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28 maio 2008

FUSO HORÁRIO: ALTERAÇÃO PROVOCA IMPACTOS NA SAÚDE (*)

Fuso diferente pode afetar metabolismo, gerando insônia, sonolência diurna, alterações do humor e do apetite e transtornos digestivos. Para Silvio Simione da Silva, Geógrafo da UFAC, a própria concepção da lei que mudou o fuso horário acreano foi de “uma ignorância enorme do ponto de vista científico”

Eduardo Sales,
da Redação do Brasil de Fato

A sanção da lei 11.662/08 ocorreu sem debate público. Fato que chama a atenção porque mudanças de maior ou menor intensidade irão acontecer no cotidiano de acreanos, amazonenses e paraenses. A proximidade em relação à linha do Equador faz com que, na região Norte, o dia e a noite possuam períodos mais constantes em relação ao que acontece em localidades mais afastadas.

“Conforme as estações do ano, não há interferência nos períodos do dia e na noite. Normalmente, o dia amanhece às 5h45 e começa a escurecer a partir das 17h30. Com a nova lei, nosso dia começará uma hora antes e isso vai fazer diferença no relógio biológico”, explica o geógrafo da Universidade Federal do Acre (Ufac), Silvio Simione da Silva. Ele pontua que a própria concepção da lei foi de “uma ignorância enorme do ponto de vista científico”.

De acordo com ele, os fusos são produtos de uma convenção internacional, portanto, algo que não pode ser decidido por decreto. Ele argumenta que outros países de vastas extensões longitudinais lidam normalmente com a existência de diversos fusos, como a Rússia, que possui 11 fusos diferentes.

Impacto fisiológico

E os mais de 600 mil acreanos? Serão prejudicados de modo excessivo após a lei entrar em vigor? Segundo o biólogo Luiz Menna Barreto, especialista em Cronobiologia da Universidade de São Paulo (USP), as mudanças no aspecto fisiológico das pessoas não são drásticas, mas merecem consideração.

“Nossos organismos estão adaptados para um fuso horário que coincida o mais aproximadamente possível com os horários de claro/escuro ambiental. Praticamente todas as nossas funções orgânicas apresentam ciclos que se completam a cada 24h, os ritmos circadianos. O claro/escuro ambiental sincroniza (ajusta, acerta) esses ritmos a cada dia”, explica.

Com a mudança do fuso, Menna afirma que se cria uma situação de potencial conflito na regulação temporal. “Conflitos que comprometem a saúde, tanto mais quanto mais amplo e prolongado for o desajuste entre os ciclos naturais e sociais”, completa.

Esse descompasso entre ciclos naturais e sociais rebatem no metabolismo das pessoas. “Insônia, sonolência diurna, alterações do humor e do apetite, transtornos digestivos, são as queixas mais freqüentes desses desajustes temporais”, explica o especialista. Menna reforça que o fato das populações acabarem por se adaptar a essas imposições não elimina os transtornos mencionados.

A geógrafa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Arlette Moisés Rodrigues, lembra que Portugal já viveu a experiência de mudar seu fuso horário em 1992, em função de seu ingresso para União Européia; e, devido a diversas complicações na vida e na saúde da população, o país voltou atrás. “Houve um aumento do consumo de estimulantes e diminuição do rendimento escolar e do trabalho”, lembra.

(*) Originalmente publicado em 07/05/2008