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17 maio 2007

PESQUISA INDICA QUE O MUNICÍPIO DE RIO BRANCO DEVERÁ PERDER 50% DE SUA COBERTURA FLORESTAL ATÉ O ANO DE 2030.

Estudo realizado por pesquisadores da USP e do INPE mostra que se o desmatamento no município de Rio Branco se mantiver no mesmo nível verificado nos últimos 16 anos, a cobertura florestal atual, pouco superior a 72%, deverá cair para cerca de 50%.

A pesquisa, apresentada durante o XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, realizado em Florianópolis entre os dias 21 e 26 de abril passado, avaliou o incremento do desmatamento nos municípios de Rio Branco e Cruzeiro do Sul entre os anos de 1985 e 2003.

Para o município de Cruzeiro do Sul, mantidas as mesmas tendências de desmatamento, seriam necessários mais de 200 anos para a cobertura florestal diminuir para cerca de 50%. O município de Rio Branco possui, segundo estimativa do IBGE de 2005, uma população estimada em 305 mil habitantes, divididos, aproximadamente, em 17% na área rural e 63% na área urbana. Cruzeiro do Sul possui uma população de aproximadamente 60 mil habitantes, sendo 42,5% em área rural e 57,5% em área urbana.

Leia abaixo a íntegra do artigo, publicado nos Anais do XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, realizado em Florianópolis entre os dias 21 e 26 de abril passado.

A dinâmica do desmatamento em duas cidades amazônicas: Rio Branco e Cruzeiro do Sul, Acre, no período de 1985 a 2003 – uma análise preliminar.

Letícia Palazzi Perez (1), Homero Fonseca Filho (1), Tatiana Mora Kuplich (2)

(1) Universidade de São Paulo - USP/POLI – PTR, Av. Prof. Almeida Prado, Tv 02, nº83 – CEP: 05508-900 – São Paulo - SP, Brasil.

(2) Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, Caixa Postal 515 - 12245-970 - São José dos Campos - SP, Brasil

1. Introdução

O Estado do Acre, assim como todos os Estados da Amazônia Legal Brasileira, também sofre com a exploração descontrolada de seus recursos naturais. As origens do desmatamento no Estado estão associadas à exploração da borracha e as fases de expansão e retração do ciclo da borracha levaram, respectivamente, a migração aos seringais e posterior êxodo para as cidades. Além da borracha, as políticas de ocupação da Amazônia nas décadas de 1960 e 1970 causaram grandes mudanças sociais e ambientais na paisagem desta região. Com o passar do tempo, a população não só dos antigos seringais, como também de assentamentos do governo, migrou para aos centros urbanos, principalmente para o Baixo Acre, região onde se localiza o município de Rio Branco. Outros centros urbanos também originados em regiões de seringais, entretanto, foram menos procurados pelos migrantes, como é o caso do Vale do Juruá, região onde o município de Cruzeiro do Sul está localizado.

O objetivo deste trabalho é estimar o incremento de desmatamento em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, entre 1985 e 2003, a cada 3 (três) anos, comparando os resultados obtidos para os dois municípios.

2. Materiais

2.1. Área de estudo

O Estado do Acre localiza-se no extremo noroeste do Brasil, participando com 2,93% dos 5,2 milhões de Km2 do total da região conhecida como Amazônia Legal Brasileira (IBGE, 2006), tendo como principais municípios Rio Branco, a capital, e Cruzeiro do Sul. Rio Branco situase na região sudeste do Acre, nas coordenadas centrais aproximadas de 9º 59’’ S e 67º 51’’ W, possui uma extensão territorial de cerca de 9.300 km2 e população estimada em 305 mil habitantes para 2005, divididos, aproximadamente, em 17% na área rural e 63% na área urbana (IBGE, 2006). Cruzeiro do Sul está situado a noroeste do Estado do Acre, coordenadas centrais aproximadas de 8º 00’’ S e 72º 40’’ W, possui uma extensão territorial de cerca de 8.200 km2 e população de aproximadamente 60 mil habitantes, sendo 42.5% em área rural e 57.5% em área urbana (IBGE, 2000).

2.2. Dados de Sensoriamento remoto

Para gerar os mapas de desmatamento dos dois municípios foram utilizadas as seguintes imagens Landsat/TM e ETM+ (imagem abaixo).

Todas as imagens foram gentilmente cedidas pelo INPE, dentro do Projeto Acre, que consistiu em reaplicar a metodologia PRODES para todo o Estado do Acre, de 1985 a 1997.

3. Metodologia

3.1. A Metodologia PRODES Digital

A metodologia utilizada neste trabalho foi a mesma desenvolvida pelo PRODES Digital, ambientada no software SPRING, utilizando o processamento de imagens Landsat/ TM e ETM+, descrita sucintamente como:

i) georreferenciamento das imagens; ii) geração das imagens-fração solo e sombra, através do modelo linear de mistura espectral (Shimabukuro, 1988), iii) segmentação das imagens-fração; iv) mapeamento de classes temáticas; v) edição matricial por interprete das classificações; vi) geração dos mapas temáticos. Para melhor compreensão da metodologia PRODES vide INPE (2006 a).

Após a geração dos mapas temáticos finais, foram gerados os mosaicos de cada mapa para cada município, utilizando os recortes das órbitas/pontos correspondentes a cada município, com base nos vetores de limites municipais e limites de cenas Landsat, disponíveis no AtlasBR (INPE b, 2006). Com os mosaicos dos municípios em mãos, foram gerados os dois mapas síntese, que apresentam o incremento do desmatamento a cada 3 anos, para Rio Branco e Cruzeiro do Sul.

