SOMOS TODOS IMPERIALISTAS!
Nem Chico Mendes escapou!
Assim deixa a entender o texto "Os agentes do imperialismo na Amazônia ocidental", publicado no site CEBRASPO-Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos, e assinado pela professora do Departamento de Economia da UFAC Nazira Correia Camely. Lendo o texto - que já tem alguns meses ou ano de publicação - tem-se a impressão que tudo e todos estão a serviço dos imperialistas americanos. Faltou ela dizer quem não está.
No - longo - texto é possível pinçar as instituições que atuam na amazônia que promovem "espionagem" em favor dos imperialistas: Ipam, Naeae, Universidade Federal do Pará, Pesacre, Parque Zoobotânico da UFAC e outras.
Segundo a autora "As universidades vêm cumprindo um importante papel na elaboração e execução dos projetos de intervenção na Amazônia, elas são preferidas pelos gringos por sua aparente estabilidade, miséria atual de recursos, e na região sua indigência. Em troca de computadores e outros equipamentos, somadas algumas publicações em revista de prestígio internacional muitos pesquisadores tem contribuído sistematicamente com organizações do Estado americano, ongs etc., além de criarem ongs que atuam vinculadas às universidades além das fundações já tão conhecidas (um importante caixa 2)".
Até a coleção paleontológica da UFAC, que todos sabem foi fruto de árduo trabalho da equipe liderada pelos professores Jonas Filho (Reitor), Alceu Ranzi e Jean Bocquentin (Francês), é obra dos gringos!!! Imaginem se americanos iriam dar dólares para um francês!!!
Para mim o texto deixa a impressão de que a autora viveu na Albânia ou Coréia do Norte, lugares onde todos são suspeitos até que provem o contrário. Me lembra meus tempos de movimento estudantil, quando eu, provavelmente, teria a capacidade de escrever algo tão radical.
É isso mesmo, naquela época, ser radical era a regra. Eu era um operário e para os "cabeças" do movimento tudo era suspeito. Vivíamos sob a ditadura militar e para "escapar dos milicos" nos reuníamos a noite para fazer faixas, pintar camisas, pichar o campus. Tudo na calada da noite como mandavam os manuais de subversão da época. Tivemos vitórias e derrotas.
O tempo passou, estamos em uma democracia, quase todos os colegas do movimento avançaram social e politicamente. Algumas pessoas que comandavam a nossa tendência política até se submeteram ao processo democrático. Um deles é hoje o vice-governador do Acre, o binho, que além de liderar, emprestava sua brasília para que a turma pudesse se locomover "discretamente" pela cidade. Nosso principal articulador era o Carioca, que ainda hoje faz esse papel. A oposição era comandada, já naquela época, pelo Gerson e o ex-deputado Marcos Afonso. Gerson ainda hoje é um lider estudantil - embora seja professor do curso de História.
Vivemos numa democracia. Mas a pergunta cabe: quem avançou e quem parou no tempo?
Leiam a íntegra do texto abaixo:
Os agentes do imperialismo na Amazônia ocidental
Nazira Correia Camely( *)
Introdução
O imperialismo na Amazônia, não apenas brasileira, combina sua estratégia militar de espionagem e ocupação futura com interesses mediatos dos capitais monopolistas, insumos para a indústria biotecnológica. Combinando intervenção econômica com elementos da guerra de baixa intensidade tendo por base o ecologismo, tenta cimentar ideologicamente interesses diversos como de pequenos produtores e latifundiários através de uma política de planejamento estatal, como o zoneamento econômico e ecológico – zee[1], financiado e dirigido por quadros de agências do imperialismo como o Banco Mundial.
O fracasso desse planejamento, apesar dos esforços de propaganda dos governos estaduais e da própria SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos[2], revela-se na brutal atuação dos órgãos de meio ambiente contra os camponeses, medidas repressivas contra o desmatamento de pequenas áreas para plantar alimentos, pesca e caça entre outros, são aplicadas multas, tomada de ferramentas, prisões e tortura. Outro resultado bastante visível das políticas imperialistas na Amazônia tem sido o esvaziamento do campo, movimento migratório que tem provocado o crescimento exagerado das cidades e também constituindo uma população flutuante na fronteira do Brasil com países vizinhos (Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia) e a constituição de uma população flutuante empurrada ora para um país ora para outro, sem conseguir resolver seu problema, a terra, já que se trata principalmente de camponeses e índios.
A manutenção de relação semifeudais desde o final do século XIX
Ao final do século XIX a produção de borracha controlada pelos EUA engendra um complexo sistema de financiamento da produção que mobilizou um grande contingente de trabalhadores originados do nordeste do Brasil. Um sistema de endividamento impedia que esses trabalhadores obtivessem terra, que estavam disponíveis na região, tratava-se de ter uma força de trabalho exclusiva para a produção de borracha, aprisionada ao sistema extrativista onde os donos de terras- os seringalistas – controlavam os preços da borracha e dos insumos que eram vendidos aos seringueiros. As relações de trabalho eram mantidas pela violência de jagunços, verdadeiro Estado num território em disputa com países vizinhos como Perú e Bolívia.
Tais relações foram modificadas com a crise da produção de borracha no Brasil, porém em várias regiões ainda se mantêm essas mesmas relações. A maioria desses seringueiros durante quase um século, nunca se tornou proprietário fundiário, o que com a ajuda do oportunismo permitiu convertê-los ao final dos anos 80 em defensores dos interesses do imperialismo; passaram a vigiar extensas áreas de terras para uma finalidade que até agora não sabe bem qual seja, a não ser que estão defendendo a natureza e os interesses de toda a humanidade, tal como pregam os ecologistas das ongs e o próprio Estado.
As reservas do imperialismo na Amazônia a partir dos anos 80
Na década de 70 do século XX, a região amazônica recebe grandes quantidades de migrantes, resultado do processo de expulsão de pequenos produtores das regiões sul, sudeste e centro-oeste onde investimentos capitalistas na agricultura desenvolvem a agricultura mantendo as relações atrasadas – o que se chamou de modernização conservadora - ao mesmo tempo em que grandes extensões de terras, antigos seringais, são vendidos a fazendeiros provenientes do centro-sul do país, que com apoio estatal recebem além de terras recursos para a criação de gado. Tratava-se de um projeto dos militares de ocupação da Amazônia visando fins geopolíticos, grande propriedade rodeada de pequenos produtores que serviriam de força de trabalho para o latifúndio.
A expulsão de antigos posseiros que vivam nos seringais agora falidos, dá-se com extrema violência, espancamentos e mortes, as cidades da região expandem-se rapidamente, sem condições de infra-estrutura para os que chegam. Cresce um movimento de resistência no campo para continuar vivendo na terra e um movimento na cidade, pela ocupação de lotes urbanos para moradia.
Nesse mesmo período dos anos 70 a Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, criou em vários locais Sindicato de Trabalhadores Rurais, ao mesmo tempo em que crescia um movimento camponês radicalizado, que enfrenta os novos proprietários de terras, que necessitam derrubar a floresta para criar gado. Esta atividade está em frontal oposição às atividades extrativas que ainda são desenvolvidas por seringueiros ou ex-seringueiros, agora agricultores, pescadores, etc. Esta luta pela posse da terra contra os latifundiários vindos do centro-sul será caracterizada posteriormente como uma luta pela manutenção da floresta, no discurso Chico Mendes acrescentará que tais lutas eram pacíficas, o que não tinha nenhum fundamento.
A ocupação de Rondônia no mesmo período resulta em uma ocupação dirigida pelo Estado, de pequenos produtores, principalmente em torno da principal rodovia que liga o Estado ao resto do país (BR-364). A produção de café, cacau e outros gêneros alimentícios é crescente. O massacre de populações indígenas e a intensidade de tal ocupação convertem-se em preocupação de ongs principalmente norte-americanas que pressionam o Banco Mundial um dos principais fornecedores de recursos para tais atividades.
A conversão de camponeses, que ainda estavam vinculados à produção de borracha, embora que secundariamente, em defensores das florestas (as castanheiras e seringueiras somente sobrevivem onde existem florestas) decorreu de alianças da liderança desses trabalhadores com o movimento ambientalista principalmente norte-americano. A atuação do oportunismo foi fundamental nesse processo, destacando o papel do PT e da igreja.
Muitas ocupações de terra dos anos 80 eram resultado de acordos entre a igreja e o Estado, e a luta dos seringueiros para garantir suas posses contava com a experiência secular da igreja católica, mesmo com sua característica ação vacilante. Os seringais eram propriedades privadas, dos seringalistas, que ali foram durante muito tempo patrão e Estado, com o apoio providencial da igreja católica que percorria estes seringais prestando seus serviços ideológicos para garantir a ordem latifundiária. Além de seu aparato repressivo privado o seringalista contava também com os serviços da polícia na solução de problemas vinculados ao não cumprimento das normas por parte dos seringueiros.
O PT vai ser o principal protagonista de uma “nova ordem” camponesa (de origem clerical) que atende ao interesses do imperialismo, manter a pequena propriedade provocando pequeno impacto ambiental e convivendo com a grande propriedade. De uma forma sintética: com o apoio de universidades brasileiras e norte-americanas e outros organismos de pesquisa e extensão em agricultura elaborou-se como pretensa solução ao problema do desflorestamento provocado pelos pequenos camponeses o sistema agro-florestal. A produção agrícola voltada para a exportação de produtos tropicais com aceitação nos chamados mercados verdes. Tudo isto financiado com dinheiro do G-7 para o meio ambiente. O fracasso de tal panacéia é visível, assemelhando-se aos chamados cultivos alternativos à folha de coca na Bolívia, outro redundante fracasso.
O principal projeto dessa política é a Reserva Extrativista, grandes extensões de terra vigiadas por ex-seringueiros. O PT proclama as reservas como a reforma agrária da Amazônia, tal reforma agrária retirava da mão dos posseiros a propriedade fundiária, firmava-se um contrato dos antigos seringueiros com o governo federal, a terra é propriedade do Estado, os seringueiros poderão usá-la de acordo com as determinações do órgão responsável pelo meio ambiente.
A projeção do líder seringueiro Chico Mendes nos anos 80 contou com a colaboração decisiva de grandes ongs norte-americanas como a Environment Defense Fund dirigida por Steve Schartzmann, que ao final dos anos 80 tinha 500.000 associados preocupados com as florestas tropicais; tal repercussão propagandística contou ainda com oportunistas tecnocratas como a antropóloga Mary Alegretti, brasileira com boa relação com o Banco Mundial e membro do governo de Fernando Henrique Cardoso. Alegretti foi assessora do Ministro de Meio Ambiente – Sarney Filho - e parceira de Steve Schartzmann contou ainda com o apoio decisivo do PT.
