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04 março 2006

É POSSÍVEL PREVER AS ENCHENTES?














Estação de captação de água do Saerb no bairro Sobral: a imagem da direita foi tomada no áuge da seca de 2005. A da direita foi feita no auge da alagação de 2006 (imagens Dr. Foster Bronw).

Muitas pessoas têm demonstrado surpresa com a alagação do passado mês de janeiro. Surpresa porque quase sempre a alagação é precedida por chuvas intensas (leia o post "Estranha algação não anunciada"). Não foi o caso. Sinal dos tempos? Talvez, o clima está mundando e todo mundo está sabendo. Com toda a tecnologia disponível nos dias atuais, uma pergunta fica no ar: é possível prever as enchentes? A resposta é talvez.

Segundo do Dr. Foster Bronw "Teoricamente, a previsão de chuvas é problematica, mas a previsão de enchentes depois da queda das chuva não deveria ser tão difícil se houver informações completas sobre a intensidade de chuvas, escoamento e evapotranspiração na bacia, propriedades dos solos, relevo, etc". Segundo o pesquisador "a maioria destes paramêtros pode ser determinada a partir de dados existentes". Entre estes dados, podem ser citados o relevo e tipos de solos, que não mudam na escala de tempo em que as previsões precisam ser feitas.

Por outro lado, os fatores mais importantes que geralmente não podem ser bem determinados são a quantidade e a intensidade das chuvas. Tradicionalmente se usam pluviômetros para se estimar estes parâmetros. Pluviômetros, a despeito do nome complicado, são simples funis que capturam a água da chuva, medindo a quantidade de água que caiu em milimetros de espessura de uma lamina de água. Ou seja, quando se diz que choveu 300 mm em um mês, é como se a água que caiu na região durante aquele mês se acumulasse até uma altura de 30cm - na hipótese de não ter para onde escoar.

Portanto, a previsão de enchentes depende da obtenção de dados relativos às chuvas, ou seja, dos pluviômetros. Rio Branco é o local em nossa região onde os dados sobre chuvas vêem sendo coletados há mais de 30 anos. Além disso, há alguns anos atrás foram instaladas estações meteorológicas automáticas em vários pontos da bacia, mas infelizmente algumas não funcionam mais. Mais recentemente foram instalados pluviômetros em Cobija (Bolivia).

Se queremos ter uma melhor idéia sobre as enchentes - especialmente quando elas vão acontecer - esta é hora de investir no conserto destas estações fora de uso e instalar novas unidades em locais mais afastados da bacia, como o alto riozinho do rola, o rio Xapuri e o alto rio Acre. Sem dúvida nenhuma, este é um dos tópicos indispensáveis a serem discutidos em um possível seminário que a sociedade local e o governo deveriam realizar para avaliar esta questão das enchentes que anualmente acontecem em Rio Branco.

Entretanto, a simples instalação dos pluviômetros não basta. Tem que haver a garantia de que os mesmos vão ser mantidos e que as informações geradas por eles possam chegar o mais rápido possível às instituições de pesquisa e à Defesa Civil. Pode ser via satélite, se as estações de coletas de dados forem automáticas, ou pode ser por telefone mesmo. O importante é que as informações cheguem com celeridade. E mais importante: as informações científicas geradas por estas redes de coletas de dados têm de ser disponibilizadas para a maior quantidade de pessoas.

Aliás, seria super interessante que as autoridades estaduais e municipais - e respectivos assessores - fizessem uso rotineiro destas informações. Não seria coisa de outro mundo, por exemplo, o Governador do Estado ter em seu gabinete um computador que permitisse a ele acessar estas informações ("mastigadas" ou seja, traduzidas em linguagem que possa ser entendida facilmente). Seria coisa, como costumamos dizer "de primeiro mundo"!

O investimento para isso não seria gigantesco e massa crítica local para operar e trabalhar os dados já existem. Neste ponto a gente pode dizer com orgulho que, graças aos investimentos em C&T, o Acre está aos poucos deixando de ser o "coitadinho". Muitas pessoas ficam surpresas ao se dar conta disso. Mas é a verdade. Neste caso específico, o problema maior seria montar a infraestrutura e operacionalizar o sistema.

A Agência Nacional de Águas (ANA) tem usados dados enviados por 3 estações metereológicas automáticas instaladas em Brasiléia, Xapuri e na Fazenda Santo Afonso, no riozinho do rola (veja imagem da estação abaixo). Estes dados são atualizados a cada hora, via satélite e estão disponíveis na página da ANA (clique aqui para acessar a página com dados do nível do rio Acre).

Voltando à questão da previsão das enchentes. Os pesquisadores acreditam que mesmo ampliando a rede de pluviômetros, as bacias hidrográficas da Região MAP possuem áreas remotas com milhares de quilomêtros quadrados que não têm e não vão testemunhar, em futuro próximo, a instalação de pluviômetros. O que fazer?

Segundo o Dr. Bronw, existe a necessidade de complementar os dados de pluviômetros e do sistema de alerta da Defesa Civil existente (dependente de dados obtidos no alto rio Acre, repassados via telefone) para ajudar na previsão de enchentes. Isto pode ser atendido parcialmente pelos dados do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (CPTEC/INPE), que analisa imagens do satélite meteorológico GOES-12 e, usando a distribuição de nuvens e sua temperatura, faz uma estimativa da intensidade de chuvas que caem na região a cada meia hora (!)

Diariamente o CPTEC soma estas estimativas de chuvas e disponibiliza uma imagem da intensidade de chuvas até 100 mm por dia (clique aqui para ir para a página do Hidroestimador-INPE). Este produto se chama "Modelo Hidroestimador" e tem uma resolução de aproximadamente o tamanho de um pixel da imagem GOES-12, ou seja, 16 km2 (Vejam imagem ao lado).

Técnicos do SETEM-PZ-UFAC analisaram esporadicamente, durante os dias de enchentes, a ocorrência de chuvas com o que o hidroestimador indicou e observaram a concordância em 4 casos seguidos. A conclusão é de que, como indicador qualitativo (sem chuva/com bastante chuva), o hidroestimador produz informações úteis. Os pesquisadores sugerem que a Defesa Civil da Região MAP usem o hidroestimador como primeira aproximação da ocorrência de chuvas nas bacias do MAP.

Sugestão de leitura: Pesquisa para prever enchentes na Regiao MAP - I. Teste do Hidroestimador do INPE, Post by Dr. Foster Bronw no Forum GTP-Queimadas (http://map-amazonia.net/forum/showthread.php?t=50)