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11 dezembro 2007

BALI: A AMAZÔNIA E O CLIMA GLOBAL

Toronto, 10/12/2007 – O aumento de dois graus nas temperaturas mundiais poderá fazer a Amazônia deixar de ser o vital ar-condicionado da Terra para se converter em seu lança-chamas, alertaram especialistas na ilha de Bali, na Indonésia. E o planeta já passou de 0,6 grau, segundo os especialistas em clima. Paradoxalmente, um aumento de dois graus nas temperaturas globais não pode ser evitado sem uma selva amazônica em sua maior parte intacta, disse Dan Nepstad, cientista do Centro de Pesquisas Woods Hole, no Estado norte-americano de Massachusetts.

Nepstad redigiu o informe “The Amazon’s Vicious Cycles: Drought and fire into greenhouse” (Os círculos viciosos da Amazônia: seca e incêndio na estufa), apresentado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF). “Não se pode subestimar a importância da selva amazônica para o clima mundial”, disse Nepstad à imprensa em Nusa Dua (Bali), onde acontece a conferência das partes da Convenção marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que começou no último dia 03 e vai até a próxima sexta-feira.

As árvores da Amazônia contêm pelo menos 100 bilhões de toneladas de carbono, equivalentes a 15 anos de emissões globais originadas em todas as fontes naturais e humanas, explicou Nepstad. Esta região “é essencial não apenas para refrescar a temperatura do mundo, mas também é uma grande fonte de água doce que pode ser suficiente para influir sobre algumas das grandes correntes oceânicas”, acrescentou. Manter a Amazônia intacta beneficia toda a humanidade, mas o desmatamento continua em ritmo acelerado, guiado pela expansão da pecuária, pelo cultivo da soja e pela conversão para produção de biocombustíveis.

Este ataque desseca a floresta, tornando-a mais vulnerável aos incêndios. As temperaturas globais em elevação também fazem aumentar a evaporação. “Há uma tempestade perfeita sendo gerada pela perda maciça de florestas na Amazônia”, alertou Nepstad. Porém, o circulo vicioso que afeta as florestas pode ser rompido, disse Hans Verolme, diretor do Programa Global sobre Mudança Climática do WWF. Um dos passos é os países industrializados reduzirem em 33% suas emissões de gases causadores do efeito estufa, em relação aos registros de 1990, nos próximos 12 anos, disse Verolme desde Bali.

As florestas também podem ser restauradas e protegidas dos incêndios e se converter em uma fonte de trabalho e renda para os habitantes do lugar, disse Nepstad. Embora quase todos queiram proteger as florestas, a cada ano se perde 13 milhões de hectares, o que resulta em pelo menos 25% de emissões globais de carbono. “As florestas são o maior tema em discussão na reunião de Bali”, disse desde a ilha indonésia à Claude Gascon, vice-presidente da organização Coservation International. “Esperamos que se reconheça oficialmente a importância de manter as florestas como parte da solução para a mudança climática”, afirmou.

A conferência de Bali, também chamada de Kyoto II ou Kyoto Plus, é o início de um processo de negociações que consumirá dois anos e levará a um novo pacto para aprofundar as reduções de emissões de gases causadores do efeito estufa para além de 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto (assinado em 1997 e em vigor desde 2005). Kyoto não incluiu as florestas existentes, em parte pelas objeções de organizações ambientalistas internacionais e do Brasil. Neste momento, a maioria espera disposições para que sejam incluídas em qualquer novo acordo de “créditos de desmatamento evitado”.

Algumas organizações ambientalistas se opõem a que países ricos e empresas comprem estes créditos em troca de se livrarem das cotas de reduções de suas emissões de gases que provocam o efeito estufa, como estabelece o Protocolo de Kyoto. A principal objeção é que constitui uma ferramenta de iniqüidade em beneficio dos países ricos, de longe os principais responsáveis pela atual fase de mudança climática, que continuariam contaminando porque contam com dinheiro para pagar pelo privilegio. Os governos estão aqui para frear a mudança climática, não para promover o comércio de carbono. “Devem deixar as florestas fora do mercado de carbono e deixar de subsidiar os biocombustíveis”, disse o presidente da Coalizão Mundial de Florestas, Miguel Lovera.

Esta rede internacional de organizações ambientalistas e comunitárias promove a proibição do desmatamento, rígidas regulamentações das emissões dos gases que causam o efeito estufa em sua própria fonte e o investimento em sistemas de transporte rápidos, baratos e eficientes. O Brasil também alertou que se opõe à criação de mecanismos de mercado para limitar o desmatamento, a menos que os países ricos também aceitem grandes reduções das emissões. (IPS/Envolverde)