Chico Mendes tinha contradições com a igreja católica, ou mais precisamente com parte dela, que disputava a liderança dos seringueiros já que Chico Mendes pertencia à esquerda do PT. Sua estreita vinculação com os seringueiros decorria de sua origem, filho de seringueiro e de sua participação nos sindicatos recém criados, ele define como centro da política dos seringueiros-ambientalistas a aliança com os ambientalistas-imperialistas – norte-americanos -, oposição ao latifúndio – os fazendeiros financiados pelo Estado na década de 70 – . Esta política era definida pelo PT na região com a orientação absoluta dessas ongs. As contradições com os fazendeiros foram relegadas a segundo plano em função do reconhecimento “internacional” do líder seringueiro, o que resultou em seu assassinato por médios fazendeiros com a conivência do governo do Estado do Acre à época.
A intervenção imperialista, enquanto política converte-se cada vez mais em gestão ou administração das reservas extrativistas, gestão essa executada por órgãos do Estado, organizações não governamentais, cooperativas dos seringueiros e sindicatos de trabalhadores rurais. As escolas de alfabetização dos seringueiros vão contar com enorme apoio da intelectualidade e do próprio aparelho Estatal.
Esta administração cada vez mais direta, por organismos imperialistas, semi-colonial na forma, exigiu e continua exigindo a formação de quadros e executores, muitos deles índios e seringueiros e os bem comportados recém formados das universidades, que difundem um credo denominado desenvolvimento sustentável.
No Acre foram criadas várias ongs revelando um verdadeiro Estado administrado pelos petistas antes que chegassem à administração do governo local no Acre. Aí, não tem limites o nível de apodrecimento e corrupção, uma dessas ongs é o CTA – Centro de Trabalhadores da Amazônia, de onde saiu Marina – atual ministra do meio ambiente, Jorge Viana – Governador do Acre em seu segundo mandato, seu irmão Tião Viana – Senador. Outra ong a SOS Amazônia, entregou boa parte das terras do Acre na fronteira com o Peru para a TNC – The Nature Conservancy - , bastante conhecida por tentar comprar terras no Brasil e na Bolívia em troca de dívida externa. A última façanha desses senhores é tentar nessa região do Acre expulsar antigos moradores de uma região conhecida como Serra do Divisor. Outra via do semi-colonialismo é o PESACRE, uma ong vinculada à Universidade da Flórida, com longa experiência na Amazônia: Pará – Acre – Bolívia, que vem formando quadros para o ambientalismo enviando estudantes aos EUA e trazendo para a Amazônia estudantes de universidades norte-americanas além de espiões com experiência em contra insurgência em outros países.
Boa parte desses quadros formada nas ongs filial do império agora ocupa posições chaves no governo do Acre, têm experiência comprovada de “organização comunitária”, projetos, venda de produtos florestais, coleta de informações, uso de tecnologias como SIG – sistema de informação geográfica - , alfabetização de seringueiros, ensino bilíngüe para povos nativos etc.
O PT no Acre e sua importância para o projeto imperialista na Amazônia.
O governo do PT resultou de uma aliança com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, aliança que atende a interesses estratégicos que estão em jogo envolvendo principalmente os ianques. As reservas extrativistas foram um passo importante para a definição de áreas de terras que serão utilizadas posteriormente de acordo com os interesses dos monopólios principalmente norte-americanos . Essas áreas são administradas por uma diminuta população, normalmente de ex-seringueiros que conhecem boa parte dos recursos existentes nessas áreas., insumos importantes para as indústrias farmacêuticas e correlatas.
As reservas extrativistas cumprem vários papéis, elas garantem recursos para uso futuro, dos monopólios; produzem no lugar de alimentos para as populações camponesas produtos exóticos para os mercados dos países imperialistas; cria no campo uma população que não tem identidade com os camponeses de outras regiões e sim com os interesses mediatos dos imperialistas.
O Governo do PT no Acre, dentro da política imperialista sintetiza suas ações e projetos estratégicos em uma palavra: Florestania ou seja, segundo ele, uso racional da floresta com cidadania, o uso de recursos da floresta principalmente madeireiros é a grande investida, onde entre outros objetivos, é fornecer para as grandes corporações tecnologias “sustentáveis” de exploração madeireira. O conjunto de técnicas dita sustentável são soluções tecnológicas para as grandes propriedades ou grandes explorações.
Há mais de 10 anos um consórcio dirigido por uma organização de compradores de madeira, sediado no Japão – ITTO – desenvolve experimentos de “manejo” florestal no Acre. O principal agente de tais projetos é Gilberto Siqueira, ex-secretário de Planejamento do Governo do Acre, representante dos interesses imperialistas na Amazônia. O ex-governador do Amapá, Capiberipe, guerrilheiro arrependido, seguiu o mesmo caminho do governador do Acre, aliás com maior sucesso e visibilidade na mídia, elogiado por todas as agências do imperialismo.
Entre os planos do governo do Acre está a ampliação do território do Estado do Acre, mais áreas de terras onde possa desenvolver seus projetos de interesse dos EUA. Trata-se de algo que não é simples visto os interesses do governo do Estado do Amazonas em manter suas rotas do tráfico de drogas.
Outros projetos estão sendo desenvolvidos na região onde o governo do PT cumpre um papel de gerente, capataz ou mero executor como por exemplo os “estudos científicos” financiados pela NASA com participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil, que busca estudar em várias dimensões (clima, solos, água etc.) toda a Amazônia, não só a brasileira. Todas essas “cooperações” entreguistas são na verdade segredos de Estado, elementos que servirão para futuras políticas de ocupação do território amazônico.
Ecologismo e maior presença de capitais dos países imperialistas
O imperialismo norte-americano, através de suas agências internacionais dividiu a Amazônia em áreas de produção intensiva de produtos agrícola onde a inversão de capitais norte-americanos e japoneses alcança uma longa faixa que parte do centro-oeste do Brasil até a Amazônia Ocidental e espaços destinados à proteção ambiental, grandes áreas de florestas, geralmente controladas por organizações norte-americanas.
A hipocrisia dos militares brasileiros e da grande burguesia que faz uma gritaria em torno da soberania, disputa de forma subordinada uma participação minoritária nos projetos “científicos” dos países imperialistas na região. O Sistema de Vigilância da Amazônia - SIVAM -[3] iniciativa de instalação de radares e uso de aviões que vigiarão o território amazônico está sob o “guarda-chuva” do já referido projeto dirigido pela NASA, onde o principal problema para a realização de seus planos é a existência de populações camponesas, seringueiros, garimpeiros e outros habitantes que segundo a visão do ecologismo são predadores da natureza dando uma sobrevida ideológica a já derrotada teoria malthusiana.
As organizações não governamentais de espionagem
A presença de organizações não governamentais dos países imperialistas abarca uma imensidade de ações que vão desde a prestação de serviços nas periferias das cidades da Amazônia, preservação do meio ambiente, pesquisas vinculadas às universidades da região, estudo de populações indígenas etc. Tais atividades são financiadas principalmente pelo governo dos EUA através da USAID, Fundação Ford, Fundação Interamericana – IAF – etc. Essas agências desenvolvem durante mais de duas décadas um sistema de informação privilegiado que vem servindo para a gestão colonial e semi-colonial da Amazônia.
A geopolítica dos militares brasileiros adapta-se aos planos imperialistas principalmente através dos planos de uso de recursos (zoneamento) que são coordenados pela Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE – e financiados e dirigidos efetivamente pelos EUA, com recursos minoritários de outros países imperialistas. A viabilização desses planos tem como posição destacada a participação do oportunismo, principalmente do PT.
Algumas entidades governamentais e não governamentais
WHRC Woods Hole Research Center -
É uma organização norte-americana que tem presença na região amazônica através de pesquisadores em várias áreas, parte de sua atuação dá-se através de universidades e outras ongs, algumas das quais essa mesma entidade é fundadora ou participante. Sua importância está no papel que tem cumprido esses pesquisadores no projeto LBA e na formação de quadros da região e fora dela (em outras partes do país) para o imperialismo; um pesquisador desse centro tem desenvolvido um trabalho de formação de quadros que envolve estudantes, principalmente de universidades do Acre, Rondônia, Pará, Rio de Janeiro há mais de uma década, a maior parte desses estudantes tem estudado nos EUA e publicado seus trabalhos em importantes revistas científicas daquele país.
WWF –World Wildlife Fund – Fundo Mundial da Vida Silvestre
Trata-se de uma das maiores ongs atuando na região, tem presença em quase todos os Estados amazônicos financiando projetos na área ambiental;
Fundação Ford
A FF vem atuando há bastante tempo, financia universidades, ongs e pessoas, tem cumprido um importante papel na formação de recursos humanos que atuam na região ou fora dela, muitos de seus quadros fizeram ou fazem parte de universidade e institutos de pesquisa na Amazônia além de trabalharem também no Banco Mundial e outras organizações desse tipo.
Novib
É uma ong holandesa que atua financiando centros de defesa dos direitos humanos, ongs ambientais e outras. Financiou o RECA – Reflorestamento Condensado e Adensado - , um projeto vinculado à igreja católica na fronteira do Acre com Rondônia, que se constituiu numa vitrine de um projeto ambiental “bem sucedido”. É uma organização composta de pequenos produtores que passaram a produzir cupuaçu, pupunha, castanha e outros produtos buscando desmatar o mínimo possível e diminuir a utilização de insumos industriais como adubos.
Oxfam
É uma organização inglesa que financia entidades de direitos humanos e congêneres, tem adotado uma postura de crítica ao Banco Mundial, atua na região há muito tempo.
TNC
Esta entidade está envolvida na compra de áreas na Amazônia em troca da dívida externa, tentou comprar terras no pantanal no Brasil e na Bolívia. Vem atuando no Acre através de uma ongs, SOS Amazônia, financiando um imenso parque (Parque Nacional da Serra do Divisor) na fronteira do Acre com o Perú, aí foram feitos vários estudos de fauna e flora e pretendiam retirar a população que morava naquele parque. Esta região da Amazônia é pouco habitada fazendo parte da rota do tráfico de drogas.
