ECOSSISTEMAS EMERGENTES!
No campo econômico falamos de "economias emergentes", na política internacional falamos de "países emergentes" e na atual situação de destruição e alteração grave do meio ambiente temos que incorporar um novo termo "ecossistemas emergentes". São resultantes de mudanças ambientais promovidas pela ação humana e que, assim como os animais, se adaptam, sobrevivem e parece que vão se perpetuar.
No Acre, temos vários exemplos...alguem pode pensar em algum antes de seguir adiante na leitura deste texto?
Vejam trechos de algumas mensagens que temos trocado recentemente. Creio que meus amigos Foster Brown, Alceu Ranzi e Paulo Wadt são, ao mesmo tempo, realistas, visionários, proféticos e vanguardistas. Mas acima de tudo, apontam o que vem por ai.
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Alceu Ranzi:
- Ecossistemas e biodiversidade: Ocorrência de quero-quero (Vanellus chillensis) e da coruja-buraqueira (Speotyto cunicularia) são novos no Acre e acompanham o avanço das pastagens.
- Em breve poderão surgir nos campos "africanos" do Acre, junto com os bois Indianos, a ema (Rhea americana), alguns tatus e perdiz (Nothura maculosa).
Os campos antrópicos do Acre poderão formar um corredor com os lhanos de Mojos (Beni/Bolivia) e receber parte da fauna daquela parte da America do Sul.
Também poderá vir a sariema (Cariama cristata), para caçar as cascavéis...que como sabemos não é bicho do mato.
Um abraço,
Alceu Ranzi
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Foster Brown:
- No Acre, tem pelo menos tres ecossistemas emergentes:
1. Pasto com gramas africanas: >50.000 ha/ano aumento.
2. Florestas danificadas pelas queimadas: aumento > 250.000 ha em tres meses (agosto, setembro outubro) em 2005.
3. Ecossistemas fluviais com mata ciliar ausente e açudes frequentes. Temos ja > 10.000 km de mata ciliar ausente no leste do Acre. Para uma taxa de 50.000 ha (500 km2)/ano de desmatamento , estima-se um aumento de >400 km de ecossistemas fluviais sem mata ciliar/ano.
Acoplado com estas transformacoes, se encontra mudancas climaticas (reducao de chuvas e aumenta da temperatura) e efeitos de poluicao atmosferica (ozonio elevado, reducao de energia solar, aerossois > 450 ug/m3) que estao afetando processos biogeoquimicos dentro destes e outros ecossistemas.
Estas mudancas, como Alceu notou, vao favorecer algumas especies e prejudicar outras. Na Regiao MAP esta transformando nao so' os ecossistemas, mas tambem funcionamento dentro de ecossistemas existentes.
Abracos,
Foster
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Paulo Wadt:
É muito interessante esta questão e recentemente estava meditando sobre isto e o próprio curso de mestrado em ecologia. Algumas vezes estamos estudando apenas a ecologia dos sistemas naturais mas, há os sistemas artificiais (agricolas, como graminea + gado) que estão presentes em grande extenção e estão sendo avaliados em grande parte apenas sob a ótica da produção comercial, sem uma abordagem mais holística que poderia ser feita.
Paulo
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Aos leitores, sugiro refletir e passar a olhar estas velhas paisagens de pastagens, rios com margens desmatadas e, mais recentemente, as florestas nativas com subbosque alterado pelo fogo, como "novos ecossistemas". Não vai ser fácil se ver livre deles, talvez nunca vamos nos livrar: alguem já ouviu propostas de transformar pastagens em florestas? Cultural, social e politicamente ela seria inviável na conjuntura das décadas que se aproximam.
Desta forma, não podemos negar a presença e importância deles! Não adianta tapar o sol com a peneira. Nossos livros escolares de biologia vão ter que passar a considerar estes "novos ambientes" na parte que discute os ecossistemas locais. Além de florestas, várzeas, campinas e outros velhos conhecidos, nossos futuros estudantes têm o direito de conhecer estes novos ecossistemas, sua gênese, crescimento e consolidação.
Quem sabe assim fica mais fácil conquistar mentes e corações para reverter o mal que estamos causando ao nosso meio ambiente "original".
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COMENTÁRIOS QUE VALEM SER PUBLICADOS:
Mário disse...
Eu gostaria de ter um esclarecimento: o que o Professor Alceu pretende significar com o termo "recente", quando o consideramos relativamente a anos ou décadas?
Anônimo disse...
"Ecossistema emergente" é realmente um conceito muito apropriado. Vamos ter que nos adaptarmos às mudanças. A nossa sobrevivência está aí. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Alceu disse...
Tentando responder a questão formulada pelo Mario:
- Em geociências o termo "Recente" se aplica aos últimos 12 mil anos. Foi quando ocorreu a grande extinção da megafauna característica do Pleistoceno. Considera-se a partim do fim do último Galcial. Assim em geologia, depois do Pleistoceno temos o Recente.
- Historicamente, o recente para o Brasil poderia começar a partir da carta de Pero Vaz de Caminha, pois antes era pré-histórico.
- Ao Acre eu ouso sugerir, que em termos ambientais, o recente tem seu início na década de 1970, com as grandes intervenções antrópicas, quando parte da floresta começou a ser substituída pelas gramíneas.
- Importante notar que em geologia o termo "Recente" não se aplica a séculos ou décadas.
No Acre, temos vários exemplos...alguem pode pensar em algum antes de seguir adiante na leitura deste texto?
Vejam trechos de algumas mensagens que temos trocado recentemente. Creio que meus amigos Foster Brown, Alceu Ranzi e Paulo Wadt são, ao mesmo tempo, realistas, visionários, proféticos e vanguardistas. Mas acima de tudo, apontam o que vem por ai.
