A PERERECA NORDESTINA E O SAPO ACREANO
O conhecimento tradicional que pode gerar renda se os legítimos detentores souberem reivindicar
O nosso conhecido sapo "Kampô" (Phyllomedusa bicolor) quem diria, é parente da perereca nordestina (Phyllomedusa hipocondrialis) que, segundo recente descoberta (veja nota abaixo), produz secreção com poder medicinal. As imagens ao lado mostram o kampô (esquerda) e seu parente nordestino (direita). São realmente muito parecidos não?
Alias, muitos dos sapos do gênero Phyllomedusa são conhecidos por produzirem secreção com poder medicinal. Phyllomedusa oreades and P. distincta possuem, na secreção da pele, pepítideos com ação contra o protozoário Trypanosoma cruzi, agente etiológico do mal de chagas (clique aqui para ler artigo a respeito).
Apropriação indevida de conhecimento tradicional?
Embora as descobertas dos pesquisadores sobre o poder da secreção da pele dos sapos do gênero Phyllomedusa tenham grande potencial medicinal, minha curiosidade reside no seguinte fato: como eles descobriram que os sapos produzem a secreção com poder medicinal? Eles sairam mata a dentro coletando todos os sapos que encontraram e voltaram para os laboratórios para testar as secreções da pele de todos eles? Se foi assim, a pesquisa deve ter custado muito dinheiro. Haja viagem de campo e gastos de material de laboratório.
No caso do nosso Kampô, todo mundo sabe que os indígenas usam a secreção desde tempos imemoriais. Desenvolver medicamentos a partir do mesmo foi bem fácil pois os pesquisadores já tinham uma idéia do que ele é capaz. Assim, uma eventual luta por direitos de propriedade de medicamentos ou outros produtos comerciais derivados do kampô deve, obrigatoriamente, levar em conta o conhecimento dos indígenas. Eles devem receber parte dos lucros. Nada mais justo, afinal eles deram a "dica" que levou à pesquisa da secreção da pele do sapo.
O caso da perereca nordestina me parece extremamente suspeito. De uma hora para a outra se descobre que a secreção do sapo tem todo esse poder? Quem deu a dica para os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Ezequiel Dias, em Minas Gerais, que fizeram a descoberta? Os indígenas nordestinos? Os moradores da caatinga do Rio Grande do Norte?
Cedo ou tarde uma multinacional vai desenvolver um medicamento com base nos peptídeos descritos pelos pesquisadores. Pelo que sei, eles, os descobridores destes compostos, terão todos os argumentos para reivindicar direitos intelectuais ($$$) e embolsar parte da renda advinda da venda do remédio. A questão é: e os detentores do conhecimento tradicional? Aqueles que deram as dicas sobre o poder da perereca nordestina. Aqueles que, talvez, até levaram os pesquisadores aos locais onde as mesmas ocorrem naturalmente.
É bom que alguém dê a dica para as pessoas do interior do Rio Grande do Norte. De outra forma, cedo ou tarde eles vão tirar dinheiro do bolso para comprar, nas farmácias, remédios derivados do sapo milagroso que eles devem conhecem tão bem.
Crédito das imagens: Kampô (Bruno Filizola/MMA); Perereca nordestina (Eduardo Cesar)
O conhecimento tradicional que pode gerar renda se os legítimos detentores souberem reivindicar
O nosso conhecido sapo "Kampô" (Phyllomedusa bicolor) quem diria, é parente da perereca nordestina (Phyllomedusa hipocondrialis) que, segundo recente descoberta (veja nota abaixo), produz secreção com poder medicinal. As imagens ao lado mostram o kampô (esquerda) e seu parente nordestino (direita). São realmente muito parecidos não?
Alias, muitos dos sapos do gênero Phyllomedusa são conhecidos por produzirem secreção com poder medicinal. Phyllomedusa oreades and P. distincta possuem, na secreção da pele, pepítideos com ação contra o protozoário Trypanosoma cruzi, agente etiológico do mal de chagas (clique aqui para ler artigo a respeito).
Apropriação indevida de conhecimento tradicional?
Embora as descobertas dos pesquisadores sobre o poder da secreção da pele dos sapos do gênero Phyllomedusa tenham grande potencial medicinal, minha curiosidade reside no seguinte fato: como eles descobriram que os sapos produzem a secreção com poder medicinal? Eles sairam mata a dentro coletando todos os sapos que encontraram e voltaram para os laboratórios para testar as secreções da pele de todos eles? Se foi assim, a pesquisa deve ter custado muito dinheiro. Haja viagem de campo e gastos de material de laboratório.
No caso do nosso Kampô, todo mundo sabe que os indígenas usam a secreção desde tempos imemoriais. Desenvolver medicamentos a partir do mesmo foi bem fácil pois os pesquisadores já tinham uma idéia do que ele é capaz. Assim, uma eventual luta por direitos de propriedade de medicamentos ou outros produtos comerciais derivados do kampô deve, obrigatoriamente, levar em conta o conhecimento dos indígenas. Eles devem receber parte dos lucros. Nada mais justo, afinal eles deram a "dica" que levou à pesquisa da secreção da pele do sapo.
O caso da perereca nordestina me parece extremamente suspeito. De uma hora para a outra se descobre que a secreção do sapo tem todo esse poder? Quem deu a dica para os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Ezequiel Dias, em Minas Gerais, que fizeram a descoberta? Os indígenas nordestinos? Os moradores da caatinga do Rio Grande do Norte?
Cedo ou tarde uma multinacional vai desenvolver um medicamento com base nos peptídeos descritos pelos pesquisadores. Pelo que sei, eles, os descobridores destes compostos, terão todos os argumentos para reivindicar direitos intelectuais ($$$) e embolsar parte da renda advinda da venda do remédio. A questão é: e os detentores do conhecimento tradicional? Aqueles que deram as dicas sobre o poder da perereca nordestina. Aqueles que, talvez, até levaram os pesquisadores aos locais onde as mesmas ocorrem naturalmente.
É bom que alguém dê a dica para as pessoas do interior do Rio Grande do Norte. De outra forma, cedo ou tarde eles vão tirar dinheiro do bolso para comprar, nas farmácias, remédios derivados do sapo milagroso que eles devem conhecem tão bem.
Crédito das imagens: Kampô (Bruno Filizola/MMA); Perereca nordestina (Eduardo Cesar)
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home