IFPRI – International Food Policy Research Institute
Trata-se de uma organização norte-americana vinculada ao governo dos EUA que vem fazendo estudos sobre as tecnologias utilizadas por camponeses na região amazônica, isto faz parte de um projeto maior de estudo sobre uso da terra em toda a faixa tropical, eles têm vários estudos sobre países da Ásia. Atuaram na Amazônia a partir de uma cooperação com a Embrapa[4], universidades e outras organizações. Um dos responsáveis por este projeto, um quadro experimentado do imperialismo ( Stephen A Vosti) foi professor visitante na Universidade Federal do Minas Gerais
SIL Instituto Linguístico de Verão e o papel das missões religiosas
As missões religiosas protestantes tiveram uma atuação mais presente com as populações indígenas, o caso mais conhecido é do Instituto Linguístico de Verão (SIL – Summer Institut Linguistic ) que atua em vários países da América Latina, convertendo populações nativas em crentes (protestantes), um dos instrumentos principais do SIL é o uso da “ciência” apropriando-se da língua dos povos nativos para publicar bíblia. Os que se opõem à sua política oscilam entre: 1) não saber o que fazer 2) bomba! (afirmação – a última - de um antropólogo na Venezuela). Para exemplificar, os Yawanawa que habitam a região ocidental da Amazônia têm a presença desses missionários há muitos anos, houve uma divisão entre eles, os índios protestantes e os outros, isso levou a luta grande entre eles, possibilidade de confrontos violentos etc., eles são poucos. Um desses nativos trabalhou muito tempo na Comissão Pró-Índio e hoje desenvolve um trabalho de recuperação da cultura nativa, junto a outras populações nativas nos EUA, para se opor aos missionários eles defendem os cultos e tradições antigas e o uso de alucinógenos que atraem simpatizantes que podem defender o meio ambiente, populações nativas, viajarem pelo mundo e “viajar” sem ser perseguido pela polícia, é o paraíso.
NYBG – New York Botanic Garden – Jardim Botânico de Nova Iorque
A colaboração entre os jardins botânicos e organizações congêneres em todo o mundo é feita em nome da ciência, a existência de novas descobertas interessa a todos, sem exceção, a capacidade de utilização dos recursos e sua industrialização somente a alguns. Isto permitiu no caso da Amazônia instalar centros de coleta em toda região, através das universidades. No Acre a relação com o NYBG permitiu constituir um centro (Parque Zoobotânico) de pesquisa que cumpriu um papel fundamental como ponta de lança das ações dos gringos não só naquele Estado. Este centro funciona com uma relativa autonomia dentro da universidade o que permite contratar pessoas, enviar quadros para o exterior, recebê-los etc. Eles recebem recursos da Fundação Ford, PPG-7 (Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil dinheiro do grupo dos 7 para as florestas tropicais), USAID, etc. Boa parte dos quadros que foram formados aí estão dirigindo o zoneamento econômico-ecológico do Estado.
LBA – Large Biosphere Atmosphere
Este é o mais importante e ousado projeto dos gringos na Amazônia, iniciado nos anos 90 ele reúne a experiências de várias atividades aparentemente dispersas principalmente das áreas de clima, hidrologia, geologia. As informações são coletadas em vários níveis (imagens de satélite, aviões, em locais específicos com torres que coletam informações sobre ventos, clima, umidade, gases etc.) novos satélites que estão sendo lançados ou foram lançados recentemente são elementos importantes para a coleta, há componentes do projeto voltados para a formação de recursos humanos em várias áreas, na região e fora dela. A então deputada Socorro Gomes do PC do B[5] do Pará levantou várias denúncias contra o projeto, gritou, esperneou e...calou-se. A abrangência é toda a Amazônia, não só brasileira. Um dos responsáveis no Brasil por tal atividade é o INPE.
INPE – Instituto Nacional de Pesquisa Espacial
Detentor de quadros com excelente formação técnica, este instituto cumpre um papel importante na execução do LBA não só no Brasil. Sua imagem, em virtude dos serviços que presta é defendida a todo o custo, uma investigação mais aprofundada de sua participação no LBA, luta interna, quem participa etc., é importante.
SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia
É um variante do LBA com objetivos mais definidos, sua importância deve crescer na região. Algumas universidades servem de suporte para o SIVAM, várias atividades tipo ACISO[6] na área de educação têm sido feitas, é importante identificar os responsáveis. A CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito do SIVAM pode reunir informações importantes e mais nada.
SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos - e o zoneamento econômico-ecológico
A retórica dos militares sobre a invasão da Amazônia pelos gringos tem seu contraponto nas posições desses mesmos militares sobre os diversos projetos dos EUA e outras nações imperialistas na região. O zoneamento econômico-ecológico, apenas para exemplificar, é aprovado e legitimado pela SAE, eles são os “responsáveis” pelas avaliações e “decisões” estratégicas mais importantes, nada mais ridículo.
Universidades
As universidades vêm cumprindo um importante papel na elaboração e execução dos projetos de intervenção na Amazônia, elas são preferidas pelos gringos por sua aparente estabilidade, miséria atual de recursos, e na região sua indigência. Em troca de computadores e outros equipamentos, somadas algumas publicações em revista de prestígio internacional muitos pesquisadores tem contribuído sistematicamente com organizações do Estado americano, ongs etc., além de criarem ongs que atuam vinculadas às universidades além das fundações já tão conhecidas (um importante caixa 2).
Universidade da Flórida
Esta Universidade vem atuando há bastante tempo na região amazônica, inicialmente no Pará, Acre e depois na Bolívia, eles têm um departamento latino americano; levaram para os EUA muitos pesquisadores que passaram a ter papel importante em políticas regionais, criaram no Acre uma ong (PESACRE) e transferem muitos estudantes de pós-graduação em áreas técnicas, antropologia etc., para concluírem seus estudos. Mariane Schmink é a pesquisadora responsável por boa parte desse “êxito”, foi recentemente premiada pelo governo por seus relevantes serviços.
Pesacre – Usaid
Esta ong foi criada a partir de um projeto de cooperação da universidade da Flórida com a Universidade Federal do Acre. Eles atuam com índios, seringueiros e colonos (agricultores) buscando formas mais racionais de aumentar a produção e a produtividade, ampliar a comercialização de produtos florestais não-madeireiros (açaí, cupuaçú etc.) muitos dos pesquisadores visitantes, vindo dos EUA atuam em outros países dominados pelo imperialismo. Um dos seus principais financiadores é a USAID – órgão do governo norte-americano conhecido pelas suas tarefas contra-insurgentes (ver Banhos de Sangue – Chomsky). Parte dos quadros do PESACRE ocupam postos chaves no governo e na universidade federal do Acre.
Universidade Federal do Pará
A presença dos norte-americanos é aí acompanhada por imperialistas de outros países, existem outros institutos de pesquisa importantes que não estão diretamente vinculados à universidade, onde também os gringos têm atuação. Uma das bases importantes da Fundação Ford é essa universidade. Em torno dela foram criadas ongs que têm vinculações com a WHRC (Woods Hole), o governador do Acre e outros. A Embrapa em toda a região adotou uma política de captar recursos desses entidades imperialistas convertendo-se em defensora do meio ambiente. Na Embrapa do Pará surgiu um dos principais opositores à política preservacionista dos gringos (Alfredo Homma – formado pela Universidade de Viçosa-MG), um economista burguês, temido pelos ambientalistas.
Naea
O Núcleo de Altos Estudos da Amazônia, vinculado à Universidade Federal do Pará, abrigou durante longos anos os estudiosos e defensores da reforma agrária. Neste período dos grandes conflitos naquela região, este centro era dirigido por um ex-padre belga (Jean Hébette), mais recentemente, nos anos 90 depois de disputadas acirradas o NAEA passou a ser dirigido pelos pesquisadores vinculados à universidade livre de Berlim, o foco dos estudos, a questão ambiental. Durante um período curto, Lúcio Flávio Pinto trabalhou no NAEA, este jornalista ficou conhecido por suas denúncias resultado de um jornalismo investigativo, no entanto muito próximo à igreja católica.
Ipam
Esta ong do Pará é formada principalmente por pesquisadores que tem vínculos importantes com outros centros de estudo dos gringos, eles têm avançado inclusive na legislação sobre áreas de proteção ambiental, reservas extrativistas etc.
Universidade do Amazonas
A universidade do amazonas tem dificuldades semelhante às da universidade do Pará. Há pressões de todo o tipo, Manaus é um grande centro (inclusive de problemas), o Estado do Amazonas é enorme e com situações particulares de sua geografia (que devemos estudar detidamente) a presença estrangeira é antiga. Um dos ardorosos defensores dos recursos naturais da região é Frederico Mendes de Arruda que vem denunciando há muito tempo o roubo de plantas.
INPA – Instituto de Pesquisas da Amazônia
Tem estreita vinculação com institutos de pesquisa da Alemanha (Max Planck) e com os norte-americanos disputa com a universidade a liderança sobre as pesquisas na região; vários estudos sobre o uso de recursos florestais são desenvolvidos nesse instituto.
Universidade Federal do Acre
Recursos do BIRD moveram durante um bom tempo a máquina burocrática e de pesquisas da universidade. Os recursos envolvidos na paleontologia , inclusive na formação de recursos humanos tem um peso grande dos gringos. As pesquisas nas áreas de levantamentos de recursos florestais acabaram cumprindo um importante papel na introdução de ongs e entidades financiadoras norte-americanas na região. O movimento dos seringueiros contra os fazendeiros não tinha na universidade um suporte, em sua fase inicial, seu principal apoio vinha das organizações ambientalistas norte-americanas e da igreja católica.
Universidade Federal de Minas Gerais – CEDEPLAR
Este centro da universidade manteve durante um bom tempo uma relação estreita com toda a região amazônica inclusive através de recursos da SUDAM, que financiou pesquisas sobre a região, que geraram estudos e um conjunto de dissertações. João Antônio de Paula acompanha este processo da fase inicial até a problemática desenvolvida nos anos 90, inclusive preparando quadros da própria universidade do Acre.
Projeto Seringueiro/Centro de Trabalhadores da Amazônia - Acre
Em meados dos 80 com apoio de vários ongs norte-americanas e inglesas, um conjunto de indivíduos da pequena burguesia, alguns vinculados ao PC do B e outros ao PT/igreja católica, organizam um projeto que buscava atuar nas áreas de cooperativa, saúde e educação com seringueiros. As cooperativas visavam enfrentar os atravessadores (marreteiros) que atuavam na comercialização da borracha, num momento em que a maioria dos seringalistas (proprietários dos seringais) estavam falidos e já transferindo suas propriedade para fazendeiros. Como a maioria dos seringueiros não sabia nem ler nem escrever as ações educativas visavam “não ser mais enganado pelo atravessador” um forte apelo, que contou com a elaboração de materiais didáticos através de uma ong de São Paulo (CEDI- Centro Ecumênico de Documentação e Informação ) que utilizava o “método” Paulo Freire. Já se desenvolvia na região, através também da igreja católica programas de saúde baseados em formas “alternativas”, fundados em concepções como aquelas presentes nos livros Onde não há Médico, Onde não há dentista etc.
