POR QUE A PREOCUPAÇÃO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS? (*)
5. A atividade humana é pequena
ou não?
Foster Brown
(**)
A discussão
sobre mudanças climáticas oferece uma oportunidade para entender melhor como o
nosso planeta funciona. Um dos
argumentos usados para refutar que atividade humana está afetando o clima é que
mesmo com 7 bilhões de indivíduos, a humanidade é muito pequena em relação aos
processos que atuam no planeta.
Para
responder a esta afirmação, precisamos entrar no mundo dos números e usar a
língua mais universal do mundo: a matemática.
Por exemplo, se cada pessoa ocupa 1 metro quadrado, os 7 bilhões de pessoas
ocupariam 7 bilhões de metros quadrados. Dado que um quilômetro quadrado tem um
milhão de metros quadrados, a população humana inteira ocuparia somente 7.000
quilômetros quadrados, ou seja, uma área de 70 km por 100 km. Pode aparecer
grande, mas em comparação com a área de terra firme da Terra sem gelo, 130
milhões de quilômetros quadrados, a humanidade como indivíduos ocupa somente
0,005% dela, quase nada.
Mas nós
somos mais do que a área individual. A área urbana é cerca de meio milhão de
quilômetros quadrados para cidades maiores do que 500.000 habitantes,
totalizando mais de 2 bilhões da população mundial. Esta área é 0,3% da área de
terra firme, ainda pequena.
A situação,
porém, começa a ser diferente quando falamos de agricultura, pecuária, extração
de madeira, estradas, etc. Pesquisadores em instituições americanas e
espanholas estimaram que mais de 50 % da área terrestre sem gelo já foi
modificado por seres humanos até 2007. As modificações principais incluem áreas
cultivadas (13%) e pastos (26%). Como
indivíduos ocupamos quase nada da Terra, mas com as nossas ações afetamos uma
área significativa. Existem estimativas de que apropriamos cerca de um quarto
da produção primária (produção de plantas) da superfície terrestre. Além de afetar a superfície terrestre,
estamos afetando os oceanos, desde a pesca até a acidificação das águas
superficiais.
Agora vamos
voltar a mudanças climáticas para ver se a atividade humana é significativa. Um
argumento usado é que os fluxos naturais de carbono são tão grandes e os da
atividade humana são tão pequenos e considerados insignificantes. O, porém reside na natureza dos fluxos. Os grandes fluxos naturais somam cerca de
200 bilhões de toneladas de carbono (CBTC) por ano, mas são cíclicos, se não, o
estoque de gás carbônico na atmosfera em poucas décadas dobraria ou
sumiria. A contribuição de atividades
humanas, na ordem de 10 CBTC por ano, porém, é cumulativa e acelerando.
Desde a
década de 1950 temos bons registros da concentração de gás carbônico na
atmosfera que subiu de 315 partes por milhão (ppm) em 1959 a 392 rpm em
2011. Este aumento de 77 ppm pode ser
usado para calcular quanto carbono acumulou na atmosfera em termos de bilhões
de toneladas de carbono. O fator de
conversão, 2,13 BTC por ppm de gás carbônico, significa que cerca de 164 BTC
acumulou na atmosfera durante esses 52 anos.
Dados
independentes da produção de petróleo, gás natural e carvão indicam que cerca
de 295 BTC foram emitidos durante este período, ou seja, atividade humana de
queima de combustíveis fósseis emitiu 80% mais do que acumulou na atmosfera, o
resto indo para os oceanos, acidificando as águas superficiais, e no
crescimento de florestas e outra vegetação. Atualmente temos 400 ppm de gás
carbônico na atmosfera e a concentração continua a subir.
De um lado,
somos insignificantes em termos da área que ocupamos como indivíduos no
planeta, mas tanto no efeito da cobertura da vegetação, na produção primária e
na composição da atmosfera, viramos uma força planetária. Esta força pode ser
usada inteligentemente, como Jonathan Foley e outros colegas escreveram na
revista Nature em 2011 num artigo intitulado “Soluções para um Planeta
Cultivado”.
Eles notaram
que precisamos dobrar a nossa produtividade de comida nas próximas décadas e ao
mesmo tempo reduzir o nosso impacto no meio ambiente. Todavia abordagens
revolucionárias são essenciais para superar os desafios que a pobreza e aumento
de demanda num mundo de mudanças criam. Temos a capacidade, no entanto
precisamos desenvolver a vontade no tamanho desses desafios.
(*) Artigo
originalmente publicado no jornal A Gazeta em 22/12/2015.
(**) Foster
Brown, pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de
Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade
Federal do Acre (UFAC). Cientista do Programa de Grande Escala Biosfera
Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos de
Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios
e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA).
Fonte da imagem: We cannot throw ourgarbage away from the earth
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