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04 dezembro 2016

POR QUE A PREOCUPAÇÃO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS? (*)

4. QUEM DISSE QUE É UM PROBLEMA?

Foster Brown (**), Miguel Xavier (***) e Antônio Willian Flores de Melo (****)

A confiabilidade da mensagem que o homem está influenciando o clima depende em parte do mensageiro. Afinal, quem está afirmando ou refutando esta mensagem? Os autores, por exemplo, não são especialistas em meteorologia, mas trabalham com componentes críticos da influência humana sobre as mudanças climáticas, como incêndios florestais e biomassa de florestas.  Na atualidade é possível encontrar aqueles que concordam que o homem está sim influenciando o clima com suas atividades e aqueles que discordam e atribuem as alterações climáticas a processos naturais, ignorando o incrível aumento das emissões de gases de efeito estufa desde a revolução industrial nos últimos 50 anos.

Em nível individual, é possível buscar qualquer resposta que se queira. Inclusive, podemos ver sítios na Internet que propõem seriamente que a Terra é plana (ver figura) e que há um complô para esconder essa realidade das pessoas (1). Um indicador de confiabilidade e consistência científica maior do que um sítio da Internet seriam as declarações realizadas por organizações diversas de cientistas que estão afirmando a influência antrópica nas mudanças climáticas, colocando em risco desta forma suas reputações no caso de estarem errados.   

Em vários países, a academia nacional de ciências reúne seus melhores cientistas e só se manifestam sobre determinados assuntos quando há o apoio da grande maioria de seus membros. Em 2009, a Academia Brasileira de Ciências assinou conjuntamente com as academias de ciências da China, Índia, México, África do Sul, Rússia, Canadá, Itália, Estados Unidos, Reino Unido, França e Japão (2) uma declaração sobre a importância de reduzir rapidamente as emissões de gás carbônico oriundas de atividades humanas para limitar os impactos no clima.  Os países destas academias representam numericamente mais da metade da população mundial.

Além dessas 13 academias nacionais, a Organização Mundial de Meteorologia da ONU declarou em 2014 que as evidências para afirmar que o aquecimento global é induzido pela atividade humana são cada vez mais robustas (3). 

Nos Estados Unidos a situação é curiosa, apresentando uma dicotomia imensa entre as afirmações de cientistas e de políticos.  A Sociedade Americana de Meteorologia, com 13.000 membros em 100 países (4), declarou em 2012: “Há provas consistentes de que a atmosfera, os oceanos, e a superfície terrestre estão aquecendo; o nível do mar está subindo; e a cobertura de neve, geleiras e o gelo do mar Ártico estão diminuindo. A causa dominante do aquecimento desde a década de 1950 são as atividades humanas. Esta descoberta científica é baseada em um número grande e convincente de trabalhos científicos. O aquecimento observado na atualidade é irreversível para uma quantidade significativa de anos no futuro, e maiores aumentos da temperatura poderão ocorrer se a quantidade de gases de efeito estufa continuar a aumentar e acumular na atmosfera” (5).

Complementando os meteorologistas, a União Geofísica Americana, com 35.000 membros em 139 países, concluiu em 2013 que “a humanidade é a maior responsável pelas mudanças climáticas globais observadas nos últimos 50 anos. Respostas sociais rápidas podem diminuir significativamente os efeitos negativos” (6).    

Além destas declarações, estudos publicados por Oerskes (7) em 2004 e Cook et al. em 2013 (8), entre outros, mostraram que entre artigos publicados em revistas científicas, menos que 3% (três porcento) discordam que as atividades humanas estão afetando o clima.  Em outras palavras, a grande maioria dos cientistas que publicam sobre o clima, as academias de ciências e organizações de dezenas de milhares de cientistas, meteorologistas e geofísicos do mundo estão convencidos que temos um problema sério com a influência humana no clima.  

No âmbito político, o exemplo estadunidense pode ser considerado notável, mas por outro lado é estranho a ponto de misturar ciência, política e publicidade. Os candidatos do partido republicano para presidência dos Estados Unidos apresentam extrema dificuldade em concordar com a influência humana no clima, dizendo frases como “o clima está sempre mudando”, “tenho dúvidas”, “pseudociência”, “uma fraude”, etc. (9). Entretanto, até 2008 alguns destes republicanos acreditavam na influência humana nas mudanças climáticas, porém desde então, fortes campanhas publicitárias associaram a influência humana no clima como justificativa para a expansão do governo federal e controle da iniciativa privada.

Esta associação, como é de se esperar, criou um certo tipo de reação alérgica em conservadores que fazem a base do partido republicano.  Suas campanhas políticas tiveram apoio financeiro de vários bilionários e companhias de petróleo.  A documentação deste processo de minipulação da opinião pública pode ser visto no livro e documentário “Merchants of Doubt” (Mercadores de Dúvidas) (10).