Os seringueiros, em sua maioria nordestinos que vieram para a Amazônia a partir de 1870, ficaram abandonados à própria sorte após os períodos de auge da borracha (até 1912 e durante a II guerra mundial), a caça, a pesquisa, o uso de plantas, madeira etc., resultou num conhecimento sobre a floresta amazônica que permitiu a partir dos anos 80 falar até em povos da floresta, harmonia com a natureza e outras sandices, aproveitou-se ainda para inventar uma aliança entre índios e seringueiros que historicamente não existia nem existe agora. Há uma revista publicada pela CUT sobre Chico Mendes, onde ele propagandeia a tal aliança dos povos da floresta e outras coisas do gênero, aí ele já está profundamente embevecido com o canto mavioso dos seres das florestas (o canto não menos encantador das ongs dos EUA) exigindo proteção, por um lado. Por outro o mesmo Chico Mendes defendia nos seringais a organização dos seringueiros contra os fazendeiros com suas armas de caça. Neste período surgem várias ameaças de morte contra seringueiros, algumas foram frustradas, outras não.
O crescimento das escolas foi vigoroso, o Projeto Seringueiro além dos materiais didáticos preparava os professores, estes seringueiros, que num primeiro momento recebiam algum recurso (do próprio projeto) e a partir daí passavam a reivindicar a contratação pelo Estado. As escolas eram construídas pelos próprios seringueiros com materiais da região madeira e palha. Os postos de saúde passavam pelo mesmo processo.
O Projeto Seringueiro passa a ser o Centro de Trabalhadores da Amazônia – CTA, uma ong que financiou governo, os deputados e senadores do PT, constituiu-se numa máquina poderosa de captação de recursos, uma boa gráfica, e a responsabilidade de introduzir o manejo de madeira nas áreas de reservas extrativistas (era uma proposta polêmica tanto entre as lideranças como entre os pesquisadores que apoiavam os seringueiros).
Os serviços prestados pelo CTA aos gringos, são extensos, além de servir de ponte para vários outros projetos, fornece informações, prepara quadros em vários níveis, fornece quadros para o governo do Estado e atua como informante dos órgãos repressivos do Estado nacional e do império.
Alguns problemas
Campanha Nacional em Defesa da Amazônia
A existência de um enorme território, tomado normalmente como uma fronteira de recursos, fazendo parte do território nacional, mobilizou uma enorme campanha por sua defesa. Toda esta movimentação resultava também de uma crítica à ditadura militar no que se refere à venda de terras para empresas estrangeiras. A atuação de ongs ainda durante a ditadura militar tinha apoio principalmente da igreja católica e recursos das ongs européias. As campanhas ecológicas do final dos anos 80 converteram-se numa grande investida das ongs norte-americanas e as áreas de preservação ambiental apareceram como solução parcial do problema, a partir daí ganha impulso as discussões sobre manejo de recursos, administração das áreas de reserva e as negociações. Foi possível, assim, com intensa propaganda considerar legítima – embora feita por um país estrangeiro – a intervenção ecológica na Amazônia, conquistando um apoio significativo das populações dos grandes centros, no Brasil, que vivem problemas “ecológicos” como lixo, poluição etc.
As entidades de defesa da Amazônia converteram-se em entidades ambientalistas fundamentalmente, sob a hegemonia da intervenção norte-americana, isto é pouco conhecido do conjunto das massas no país. O centro da “invasão” é o controle ambiental, com a ajuda de satélites e defensores do meio ambiente, não é uma ocupação militar imediata nem tampouco a compra de terras, assim mesmo estes são dois aspectos importantes da estratégia dos EUA para a Amazônia.
Visitas às áreas onde tem populações
A intervenção direta de estrangeiros onde há populações de índios, seringueiros, ribeirinhos etc., como um ato heróico de salvação das florestas tropicais deu-se a partir de atividades vinculadas diretamente às necessidades básicas como educação, saúde, organização da produção. Tudo isto criou condições excepcionais para esta intervenção (legitimidade) ao mesmo tempo em que as Ongs na região não têm como princípio e até preocupação a legitimidade (eles defendem uma causa nobre, ponto) os partidos oportunistas agiam aí, podiam combinar a militância de seus quadros numa fase superior (ambientalismo) com a garantia de sua reprodução (salários e outros benefícios). Estas presenças vindo do norte reuniam num dia seringueiros que lutavam contra fazendeiros, no outro com o governador do Estado, profundamente interessado nos benefícios da causa ambiental e no outro dia com as entidades nacionais do governo federal que controlam recursos e políticas de intervenção. Uma das estratégias desse movimento ambientalista é seu caráter de lobby e uma política de cooptação de quadros intermediários da estrutura governamental, complementando salários e permitindo a esses aflitos funcionários contribuírem com causas mundiais. Mary Alegretti, a assessora do Sarney Filho trabalhou de forma árdua nisso, além de contar com o apoio de intelectuais renomados das universidades brasileiras. No caso do Perú, na fronteira com o Brasil, a distribuição do território por parte do governo Fujimori para empresas do petróleo levou a contratação de antropólogos por parte dessas empresas que encaminhavam as demandas dos povos nativos, não para o Estado, mas, para as próprias empresas que negociavam com o governo tais demandas.
A questão indígena
As ongs que tratam a questão indígena estão divididas em religiosas (assumidamente) e não religiosas como as Comissões Pró-Indio que surgiram em várias regiões como oposição por exemplo ao CIMI – Conselho Indigenista Missionário, ligado à igreja católica. Um outro tipo de organização é aquela dirigida diretamente por povos nativos em oposição muitas vezes às outras duas formas de organização. Uma atuação sistemática de antropólogos principalmente, vinculados à universidades têm servido de importante apoio a essas diversas organizações, além de na maioria das vezes aportarem contribuições extremamente reacionárias com “verniz” progressista. Estes movimentos têm atraído apoio de organizações de todo o tipo, além de intelectuais e artistas. A educação bilíngue, por exemplo, catalisou esforços de várias organizações, e intelectuais de diversas formações, o resultado foi a produção de materiais de excelente qualidade e a formação de professores com um bom nível, esta produção, não só feita na Amazônia serve na maioria de vezes como referência para todo o continente latino-americano.
A fronteira com o Perú e Bolívia
Uma atenção especial vem sendo dada a fronteira do Brasil com o Perú e a Bolívia, aí há um movimento importante de migração que obedece as políticas dos países no que se refere a áreas de proteção ambiental, necessidades de força de trabalho etc., esta migração que obedecia a períodos ou fases agora se torna permanente, de uma extrema mobilidade de maneira a impedir a ocupação das áreas estratégicas de preservação. As estimativas da população de brasileiros vivendo nessas fronteiras vai de 5.000 a 50.000.
Disputa interimperialista – manifestações
A atuação dos norte-americanos na Amazônia sofre críticas dos imperialistas europeus de forma bastante dissimulada, geralmente estes financiam entidades de direitos humanos e ambientalistas e atuam de forma especial onde desastres ambientais têm ocorrido. As áreas de mineração no Pará, por exemplo, o uso do gás na região, desastres decorrentes de barragens para hidrelétricas são áreas de atuação desses ambientalistas europeus. Na universidade federal do Pará eles têm uma base importante, vinculada à universidade livre de Berlim. O zoneamento econômico-ecológico que vem sendo feito em toda a região tem recebido críticas de pesquisadores dessa universidade, críticas sobre o método, escala etc., (Ver a crítica de Manfred Nitsch Planejamento sem Rumo- Berlim 1998), um banco alemão financia parte do zoneamento em vários Estados da Amazônia. O gás de urucu que irá para Rondônia tem um crítico feroz, apoiado pela igreja católica em Dieter Gawora do Centro de Documentação América Latina – Brasil de Kassel Alemanha. Com o título de Muita casca e pouca noz Willem Assies, pesquisador da Universidade de Utrecht Holanda crítica as políticas ambientalistas na região Amazônica, esse pesquisador trabalhou muitos anos nas regiões pobres de Recife-PE. A lista é longa.
Camponeses e a questão agrária
Os camponeses pobres são explorados e expropriados pelo latifúndio e pelos monopólios e se constituem no principal alvo das políticas imperialistas de preservação. O principal argumento é que os pequenos são que mais desmatam e que estes se utilizam de técnicas rudimentares. O IBAMA dá exemplos de ferocidade com os camponeses pobres que não têm dinheiro para suborná-los. É crescente o sentimento de oposição aos gringos e aos norte-americanos em particular. Os oportunistas utilizam-se desta oposição aos imperialistas para defenderem de forma envergonhada os imperialistas europeus. A defesa da pequena propriedade familiar é o centro das políticas de cooperação, negociação de dívidas etc.; estes camponeses têm servido aos interesses dos latifundiários e especuladores nos enfrentamentos contra o IBAMA e a negociação de dívidas com o Banco do Brasil e na confrontação com o movimento camponês revolucionário.
O problema da biotecnologia as abordagens de “minimizar o roubo”
As políticas preservacionistas do imperialismo norte-americano estão voltadas para a utilização futura de recursos naturais e a descoberta de plantas que sirvam à indústria milionária dos remédios. Explica-se portanto as preocupações com as populações nativas e outras que conhecem os recursos da floresta amazônica. A maior parte dos críticos à chamada biopirataria não enxergam nenhuma saída a não ser a negociação possível tal como propõe a senadora do PT Marina Silva – hoje ministra do meio ambiente. Leis, contratos e outros caminhos mercantis em que essas populações seriam pagas por conhecerem os recursos. Outros mecanismos de mercado são propostos para diminuir o desmatamento como a certificação florestal (as madeiras que saíssem da Amazônia teriam um selo – verde – que identificassem sua origem e a forma de extração – menos predatória -), outros produtos teriam um preço mais elevado e beneficiariam as populações que extraem os recursos etc., Todas medidas que supõe um mercado de concorrência perfeita, sem monopólios é claro.
(*) Nazira Correia Camely mailto:nazira@ufac.br)
Profª do Departamento de Economia da UFAC(Universidade Federal do Acre)
Colaboradora do Cebraspo (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos) [1] ZEE – utilizando-se de geoprocessamento e outras tecnologias de planejamento busca-se harmonizar interesses contraditórios definindo espaços de atuação de fazendeiros, camponeses etc.
[2] SAE – atividades encerradas
[3] administrados pelos militares brasileiros foi objeto de várias negociatas quando da aquisição de radares e outros equipamentos, a vencedor da licitação foi uma empresa norte-americana (Raytheon) apesar dos protestos moderados de empresas européias que também concorreram para vender os equipamentos [4] Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – a principal agência de pesquisa em agropecuária, distribuída nacionalmente por centros de pesquisa é financiada pelo Governo Federal.
[5] PC do B – Partido Comunista do Brasil tentativa de reconstituição do Partido nos anos 60 inicialmente sob a orientação do Pensamento Mao Tsetung e posteriormente seguiu a linha Albanesa.
[6] ACISO – Ação Cívico Social – operação geralmente feita por militares de atendimentos básicos para populações, médicos, dentistas etc., visando ações militares de espionagem e legitimação.