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Alceu Ranzi:
- Ecossistemas e biodiversidade: Ocorrência de quero-quero (Vanellus chillensis) e da coruja-buraqueira (Speotyto cunicularia) são novos no Acre e acompanham o avanço das pastagens.
- Em breve poderão surgir nos campos "africanos" do Acre, junto com os bois Indianos, a ema (Rhea americana), alguns tatus e perdiz (Nothura maculosa).
Os campos antrópicos do Acre poderão formar um corredor com os lhanos de Mojos (Beni/Bolivia) e receber parte da fauna daquela parte da America do Sul.
Também poderá vir a sariema (Cariama cristata), para caçar as cascavéis...que como sabemos não é bicho do mato.
Um abraço,
Alceu Ranzi
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Foster Brown:
- No Acre, tem pelo menos tres ecossistemas emergentes:
1. Pasto com gramas africanas: >50.000 ha/ano aumento.
2. Florestas danificadas pelas queimadas: aumento > 250.000 ha em tres meses (agosto, setembro outubro) em 2005.
3. Ecossistemas fluviais com mata ciliar ausente e açudes frequentes. Temos ja > 10.000 km de mata ciliar ausente no leste do Acre. Para uma taxa de 50.000 ha (500 km2)/ano de desmatamento , estima-se um aumento de >400 km de ecossistemas fluviais sem mata ciliar/ano.
Acoplado com estas transformacoes, se encontra mudancas climaticas (reducao de chuvas e aumenta da temperatura) e efeitos de poluicao atmosferica (ozonio elevado, reducao de energia solar, aerossois > 450 ug/m3) que estao afetando processos biogeoquimicos dentro destes e outros ecossistemas.
Estas mudancas, como Alceu notou, vao favorecer algumas especies e prejudicar outras. Na Regiao MAP esta transformando nao so' os ecossistemas, mas tambem funcionamento dentro de ecossistemas existentes.
Abracos,
Foster
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Paulo Wadt:
É muito interessante esta questão e recentemente estava meditando sobre isto e o próprio curso de mestrado em ecologia. Algumas vezes estamos estudando apenas a ecologia dos sistemas naturais mas, há os sistemas artificiais (agricolas, como graminea + gado) que estão presentes em grande extenção e estão sendo avaliados em grande parte apenas sob a ótica da produção comercial, sem uma abordagem mais holística que poderia ser feita.
Paulo
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Aos leitores, sugiro refletir e passar a olhar estas velhas paisagens de pastagens, rios com margens desmatadas e, mais recentemente, as florestas nativas com subbosque alterado pelo fogo, como "novos ecossistemas". Não vai ser fácil se ver livre deles, talvez nunca vamos nos livrar: alguem já ouviu propostas de transformar pastagens em florestas? Cultural, social e politicamente ela seria inviável na conjuntura das décadas que se aproximam.
Desta forma, não podemos negar a presença e importância deles! Não adianta tapar o sol com a peneira. Nossos livros escolares de biologia vão ter que passar a considerar estes "novos ambientes" na parte que discute os ecossistemas locais. Além de florestas, várzeas, campinas e outros velhos conhecidos, nossos futuros estudantes têm o direito de conhecer estes novos ecossistemas, sua gênese, crescimento e consolidação.
Quem sabe assim fica mais fácil conquistar mentes e corações para reverter o mal que estamos causando ao nosso meio ambiente "original".
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COMENTÁRIOS QUE VALEM SER PUBLICADOS:
Mário disse...
Eu gostaria de ter um esclarecimento: o que o Professor Alceu pretende significar com o termo "recente", quando o consideramos relativamente a anos ou décadas?
Anônimo disse...
"Ecossistema emergente" é realmente um conceito muito apropriado. Vamos ter que nos adaptarmos às mudanças. A nossa sobrevivência está aí. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Alceu disse...
Tentando responder a questão formulada pelo Mario:
- Em geociências o termo "Recente" se aplica aos últimos 12 mil anos. Foi quando ocorreu a grande extinção da megafauna característica do Pleistoceno. Considera-se a partim do fim do último Galcial. Assim em geologia, depois do Pleistoceno temos o Recente.
- Historicamente, o recente para o Brasil poderia começar a partir da carta de Pero Vaz de Caminha, pois antes era pré-histórico.
- Ao Acre eu ouso sugerir, que em termos ambientais, o recente tem seu início na década de 1970, com as grandes intervenções antrópicas, quando parte da floresta começou a ser substituída pelas gramíneas.
- Importante notar que em geologia o termo "Recente" não se aplica a séculos ou décadas.
3 Comments:
Eu gostaria de ter um esclarecimento: o que o Professor Alceu pretende significar com o termo "recente", quando o consideramos relativamente a anos ou décadas?
"Ecossistema emergente" é realmente um conceito muito apropriado. Vamos ter que nos adaptarmos às mudanças. A nossa sobrevivência está aí. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Tentando responder a questão formulada pelo Mario:
Em geociências o termo Recente se aplica aos últimos 12 mil anos. Foi quando ocorreu a grande extinção da megafauna característica do Pleistoceno. Considera-se a partim do fim do último Galcial.
Assim em geologia,depois do Pleistoceno temos o Recente.
Historicamente, o recente para o Brasil poderia começar a partir da carta de Pero Vaz de Caminha, pois antes era pré-histórico.
Ao Acre eu ouso sugerir, que em termos ambientais, o recente tem seu início na década de 1970, com as grandes intervenções antrópicas, quando parte da floresta começou a ser substituída pelas gramíneas.
Importante notar que em geologia o termo Recente não se aplica a séculos ou décadas.
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