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08 fevereiro 2008

NALUH GOUVEIA

Será que ela era apenas 'mais uma' e ninguem sabia?

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Eu sempre achei que a ex-Deputada Naluh Gouveia representava o 'novo' na política acreana. Alguém que jamais 'cairia em tentações' e 'armadilhas políticas' que a levassem a abandonar as causas públicas e as idéias que defendeu com garra e determinação pouco vistas por estas bandas.

Quem não lembra? o assassinato da Luziene, a prisão do Hildebrando, a luta para pôr na cadeia os membros do esquadrão da morte, os protestos explícitos contra decisões do Tribunal de Justiça, as críticas contundentes ao Tribunal de Contas...

Pois é. Depois de tudo isso, eis que a Naluh resolve 'chutar o balde' e assumir o cargo de Conselheira do TCE. Quem conhece o seu passado, a sua gênese política, jamais esperava isso dela.

Conheci a Naluh em meados de 1984 quando me integrei ao movimento estudantil da UFAC, fazendo parte de um grupo liderado publicamente por Marina Silva, mas comandado nos bastidores por Binho Marques. O quartel general do grupo estava instalado na casa do Binho e era lá que a 'turma' se reunia para preparar o material para as várias causas que a gente defendia na época.

Era um trabalho cansativo, movido por pura determinação política, e por esta razão ocorriam mudanças freqüentes na equipe, especialmente entre os novatos. Era um entra e sai sem fim. Aqueles que persistiam tinham a oportunidade de ser 'doutrinados' e em pouco tempo estavam engajados de corpo e alma no movimento. A Naluh foi uma das que persistiu.

Lembro que a gente foi colega em uma diretoria do DCE sob a presidência do Ademir Almeida. Neste período ela já ensaiava seus discursos inflamados. Já dava para ver muito do que ela veio a mostrar muitos anos depois: determinação, lealdade, seriedade, engajamento e, acima de tudo, disposição de sacrificar a vida pessoal em prol das causas que defendia.

Em meados de 1987 eu me afastei do movimento político-estudantil e desse período para a frente acompanhei sua evolução política à distância. De imediato ela sumiu, mas passados alguns anos fiquei feliz em ver que ela não tinha desistido da 'luta'. Como ela, muitos outros conseguiram fazer o rito de passagem de líder estudantil para um lider político popular autêntico. Entre os que se destacaram, podemos citar Marina Silva, Marcos Afonso, Binho, Rosângela, Airton Rocha, Gerson Albuquerque e alguns dos irmãos Montezuma.

Assim como a Naluh, todas essas pessoas têm uma história, uma bagagem, uma vivência. Elas avançaram na carreira política degrau a degrau. Sofreram muitas derrotas e apanharam muito durante as manifestações e protestos que lideraram. Aprenderam na prática, na rua, a fazer política séria. Nada de assistencialismo a la Raimundo Melo. Nada de paraquedismo a la José de Melo. Nada de negociações de bastidores a la Rubens Branquinho.

Portanto, para quem conhece um pouco da história política dessa turma 'nova', que mudou a forma de se fazer política no Acre, a última coisa que se poderia esperar era ver a Naluh Gouveia aceitar um cargo no Tribunal de Contas do Estado!

Se um fato como esse tivesse ocorrido no passado, quando a turma dela estava 'até o pescoço' defendendo causas realmente populares, seguramente a Naluh seria 'convencida' a recusar a oportunidade.

As razões? Em primeiro lugar porque ao aceitar, ela passaria a todos a impressão de que iria se anular, se calar politicamente em troca de um cargo com salário polpudo e vitalício. Em segundo, muitos diriam que o TCE é um órgão meramente burocrático e que lá ela não iria fazer diferença alguma. Seria um 'soldado' a menos no campo de batalha. E um soldado muito importante, bem preparado, cuja ausência seria sentida por todos.

Nesse sentido, por exemplo, eu não vejo entre os atuais membros do TCE local que deixaram a carreira política para assumir o cargo de Conselheiro, nenhum com um passado de lutas ou uma trajetória política comparável ao da Naluh Gouveia. Por esta razão tanto faz eles estarem no TCE, na Assembléia ou sem cargo público algum. Sua falta seria pouco notada.

Diante de tudo isso fica muito difícil entender porque a Naluh resolveu assumir o cargo no TCE. Será que ela não está consciente de que lá ela vai ser apenas mais uma, apenas mais um voto que aprovará ou não prestações de contas de administradores públicos? Será que ela não vê que caminha para um final de vida pública extremamente infeliz e frustrante.

Frustrante porque sabemos que mesmo com toda a corrupção praticada de forma explícita ou não por muitos administradores públicos locais, não se tem notícia de que algum deles foi preso depois que suas prestações de contas foram reprovadas pelo TCE.

Na última vez que me encontrei com a Naluh, durante o funeral do Cartaxo, deixei claro para ela que a decisão de ir para o TCE era equivocada. A sua resposta foi de que ‘estava cansada’, que não agüentava mais lutar e ver que nada mudava.

Obviamente que temos que admitir que todos são livres para decidir seu destino. Temos que respeitar isso. Mas o destino político da Naluh não deveria, em teoria, repousar em uma decisão pessoal dela. E os milhares de votos conscientes e limpos que ela recebeu durante toda a sua trajetória? Não valem nada?

Até hoje não li ou ouvi em lugar algum uma justificativa convincente para a sua decisão de integrar o TCE. Até agora fica apenas a impressão de que ela, apesar de toda a sua história, é apenas mais um daqueles políticos que cedo ou tarde termina sendo cooptado pelo poder dominante em troca de um ou outro cargo. No caso da Naluh, ela optou em trocar uma brilhante trajetória política, sua voz e influência, pelo silêncio improdutivo dos gabinetes e do plenário do TCE.

E ai Naluh? Será que você nos enganou durante todos esses anos é apenas mais uma ‘deles’?

Vou ser honesto com você. Tomara que aqueles que estão lutando contra a sua permanência no TCE tenham sucesso! Você não merece aquele cargo! Fique fora daquele lugar e continue a trilhar um caminho mais produtivo.

Aqui fora muitos estão comentando que você não é 'besta' como a Francisca Marinheiro. Eles dizem que você tem mais é que aproveitar a oportunidade! Que não vale bancar o herói e defensor dos fracos e oprimidos a vida toda.

Se a voz do povo é a voz de deus e se o seu silêncio público admite estes tipos de conjeturas, então podemos concluir que é certo que estas foram as razões que levaram você a assumir o TCE?

Gostaria que isso não fosse verdade porque seria duro chegar à dolorosa conclusão de que durante todos esses anos você nos enganou e sua vida política, a sua brilhante trajetória, foi apenas uma farsa.

Você não merece isso.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caro Evandro.
Seu ponto de vista está perfeito ao cobrar coerÊncia da NALUH.
Mas pra ser coerente com vc mesmo a critica tambem deveria ser feita com relação à aposentadoria do Jorge Viana e vc se cala, não é?

11/02/2008, 18:23  
Anonymous Anônimo said...

Quem desdenha quer comprar, diz o adágio antigo. Por isso desconfio de todos os apologistas da honestidade. A NALUH nunca me enganou.

16/02/2008, 12:44  

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