Assim deixa a entender o texto "Os agentes do imperialismo na Amazônia ocidental", publicado no site CEBRASPO-Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos, e assinado pela professora do Departamento de Economia da UFAC Nazira Correia Camely. Lendo o texto - que já tem alguns meses ou ano de publicação - tem-se a impressão que tudo e todos estão a serviço dos imperialistas americanos. Faltou ela dizer quem não está.
No - longo - texto é possível pinçar as instituições que atuam na amazônia que promovem "espionagem" em favor dos imperialistas: Ipam, Naeae, Universidade Federal do Pará, Pesacre, Parque Zoobotânico da UFAC e outras.
Segundo a autora "As universidades vêm cumprindo um importante papel na elaboração e execução dos projetos de intervenção na Amazônia, elas são preferidas pelos gringos por sua aparente estabilidade, miséria atual de recursos, e na região sua indigência. Em troca de computadores e outros equipamentos, somadas algumas publicações em revista de prestígio internacional muitos pesquisadores tem contribuído sistematicamente com organizações do Estado americano, ongs etc., além de criarem ongs que atuam vinculadas às universidades além das fundações já tão conhecidas (um importante caixa 2)".
Até a coleção paleontológica da UFAC, que todos sabem foi fruto de árduo trabalho da equipe liderada pelos professores Jonas Filho (Reitor), Alceu Ranzi e Jean Bocquentin (Francês), é obra dos gringos!!! Imaginem se americanos iriam dar dólares para um francês!!!
Para mim o texto deixa a impressão de que a autora viveu na Albânia ou Coréia do Norte, lugares onde todos são suspeitos até que provem o contrário. Me lembra meus tempos de movimento estudantil, quando eu, provavelmente, teria a capacidade de escrever algo tão radical.
É isso mesmo, naquela época, ser radical era a regra. Eu era um operário e para os "cabeças" do movimento tudo era suspeito. Vivíamos sob a ditadura militar e para "escapar dos milicos" nos reuníamos a noite para fazer faixas, pintar camisas, pichar o campus. Tudo na calada da noite como mandavam os manuais de subversão da época. Tivemos vitórias e derrotas.
O tempo passou, estamos em uma democracia, quase todos os colegas do movimento avançaram social e politicamente. Algumas pessoas que comandavam a nossa tendência política até se submeteram ao processo democrático. Um deles é hoje o vice-governador do Acre, o binho, que além de liderar, emprestava sua brasília para que a turma pudesse se locomover "discretamente" pela cidade. Nosso principal articulador era o Carioca, que ainda hoje faz esse papel. A oposição era comandada, já naquela época, pelo Gerson e o ex-deputado Marcos Afonso. Gerson ainda hoje é um lider estudantil - embora seja professor do curso de História.
Vivemos numa democracia. Mas a pergunta cabe: quem avançou e quem parou no tempo?
Leiam a íntegra do texto abaixo:
Os agentes do imperialismo na Amazônia ocidental
Nazira Correia Camely( *)
Introdução
O imperialismo na Amazônia, não apenas brasileira, combina sua estratégia militar de espionagem e ocupação futura com interesses mediatos dos capitais monopolistas, insumos para a indústria biotecnológica. Combinando intervenção econômica com elementos da guerra de baixa intensidade tendo por base o ecologismo, tenta cimentar ideologicamente interesses diversos como de pequenos produtores e latifundiários através de uma política de planejamento estatal, como o zoneamento econômico e ecológico – zee[1], financiado e dirigido por quadros de agências do imperialismo como o Banco Mundial.
O fracasso desse planejamento, apesar dos esforços de propaganda dos governos estaduais e da própria SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos[2], revela-se na brutal atuação dos órgãos de meio ambiente contra os camponeses, medidas repressivas contra o desmatamento de pequenas áreas para plantar alimentos, pesca e caça entre outros, são aplicadas multas, tomada de ferramentas, prisões e tortura. Outro resultado bastante visível das políticas imperialistas na Amazônia tem sido o esvaziamento do campo, movimento migratório que tem provocado o crescimento exagerado das cidades e também constituindo uma população flutuante na fronteira do Brasil com países vizinhos (Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia) e a constituição de uma população flutuante empurrada ora para um país ora para outro, sem conseguir resolver seu problema, a terra, já que se trata principalmente de camponeses e índios.
A manutenção de relação semifeudais desde o final do século XIX
Ao final do século XIX a produção de borracha controlada pelos EUA engendra um complexo sistema de financiamento da produção que mobilizou um grande contingente de trabalhadores originados do nordeste do Brasil. Um sistema de endividamento impedia que esses trabalhadores obtivessem terra, que estavam disponíveis na região, tratava-se de ter uma força de trabalho exclusiva para a produção de borracha, aprisionada ao sistema extrativista onde os donos de terras- os seringalistas – controlavam os preços da borracha e dos insumos que eram vendidos aos seringueiros. As relações de trabalho eram mantidas pela violência de jagunços, verdadeiro Estado num território em disputa com países vizinhos como Perú e Bolívia.
Tais relações foram modificadas com a crise da produção de borracha no Brasil, porém em várias regiões ainda se mantêm essas mesmas relações. A maioria desses seringueiros durante quase um século, nunca se tornou proprietário fundiário, o que com a ajuda do oportunismo permitiu convertê-los ao final dos anos 80 em defensores dos interesses do imperialismo; passaram a vigiar extensas áreas de terras para uma finalidade que até agora não sabe bem qual seja, a não ser que estão defendendo a natureza e os interesses de toda a humanidade, tal como pregam os ecologistas das ongs e o próprio Estado.
As reservas do imperialismo na Amazônia a partir dos anos 80
Na década de 70 do século XX, a região amazônica recebe grandes quantidades de migrantes, resultado do processo de expulsão de pequenos produtores das regiões sul, sudeste e centro-oeste onde investimentos capitalistas na agricultura desenvolvem a agricultura mantendo as relações atrasadas – o que se chamou de modernização conservadora - ao mesmo tempo em que grandes extensões de terras, antigos seringais, são vendidos a fazendeiros provenientes do centro-sul do país, que com apoio estatal recebem além de terras recursos para a criação de gado. Tratava-se de um projeto dos militares de ocupação da Amazônia visando fins geopolíticos, grande propriedade rodeada de pequenos produtores que serviriam de força de trabalho para o latifúndio.
A expulsão de antigos posseiros que vivam nos seringais agora falidos, dá-se com extrema violência, espancamentos e mortes, as cidades da região expandem-se rapidamente, sem condições de infra-estrutura para os que chegam. Cresce um movimento de resistência no campo para continuar vivendo na terra e um movimento na cidade, pela ocupação de lotes urbanos para moradia.
Nesse mesmo período dos anos 70 a Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, criou em vários locais Sindicato de Trabalhadores Rurais, ao mesmo tempo em que crescia um movimento camponês radicalizado, que enfrenta os novos proprietários de terras, que necessitam derrubar a floresta para criar gado. Esta atividade está em frontal oposição às atividades extrativas que ainda são desenvolvidas por seringueiros ou ex-seringueiros, agora agricultores, pescadores, etc. Esta luta pela posse da terra contra os latifundiários vindos do centro-sul será caracterizada posteriormente como uma luta pela manutenção da floresta, no discurso Chico Mendes acrescentará que tais lutas eram pacíficas, o que não tinha nenhum fundamento.
A ocupação de Rondônia no mesmo período resulta em uma ocupação dirigida pelo Estado, de pequenos produtores, principalmente em torno da principal rodovia que liga o Estado ao resto do país (BR-364). A produção de café, cacau e outros gêneros alimentícios é crescente. O massacre de populações indígenas e a intensidade de tal ocupação convertem-se em preocupação de ongs principalmente norte-americanas que pressionam o Banco Mundial um dos principais fornecedores de recursos para tais atividades.
A conversão de camponeses, que ainda estavam vinculados à produção de borracha, embora que secundariamente, em defensores das florestas (as castanheiras e seringueiras somente sobrevivem onde existem florestas) decorreu de alianças da liderança desses trabalhadores com o movimento ambientalista principalmente norte-americano. A atuação do oportunismo foi fundamental nesse processo, destacando o papel do PT e da igreja.
Muitas ocupações de terra dos anos 80 eram resultado de acordos entre a igreja e o Estado, e a luta dos seringueiros para garantir suas posses contava com a experiência secular da igreja católica, mesmo com sua característica ação vacilante. Os seringais eram propriedades privadas, dos seringalistas, que ali foram durante muito tempo patrão e Estado, com o apoio providencial da igreja católica que percorria estes seringais prestando seus serviços ideológicos para garantir a ordem latifundiária. Além de seu aparato repressivo privado o seringalista contava também com os serviços da polícia na solução de problemas vinculados ao não cumprimento das normas por parte dos seringueiros.
O PT vai ser o principal protagonista de uma “nova ordem” camponesa (de origem clerical) que atende ao interesses do imperialismo, manter a pequena propriedade provocando pequeno impacto ambiental e convivendo com a grande propriedade. De uma forma sintética: com o apoio de universidades brasileiras e norte-americanas e outros organismos de pesquisa e extensão em agricultura elaborou-se como pretensa solução ao problema do desflorestamento provocado pelos pequenos camponeses o sistema agro-florestal. A produção agrícola voltada para a exportação de produtos tropicais com aceitação nos chamados mercados verdes. Tudo isto financiado com dinheiro do G-7 para o meio ambiente. O fracasso de tal panacéia é visível, assemelhando-se aos chamados cultivos alternativos à folha de coca na Bolívia, outro redundante fracasso.
O principal projeto dessa política é a Reserva Extrativista, grandes extensões de terra vigiadas por ex-seringueiros. O PT proclama as reservas como a reforma agrária da Amazônia, tal reforma agrária retirava da mão dos posseiros a propriedade fundiária, firmava-se um contrato dos antigos seringueiros com o governo federal, a terra é propriedade do Estado, os seringueiros poderão usá-la de acordo com as determinações do órgão responsável pelo meio ambiente.
A projeção do líder seringueiro Chico Mendes nos anos 80 contou com a colaboração decisiva de grandes ongs norte-americanas como a Environment Defense Fund dirigida por Steve Schartzmann, que ao final dos anos 80 tinha 500.000 associados preocupados com as florestas tropicais; tal repercussão propagandística contou ainda com oportunistas tecnocratas como a antropóloga Mary Alegretti, brasileira com boa relação com o Banco Mundial e membro do governo de Fernando Henrique Cardoso. Alegretti foi assessora do Ministro de Meio Ambiente – Sarney Filho - e parceira de Steve Schartzmann contou ainda com o apoio decisivo do PT.
