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10 abril 2008

OPORTUNISMO DE UM DEMOCRATA

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Foi muita coincidência que o Senado tenha aprovado justamente ontem a proposta que estabelece a redução do fuso horário vigente no estado do Acre e em parte do estado do Amazonas, que poderão ser obrigados a adiantar em 1 hora o seu horário habitual.

A coincidência se refere ao fato de que a Portaria 1.220/2007 do Ministério da Justiça, que obriga as emissoras e retransmissoras de TVs do país a se adequarem à classificação indicativa dos programas, ter entrado em vigor no dia 08/04, ou seja, no dia anterior.

E o que isso significa? Que a coincidência desses fatos é um claro indicador que tudo foi feito para atender aos interesses dos empresários.

Todo mundo lembra que eles tentaram de tudo para impedir a entrada em vigor da portaria. Em janeiro passado, com o apoio de políticos, conseguiram adiar a portaria por 90 dias para, 'supostamente', promover ajustes técnicos para se 'adequar' à nova situação.

Conseguiram passar a impressão para todos de que a portaria era uma coisa de última hora, quando ela foi resultado de anos de discussão. E sua entrada em vigor teve aviso prévio de seis meses. Estava na cara que não dariam o braço a torcer tão facilmente.

Para os acreanos, é óbvio que a entrada em vigor da portaria do Ministério da Justiça não tem nada a ver com o projeto de mudança do fuso horário do Acre, proposto pelo Senador Tião Viana, que tramitava normalmente no Senado esperando a sua vez de entrar em pauta.

E porque ele foi aprovado de forma tão emergencial, sem aviso e sem fanfarra na imprensa local? Seguramente não foi para atender o interesse do povo acreano, que agora vai ter que se acostumar com a nova situação.

Pode-se dizer que essa aprovação de última hora foi humilhante para o Acre e os acreanos. Como?

Vamos analisar pela ótica dos empresários.

Na impossibilidade de impedir a entrada em vigor da portaria, eles buscaram a melhor situação possível no que toca a fuso horário. Quanto menos diferença em relação ao horário de Brasília, melhor.

Como ainda não existe nenhuma proposta formal para igualar o horário do estado do Amazonas ao de Brasília, eles 'pegaram' o que já estava em curso no Congresso. No caso, a proposta do Senador acreano. Foram lá e impuseram a aprovação da mesma. Com isso eles diminuem seus prejuízos, mesmo que de forma irrisória pois o Acre pouco representa no bolo publicitário das emissoras.

A população, de uma maneira geral, não deve se iludir com os elogios da imprensa local ao Senador pois não refletem fielmente o sentimento do povo. Eu critico abertamente a decisão dele pois, definitivamente, não foi um ato democrático.

Afinal, quantos acreanos o Senador consultou para saber se queriam a mudança?

Pelo que me consta e pelo que li e vi na imprensa, os únicos interessados que procuraram o Senador em busca da mudança foram os empresários. Está claro que o projeto do Senador foi decorrente de uma demanda empresarial. Os assessores do Senador falharam ao não conseguir desvincular esta impressão.

Vejam que o Deputado Moisés Diniz, autor original da proposta de mudança, estava indo no caminho certo ao liderar a organização de uma consulta pública para saber se o povo acreano queria mesmo a mudança. De forma inexplicável, ele deixou a idéia para lá. Ela poderia ocorrer este ano, durante as eleições municipais.

O que aconteceu Deputado Moisés Diniz? Creio que o senhor deve explicações aos seus eleitores.

Quanto ao Senador Tião Viana, que reputo um político sério e que luta por causas nobres em favor do Acre, dessa vez foi envolvido pela teia de interesses alheios ao povo acreano.

Ele não precisa mais dar esse tipo de demonstração de força. Todos nós sabemos que ele, definitivamente, tem cacife político como nenhum outro político acreano teve até hoje. Afinal, não é qualquer um que consegue, sozinho, mudar o horário de um Estado brasileiro.

Uma pena que tudo isso aconteceu dessa forma, com essas coincidências.

Ficou no ar a nítida impressão de que o Senador agiu com oportunismo e na minha visão, democratas autênticos não agem com oportunismo. Estão acima disso.

Entretanto, aqueles que são contra a mudança autoritária do fuso horário do Acre ainda têm uma última esperança.

Que o Senador Tião Viana aja como um autêntico democrata e use todo o seu prestígio e cacife político para impedir que o Presidente Lula sancione a entrada em vigor da mudança do 'novo' fuso horário acreano até que uma consulta pública ampla seja feita e o povo diga sim ou não à mudança.

Crédito da imagem: Leopoldo Silva - Agência Senado

2 Comments:

Blogger Unknown said...

A argumentação do professor Evando, em muitos dos seus aspectos, são irretocáveis. Pode-se, inclusive, avaliar como corretíssimas suas preocupações quanto a participação da população no encaminhamento de uma saída para a "questão".

