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07 maio 2008

VEJA DEPUTADO MOISÉS DINIZ, O SENHOR TAMBÉM DEFENDE O FUSO DE -5 HORAS GMT!

...caro deputado Diniz, se aceitarmos os seus argumentos, estaremos lado a lado na defesa do fuso -5h GMT e da luta dos trabalhadores na fixação de períodos de descanso fundados nas relações naturais. Do contrário, concordando que parte da noite corresponda a horário diurno, quebraremos o argumento que os trabalhadores usam para cobrar remuneração diferenciada pelo trabalho noturno. Vamos marchar juntos!

Mário José de Lima
Economista

O que mais me deixa preocupado, é a inconsistência da argumentação pró-mudança do fuso horário. Muitas posições se afirmam em chavões, frases vazias, declaração de fé ou confiança no autor da propositura e, por aí, vai.

Um dos defensores, dos mais importantes, é o deputado Diniz, que tem marcado presença nas discussões, polemizado, mantido sua posição. Entretanto, nem mesmo o deputado tem primado pela coerência entre as premissas e as conclusões em seus argumentos. Algumas vezes, levanta premissas corretas – que entendo, quando examino seus escritos, ter como única finalidade sensibilizar seus leitores – mas chega a conclusões equivocadas.

Vejamos um exemplo:

“A massa de trabalhadores extrativistas vivia na floresta, no isolamento mortífero das colocações. Acordava cedo, na madrugada trabalhava como se já tivesse o sol.

O fuso de quatro horas vai levar o ponteiro do relógio para perto da nossa história, das nossas origens. Quanto mais próximos da madrugada mais sintonia entre nós e o sol, nosso modo de vida na floresta, todos os nossos ancestrais.”


(Deputado Moisés Diniz, artigo publicado no jornal O Rio Branco)

Primeiro, corretamente, o deputado reconhece a vida desgraçada do trabalhador seringueiro, submetido a uma jornada de trabalho desumana, submetido ao isolacionismo, o qual o deputado designa como ‘mortífero’. Eram terríveis as condições de vida do seringueiro – exploração bruta apoiada em condições de coerção, realmente, mortíferas -, trabalhando das duas da manhã às 5 ou 6 horas da tarde, para obter uma remuneração miserável que não lhe permitia cobrir um débito perpétuo junto ao barracão.

Mas, depois de uma correta percepção da história do seringalismo, o deputado mergulha num devaneio inexplicável: propõe “retornar na história” o que implicaria retornar às condições miseráveis que ele mesmo denuncia. Isto, quando deveríamos saudar o fim da economia da borracha e trabalhar para construir uma transição que incorpore o seringueiro em condições superiores a vida a que foi submetido.

Depois, vem uma frase para complicar, ainda mais, o argumento do deputado. Como entender que, se nos aproximamos da madrugada, nos pomos em sintonia com o sol? A que “modo de vida na floresta” se refere o deputado? Não é o da vida no sistema seringalista, a qual o deputa reconhece como ‘mortífera’.

Façamos assim: pensemos nas populações indígenas, a quem o deputado se refere quando fala em ancestrais (ancestralidade). Será que essa população vive zanzando floresta afora, no período noturno?

Mesmo sem ser um especialista na forma de organização da vida indígena, qualquer um pode reconhecer, recorrendo a fotografias, um aspecto esclarecedor quanto à relação das populações indígenas e o dia e a noite. O grupo se reúne numa posição que os deixa unidos, próximos, apoiando-se uns nos outros, ou seja, se postam defensivamente no período noturno. Existem perigos na floresta, existe a possibilidade de ataques de algum animal faminto, animais de hábitos noturnos, ou a reação de alguma víbora, etc.

Algumas fotografias de grupos no Xingu, por exemplo, mostram uma imensa construção com saídas na parte superior às quais permitem a circulação do ar e uma porta de entrada - uma verdadeira fortaleza – é nela que os índios se recolhem no período noturno. O momento de se acomodar nesses locais é ao por do sol e o momento de sair é ao nascer do sol.

Concordaria, plenamente, com o deputado. O caminho seria, exatamente, procurara aproximação ao comportamento indígena, relativamente, ao período de descanso e ao de trabalhar. É uma prática apoiada ao ciclo natural dia e noite. Ou seja, a velha relação que defendemos que o fuso horário acreano obedeça e que é o fundamento do sistema horário mundial de Greenwich.

Logo, a posição de defesa da mudança do fuso horário que o deputado assume, contraria os seus próprios argumentos.

Então, caro deputado Diniz, se aceitarmos os seus argumentos, estaremos lado a lado na defesa do fuso Greenwich menos cinco horas. Se agirmos, assim, estaremos defendendo os resultados da luta da classe trabalhadora na fixação de períodos de descanso fundado nas relações naturais. Caso contrário, concordando que parte da noite corresponda a horário diurno, quebraremos o argumento que a classe trabalhadora usa para cobrar remuneração diferenciada pelo trabalho noturno.

Estamos aqui, deputado, na trincheira pró-fuso horário Greenwich menos cinco horas a sua espera.

1 Comments:

Blogger Acreucho said...

Não levemos em conta as observações do "nobre deputado", ele nunca levanta cedo, não sabe o que é trabalho duro...é um desavisado...

07/05/2008, 20:57  

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