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04 outubro 2005

DESMATAMENTO: QUEM FAZ NO ACRE?

As queimadas sem controle que ocorreram neste ano de 2005 deveriam levantar esta questão. Afinal são das áreas desmatadas que se originam os incêndios e a fumaça, a parte “visível” do problema. As queimadas em florestas nativas, tipo a que ocorreu na RESEX Chico Mendes e a que está acontecendo na RESEX Cazumbá estão mais relacionadas com a seca incomum deste ano do que com os desmatamentos.

O IMAC e o IBAMA deveriam mostrar para a sociedade quem tem efetivamente contribuído para a degradação de nosso meio ambiente. Entendemos que neste momento é importante resolver os estragos causados pelas queimadas, mas é importante saber quem está à frente das mesmas para "prevenir" outros desastres similares mais à frente.

Quem desmata no Acre? O lugar óbvio para responder esta pergunta é o IBAMA e o IMAC pois eles possuem os dados. Eles dão as autorizações para os desmatamentos e aplicam as multas quando detectam alguma ilegalidade.

Alguns sugeriram que a maioria das queimadas no Acre são realizadas por pequenos agricultores (Dr. Judson Valentim-EMBRAPA e Assuero Veronez-Presidente da FEAC). Talvez isto esteja sendo dito por que os pequenos agricultores são os únicos que podem obter, com relativa facilidade, licença para derrubar até 3 ha, a famosa “derrubada de subsistência”. Como eles são maioria nos cadastros do INCRA e ITERACRE é fácil fazer a dedução.

Se for verdade que os pequenos são responsáveis pela maioria das queimadas e da fumaça, pode-se então “deduzir” que eles são, também, os maiores destruidores de florestas no Acre.

Embora a impressão geral e os números “burocráticos” apontem na direção dos pequenos agricultores, as estimativas de derrubadas nos anos 2002-2003 feitas por satélite “não concordam” com isso.

Estudo dos pesquisadores Anderson S. Costa e Carlos M. de Souza Jr. do IMAZON (COMPARAÇÃO ENTRE IMAGENS LANDSAT ETM+ E MODIS/TERRA PARA DETECÇÃO DE INCREMENTOS DE DESMATAMENTO NA REGIÃO DO BAIXO ACRE), publicado em junho de 2005, indica que 86% da área desmatada no Acre em 2002-2003 é resultante de incrementos maiores que 3 ha.

Na tabela abaixo, pode-se observar que 67% dos desmatamentos realizados no período correspondem a derrubadas que variaram entre 3 e 100 ha. Os grandes desmatamentos (entre 100 e 1000 ha) correspondem a 16% do total. É um índice superior ao percentual relativo aos pequenos desmatamentos de até 3 ha (14%).

Classes de Tamanho (ha) -- Área Total (%)
0-3 ha -- 14%
3-100 ha -- 67%
100-1000 ha -- 16%
≥1000 ha -- 3%

A metodologia usada para detectar o incremento do desmatamento nas imagens LANDSAT no referido trabalho é apresentada na figura abaixo.

Figura 1. Sub-região da área de estudo, ilustrando a metodologia utilizada para detectar o incremento do desmatamento nas imagens Landsat: (a) composição colorida da imagem Landsat de 2002; (b) imagem Landsat de 2002 classificada; (c) composição colorida da imagem Landsat de 2003; e (d) sobreposição da classificação de 2002 na imagem Landsat de 2003 ressaltando os incrementosde desmatamento que foram digitalizados
(a) Landsat ETM+ 2002 (b) Classificação 2002

(c) Landsat ETM+ 2003 (d) Sobreposição (b e c)


Considerando os dados acima, uma pergunta fica no ar: se os pequenos não são os principais responsáveis pelas derrubadas, por que se tenta atribuir a eles a maioria das queimadas e da fumaça?

Fiquei pensando no que os reais destruidores de nossas florestas poderiam argumentar e creio que a desculpa vai ser no estilo:

Os pequenos fazem mais fumaça por que as suas derrubadas são mal feitas e a forma de tocar fogo também é muito rudimentar. Como todo mundo sabe, eles são uma classe de produtores tecnologicamente muito atrasada!

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

a maioria do campo não é apenas atrazada tecnologicamente, é atrazada em todos os sentidos, pois estão excluídas da rede de informação que se estende em meio urbano. Muitos tomam a biblia ao pé da letra acreditando que o mundo deve acabar em fogo. Enfim, a maioria dos excluídos está se fazendo notar. e como!O governo do Acre bem que poderia ler um pouco sobre a revolução meiji no Japão e acreditar que mais vale uma revolução na educação que estradas asfaltadas. Fátima Almeida

09/10/2005, 23:54  

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