Para detectar a dinâmica da cobertura do solo nos municípios de Rio Branco e Cruzeiro do Sul foi feita uma análise temporal das classificações do período entre 1985 e 2003.

4. Resultados

Os resultados mostram o avanço do desmatamento para Rio Branco em Cruzeiro do Sul em dois mapas (Figuras 1 e Figura 2, respectivamente) da síntese do incremento do desmatamento nos dois municípios, além de duas tabelas (Tabela 1 e Tabela 2) que apresentam, em Km2, as classes mapeadas para cada ano de estudo para os dois municípios e do gráfico (Figura 3) que apresenta os valores relativos de incremento do desmatamento em relação à área total dos municípios.

O fato de Rio Branco e Cruzeiro do Sul terem áreas totais muito parecidas é relevante na análise visual do gráfico. Nas tabelas, os dados de incremento de desmatamento, são dados em Km2 e representam o incremento de desmatamento em relação ao mapeamento desta mesma classe no mapa anterior. A presença de nuvens, em algumas datas, pode estar encobrindo as classes em estudo, o que justifica, por exemplo, o “aumento” na área de floresta em Rio Branco, de 1985 para 1988, quando o que ocorre, na realidade, é que quase 1000 Km2 do município não foram mapeados em 1985 por causa de nuvens. As áreas das classes das Tabelas 2 e 3 devem ser consideradas como aproximadas. As diferenças em área na classe de hidrografia devem-se às diferenças sazonais nos níveis dos rios dos municípios, que foram sendo mapeados aos poucos, até a estabilização das áreas da classe hidrografia para os dois municípios.

E, por fim, deve-se lembrar que o mapeamento é feito a cada 3 anos.

5. Discussões

Tanto nas Figuras 1 e 3, quanto na Tabela 2 percebe-se pouca variação no incremento de desmatamento em Rio Branco durante todo o período estudado. O maior incremento ocorre de 1988 para 1991, que representa um acréscimo de 299 Km2 na área desmatada de Rio Branco. Mas este valor não é significativamente diferente do que ocorre de 1985 para 1988, de 1994 para 1997 e de 1997 para 2000, com incrementos de, respectivamente 263, 276 e 279 Km2. Os menores incrementos são percebidos de 1991 para 1994 e de 2000 para 2003, representado acréscimos de, respectivamente, 187 e 191 Km2 na área desmatada de Rio Branco.

Já para Cruzeiro do Sul os dados mostram-se menos lineares, como é possível perceber nas Figuras 2 e 3 e na Tabela 3. De 1985 para 1988 praticamente não houve desmatamento, tendo um incremento de apenas 2 Km2. No próximo período, de 1988 para 1991 ocorre o maior incremento de desmatamento, de 69 Km2. De 1991 para 1994 o aumento no desmatamento decai, representando o segundo menos incremento de desmatamento do município, no total de 30 Km2. A partir daí os números ficam praticamente constantes, com 53 e 55 Km2 de incremento de desmatamento para os períodos de 1994 para 1997 e de 1997 para 2000, respectivamente. Ao final do período estudado, o incremento de desmatamento volta a subir, chegando próximo do período de maior incremento do município, alcançando 65 Km2.

É possível perceber no gráfico que mesmo com valores completamente distintos de incremento de desmatamento para Rio Branco e Cruzeiro do Sul – o primeiro tem valores na casa das centenas de Km2 e o segundo na casa das dezenas de Km2 – existe uma sincronia nos valores relativos de incremento de desmatamento para os dois municípios. Somente de 2000 para 2003 os dados apresentam discrepância, quando o incremento do desmatamento diminui em Rio Branco e aumenta em Cruzeiro do Sul.

6. Considerações Finais

Pode-se concluir que mesmo em proporções diferentes, as épocas de maior e menor desmatamento em Rio Branco e Cruzeiro do Sul são coincidentes, com exceção do ano de 2003. O incremento do desmatamento aumentou no período 1988 – 1991, diminuiu no período de 1991 – 1994, e permaneceu quase constante nos períodos 1994 – 1997 e 1997 – 2000 nos dois municípios. A exceção deu-se no período 2000 – 2003, quando o incremento do desmatamento aumentou em Cruzeiro do Sul, e diminuiu em Rio Branco.

Os resultados mostram também que, a pesar de os dois municípios terem áreas totais muito parecidas, apresentam processos diferentes de desmatamento, já que os incrementos em Rio Branco são sempre na casa das centenas de Km2 e em Cruzeiro do Sul na casa das dezenas de Km2 .

Em 1991, ano de maior incremento para os dois municípios, o incremento de desmatamento em Rio Branco foi de 299 Km2 e em Cruzeiro do Sul foi de 69 Km2 . Nos períodos 1994 – 1997 e 1997 - 2000 o incremento de desmatamento foi quase constante para os dois municípios, e Rio Branco apresentou aumento de áreas desmatadas de 276 e 279 Km2 enquanto Cruzeiro do Sul apresentou valores de 53 e 55 Km2 de área desmatada. De 1985 para 1988 Cruzeiro do Sul apresentou o menor incremento de desmatamento, quase inexistente, de 2 Km2 , enquanto que o menor incremento de Rio Branco deu-se de 1991 para 1994, com 187 Km2 de incremento de desmatamento.

7. Bibliografia

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