de grupos indígenas e de produtores rurais na Amazônia sul ocidental.
Todos afirmam que as temperaturas estão aumentando e as estações são mais
variáveis – chove quando não deveria e faz sol quando não deveria. Eles afirmam
que os rios baixam mais do que antigamente nos períodos de seca.
Estas
observações não são provas que o aumento de gás carbônico é responsável. Afinal
o clima tem mudado naturalmente, mas as tendências das mudanças na orbita da
Terra (2) e da energia do Sol (3) seriam para ter uma redução em temperatura,
não um aumento.
Também
os trópicos têm tanta variabilidade natural que as tendências podem ser
mascaradas. Mas estas pessoas estão preocupadas pois nos últimos 15 anos eles
já estão observando mudanças significativas no clima e a extrapolação para o
futuro as assustam.
Fazemos
torcida dos que acham que é complô, e para que o complô se revele logo e
podemos focar só nos desafios de ter 9,7 bilhões de pessoas no planeta em 2050
(4), 2,4 bilhões a mais do que temos hoje.
Mas
as evidências indicam que o aumento de CO2 é real e acelerando o seu impacto no
clima. O que fazer?
Precisamos
primeiro parar o aumento de CO2 na atmosfera, segundo, desenvolver meios de
reduzi-lo, voltando a uma concentração entre 300 a 350 ppm (atualmente a
concentração de CO2 é 400 ppm e aumentando numa taxa de 2 ppm por ano).
Um
primeiro passo seria mudar as fontes energéticas da nossa civilização para algo
que tem pouco impacto no clima. No artigo anterior, notamos que existem
análises que podemos mudar o nosso sistema energético para fonte renováveis em
poucas décadas.
Pode
ser que as análises sejam otimistas demais, mas devemos estar discutindo quais
opções são viáveis. Jacobson e colegas analisaram a situação nos Estados Unidos
e projetaram que a sua base energética poderia ser mais de 80% renovável até
2030 e 100% em 2050.
Com
Donald Trump como presidente, espera-se que esta transformação seja lenta nos
próximos 4 anos, porém os custos de produção estão baixando rapidamente,
facilitando esta mudança (5).
Mas
a transformação para energia renovável não vai resolver o problema de aumento
de CO2 sozinho, muito menos de reduzir CO2 na atmosfera. Temos tarefas
adicionais – parar de desmatar e recuperar florestas em áreas degradadas. Cerca
metade do peso seco de árvores é carbono, absorvido da atmosfera. Queimando
florestas libera este carbono como CO2. Reflorestando, ou nas palavras do Dr.
Antonio Nobre, “rejardinagem da biosfera”, seria uma maneira de puxar CO2 da
atmosfera e guardar na biomassa das florestas (6).
Um
processo similar funciona com solos. É possível aumentar a quantidade de
carbono do solo, melhorando a sua fertilidade e retenção de água e reduzir o
CO2 na atmosfera. Um estudo de Richard Houghton publicado em 2013 indicou que
parar de desmatar e reflorestar áreas degradadas poderia tirar 4 bilhões de
toneladas de carbono por ano, suficiente para parar o aumento do CO2 na
atmosfera.
Se
for combinado com uma mudança rápida para fontes renováveis de energia, podemos
reduzir os impactos crescentes de eventos extremos climáticos. A rejardinagem
da biosfera poderia ser uma estratégia global, mas com impactos locais
importantes.
Vamos
considerar a situação do estado do Acre. O estado tem 13% de sua área
desmatada, onde parte significativa desta está degradada. A rejardinagem desses
locais trariam benefícios que vão além da remoção de gases de efeito estufa,
pois possibilitariam a recomposição da paisagem fragmentada e a recuperação dos
serviços ambientais ali existentes. Dessa forma, seria possível aliar a
mitigação das mudanças climáticas globais com a geração de benefícios
importantes para a sociedade como um todo.
Agora
há alguns desafios serem resolvidos nesse processo. a) Quem vai pagar para este
esforço? b) Quem vai fazer? c) Como integrar esse processo com outros para ter
desenvolvimento digno num planeta sustentável? Mas dadas as consequências em
não fazer, acreditamos que está na hora de discutir e planejar como superar
esses desafios.
Para
saber mais: Houghton, RA, 2013. The emissions of carbonfrom deforestation and degradation in the tropics: past trends and futurepotential. Carbon
Management 4, 539–546.
*Artigo
originalmente publicado no jornal 'A Gazeta' em Rio Branco, Acre, em 15/11/2016.
**Foster
Brown, pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente dos Cursos de
Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais e em Ciências Florestais da
Universidade Federal do Acre (UFAC); cientista do Programa de Grande Escala
Biosfera Atmosfera na Amazônia, do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos
de Desastres do Parque Zoobotânico da UFAC; Membro do Consórcio Madre de Dios e
da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre.
***Antonio
Willian Flores de Melo, professor do Centro de Ciências Biológicas e da
Natureza, Universidade Federal do Acre.
****Sabina
Cerruto Ribeiro, professora do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza,
Universidade Federal do Acre.
Foto: SOSMA
Foto: SOSMA
Fontes
citadas:
(1) Buscar soluções para o clima é uma necessidade que trazbenefícios.
(2) Glacial-Interglacialcycles
(1) Buscar soluções para o clima é uma necessidade que trazbenefícios.
(2) Glacial-Interglacialcycles
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