Chico Mendes tinha contradições com a igreja católica, ou mais precisamente com parte dela, que disputava a liderança dos seringueiros já que Chico Mendes pertencia à esquerda do PT. Sua estreita vinculação com os seringueiros decorria de sua origem, filho de seringueiro e de sua participação nos sindicatos recém criados, ele define como centro da política dos seringueiros-ambientalistas a aliança com os ambientalistas-imperialistas – norte-americanos -, oposição ao latifúndio – os fazendeiros financiados pelo Estado na década de 70 – . Esta política era definida pelo PT na região com a orientação absoluta dessas ongs. As contradições com os fazendeiros foram relegadas a segundo plano em função do reconhecimento “internacional” do líder seringueiro, o que resultou em seu assassinato por médios fazendeiros com a conivência do governo do Estado do Acre à época.
A intervenção imperialista, enquanto política converte-se cada vez mais em gestão ou administração das reservas extrativistas, gestão essa executada por órgãos do Estado, organizações não governamentais, cooperativas dos seringueiros e sindicatos de trabalhadores rurais. As escolas de alfabetização dos seringueiros vão contar com enorme apoio da intelectualidade e do próprio aparelho Estatal.
Esta administração cada vez mais direta, por organismos imperialistas, semi-colonial na forma, exigiu e continua exigindo a formação de quadros e executores, muitos deles índios e seringueiros e os bem comportados recém formados das universidades, que difundem um credo denominado desenvolvimento sustentável.
No Acre foram criadas várias ongs revelando um verdadeiro Estado administrado pelos petistas antes que chegassem à administração do governo local no Acre. Aí, não tem limites o nível de apodrecimento e corrupção, uma dessas ongs é o CTA – Centro de Trabalhadores da Amazônia, de onde saiu Marina – atual ministra do meio ambiente, Jorge Viana – Governador do Acre em seu segundo mandato, seu irmão Tião Viana – Senador. Outra ong a SOS Amazônia, entregou boa parte das terras do Acre na fronteira com o Peru para a TNC – The Nature Conservancy - , bastante conhecida por tentar comprar terras no Brasil e na Bolívia em troca de dívida externa. A última façanha desses senhores é tentar nessa região do Acre expulsar antigos moradores de uma região conhecida como Serra do Divisor. Outra via do semi-colonialismo é o PESACRE, uma ong vinculada à Universidade da Flórida, com longa experiência na Amazônia: Pará – Acre – Bolívia, que vem formando quadros para o ambientalismo enviando estudantes aos EUA e trazendo para a Amazônia estudantes de universidades norte-americanas além de espiões com experiência em contra insurgência em outros países.
Boa parte desses quadros formada nas ongs filial do império agora ocupa posições chaves no governo do Acre, têm experiência comprovada de “organização comunitária”, projetos, venda de produtos florestais, coleta de informações, uso de tecnologias como SIG – sistema de informação geográfica - , alfabetização de seringueiros, ensino bilíngüe para povos nativos etc.
O PT no Acre e sua importância para o projeto imperialista na Amazônia.
O governo do PT resultou de uma aliança com o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, aliança que atende a interesses estratégicos que estão em jogo envolvendo principalmente os ianques. As reservas extrativistas foram um passo importante para a definição de áreas de terras que serão utilizadas posteriormente de acordo com os interesses dos monopólios principalmente norte-americanos . Essas áreas são administradas por uma diminuta população, normalmente de ex-seringueiros que conhecem boa parte dos recursos existentes nessas áreas., insumos importantes para as indústrias farmacêuticas e correlatas.
As reservas extrativistas cumprem vários papéis, elas garantem recursos para uso futuro, dos monopólios; produzem no lugar de alimentos para as populações camponesas produtos exóticos para os mercados dos países imperialistas; cria no campo uma população que não tem identidade com os camponeses de outras regiões e sim com os interesses mediatos dos imperialistas.
O Governo do PT no Acre, dentro da política imperialista sintetiza suas ações e projetos estratégicos em uma palavra: Florestania ou seja, segundo ele, uso racional da floresta com cidadania, o uso de recursos da floresta principalmente madeireiros é a grande investida, onde entre outros objetivos, é fornecer para as grandes corporações tecnologias “sustentáveis” de exploração madeireira. O conjunto de técnicas dita sustentável são soluções tecnológicas para as grandes propriedades ou grandes explorações.
Há mais de 10 anos um consórcio dirigido por uma organização de compradores de madeira, sediado no Japão – ITTO – desenvolve experimentos de “manejo” florestal no Acre. O principal agente de tais projetos é Gilberto Siqueira, ex-secretário de Planejamento do Governo do Acre, representante dos interesses imperialistas na Amazônia. O ex-governador do Amapá, Capiberipe, guerrilheiro arrependido, seguiu o mesmo caminho do governador do Acre, aliás com maior sucesso e visibilidade na mídia, elogiado por todas as agências do imperialismo.
Entre os planos do governo do Acre está a ampliação do território do Estado do Acre, mais áreas de terras onde possa desenvolver seus projetos de interesse dos EUA. Trata-se de algo que não é simples visto os interesses do governo do Estado do Amazonas em manter suas rotas do tráfico de drogas.
Outros projetos estão sendo desenvolvidos na região onde o governo do PT cumpre um papel de gerente, capataz ou mero executor como por exemplo os “estudos científicos” financiados pela NASA com participação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil, que busca estudar em várias dimensões (clima, solos, água etc.) toda a Amazônia, não só a brasileira. Todas essas “cooperações” entreguistas são na verdade segredos de Estado, elementos que servirão para futuras políticas de ocupação do território amazônico.
Ecologismo e maior presença de capitais dos países imperialistas
O imperialismo norte-americano, através de suas agências internacionais dividiu a Amazônia em áreas de produção intensiva de produtos agrícola onde a inversão de capitais norte-americanos e japoneses alcança uma longa faixa que parte do centro-oeste do Brasil até a Amazônia Ocidental e espaços destinados à proteção ambiental, grandes áreas de florestas, geralmente controladas por organizações norte-americanas.
A hipocrisia dos militares brasileiros e da grande burguesia que faz uma gritaria em torno da soberania, disputa de forma subordinada uma participação minoritária nos projetos “científicos” dos países imperialistas na região. O Sistema de Vigilância da Amazônia - SIVAM -[3] iniciativa de instalação de radares e uso de aviões que vigiarão o território amazônico está sob o “guarda-chuva” do já referido projeto dirigido pela NASA, onde o principal problema para a realização de seus planos é a existência de populações camponesas, seringueiros, garimpeiros e outros habitantes que segundo a visão do ecologismo são predadores da natureza dando uma sobrevida ideológica a já derrotada teoria malthusiana.
As organizações não governamentais de espionagem
A presença de organizações não governamentais dos países imperialistas abarca uma imensidade de ações que vão desde a prestação de serviços nas periferias das cidades da Amazônia, preservação do meio ambiente, pesquisas vinculadas às universidades da região, estudo de populações indígenas etc. Tais atividades são financiadas principalmente pelo governo dos EUA através da USAID, Fundação Ford, Fundação Interamericana – IAF – etc. Essas agências desenvolvem durante mais de duas décadas um sistema de informação privilegiado que vem servindo para a gestão colonial e semi-colonial da Amazônia.
A geopolítica dos militares brasileiros adapta-se aos planos imperialistas principalmente através dos planos de uso de recursos (zoneamento) que são coordenados pela Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE – e financiados e dirigidos efetivamente pelos EUA, com recursos minoritários de outros países imperialistas. A viabilização desses planos tem como posição destacada a participação do oportunismo, principalmente do PT.
Algumas entidades governamentais e não governamentais
WHRC Woods Hole Research Center -
É uma organização norte-americana que tem presença na região amazônica através de pesquisadores em várias áreas, parte de sua atuação dá-se através de universidades e outras ongs, algumas das quais essa mesma entidade é fundadora ou participante. Sua importância está no papel que tem cumprido esses pesquisadores no projeto LBA e na formação de quadros da região e fora dela (em outras partes do país) para o imperialismo; um pesquisador desse centro tem desenvolvido um trabalho de formação de quadros que envolve estudantes, principalmente de universidades do Acre, Rondônia, Pará, Rio de Janeiro há mais de uma década, a maior parte desses estudantes tem estudado nos EUA e publicado seus trabalhos em importantes revistas científicas daquele país.
WWF –World Wildlife Fund – Fundo Mundial da Vida Silvestre
Trata-se de uma das maiores ongs atuando na região, tem presença em quase todos os Estados amazônicos financiando projetos na área ambiental;
Fundação Ford
A FF vem atuando há bastante tempo, financia universidades, ongs e pessoas, tem cumprido um importante papel na formação de recursos humanos que atuam na região ou fora dela, muitos de seus quadros fizeram ou fazem parte de universidade e institutos de pesquisa na Amazônia além de trabalharem também no Banco Mundial e outras organizações desse tipo.
Novib
É uma ong holandesa que atua financiando centros de defesa dos direitos humanos, ongs ambientais e outras. Financiou o RECA – Reflorestamento Condensado e Adensado - , um projeto vinculado à igreja católica na fronteira do Acre com Rondônia, que se constituiu numa vitrine de um projeto ambiental “bem sucedido”. É uma organização composta de pequenos produtores que passaram a produzir cupuaçu, pupunha, castanha e outros produtos buscando desmatar o mínimo possível e diminuir a utilização de insumos industriais como adubos.
Oxfam
É uma organização inglesa que financia entidades de direitos humanos e congêneres, tem adotado uma postura de crítica ao Banco Mundial, atua na região há muito tempo.
TNC
Esta entidade está envolvida na compra de áreas na Amazônia em troca da dívida externa, tentou comprar terras no pantanal no Brasil e na Bolívia. Vem atuando no Acre através de uma ongs, SOS Amazônia, financiando um imenso parque (Parque Nacional da Serra do Divisor) na fronteira do Acre com o Perú, aí foram feitos vários estudos de fauna e flora e pretendiam retirar a população que morava naquele parque. Esta região da Amazônia é pouco habitada fazendo parte da rota do tráfico de drogas.
