MUDANÇA DO FUSO HORÁRIO DO ACRE
A verdade sobre os reais interessados na mudança vai aos poucos aparecendo
Os leitores mais assíduos deste Blog sabem que nestas últimas semanas temos alertado que a mudança de fuso horário proposta para acontecer na região norte não é fruto da vontade popular, mas do empresariado. A edição de hoje (20/09) do jornal amazonense A Crítica trás uma reportagem que só confirma o nosso ponto de vista (leia abaixo).
Ela deixa claro que os empresários do ramo de comunicação na região, especialmente aqueles que detêm os direitos de retransmissão das grandes emissoras de TV do país, estão desesperados porque terão que passar a cumprir a portaria 1.220/2007 do Ministério da Justiça (MJ) a partir de janeiro de 2008.
Para se adequar a esta portaria, eles terão que gravar parte da programação do horário nobre para exibi-la apenas no horário adequado. Isto vai abrir uma lacuna na programação destas retransmissoras, que terão que investir na produção de programas locais, ou adquirir enlatados para preencher o tempo "vago". Os riscos financeiros desta empreitada são elevadíssimos pois tudo vai acontecer no horário de maior faturamento das retransmissoras, entre 18h e 22 h.
Ao evitar uma possível adequação aos termos da portaria do MJ, os proprietários das retransmissoras querem continuar seu lucrativo negócio que, na maioria das vezes, se resume a vender espaço comercial na grade de programação do sinal da emissora que retransmitem. Para muitos deles, o mais difícil no negócio que tocam é conseguir o direito para retransmitir o sinal de uma das grandes emissoras nacionais.
Vejam o caso da TV União aqui em Rio Branco. Depois que perdeu o direito de retransmitir a Bandeirantes, ninguem assiste à mesma. E ela, claro, não investe em nenhuma programação local, preferindo passar o dia exibindo clipes.
A "mania" dos empresários de tentar ganhar dinheiro fácil pode ser comprovada pelo fato de que a maioria das retransmissoras da região funciona em pequenas edificações, suficientes para abrigar os retransmissores e, anexo no próprio terreno, a torre de transmissão. Apenas um número muito reduzido delas é mais bem estruturada e tem a capacidade de produzir um ou outro programa local.
O presidente do Sindicato das Empresas de Radiodifusão do Estado do Amazonas (Sinderpam) e da Associação Amazonense de Rádio e Televisão (Amert), Rui Alencar, afirma textualmente que:
- Os prejuízos às empresas serão incalculáveis, caso a programação de TV tenha que ser gravada para veiculação no horário estipulado. Terá que ser montada toda uma infra-estrutura, quase uma emissora de televisão, somente para gravar os programas do começo ao fim.
Empresários não irão cumprir Portaria do MJ: ou a mesma é revogada ou o fuso horário da região é modificado
A entrada em vigor da portaria, portanto, é definitivamente o grande motivo de todo este movimento relativo à mudança do nosso fuso horário. Por esta razão os empresários estão fazendo um lobby muito forte junto aos políticos da região e no MJ. Para eles, os empresários, vale qualquer coisa, desde que eles não tenham que cumprir a portaria. No MJ eles fazem o lobby para que a portaria seja revogada. Junto aos políticos da região eles vendem a idéia de que é muito saudável e salutar se mudar o fuso horário da região.
O mais irônico deste súbito movimento relacionado à portaria e a possível mudança de fuso horário regional é que, nas palavras do representante do Ministério da Justiça, "a portaria foi criada depois de um estudo e debates prolongados, durante três anos, ouvindo as instituições de defesa à criança e ao adolescente."
Os empresários, por seu turno, declaram na reportagem do diário A Crítica que lamentam a entrada em vigor da portaria, pois eles foram os atingidos e não foram ouvidos na discussão. Óbvio que isto é uma inverdade sem tamanho. Tiveram, com toda a certeza, tempo e oportunidade para se manifestar durante os três anos de discussão da portaria.
Políticos da região estão sob pressão total das empresas de comunicação
É triste ver que o Senador Tião Viana foi enredado nesta teia de interesses e hoje defende a mudança do horário do Acre sem que a população do Estado possa dar a palavra final. Sabemos que ele alega outros motivos para apoiar a mudança, inclusive a questão da exibição dos programas com conteúdo inapropriado em horário inadequado. Mas isso o Senador sabe que vai ser resolvido com a entrada em vigor da portaria do MJ.
Mais triste ainda é ver a Deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), presidente da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional da Câmara Federal, liderar a caravana de empresários ao MJ para pedir a revogação da portaria. Para quem não conhece a política no estado do Amazonas, a Deputada Vanessa é o equivalente à nossa guerreira Deputada Naluh. O fato de Vanessa estar ao lado dos empresários Amazonenses equivale ao mesmo que, por exemplo, a Naluh aqui no Acre, de repente, passar a andar de braços dados com os empresários do transporte coletivo, defendendo aumento da tarifa de transporte urbano em nossa capital sem levar em conta o povão.
Tristeza, entretanto, não impede ninguém de racionar e tentar imaginar a razão que se esconde por trás do apoio dos políticos de todas as cores e matizes aos empresários de comunicação da região. Mesmo que isto custe a mudança do fuso horário regional à revelia da opinião popular.
É quase certo que os políticos que hoje apóiam a reivindicação dos empresários, anteriormente participaram e apoiaram a elaboração e edição da portaria. Pode-se especular que a mudança de ponto de vista verificada agora talvez tenha a ver com eventuais espaços na mídia, uma espécie de barganha. No fim de tudo, dá a impressão de que para ambos, os empresários e os políticos, tudo é uma questão de sobrevivência.