Cabe, entretanto, a consideração da natureza da tal "questão". Ao longo da história das comunidades vão surgindo impasses que brotam a medida em que os arranjos sociais visando a produção das bases materiais da existência social. Esses impasses são resolvidos, e, assim, devem sê-lo, dado que remetem para a garantia da reprodução social das comunidades. Aqui e acolá, grupos, ou mesmo pessoas, deslocam-se de suas posições e tentam - as vezes, de forma bem sucedida - posicionar-se como depositárias da verdade de todos ou do conjunto da sociedade, dizem-se rerpesentarem os interesses conjuntos de todos e de cada um. Nesses momentos, cria-se uma situação onde esse grupo ou esse personagem individual põe as bases para que se decida em função do ache necessário - a propaganda, de forma restrita, ou a ideologia, de forma mais ampla funcionam nesse sentido do convencimento. E lá vai, provo, ordeiro, povo cordeiro, gado novo, empurrando interesses particulares como se fossem interesses coletivos. Assim, Caro Evandro, funciona a democracia burguesa. Imagina, uma democracia como a brasileira, tocada por um cidadão Kane. Hoje pode-se falar da presença quase no estilão Grande Irmão da Rede de TV Globo sobre os lares brasileiros e em muitas partes da América do Sul.

Como entenderiamos a tal "consulta popular", tendo a Globo, como Collor, ao seu lado, na defesa da mudança do fuso horário?

Por outro lado poderia essa dita "questão" dos fuso horário ser posta ao lado do que se entende por questões levantadas pela vida social das populações do Norte? Se estivesse deveriam todos ser chamados para resolvê-la - o homem como um ser que dá resposta aos problemas que lhe são proposto pela História. Mas, espera aí. Este problema não emerge das lutas sociais, dos embates do dia a dia, das necessidades de organização e reprodução da vida social. Este problema surge das necessidades empresariasi, como bem afirma o Evandro. Sim, Senhor! Sem tirar nem por uma linha: em nada muda a vida das pessoas esse ajustamento do ponto de vista de melhorias da vida em sociedade. Ao contrário. Terá profunda repercussão sobre as condições de vida e poderá, e fatalmente, contribuirá para piorar as condições de vida de milhares, até mesmo, milhões de pessoas que serão afetadas em seus metabolismos por conta das mudanças e adpatações em seus regimes de descanso e sono. Isso é cientificamente comprovado.

O senador da república, Tião Viana, um médico de formação invejável - ossui doutorado - poderia valorizar os descobrimentos que a ciência permitiu sobre os efeitos de interferências no "relógio biológico" das pessoas e, a partir disso, evitar que efetue essa estúpida mudança.

10/04/2008, 16:26  
Blogger Unknown said...

A argumentação do professor Evando, em muitos dos seus aspectos, são irretocáveis. Pode-se, inclusive, avaliar como corretíssimas suas preocupações quanto a participação da população no encaminhamento de uma saída para a "questão".

Cabe, entretanto, a consideração da natureza da tal "questão". Ao longo da história das comunidades vão surgindo impasses que brotam a medida em que os arranjos sociais visando a produção das bases materiais da existência social. Esses impasses são resolvidos, e, assim, devem sê-lo, dado que remetem para a garantia da reprodução social das comunidades. Aqui e acolá, grupos, ou mesmo pessoas, deslocam-se de suas posições e tentam - as vezes, de forma bem sucedida - posicionar-se como depositárias da verdade de todos ou do conjunto da sociedade, dizem-se rerpesentarem os interesses conjuntos de todos e de cada um. Nesses momentos, cria-se uma situação onde esse grupo ou esse personagem individual põe as bases para que se decida em função do ache necessário - a propaganda, de forma restrita, ou a ideologia, de forma mais ampla funcionam nesse sentido do convencimento. E lá vai, provo, ordeiro, povo cordeiro, gado novo, empurrando interesses particulares como se fossem interesses coletivos. Assim, Caro Evandro, funciona a democracia burguesa. Imagina, uma democracia como a brasileira, tocada por um cidadão Kane. Hoje pode-se falar da presença quase no estilão Grande Irmão da Rede de TV Globo sobre os lares brasileiros e em muitas partes da América do Sul.

Como entenderiamos a tal "consulta popular", tendo a Globo, como Collor, ao seu lado, na defesa da mudança do fuso horário?

Por outro lado poderia essa dita "questão" dos fuso horário ser posta ao lado do que se entende por questões levantadas pela vida social das populações do Norte? Se estivesse deveriam todos ser chamados para resolvê-la - o homem como um ser que dá resposta aos problemas que lhe são proposto pela História. Mas, espera aí. Este problema não emerge das lutas sociais, dos embates do dia a dia, das necessidades de organização e reprodução da vida social. Este problema surge das necessidades empresariasi, como bem afirma o Evandro. Sim, Senhor! Sem tirar nem por uma linha: em nada muda a vida das pessoas esse ajustamento do ponto de vista de melhorias da vida em sociedade. Ao contrário. Terá profunda repercussão sobre as condições de vida e poderá, e fatalmente, contribuirá para piorar as condições de vida de milhares, até mesmo, milhões de pessoas que serão afetadas em seus metabolismos por conta das mudanças e adpatações em seus regimes de descanso e sono. Isso é cientificamente comprovado.

O senador da república, Tião Viana, um médico de formação invejável - ossui doutorado - poderia valorizar os descobrimentos que a ciência permitiu sobre os efeitos de interferências no "relógio biológico" das pessoas e, a partir disso, evitar que efetue essa estúpida mudança.

10/04/2008, 16:26  

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