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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

07 outubro 2005

DESMATAMENTO ECOLÓGICO!

QUANDO CHEGARÁ AO ACRE?

O desmatamento tem sido a marca da presença do homem na amazônia brasileira. Na década de 70 era visto como necessário e foi oficialmente incentivado por um modelo de ocupação que favoreceu, em grande parte, a instalação de grandes empreendimentos pecuários. Com o tempo, boa parte destes novos "empreendedores" mostrou não ter o interesse de investir capital próprio e abraçar tecnologias para melhorar as áreas derrubadas. Eles sempre derrubavam mais floresta para manter ou expandir seus negócios. Então, o limite para a destruição era o "capital".

O tempo se encarregou de mostrar que eles eram meros oportunistas. A democratização do país nos anos 80 e a pressão da sociedade forçou o aparato estatal a mudar de lado para impor o "limite legal" à destruição, então desenfreada. O estado se aparelhou, criou órgãos específicos para lidar com o assunto e hoje usa satélites e helicopteros para monitorar derrubadas e queimadas. Nada disso, porém, impediu ou mesmo diminui o rítmo da destruição. A disponibilidade de capital ainda parece continuar a ser o limite.

Alguns se perguntam:


- Como é possível isso continuar a acontecer? Infelizmente esse debate sempre foi mais mais acadêmico do que político.

O desastre ambiental deste ano talvez seja o prenúncio de mudanças. Se fala em processar os produtores da fumaça e algumas pessoas foram presas por realizar queimadas ilegais. São avanços que podem ajudar a evitar desastres similares nos próximos anos. Infelizmente estas providências servirão para evitar e diminuir as consequências, mas não as principais causas: as derrubadas ilegais.

Na amazônia, os que praticam essas derrubadas são formidáveis inimigos. Além disso são sórdidos, criativos, poderosos e influentes politicamente. Estão sempre em busca de uma saída que os permita continuar a levar a vida que sempre levaram: derrubando e queimando.

Sabedores da criatividade do Brasileiro, ficamos sempre na expectativa de que cedo ou tarde apareça o famoso "jeitinho" para driblar satélites, helicopteros, carros e os fiscais que tentam controlar os desmatamentos ilegais.

No Pará esse jeitinho já deu as caras. Talvez por que aquele Estado esteja muito mais avançado do que o Acre em termos de "tecnologia" de desmatamento, queimadas e métodos para burlar a fiscalização. O jeitinho tem até nome: "desmatamento ecológico".

De acordo com uma nota de O GLOBO reproduzida no site do
IPAM, um projeto de pesquisa demonstrou que pecuaristas e grileiros daquela região têm adotado técnicas de derrubada de florestas que burlam a vigilância dos satélites.

Para isso, eles usam tratores com esteiras, não removem as árvores derrubadas e esperam um ano até plantar sementes de capim. Como a técnica não produz fogo, está sendo chamada de “desmatamento ecológico”.

As áreas mais atingidas pelo “desmatamento ecológico” ficam na região da Terra do Meio, área de oito milhões de hectares no Pará, entre os rios Tapajós e Xingu. Entre as cidades com mais focos estão São Félix do Xingu, Tucumã e Redenção". A coordenadora de pesquisa do Museu Emílio Goeldi, Ima Vieira, explica:

- Os tratores de esteira vão entrando na mata a partir da borda e arrebentando as árvores. No segundo ano, plantam capim, jogam a semente e transformam em pastagem. Só no terceiro ano, a área é “enxergada” pelo satélite, mas aparece como desmatamento em área produtiva (o que não é considerado destruição da mata primária).

- Como não vê a queima e nem a fumaça, o satélite só descobre a área muito tempo depois, já como pastagem — lamenta Ima Vieira, que defende a proibição de novas licenças em áreas de vegetação primária.

E no Acre? Nem todo mundo dispõe de tratores (ainda). Como será que a criatividade dos destruidores locais vai conseguir burlar a vigilância oficial, que vai estar mais ativa do que nunca nos próximos anos?

Por enquanto a "tecnologia" usada aqui ainda é um pouco primitiva mas é criativa e funcional. Ouvimos comentários de que a moda agora é derrubar de forma ilegal um pouquinho da mata bruta e evitar queima-la. Esperar o próximo ano até o local "encapoeirar" e então ir ao IBAMA/IMAC solicitar uma licença de derrubada de capoeira. Sim, porque esta licença é mais fácil de se ser obtida do que a de derruba de mata bruta.

Feita a derrubada da capoeira de forma legal fica faltando apenas queimar para se poder plantar o capim. Essa é a parte mais fácil e barata do processo pois a natureza se encarrega de faze-lo (com uma mãozinha do homem...). Como temos seca exagerada no auge do verão, no tempo ideal para queimar, é geralmente nesta época que o fogo ateado pelo vizinho fica fora de controle, centelhas vêem de longe...Resultado: a area derrubada queima "por igual".

Pronto. Mais algumas hectares de floresta primária convertidas em pastagens. O processo todo demora um pouquinho mais de tempo, mas funciona.


"De hectare em hectare, a fazenda se enche de gado..."