IFPRI – International Food Policy Research Institute
Trata-se de uma organização norte-americana vinculada ao governo dos EUA que vem fazendo estudos sobre as tecnologias utilizadas por camponeses na região amazônica, isto faz parte de um projeto maior de estudo sobre uso da terra em toda a faixa tropical, eles têm vários estudos sobre países da Ásia. Atuaram na Amazônia a partir de uma cooperação com a Embrapa[4], universidades e outras organizações. Um dos responsáveis por este projeto, um quadro experimentado do imperialismo ( Stephen A Vosti) foi professor visitante na Universidade Federal do Minas Gerais
SIL Instituto Linguístico de Verão e o papel das missões religiosas
As missões religiosas protestantes tiveram uma atuação mais presente com as populações indígenas, o caso mais conhecido é do Instituto Linguístico de Verão (SIL – Summer Institut Linguistic ) que atua em vários países da América Latina, convertendo populações nativas em crentes (protestantes), um dos instrumentos principais do SIL é o uso da “ciência” apropriando-se da língua dos povos nativos para publicar bíblia. Os que se opõem à sua política oscilam entre: 1) não saber o que fazer 2) bomba! (afirmação – a última - de um antropólogo na Venezuela). Para exemplificar, os Yawanawa que habitam a região ocidental da Amazônia têm a presença desses missionários há muitos anos, houve uma divisão entre eles, os índios protestantes e os outros, isso levou a luta grande entre eles, possibilidade de confrontos violentos etc., eles são poucos. Um desses nativos trabalhou muito tempo na Comissão Pró-Índio e hoje desenvolve um trabalho de recuperação da cultura nativa, junto a outras populações nativas nos EUA, para se opor aos missionários eles defendem os cultos e tradições antigas e o uso de alucinógenos que atraem simpatizantes que podem defender o meio ambiente, populações nativas, viajarem pelo mundo e “viajar” sem ser perseguido pela polícia, é o paraíso.
NYBG – New York Botanic Garden – Jardim Botânico de Nova Iorque
A colaboração entre os jardins botânicos e organizações congêneres em todo o mundo é feita em nome da ciência, a existência de novas descobertas interessa a todos, sem exceção, a capacidade de utilização dos recursos e sua industrialização somente a alguns. Isto permitiu no caso da Amazônia instalar centros de coleta em toda região, através das universidades. No Acre a relação com o NYBG permitiu constituir um centro (Parque Zoobotânico) de pesquisa que cumpriu um papel fundamental como ponta de lança das ações dos gringos não só naquele Estado. Este centro funciona com uma relativa autonomia dentro da universidade o que permite contratar pessoas, enviar quadros para o exterior, recebê-los etc. Eles recebem recursos da Fundação Ford, PPG-7 (Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil dinheiro do grupo dos 7 para as florestas tropicais), USAID, etc. Boa parte dos quadros que foram formados aí estão dirigindo o zoneamento econômico-ecológico do Estado.
LBA – Large Biosphere Atmosphere
Este é o mais importante e ousado projeto dos gringos na Amazônia, iniciado nos anos 90 ele reúne a experiências de várias atividades aparentemente dispersas principalmente das áreas de clima, hidrologia, geologia. As informações são coletadas em vários níveis (imagens de satélite, aviões, em locais específicos com torres que coletam informações sobre ventos, clima, umidade, gases etc.) novos satélites que estão sendo lançados ou foram lançados recentemente são elementos importantes para a coleta, há componentes do projeto voltados para a formação de recursos humanos em várias áreas, na região e fora dela. A então deputada Socorro Gomes do PC do B[5] do Pará levantou várias denúncias contra o projeto, gritou, esperneou e...calou-se. A abrangência é toda a Amazônia, não só brasileira. Um dos responsáveis no Brasil por tal atividade é o INPE.
INPE – Instituto Nacional de Pesquisa Espacial
Detentor de quadros com excelente formação técnica, este instituto cumpre um papel importante na execução do LBA não só no Brasil. Sua imagem, em virtude dos serviços que presta é defendida a todo o custo, uma investigação mais aprofundada de sua participação no LBA, luta interna, quem participa etc., é importante.
SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia
É um variante do LBA com objetivos mais definidos, sua importância deve crescer na região. Algumas universidades servem de suporte para o SIVAM, várias atividades tipo ACISO[6] na área de educação têm sido feitas, é importante identificar os responsáveis. A CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito do SIVAM pode reunir informações importantes e mais nada.
SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos - e o zoneamento econômico-ecológico
A retórica dos militares sobre a invasão da Amazônia pelos gringos tem seu contraponto nas posições desses mesmos militares sobre os diversos projetos dos EUA e outras nações imperialistas na região. O zoneamento econômico-ecológico, apenas para exemplificar, é aprovado e legitimado pela SAE, eles são os “responsáveis” pelas avaliações e “decisões” estratégicas mais importantes, nada mais ridículo.
Universidades
As universidades vêm cumprindo um importante papel na elaboração e execução dos projetos de intervenção na Amazônia, elas são preferidas pelos gringos por sua aparente estabilidade, miséria atual de recursos, e na região sua indigência. Em troca de computadores e outros equipamentos, somadas algumas publicações em revista de prestígio internacional muitos pesquisadores tem contribuído sistematicamente com organizações do Estado americano, ongs etc., além de criarem ongs que atuam vinculadas às universidades além das fundações já tão conhecidas (um importante caixa 2).
Universidade da Flórida
Esta Universidade vem atuando há bastante tempo na região amazônica, inicialmente no Pará, Acre e depois na Bolívia, eles têm um departamento latino americano; levaram para os EUA muitos pesquisadores que passaram a ter papel importante em políticas regionais, criaram no Acre uma ong (PESACRE) e transferem muitos estudantes de pós-graduação em áreas técnicas, antropologia etc., para concluírem seus estudos. Mariane Schmink é a pesquisadora responsável por boa parte desse “êxito”, foi recentemente premiada pelo governo por seus relevantes serviços.
Pesacre – Usaid
Esta ong foi criada a partir de um projeto de cooperação da universidade da Flórida com a Universidade Federal do Acre. Eles atuam com índios, seringueiros e colonos (agricultores) buscando formas mais racionais de aumentar a produção e a produtividade, ampliar a comercialização de produtos florestais não-madeireiros (açaí, cupuaçú etc.) muitos dos pesquisadores visitantes, vindo dos EUA atuam em outros países dominados pelo imperialismo. Um dos seus principais financiadores é a USAID – órgão do governo norte-americano conhecido pelas suas tarefas contra-insurgentes (ver Banhos de Sangue – Chomsky). Parte dos quadros do PESACRE ocupam postos chaves no governo e na universidade federal do Acre.
Universidade Federal do Pará
A presença dos norte-americanos é aí acompanhada por imperialistas de outros países, existem outros institutos de pesquisa importantes que não estão diretamente vinculados à universidade, onde também os gringos têm atuação. Uma das bases importantes da Fundação Ford é essa universidade. Em torno dela foram criadas ongs que têm vinculações com a WHRC (Woods Hole), o governador do Acre e outros. A Embrapa em toda a região adotou uma política de captar recursos desses entidades imperialistas convertendo-se em defensora do meio ambiente. Na Embrapa do Pará surgiu um dos principais opositores à política preservacionista dos gringos (Alfredo Homma – formado pela Universidade de Viçosa-MG), um economista burguês, temido pelos ambientalistas.
Naea
O Núcleo de Altos Estudos da Amazônia, vinculado à Universidade Federal do Pará, abrigou durante longos anos os estudiosos e defensores da reforma agrária. Neste período dos grandes conflitos naquela região, este centro era dirigido por um ex-padre belga (Jean Hébette), mais recentemente, nos anos 90 depois de disputadas acirradas o NAEA passou a ser dirigido pelos pesquisadores vinculados à universidade livre de Berlim, o foco dos estudos, a questão ambiental. Durante um período curto, Lúcio Flávio Pinto trabalhou no NAEA, este jornalista ficou conhecido por suas denúncias resultado de um jornalismo investigativo, no entanto muito próximo à igreja católica.
Ipam
Esta ong do Pará é formada principalmente por pesquisadores que tem vínculos importantes com outros centros de estudo dos gringos, eles têm avançado inclusive na legislação sobre áreas de proteção ambiental, reservas extrativistas etc.
Universidade do Amazonas
A universidade do amazonas tem dificuldades semelhante às da universidade do Pará. Há pressões de todo o tipo, Manaus é um grande centro (inclusive de problemas), o Estado do Amazonas é enorme e com situações particulares de sua geografia (que devemos estudar detidamente) a presença estrangeira é antiga. Um dos ardorosos defensores dos recursos naturais da região é Frederico Mendes de Arruda que vem denunciando há muito tempo o roubo de plantas.
INPA – Instituto de Pesquisas da Amazônia
Tem estreita vinculação com institutos de pesquisa da Alemanha (Max Planck) e com os norte-americanos disputa com a universidade a liderança sobre as pesquisas na região; vários estudos sobre o uso de recursos florestais são desenvolvidos nesse instituto.
Universidade Federal do Acre
Recursos do BIRD moveram durante um bom tempo a máquina burocrática e de pesquisas da universidade. Os recursos envolvidos na paleontologia , inclusive na formação de recursos humanos tem um peso grande dos gringos. As pesquisas nas áreas de levantamentos de recursos florestais acabaram cumprindo um importante papel na introdução de ongs e entidades financiadoras norte-americanas na região. O movimento dos seringueiros contra os fazendeiros não tinha na universidade um suporte, em sua fase inicial, seu principal apoio vinha das organizações ambientalistas norte-americanas e da igreja católica.
Universidade Federal de Minas Gerais – CEDEPLAR
Este centro da universidade manteve durante um bom tempo uma relação estreita com toda a região amazônica inclusive através de recursos da SUDAM, que financiou pesquisas sobre a região, que geraram estudos e um conjunto de dissertações. João Antônio de Paula acompanha este processo da fase inicial até a problemática desenvolvida nos anos 90, inclusive preparando quadros da própria universidade do Acre.
Projeto Seringueiro/Centro de Trabalhadores da Amazônia - Acre
Em meados dos 80 com apoio de vários ongs norte-americanas e inglesas, um conjunto de indivíduos da pequena burguesia, alguns vinculados ao PC do B e outros ao PT/igreja católica, organizam um projeto que buscava atuar nas áreas de cooperativa, saúde e educação com seringueiros. As cooperativas visavam enfrentar os atravessadores (marreteiros) que atuavam na comercialização da borracha, num momento em que a maioria dos seringalistas (proprietários dos seringais) estavam falidos e já transferindo suas propriedade para fazendeiros. Como a maioria dos seringueiros não sabia nem ler nem escrever as ações educativas visavam “não ser mais enganado pelo atravessador” um forte apelo, que contou com a elaboração de materiais didáticos através de uma ong de São Paulo (CEDI- Centro Ecumênico de Documentação e Informação ) que utilizava o “método” Paulo Freire. Já se desenvolvia na região, através também da igreja católica programas de saúde baseados em formas “alternativas”, fundados em concepções como aquelas presentes nos livros Onde não há Médico, Onde não há dentista etc.
