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05 novembro 2007

CESARIANAS EM QUANTIDADES EXAGERADAS EM CLÍNICAS PRIVADAS

Estudo feito em Ribeirão Preto (SP) revela disparidade entre atendimento a mães adolescentes nos sistemas público e privado. Na rede pública, falta acompanhamento pré-natal. Nas clínicas particulares, número de cesarianas é alarmante

Problemas diferentes

05/11/2007

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Um novo estudo comparativo destacou grave disparidade entre o atendimento oferecido a mães adolescentes nos sistemas público e privado do município de Ribeirão Preto (SP).

As jovens usuárias do sistema público realizam menos consultas pré-natal, têm baixa escolaridade, maior número de gestações e parto normal com freqüência. De outro lado, as que foram atendidas no serviço privado apresentaram maior escolaridade, mais acesso às consultas pré-natais e um número alarmante de cesarianas, identificado na pesquisa como um problema de saúde pública.

A pesquisa Gravidez na adolescência: estudo comparativo das usuárias das maternidades públicas e privadas, publicada na Revista Latino-Americana de Enfermagem, teve como objetivo identificar o perfil das mães adolescentes atendidas nos dois sistemas de saúde, diagnosticando desigualdades sociais no acesso aos serviços, na educação formal e na perpetuação do ciclo pobreza-gravidez precoce.

De acordo com Ana Cyntia Paulin Baraldi, da Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto, coordenadora do grupo que fez o estudo, “o diagnóstico é fundamental para a implantação de políticas públicas multidimensionais que atendam às necessidades dessas adolescentes”.

“As estratégias incluem a preparação escolar desses jovens no ensino fundamental, capacitação dos serviços de saúde, planejamento familiar, saúde sexual, direitos reprodutivos e treinamento de equipes especialmente para as particularidades desse grupo”, disse a enfermeira obstetra à Agência FAPESP.

A pesquisa foi realizada com base no número de nascidos vivos, em três maternidades públicas e três privadas, no município de Ribeirão Preto. Na amostra, foram selecionadas 5.286 adolescentes entre 10 e 19 anos. Analisou-se ainda o tipo de parto, grau de instrução, o número de consultas pré-natal e o de partos anteriores, no período de 2000 a 2002.

Os dados registram um número de mães adolescentes oito vezes maior nas maternidades do sistema público. Foram 618 nascimentos (11,7%) em hospitais privados contra 4.668 (88,3%) em hospitais públicos. Dessa amostra, destaca-se um percentual três vezes mais alto de nascimentos entre mães adolescentes usuárias do SUS, entre 10 e 14 anos de idade.

Na relação idade materna e grau de instrução, a pesquisa detectou outra desigualdade. Entre as usuárias do serviço privado entre 15 e 19 anos a escolaridade esperada, de oito ou mais anos de estudo, foi correspondente à idade em 70,33% dos casos. Já entre as adolescentes atendidas pelo SUS, apenas 44,55% apresentaram escolaridade compatível com a faixa etária.

O abandono escolar relacionado à gravidez precoce compromete, na maioria dos casos, as perspectivas de futuro para as jovens mães e seus bebês. O estudo revela que a adolescente, no meio de seu processo de capacitação, muitas vezes sofre pressões sociais e psicológicas de colegas, pais e diretores de escolas, o que resulta em evasão, desqualificação e dificuldade de inserção no mercado de trabalho.

“O que se pode constatar é a perpetuação do ciclo de miséria, uma vez que a pobreza e a exclusão podem ser vistas tanto como causa como conseqüência da gravidez precoce”, disse Ana Cyntia.

O perfil das adolescentes contrasta também em relação ao número de consultas pré-natal. O Ministério da Saúde recomenda um mínimo de seis exames durante a gestação, meta essencial para a redução dos índices de mortalidade materna e perinatal verificados no Brasil.

No serviço público, 54,46% de mães adolescentes, entre 15 e 19 anos, atingiram essa meta, contra 89,34% das atendidas nas maternidades privadas. Entre as adolescentes de 10 a 14 anos, o percentual foi de 48,93%, no público, e de 87,5%, respectivamente.

Excesso de cesarianas

O enorme número de partos cesarianos entre as jovens mães atendidas em maternidades privadas chamou a atenção dos pesquisadores. O índice de partos desta natureza tolerados pelo Ministério da Saúde é de 15% a 20%, e a alta taxa de cesarianas no Brasil é hoje um problema de saúde pública, pois gera mais riscos de mortalidade de mães e bebês.

Foram registrados 83,12% de cesáreas contra 16,68% de partos normais em adolescentes com nível socioeconômico privilegiado, atendidas pelo setor privado por meio de planos de saúde. Inversamente proporcional foram os números em maternidades públicas, onde 73,10% de partos normais prevaleceram sobre 26,87% de cesarianas.

Para Ana, essa desproporção está relacionada à inadequada assistência médica. “Antes, havia a crença de que o corpo da adolescente não estava biologicamente preparado para o parto normal, crença que já caiu por terra. O que ocorre é que na maioria das vezes a cesariana é decidida dentro dos hospitais privados, que nem sempre prestam cobertura obstetrícia pautada nos princípios de humanização e incentivo ao parto fisiológico, como prega o Ministério da Saúde.”

Tais princípios de humanização no atendimento a gestantes devem ser cumpridos tanto no serviço público como no privado. “Um dos papéis do SUS [Sistema Único de Saúde] é regular e fiscalizar o cumprimento desses princípios nos hospitais particulares, inclusive investigando, se necessário”, disse a pesquisadora.

Para ler o artigo Gravidez na adolescência: estudo comparativo das usuárias das maternidades públicas e privadas, de Ana Cyntia Baraldi e outros, disponível na biblioteca eletrônica SciELO (FAPESP/Bireme) clique aqui.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Que vergonha! Realmente o Brasil continua e irá continuar como pais de 3.mundo. Que modo de pensar mais arcaico, principalmente vindo de adolescentes com estudo e melhor nível economico, poderia ter algo na cabeca e se informar o que realmente é um parto. Um montao de pessoas igonorantes, principalmente os médicos(um profissional destes nao merece o mínimo de respeito). O Brasil é um país de moda. Cesarea está na moda e nao dói, mas para pensar um segundo na saúde do próprio filho ninguém pensa. Cesáres é para casos com urgencia, por incrível que parece quando se conversa com maes no Brasil, todas que tiveram cesárea, falam que nao tiveram passagem. Porque só no Brasil as mulheres nao tem passagem? Porque sao ignorantes assim como os médicos e nao pensam um minuto na vida do bebe nem na própria.
Triste, nao existe campanha, nao existe apoio ao parto normal, que é a forma mais natural, saudavel e segura de trazer um filho ao mundo.

29/07/2009, 14:55  

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