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11 setembro 2006

HISTÓRIA: COMO O HOMEM CHEGOU NO CONTINENTE AMERICANO

Resultados de pesquisas, baseados em estudos biológicos, antropológicos, genéticos e até lingüísticos, indicam a chegada em intervalos distintos de tempo.

Primeira chegada ocorreu cerca de 20 mil anos atrás. A segunda foi depois do retrocesso da glaciação, há 14 mil anos.

Foram usadas tanto rotas terrestre quanto marítimas


História única

11/09/2006

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Há décadas que cientistas têm buscado entender como e quando o homem ocupou o continente americano, mas as conclusões, até agora, têm apontado em direções diferentes e até mesmo contrárias.

Um grupo formado por três brasileiros e um argentino acaba de reunir peças do quebra-cabeça para tentar apontar um caminho. O resultado foi debatido na semana passada em Foz do Iguaçu, no 52º Congresso Brasileiro de Genética. E as discussões devem continuar logo, pois o novo modelo proposto será discutido com mais profundidade em outubro, em encontro em Ouro Preto (MG) que terá participação de renomados especialistas internacionais.

O novo modelo de povoamento da América, de acordo com Rolando Gonzalez José, do Centro Nacional Patagônico (o argentino do grupo), está baseado em intervalos distintos de tempo. “Todas as nossas evidências apontam que as primeiras passagens da Ásia para a América ocorreram há 20 mil anos”, disse José à Agência FAPESP.

“Acreditamos que estamos no caminho certo. É claro que a história que se pretende contar é única. Mas o nosso modelo está aberto à discussão, a concordâncias e também a opiniões contrárias”, disse Maria Cátira Bortolini, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Desenvolvido também com a participação de mais um pesquisador da UFRGS e outro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o modelo que tenta explicar o povoamento americano foi construído com base em dados biológicos, antropológicos, genéticos e até lingüísticos. “O ponto-chave inicial era a existência de uma grande diversidade morfológica”, explica José.

Depois disso, com a formação da chamada Beríngia, há 18 mil anos, e do retrocesso da glaciação na região, o que permitiu a abertura de uma rota terrestre naquela zona (14 mil anos), passou a ocorrer uma variação genética contínua dentro da população que atravessou da Ásia para a América. “No início, houve um fluxo genético limitado ao Círculo Polar Ártico, que teve importância muito grande no resto do processo”, disse José.

Para continuar a povoar a América, pelo oeste da América do Norte, os novos colonizadores, segundo o modelo, teriam não apenas usado vias terrestres, mas também marítimas. “Havia um conhecimento de navegação suficiente que permite afirmar que o mar foi usado para a ocupação litorânea. Não estamos falando de travessias oceânicas, mas de viagens de um ponto a outro da costa, no sentido norte-sul ou sul-norte”, explicou outro integrante do grupo, Fabrício Santos, da UFMG.

O processo evolutivo ocorrido na América, que teve origem entre os povos mongolóides da Ásia, não apenas desencadeou a ocupação de todo o continente com o passar dos anos como também teria voltado para o próprio norte da Ásia. “Hoje é possível afirmar que houve um refluxo. Alguns padrões genéticos americanos são encontrados do lado de lá também”, afirmou José.

Mesmo depois da abertura do estreito de Bering, há 14 mil anos, essas duas evoluções continuaram a ocorrer dos dois lados do Pacífico. E muitos processos distintos ocorreram entre os chamados extremos morfológicos, representados pelas feições mongolóides de um lado e as totalmente diferentes dessa primeira. Isso poderá, no futuro, corroborar ainda mais o novo modelo. Ou, então, transformá-lo por completo.