CHIMARRÃO CANCERÍGENO
O consumo de chimarrão tem sido apontado como possível causa do câncer de esôfago. Estudo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, em parceria com o Instituto Nacional do Câncer, dos Estados Unidos, reiterou essa conclusão
Mais amargo que nunca
Luan Galani
Especial para a CH On-line
O consumo de chimarrão, infusão quente feita com folhas secas e picadas de erva-mate (Ilex paraguayensis), tem sido apontado como possível causa do câncer de esôfago. Estudo feito no Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, em parceria com o Instituto Nacional do Câncer, dos Estados Unidos, reiterou essa conclusão.
Antes, o risco de câncer de esôfago entre consumidores de chimarrão era atribuído à elevada temperatura da água utilizada para infundir a erva. “Agora, detectamos na bebida hidrocarbonetos potencialmente cancerígenos, que são comuns em cigarros", afirma o coordenador do estudo, Renato Borges Fagundes, que participa também do Programa de Pós-graduação em Gastrenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O benzopireno, substância cancerígena, embora não seja encontrada nas folhas de erva-mate, acaba indo parar na cuia de chimarrão. Pesquisadores do Rio Grande do Sul procuram saber por que isso acontece (foto: Luciano Tirabassi/ sxc.hu).
A erva-mate é um possível meio de transporte de tais substâncias, como o benzopireno. Pelo fato de são serem encontradas naturalmente na folha da erva-mate, os pesquisadores querem saber por que elas vão parar na cuia de chimarrão.
Foram aventadas duas hipóteses para explicar o fenômeno: a poluição ambiental seria responsável pela adesão das substâncias às folhas da planta ou isso ocorreria em decorrência do processo industrial de secagem das folhas. Esse processo, que emprega calor da madeira em combustão, acabaria por contaminar a erva.
"Os compostos do cigarro vão diretamente para o pulmão. No caso do chimarrão, ainda não se sabe que rotas esses compostos percorrem após a ingestão da bebida", diz Fagundes. “Daí a necessidade de estudos complementares.”
A pesquisa
Na primeira etapa do estudo, 200 pacientes saudáveis foram separados em dois grupos: um de fumantes e outro de não-fumantes. Resíduos de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) – compostos com potencial cancerígeno – foram encontrados na urina de fumantes e também na de não-fumantes que consumiam chimarrão, o que surpreendeu o pesquisador.
Na segunda parte da pesquisa, foram avaliadas amostras das oito marcas mais vendidas de erva-mate. Fagundes simulou o consumo de uma pessoa que tomasse 12 cuias de chimarrão no período de uma hora. As ervas foram misturadas tanto com água quente (80°C) quanto com água fria (5°C). Independentemente da temperatura, os pesquisadores detectaram cerca de 200 nanogramas de benzopireno no somatório das 12 cuias. Isso equivale, aproximadamente, ao que se encontra em um maço de cigarros.
A doença
O câncer de esôfago é a sexta causa de morte pela doença em todo o mundo e a quarta nos países em desenvolvimento. Há uma alta taxa de incidência em países como China, Japão, Cingapura e Porto Rico. No Brasil, o Rio Grande do Sul é o estado com maior incidência da doença.
O benzopireno é uma substância mutagênica de elevado potencial cancerígeno que faz parte do grupo de compostos denominados HAP. Pode ser encontrado no cigarro e também como subproduto de processos de combustão, como a queima da madeira. Se ingerido ou inalado, é considerado fator de risco para o desenvolvimento de câncer.
A substância é tão carcinogênica que pode desencadear câncer em cobaias (ratos) pelo simples contato com uma área do corpo do animal. As moléculas interagem com o DNA das células, fazendo com que elas comecem a se dividir de modo anormal. Apesar dessas evidências, a equipe de Fagundes realiza no momento um estudo aprofundado sobre o impacto da eventual ingestão de benzopireno a partir do consumo de chimarrão.
(foto: Luciano Tirabassi/ sxc.hu)
Mais amargo que nunca
Luan Galani
Especial para a CH On-line
O consumo de chimarrão, infusão quente feita com folhas secas e picadas de erva-mate (Ilex paraguayensis), tem sido apontado como possível causa do câncer de esôfago. Estudo feito no Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, em parceria com o Instituto Nacional do Câncer, dos Estados Unidos, reiterou essa conclusão.
Antes, o risco de câncer de esôfago entre consumidores de chimarrão era atribuído à elevada temperatura da água utilizada para infundir a erva. “Agora, detectamos na bebida hidrocarbonetos potencialmente cancerígenos, que são comuns em cigarros", afirma o coordenador do estudo, Renato Borges Fagundes, que participa também do Programa de Pós-graduação em Gastrenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O benzopireno, substância cancerígena, embora não seja encontrada nas folhas de erva-mate, acaba indo parar na cuia de chimarrão. Pesquisadores do Rio Grande do Sul procuram saber por que isso acontece (foto: Luciano Tirabassi/ sxc.hu).
A erva-mate é um possível meio de transporte de tais substâncias, como o benzopireno. Pelo fato de são serem encontradas naturalmente na folha da erva-mate, os pesquisadores querem saber por que elas vão parar na cuia de chimarrão.
Foram aventadas duas hipóteses para explicar o fenômeno: a poluição ambiental seria responsável pela adesão das substâncias às folhas da planta ou isso ocorreria em decorrência do processo industrial de secagem das folhas. Esse processo, que emprega calor da madeira em combustão, acabaria por contaminar a erva.
"Os compostos do cigarro vão diretamente para o pulmão. No caso do chimarrão, ainda não se sabe que rotas esses compostos percorrem após a ingestão da bebida", diz Fagundes. “Daí a necessidade de estudos complementares.”
A pesquisa
Na primeira etapa do estudo, 200 pacientes saudáveis foram separados em dois grupos: um de fumantes e outro de não-fumantes. Resíduos de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) – compostos com potencial cancerígeno – foram encontrados na urina de fumantes e também na de não-fumantes que consumiam chimarrão, o que surpreendeu o pesquisador.
Na segunda parte da pesquisa, foram avaliadas amostras das oito marcas mais vendidas de erva-mate. Fagundes simulou o consumo de uma pessoa que tomasse 12 cuias de chimarrão no período de uma hora. As ervas foram misturadas tanto com água quente (80°C) quanto com água fria (5°C). Independentemente da temperatura, os pesquisadores detectaram cerca de 200 nanogramas de benzopireno no somatório das 12 cuias. Isso equivale, aproximadamente, ao que se encontra em um maço de cigarros.
A doença
O câncer de esôfago é a sexta causa de morte pela doença em todo o mundo e a quarta nos países em desenvolvimento. Há uma alta taxa de incidência em países como China, Japão, Cingapura e Porto Rico. No Brasil, o Rio Grande do Sul é o estado com maior incidência da doença.
O benzopireno é uma substância mutagênica de elevado potencial cancerígeno que faz parte do grupo de compostos denominados HAP. Pode ser encontrado no cigarro e também como subproduto de processos de combustão, como a queima da madeira. Se ingerido ou inalado, é considerado fator de risco para o desenvolvimento de câncer.
A substância é tão carcinogênica que pode desencadear câncer em cobaias (ratos) pelo simples contato com uma área do corpo do animal. As moléculas interagem com o DNA das células, fazendo com que elas comecem a se dividir de modo anormal. Apesar dessas evidências, a equipe de Fagundes realiza no momento um estudo aprofundado sobre o impacto da eventual ingestão de benzopireno a partir do consumo de chimarrão.
(foto: Luciano Tirabassi/ sxc.hu)
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