CÓDIGO DE BARRAS GENÉTICO PARA MONITORAR PESCADO E MADEIRA ILEGAL
Uma nova tecnologia que identifica o DNA com um código de barras ajudará a manter o pescado e a madeira obtidos ilegalmente fora dos mercados mundiais e deixará lenta a propagação de pestes, afirmam especialistas
Genética em código de barras
Por Stephen Leahy, da IPS
Toronto, 18/09/2007 – Uma nova tecnologia que identifica o DNA com um código de barras ajudará a manter o pescado e a madeira obtidos ilegalmente fora dos mercados mundiais e deixará lenta a propagação de pestes, afirmam especialistas. Este avanço cientifico também contribuirá com a segurança alimentar, prevenção de doenças e permitirá melhor controle ambiental. Algumas agências reguladoras do governo dos Estados Unidos, como a Administração de Drogas e Alimentos (FDA) e o Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica, começam a utilizar esta tecnologia, desenvolvida há apenas três anos.
“Agora é uma tecnologia provada. Todos querem utilizá-la”, disse David Schindel, secretário-executivo do Consórcio para a Codificação em Barras da Vida, integrado por 160 organizações científicas e reguladoras de 50 países e baseado na Smithsonian Institution, em Washington. “Também é uma tecnologia incrivelmente útil para que os países em desenvolvimento investiguem e protejam sua biodiversidade”, disse Schindel à IPS.
O código de barras para o DNA (ácido desoxirribonucléico) é uma ferramenta rápida e de baixo custo para identificar espécies de flora e fauna. Foi desenvolvida em 2003 por Paul Herbert, do Instituto de Biodiversidade de Ontário, da Universidade de Guelph, no Canadá. O DNA, que se encontra em todos os seres vivos, é uma molécula complexa que contém todas as instruções genéticas para que um organismo se desenvolva. O DNA de um ser humano é mais completo do que de um gusano, mas é semelhante ao de um rato.
As diferenças entre os dois milhões de partículas que constituem o DNA de diversas espécies animais foram muito difíceis de serem encontradas. O grande avanço conseguido por Herbert foi a descoberta de uma porção de um gene que é único em cada espécie animal: seu “código de barras de DNA”. Espera-se que estabelecer um código de barras das milhares de espécies de mosquitos do mundo se torne uma prioridade, pois são responsáveis por 500 milhões de infecções humanas com malaria e de um milhão de mortes a cada ano. Os mosquitos também transmitem muitas outras enfermidades devastadoras, como o vírus do oeste do Nilo e a dengue, bem como parasitas.
“A chave para o manejo das enfermidades é o controle do vetor”, isto é, o ser vivo que as transmite, disse a cientista Yvonne-Marie Linton, do Museu de História Natural de Londres, encarregada da Mosquito Barcoding Initiative (Iniciativa para a Codificação em Barras do Mosquito). Até agora, os esforços de controle foram debilitados pela má identificação das espécies. O código de barras do DNA pode ajudar muito os taxonomistas (especialistas em classificação) de mosquitos do mundo, que se esforçam para estar em dia com as descobertas de novas espécies, acrescentou.
Os pesquisadores de outras partes do mundo se concentram em estabelecer o código de barras de outros insetos que picam e que afetam aves e seres humanos, além de outros mamíferos, causando enfermidades, estresse e reações alérgicas. Outra prioridade são os fungos, ecologicamente importantes para a vida sobre a Terra, entre 90% e 99% deles não estão documentados. A intenção é identificar tanto os fungos que produzem doenças quanto os que têm utilização na medicina. Reuniões anteriores na África identificaram outras prioridades, com o estabelecimento do código de barras de pestes transmitidas por insetos aos cultivos, espécies de peixes e insetos polinizadores, disse Schindel.
Os cientistas estabelecem redes para que seja possível tomar uma amostra em Camarões, extrair o DNA e enviá-lo a um laboratório nesse país ou em outra parte da África, onde seja possível estabelecer a seqüência dos genes. Essa seqüência é depois comparada com outras no Genbank, uma base de dados na Internet que contém quase 300 mil seqüências genéticas. “Se não houver uma que combine, então pode ser uma espécie não identificada antes, mas a seqüência revelará as espécies relacionadas”, explicou Schindel. O acesso ao banco de dados não tem custo. O Consorcio se comprometeu a deixar essas bases gratuitas e abertas para todos, acrescentou.
