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09 abril 2008

EXPLORAÇÃO DE CASTANHA NO ACRE

Pesquisa confirma a sustentabilidade biológica da atividade e sugere que a socioeconomia da exploração é o maior desafio para a sua manutenção no médio prazo

Estudo realizado por pesquisadores da Embrapa-Acre, da Universidade da Flórida (USA) e da Universidade da Flores (UFAC) concluiu que o sistema atual de exploração da Castanha (Bertholletia excelsa) praticada pelos extrativistas acreanos não representa, sob o ponto de vista biológico, ameaça à sobrevivência da espécie no médio prazo.

Segundo a pesquisa, o maior desafio para a manutenção da atividade são os aspectos relacionados com a socioeconomia do manejo sustentável, que envolvem uma teia de fatores interligados, entre os quais se incluem a tendência do uso da terra para atividades economicamente mais rentáveis, a qualidade das castanhas e a necessidade de um aumento substancial da renda derivada da exploração das mesmas.

Até hoje a exploração extrativista da castanha é considerada como um modelo de produto florestal não madeireiro que promove a conservação da floresta mediante o seu aproveitamento econômico. Estudos sobre a demografia da espécie, entretanto, têm demonstrado a ocorrência de impactos na estrutura populacional da mesma quando submetida a regimes diferenciados de exploração.

Para verificar a situação da espécie no Acre, os pesquisadores compararam três diferentes populações de castanha com históricos distintos de uso da floresta, grau de acesso rodoviário e nível recente de coleta de castanha. Com esses pressupostos, eles tentaram responder duas questões básicas: (1) a regeneração natural da espécie está sendo prejudicada pela exploração das castanhas? e (2) a densidade das plântulas pode ser explicada pela estrutura dos indivíduos adultos, destinação dos frutos ou estrutura geral da floresta?

Foram instaladas quatro parcelas de 9 hectares em cada uma dos três castanhais estudados e realizado o censo dos indivíduos com 10 cm de diâmetro a altura do peito. A quantificação da regeneração, estrutura geral da floresta e contagem dos frutos intactos e abertos foi feita em 36 parcelas menores.

Os resultados do estudo indicam que entre 29-55% dos frutos não tinham sido coletados e que mais de 90% destes estavam danificados por roedores, que são os principais responsáveis pela dispersão dos frutos da espécie. A estrutura populacional obtida foi próxima de um 'J' invertido quando se examina a distribuição das diferentes classes de idade da espécie. A densidade das regenerações variou entre 3,2 a 5,8 indivíduos por hectare.

A pesquisa aponta que o maior desafio para a continuidade da exploração da espécie são os aspectos socioeconômicos da mesma. Alguns deles, como a questão da contaminação das amêndoas por aflotoxinas, estão sendo abordados no Brasil, Bolívia e Peru, na esperança de que esta espécie possa continuar a desempenhar o importante papel ecológico e econômico que tem no contexto atual do extrativismo na Amazônia.

O artigo ‘Sustainable forest use in Brazilian extractive reserves: Natural regeneration of Brazil nut in exploited populations’ foi publicado no volume 41, edição de janeiro de 2008 da revista Biological Conservation. Os autores do artigo são L. H. O. Wadt (Embrapa-Acre), K. A. Kainer (Universidade da Flõrida), C. L. Staudhammer (Universidade da Flórida) e R. O. P. Serrano (Universidade da Floresta)

Clique aqui para ler o resumo do artigo (em inglês) no Blog Biodiversidade Acreana.

Foto: Embrapa.