Os leitores mais assíduos deste Blog sabem que nestas últimas semanas temos alertado que a mudança de fuso horário proposta para acontecer na região norte não é fruto da vontade popular, mas do empresariado. A edição de hoje (20/09) do jornal amazonense A Crítica trás uma reportagem que só confirma o nosso ponto de vista (leia abaixo).
Ela deixa claro que os empresários do ramo de comunicação na região, especialmente aqueles que detêm os direitos de retransmissão das grandes emissoras de TV do país, estão desesperados porque terão que passar a cumprir a portaria 1.220/2007 do Ministério da Justiça (MJ) a partir de janeiro de 2008.
Para se adequar a esta portaria, eles terão que gravar parte da programação do horário nobre para exibi-la apenas no horário adequado. Isto vai abrir uma lacuna na programação destas retransmissoras, que terão que investir na produção de programas locais, ou adquirir enlatados para preencher o tempo "vago". Os riscos financeiros desta empreitada são elevadíssimos pois tudo vai acontecer no horário de maior faturamento das retransmissoras, entre 18h e 22 h.
Ao evitar uma possível adequação aos termos da portaria do MJ, os proprietários das retransmissoras querem continuar seu lucrativo negócio que, na maioria das vezes, se resume a vender espaço comercial na grade de programação do sinal da emissora que retransmitem. Para muitos deles, o mais difícil no negócio que tocam é conseguir o direito para retransmitir o sinal de uma das grandes emissoras nacionais.
Vejam o caso da TV União aqui em Rio Branco. Depois que perdeu o direito de retransmitir a Bandeirantes, ninguem assiste à mesma. E ela, claro, não investe em nenhuma programação local, preferindo passar o dia exibindo clipes.
A "mania" dos empresários de tentar ganhar dinheiro fácil pode ser comprovada pelo fato de que a maioria das retransmissoras da região funciona em pequenas edificações, suficientes para abrigar os retransmissores e, anexo no próprio terreno, a torre de transmissão. Apenas um número muito reduzido delas é mais bem estruturada e tem a capacidade de produzir um ou outro programa local.
O presidente do Sindicato das Empresas de Radiodifusão do Estado do Amazonas (Sinderpam) e da Associação Amazonense de Rádio e Televisão (Amert), Rui Alencar, afirma textualmente que:
- Os prejuízos às empresas serão incalculáveis, caso a programação de TV tenha que ser gravada para veiculação no horário estipulado. Terá que ser montada toda uma infra-estrutura, quase uma emissora de televisão, somente para gravar os programas do começo ao fim.
Empresários não irão cumprir Portaria do MJ: ou a mesma é revogada ou o fuso horário da região é modificado
A entrada em vigor da portaria, portanto, é definitivamente o grande motivo de todo este movimento relativo à mudança do nosso fuso horário. Por esta razão os empresários estão fazendo um lobby muito forte junto aos políticos da região e no MJ. Para eles, os empresários, vale qualquer coisa, desde que eles não tenham que cumprir a portaria. No MJ eles fazem o lobby para que a portaria seja revogada. Junto aos políticos da região eles vendem a idéia de que é muito saudável e salutar se mudar o fuso horário da região.
O mais irônico deste súbito movimento relacionado à portaria e a possível mudança de fuso horário regional é que, nas palavras do representante do Ministério da Justiça, "a portaria foi criada depois de um estudo e debates prolongados, durante três anos, ouvindo as instituições de defesa à criança e ao adolescente."
Os empresários, por seu turno, declaram na reportagem do diário A Crítica que lamentam a entrada em vigor da portaria, pois eles foram os atingidos e não foram ouvidos na discussão. Óbvio que isto é uma inverdade sem tamanho. Tiveram, com toda a certeza, tempo e oportunidade para se manifestar durante os três anos de discussão da portaria.
Políticos da região estão sob pressão total das empresas de comunicação
É triste ver que o Senador Tião Viana foi enredado nesta teia de interesses e hoje defende a mudança do horário do Acre sem que a população do Estado possa dar a palavra final. Sabemos que ele alega outros motivos para apoiar a mudança, inclusive a questão da exibição dos programas com conteúdo inapropriado em horário inadequado. Mas isso o Senador sabe que vai ser resolvido com a entrada em vigor da portaria do MJ.
Mais triste ainda é ver a Deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), presidente da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional da Câmara Federal, liderar a caravana de empresários ao MJ para pedir a revogação da portaria. Para quem não conhece a política no estado do Amazonas, a Deputada Vanessa é o equivalente à nossa guerreira Deputada Naluh. O fato de Vanessa estar ao lado dos empresários Amazonenses equivale ao mesmo que, por exemplo, a Naluh aqui no Acre, de repente, passar a andar de braços dados com os empresários do transporte coletivo, defendendo aumento da tarifa de transporte urbano em nossa capital sem levar em conta o povão.
Tristeza, entretanto, não impede ninguém de racionar e tentar imaginar a razão que se esconde por trás do apoio dos políticos de todas as cores e matizes aos empresários de comunicação da região. Mesmo que isto custe a mudança do fuso horário regional à revelia da opinião popular.
É quase certo que os políticos que hoje apóiam a reivindicação dos empresários, anteriormente participaram e apoiaram a elaboração e edição da portaria. Pode-se especular que a mudança de ponto de vista verificada agora talvez tenha a ver com eventuais espaços na mídia, uma espécie de barganha. No fim de tudo, dá a impressão de que para ambos, os empresários e os políticos, tudo é uma questão de sobrevivência.
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