Os códigos de barra também têm um papel importante na proteção da biodiversidade, a complexa rede de plantas e animais que mantém saudáveis os ecossistemas. É impossível protegê-la sem saber o que há neles, disse Schindel. Moorea, uma ilha na Polinésia Francesa, se converteu em um laboratório montado em colaboração entre franceses e norte-americanos, no qual se constrói uma biblioteca de códigos de barra para todas as espécies terrestres e marinhas. Na América do Sul, cientistas e reguladores pretendem usar esta tecnologia para identificar espécies de peixes, com o objetivo de controlar melhor as reservas pesqueiras e as cotas, e impedir a venda de pescado de espécies ameaçadas ou em perigo.
Uma necessidade também urgente para países como o Brasil é identificar rapidamente as espécies de árvores nobres que são transformadas em toras. “Quando uma árvore é transformada em uma pilha de madeira fica muito difícil saber de qual espécie era”, explicou Schindel. Nos Estados Unidos, a FDA já determinou o código de barras de cem espécies de peixes comerciais, após vários casos fatais de ingestão de baiacus (conhecido como fugu no Japão, onde serve de base para um prato muito luxuoso que, se for mal-preparado, pode ser venenoso) que foram vendidos como outra espécie.
O Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica planeja usar os códigos de barras para regular melhor a pesca comercial e investigar o que estão comendo os peixes pela análise do que é encontrado em seus intestinos. Os códigos de barras do DNA também permitem uma rápida identificação de espécies invasoras, disse Scott Miller, um entomologista da Smithsonian Institution. “As espécies invasoras agora podem proceder de qualquer parte do planeta, a bordo dos meios mundiais de transporte”, disse Miller à IPS. A capacidade de impedir a propagação desses seres vivos melhora com a identificação, “vital em uma região com as ilhas Galápagos, com muitas espécies endêmicas facilmente perturbadas pelas invasoras”, acrescentou o especialista.
Miller espera que em 10 anos, ou menos, funcionários portuários e inspetores de Galápagos contem com leitores sem fio de código de barras de DNA em seus cinturões para identificar espécies na hora. “O código de barras está ampliando nosso conhecimento da natureza, e, ao mesmo tempo, proporcionando benefícios tangíveis, específicos e significativos para a sociedade”, concluiu Schindel. Trezentos e cinqüenta especialistas em DNA de 46 nações se reuniram este mês em Taipe com funcionários da saúde, agências governamentais e outros organismos para conseguir melhor compreensão do uso desta nova tecnologia.
(Envolverde/ IPS)
© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.
Genética em código de barras
Por Stephen Leahy, da IPS
Toronto, 18/09/2007 – Uma nova tecnologia que identifica o DNA com um código de barras ajudará a manter o pescado e a madeira obtidos ilegalmente fora dos mercados mundiais e deixará lenta a propagação de pestes, afirmam especialistas. Este avanço cientifico também contribuirá com a segurança alimentar, prevenção de doenças e permitirá melhor controle ambiental. Algumas agências reguladoras do governo dos Estados Unidos, como a Administração de Drogas e Alimentos (FDA) e o Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica, começam a utilizar esta tecnologia, desenvolvida há apenas três anos.
“Agora é uma tecnologia provada. Todos querem utilizá-la”, disse David Schindel, secretário-executivo do Consórcio para a Codificação em Barras da Vida, integrado por 160 organizações científicas e reguladoras de 50 países e baseado na Smithsonian Institution, em Washington. “Também é uma tecnologia incrivelmente útil para que os países em desenvolvimento investiguem e protejam sua biodiversidade”, disse Schindel à IPS.
O código de barras para o DNA (ácido desoxirribonucléico) é uma ferramenta rápida e de baixo custo para identificar espécies de flora e fauna. Foi desenvolvida em 2003 por Paul Herbert, do Instituto de Biodiversidade de Ontário, da Universidade de Guelph, no Canadá. O DNA, que se encontra em todos os seres vivos, é uma molécula complexa que contém todas as instruções genéticas para que um organismo se desenvolva. O DNA de um ser humano é mais completo do que de um gusano, mas é semelhante ao de um rato.
As diferenças entre os dois milhões de partículas que constituem o DNA de diversas espécies animais foram muito difíceis de serem encontradas. O grande avanço conseguido por Herbert foi a descoberta de uma porção de um gene que é único em cada espécie animal: seu “código de barras de DNA”. Espera-se que estabelecer um código de barras das milhares de espécies de mosquitos do mundo se torne uma prioridade, pois são responsáveis por 500 milhões de infecções humanas com malaria e de um milhão de mortes a cada ano. Os mosquitos também transmitem muitas outras enfermidades devastadoras, como o vírus do oeste do Nilo e a dengue, bem como parasitas.