Este paradoxo cresce nos Estados Unidos, onde há evidências cada vez maiores da influência humana no clima, porém os políticos conservadores, que controlam a Câmera de Deputados e o Senado, procuram cada vez mais evitar soluções para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas.  Apesar da resistência politica, a ciência vem se fortalecendo, como por exemplo, a Sociedade Americana de Meteorologia que publicou recentemente uma edição especial sobre os eventos extremos que ocorreram em 2014 (11).  Os autores dos 32 artigos mostraram que uma influência humana foi detectada em cerca de metade dos eventos extremos estudados no mundo inteiro no ano de 2014.
É claro que a influência humana no clima é tema para muitas outras discussões profícuas. Usamos alguns sítios (12) da internet para buscar opiniões diversas sobre o tema para que pudéssemos chegar as nossas próprias conclusões. Recomendamos que os leitores façam as suas próprias buscas de informação sobre as mudanças climáticas com intuito de poder agir baseado em conhecimentos sólidos. 

Caso a grande maioria dos cientistas esteja certa em relação a essa questão climática, todas e quaisquer soluções precisarão estar à altura do problema, sendo necessárias informações consistentes e amplamente discutidas (como é o propósito deste artigo) para compartilhar com a sociedade civil o que sabemos e o que não sabemos sobre os riscos e vulnerabilidades às quais estamos sujeitos. Afinal as soluções, como o Papa Francisco mencionou em sua Carta Encíclica Laudato Si (13), deverão sair de um diálogo em que todos deverão estar envolvidos enquanto humanidade.  

Links para as referências citadas:
(1) www.youtube.com/watch?v=oc0trwHSRIA;  
(1) www.youtube.com/watch?v=U55UDzNCSAE http://ifers.boards.net/;
(1) www.youtube.com/watch?v=nNCKZxiGi54; 
(1) www.youtube.com/watch?v=h5i_iDyUTCg
(1) www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-33.pdf;
(2) www.abc.org.br/article.php3?id_article=279&var_recherche=declara%E7 % E3o+clima
(3) www.wmo.int/media/sites/default/files/1152_en.pdf, p.3
(4) www2.ametsoc.org/ams/index.cfm/membership/
(5) www2.ametsoc.org/ams/index.cfm/about-ams/ams-statements/statements-of-the-ams-in-force/climate-change/
(6) www.sciencepolicy.agu.org/files/2013/07/AGU-Climate-Change-Position-Statement_August-2013.pdf;
(6) www.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2013EO34/epdf
(7) Oreskes, Naomi. “The Scientific Consensus on Climate Change.” Science 306, no. 5702 (December 3, 2004): 1686–1686. doi:10.1126/science.1103618.
(8) John Cook, Dana Nuccitelli, Sarah A Green, Mark Richardson, Bärbel Winkler, Rob Painting,  Robert Way, Peter Jacobs and Andrew Skuce. “Quantifying the Consensus on Anthropogenic Global Warming in the Scientific Literature.” Environmental Research Letters 8, no. 2 (2013): 024024.
(9) http://thinkprogress.org/climate/2015/07/26/3683808/gop-field-climate-energy-ranked/
(10) https://www.youtube.com/watch?v=7YmRovaSYkE
(11) Herring, S. C., M. P. Hoerling, J. P. Kossin, T. C. Peterson, and P. A. Stott, Eds., 2015: Explaining Extreme Events of 2014 from a Climate Perspective. Bull. Amer. Meteor. Soc., 96 (12), S1–S172.
(11) www2.ametsoc.org/ams/index.cfm/publications/bulletin-of-the-american-meteorological-society-bams/explaining-extreme-events-from-a-climate-perspective/
(12) wattsupwiththat.com; https://medium.com/@pullnews/what-i-learned-about-climate-change-the-science-is-not-settled-1e3ae4712ace; http://www.populartechnology.net/2009/10/peer-reviewed-papers-supporting.html
(13)w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html

* Artigo originalmente publicado no jornal A Gazeta, Rio Branco-AC, em 24/11/2015

** Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Programa de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA).
*** Miguel Xavier, Professor do Curso de Licenciatura em Química do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza (CCBN); pesquisador dos grupos de pesquisa de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) e de Nanociência, Nanotecnologia e Nanobiotecnologia (NNN) da UFAC.
**** Antônio Willian Flores de Melo, Professor dos Cursos de Engenharia Agronômica e Engenharia Florestal do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza (CCBN); pesquisador do grupo de pesquisa de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da Universidade Federal do Acre.

Fonte da figura: A Terra Plana.