Os seringueiros, em sua maioria nordestinos que vieram para a Amazônia a partir de 1870, ficaram abandonados à própria sorte após os períodos de auge da borracha (até 1912 e durante a II guerra mundial), a caça, a pesquisa, o uso de plantas, madeira etc., resultou num conhecimento sobre a floresta amazônica que permitiu a partir dos anos 80 falar até em povos da floresta, harmonia com a natureza e outras sandices, aproveitou-se ainda para inventar uma aliança entre índios e seringueiros que historicamente não existia nem existe agora. Há uma revista publicada pela CUT sobre Chico Mendes, onde ele propagandeia a tal aliança dos povos da floresta e outras coisas do gênero, aí ele já está profundamente embevecido com o canto mavioso dos seres das florestas (o canto não menos encantador das ongs dos EUA) exigindo proteção, por um lado. Por outro o mesmo Chico Mendes defendia nos seringais a organização dos seringueiros contra os fazendeiros com suas armas de caça. Neste período surgem várias ameaças de morte contra seringueiros, algumas foram frustradas, outras não.
O crescimento das escolas foi vigoroso, o Projeto Seringueiro além dos materiais didáticos preparava os professores, estes seringueiros, que num primeiro momento recebiam algum recurso (do próprio projeto) e a partir daí passavam a reivindicar a contratação pelo Estado. As escolas eram construídas pelos próprios seringueiros com materiais da região madeira e palha. Os postos de saúde passavam pelo mesmo processo.
O Projeto Seringueiro passa a ser o Centro de Trabalhadores da Amazônia – CTA, uma ong que financiou governo, os deputados e senadores do PT, constituiu-se numa máquina poderosa de captação de recursos, uma boa gráfica, e a responsabilidade de introduzir o manejo de madeira nas áreas de reservas extrativistas (era uma proposta polêmica tanto entre as lideranças como entre os pesquisadores que apoiavam os seringueiros).
Os serviços prestados pelo CTA aos gringos, são extensos, além de servir de ponte para vários outros projetos, fornece informações, prepara quadros em vários níveis, fornece quadros para o governo do Estado e atua como informante dos órgãos repressivos do Estado nacional e do império.
Alguns problemas
Campanha Nacional em Defesa da Amazônia
A existência de um enorme território, tomado normalmente como uma fronteira de recursos, fazendo parte do território nacional, mobilizou uma enorme campanha por sua defesa. Toda esta movimentação resultava também de uma crítica à ditadura militar no que se refere à venda de terras para empresas estrangeiras. A atuação de ongs ainda durante a ditadura militar tinha apoio principalmente da igreja católica e recursos das ongs européias. As campanhas ecológicas do final dos anos 80 converteram-se numa grande investida das ongs norte-americanas e as áreas de preservação ambiental apareceram como solução parcial do problema, a partir daí ganha impulso as discussões sobre manejo de recursos, administração das áreas de reserva e as negociações. Foi possível, assim, com intensa propaganda considerar legítima – embora feita por um país estrangeiro – a intervenção ecológica na Amazônia, conquistando um apoio significativo das populações dos grandes centros, no Brasil, que vivem problemas “ecológicos” como lixo, poluição etc.
As entidades de defesa da Amazônia converteram-se em entidades ambientalistas fundamentalmente, sob a hegemonia da intervenção norte-americana, isto é pouco conhecido do conjunto das massas no país. O centro da “invasão” é o controle ambiental, com a ajuda de satélites e defensores do meio ambiente, não é uma ocupação militar imediata nem tampouco a compra de terras, assim mesmo estes são dois aspectos importantes da estratégia dos EUA para a Amazônia.
Visitas às áreas onde tem populações
A intervenção direta de estrangeiros onde há populações de índios, seringueiros, ribeirinhos etc., como um ato heróico de salvação das florestas tropicais deu-se a partir de atividades vinculadas diretamente às necessidades básicas como educação, saúde, organização da produção. Tudo isto criou condições excepcionais para esta intervenção (legitimidade) ao mesmo tempo em que as Ongs na região não têm como princípio e até preocupação a legitimidade (eles defendem uma causa nobre, ponto) os partidos oportunistas agiam aí, podiam combinar a militância de seus quadros numa fase superior (ambientalismo) com a garantia de sua reprodução (salários e outros benefícios). Estas presenças vindo do norte reuniam num dia seringueiros que lutavam contra fazendeiros, no outro com o governador do Estado, profundamente interessado nos benefícios da causa ambiental e no outro dia com as entidades nacionais do governo federal que controlam recursos e políticas de intervenção. Uma das estratégias desse movimento ambientalista é seu caráter de lobby e uma política de cooptação de quadros intermediários da estrutura governamental, complementando salários e permitindo a esses aflitos funcionários contribuírem com causas mundiais. Mary Alegretti, a assessora do Sarney Filho trabalhou de forma árdua nisso, além de contar com o apoio de intelectuais renomados das universidades brasileiras. No caso do Perú, na fronteira com o Brasil, a distribuição do território por parte do governo Fujimori para empresas do petróleo levou a contratação de antropólogos por parte dessas empresas que encaminhavam as demandas dos povos nativos, não para o Estado, mas, para as próprias empresas que negociavam com o governo tais demandas.
A questão indígena
As ongs que tratam a questão indígena estão divididas em religiosas (assumidamente) e não religiosas como as Comissões Pró-Indio que surgiram em várias regiões como oposição por exemplo ao CIMI – Conselho Indigenista Missionário, ligado à igreja católica. Um outro tipo de organização é aquela dirigida diretamente por povos nativos em oposição muitas vezes às outras duas formas de organização. Uma atuação sistemática de antropólogos principalmente, vinculados à universidades têm servido de importante apoio a essas diversas organizações, além de na maioria das vezes aportarem contribuições extremamente reacionárias com “verniz” progressista. Estes movimentos têm atraído apoio de organizações de todo o tipo, além de intelectuais e artistas. A educação bilíngue, por exemplo, catalisou esforços de várias organizações, e intelectuais de diversas formações, o resultado foi a produção de materiais de excelente qualidade e a formação de professores com um bom nível, esta produção, não só feita na Amazônia serve na maioria de vezes como referência para todo o continente latino-americano.
A fronteira com o Perú e Bolívia
Uma atenção especial vem sendo dada a fronteira do Brasil com o Perú e a Bolívia, aí há um movimento importante de migração que obedece as políticas dos países no que se refere a áreas de proteção ambiental, necessidades de força de trabalho etc., esta migração que obedecia a períodos ou fases agora se torna permanente, de uma extrema mobilidade de maneira a impedir a ocupação das áreas estratégicas de preservação. As estimativas da população de brasileiros vivendo nessas fronteiras vai de 5.000 a 50.000.
Disputa interimperialista – manifestações
A atuação dos norte-americanos na Amazônia sofre críticas dos imperialistas europeus de forma bastante dissimulada, geralmente estes financiam entidades de direitos humanos e ambientalistas e atuam de forma especial onde desastres ambientais têm ocorrido. As áreas de mineração no Pará, por exemplo, o uso do gás na região, desastres decorrentes de barragens para hidrelétricas são áreas de atuação desses ambientalistas europeus. Na universidade federal do Pará eles têm uma base importante, vinculada à universidade livre de Berlim. O zoneamento econômico-ecológico que vem sendo feito em toda a região tem recebido críticas de pesquisadores dessa universidade, críticas sobre o método, escala etc., (Ver a crítica de Manfred Nitsch Planejamento sem Rumo- Berlim 1998), um banco alemão financia parte do zoneamento em vários Estados da Amazônia. O gás de urucu que irá para Rondônia tem um crítico feroz, apoiado pela igreja católica em Dieter Gawora do Centro de Documentação América Latina – Brasil de Kassel Alemanha. Com o título de Muita casca e pouca noz Willem Assies, pesquisador da Universidade de Utrecht Holanda crítica as políticas ambientalistas na região Amazônica, esse pesquisador trabalhou muitos anos nas regiões pobres de Recife-PE. A lista é longa.
Camponeses e a questão agrária
Os camponeses pobres são explorados e expropriados pelo latifúndio e pelos monopólios e se constituem no principal alvo das políticas imperialistas de preservação. O principal argumento é que os pequenos são que mais desmatam e que estes se utilizam de técnicas rudimentares. O IBAMA dá exemplos de ferocidade com os camponeses pobres que não têm dinheiro para suborná-los. É crescente o sentimento de oposição aos gringos e aos norte-americanos em particular. Os oportunistas utilizam-se desta oposição aos imperialistas para defenderem de forma envergonhada os imperialistas europeus. A defesa da pequena propriedade familiar é o centro das políticas de cooperação, negociação de dívidas etc.; estes camponeses têm servido aos interesses dos latifundiários e especuladores nos enfrentamentos contra o IBAMA e a negociação de dívidas com o Banco do Brasil e na confrontação com o movimento camponês revolucionário.
O problema da biotecnologia as abordagens de “minimizar o roubo”
As políticas preservacionistas do imperialismo norte-americano estão voltadas para a utilização futura de recursos naturais e a descoberta de plantas que sirvam à indústria milionária dos remédios. Explica-se portanto as preocupações com as populações nativas e outras que conhecem os recursos da floresta amazônica. A maior parte dos críticos à chamada biopirataria não enxergam nenhuma saída a não ser a negociação possível tal como propõe a senadora do PT Marina Silva – hoje ministra do meio ambiente. Leis, contratos e outros caminhos mercantis em que essas populações seriam pagas por conhecerem os recursos. Outros mecanismos de mercado são propostos para diminuir o desmatamento como a certificação florestal (as madeiras que saíssem da Amazônia teriam um selo – verde – que identificassem sua origem e a forma de extração – menos predatória -), outros produtos teriam um preço mais elevado e beneficiariam as populações que extraem os recursos etc., Todas medidas que supõe um mercado de concorrência perfeita, sem monopólios é claro.
(*) Nazira Correia Camely mailto:nazira@ufac.br)
Profª do Departamento de Economia da UFAC(Universidade Federal do Acre)
Colaboradora do Cebraspo (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos) [1] ZEE – utilizando-se de geoprocessamento e outras tecnologias de planejamento busca-se harmonizar interesses contraditórios definindo espaços de atuação de fazendeiros, camponeses etc.
[2] SAE – atividades encerradas
[3] administrados pelos militares brasileiros foi objeto de várias negociatas quando da aquisição de radares e outros equipamentos, a vencedor da licitação foi uma empresa norte-americana (Raytheon) apesar dos protestos moderados de empresas européias que também concorreram para vender os equipamentos [4] Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – a principal agência de pesquisa em agropecuária, distribuída nacionalmente por centros de pesquisa é financiada pelo Governo Federal.
[5] PC do B – Partido Comunista do Brasil tentativa de reconstituição do Partido nos anos 60 inicialmente sob a orientação do Pensamento Mao Tsetung e posteriormente seguiu a linha Albanesa.
[6] ACISO – Ação Cívico Social – operação geralmente feita por militares de atendimentos básicos para populações, médicos, dentistas etc., visando ações militares de espionagem e legitimação.
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