“A chave para o manejo das enfermidades é o controle do vetor”, isto é, o ser vivo que as transmite, disse a cientista Yvonne-Marie Linton, do Museu de História Natural de Londres, encarregada da Mosquito Barcoding Initiative (Iniciativa para a Codificação em Barras do Mosquito). Até agora, os esforços de controle foram debilitados pela má identificação das espécies. O código de barras do DNA pode ajudar muito os taxonomistas (especialistas em classificação) de mosquitos do mundo, que se esforçam para estar em dia com as descobertas de novas espécies, acrescentou.
Os pesquisadores de outras partes do mundo se concentram em estabelecer o código de barras de outros insetos que picam e que afetam aves e seres humanos, além de outros mamíferos, causando enfermidades, estresse e reações alérgicas. Outra prioridade são os fungos, ecologicamente importantes para a vida sobre a Terra, entre 90% e 99% deles não estão documentados. A intenção é identificar tanto os fungos que produzem doenças quanto os que têm utilização na medicina. Reuniões anteriores na África identificaram outras prioridades, com o estabelecimento do código de barras de pestes transmitidas por insetos aos cultivos, espécies de peixes e insetos polinizadores, disse Schindel.
Os cientistas estabelecem redes para que seja possível tomar uma amostra em Camarões, extrair o DNA e enviá-lo a um laboratório nesse país ou em outra parte da África, onde seja possível estabelecer a seqüência dos genes. Essa seqüência é depois comparada com outras no Genbank, uma base de dados na Internet que contém quase 300 mil seqüências genéticas. “Se não houver uma que combine, então pode ser uma espécie não identificada antes, mas a seqüência revelará as espécies relacionadas”, explicou Schindel. O acesso ao banco de dados não tem custo. O Consorcio se comprometeu a deixar essas bases gratuitas e abertas para todos, acrescentou.
Os códigos de barra também têm um papel importante na proteção da biodiversidade, a complexa rede de plantas e animais que mantém saudáveis os ecossistemas. É impossível protegê-la sem saber o que há neles, disse Schindel. Moorea, uma ilha na Polinésia Francesa, se converteu em um laboratório montado em colaboração entre franceses e norte-americanos, no qual se constrói uma biblioteca de códigos de barra para todas as espécies terrestres e marinhas. Na América do Sul, cientistas e reguladores pretendem usar esta tecnologia para identificar espécies de peixes, com o objetivo de controlar melhor as reservas pesqueiras e as cotas, e impedir a venda de pescado de espécies ameaçadas ou em perigo.
Uma necessidade também urgente para países como o Brasil é identificar rapidamente as espécies de árvores nobres que são transformadas em toras. “Quando uma árvore é transformada em uma pilha de madeira fica muito difícil saber de qual espécie era”, explicou Schindel. Nos Estados Unidos, a FDA já determinou o código de barras de cem espécies de peixes comerciais, após vários casos fatais de ingestão de baiacus (conhecido como fugu no Japão, onde serve de base para um prato muito luxuoso que, se for mal-preparado, pode ser venenoso) que foram vendidos como outra espécie.
O Escritório Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica planeja usar os códigos de barras para regular melhor a pesca comercial e investigar o que estão comendo os peixes pela análise do que é encontrado em seus intestinos. Os códigos de barras do DNA também permitem uma rápida identificação de espécies invasoras, disse Scott Miller, um entomologista da Smithsonian Institution. “As espécies invasoras agora podem proceder de qualquer parte do planeta, a bordo dos meios mundiais de transporte”, disse Miller à IPS. A capacidade de impedir a propagação desses seres vivos melhora com a identificação, “vital em uma região com as ilhas Galápagos, com muitas espécies endêmicas facilmente perturbadas pelas invasoras”, acrescentou o especialista.
Miller espera que em 10 anos, ou menos, funcionários portuários e inspetores de Galápagos contem com leitores sem fio de código de barras de DNA em seus cinturões para identificar espécies na hora. “O código de barras está ampliando nosso conhecimento da natureza, e, ao mesmo tempo, proporcionando benefícios tangíveis, específicos e significativos para a sociedade”, concluiu Schindel. Trezentos e cinqüenta especialistas em DNA de 46 nações se reuniram este mês em Taipe com funcionários da saúde, agências governamentais e outros organismos para conseguir melhor compreensão do uso desta nova tecnologia.
(Envolverde/ IPS)
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