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10 março 2009

AGRESSÃO PREMEDITADA

Chimpanzés também são capazes de fazer planos para o futuro não imediato de forma espontânea

[O chimpanzé Santino, do zoológico de Furuvik, na Suécia, com uma pedra na mão, prestes a atirá-la no público. O animal costuma coletar as pedras antes da abertura do zoo. Foto: reprodução / Current Biology]

As maquinações de um chimpanzé arisco deram aos cientistas o primeiro indício inequívoco de que os humanos não são a única espécie capaz de premeditar ações para o futuro não imediato. O primata em questão, habitante de um zoo sueco, armazenava projéteis para arremessar mais tarde nos visitantes, o que evidencia a capacidade de traçar planos espontâneos para serem concretizados mais à frente.

Esse comportamento foi relatado pelo biólogo Mathias Osvath, da Universidade de Lund (Suécia), em artigo publicado esta semana na Current Biology. Ele analisou o comportamento do chimpanzé Santino, do Zoológico de Furuvik, durante quase dez anos, e percebeu que o animal tinha o hábito de coletar pedras e produzir discos a partir de pequenos pedaços de concreto para, horas depois, atirar nos visitantes.

De acordo com o biólogo, esse comportamento indica que esses primatas são capazes de realizar considerações sobre o futuro de forma bastante complexa. “Essas observações mostram que eles têm uma consciência altamente desenvolvida, capaz de simular eventos que podem acontecer”, comenta Osvath em comunicado à imprensa. “Provavelmente, eles reveem episódios passados de suas vidas e pensam nos dias ainda por vir”.

Desde que havia chegado ao zoo, em meados dos anos 1980, Santino costumava jogar pedras na multidão. Mas em 1997, quando as agressões se tornaram mais frequentes, os administradores tiveram de tomar medidas preventivas para que os visitantes não se ferissem.

Durante a manutenção da ilha onde ficavam os chimpanzés, foram encontradas pedras em esconderijos, que foram removidas pelos funcionários. Nos dias posteriores, antes que o zoológico reabrisse, Santino recolheu novas pedras da água e escondeu-as novamente. Mais tarde, elas serviram de munição durante a visita do público.

Pilha de pedras e discos de concreto recolhidas da ilha do chimpanzé por um dos funcionários do zoológico. Os artefatos haviam sido feitos pelo primata com o intuito de lançá-los nos visitantes (foto: reprodução / Current Biology).
Para Osvath, esse procedimento é indicativo de um planejamento para o futuro, pois é possível distinguir o comportamento calmo do animal para coletar as pedras em contraste com a agitação no momento de atirá-las. Segundo o biólogo, a agressão não é um comportamento impulsivo do animal, pois há uma separação clara entre sua premeditação e concretização.

Planejamento espontâneo

[Pilha de pedras e discos de concreto recolhidas da ilha do chimpanzé por um dos funcionários do zoológico. Os artefatos haviam sido feitos pelo primata com o intuito de lançá-los nos visitantes. Foto: reprodução/Current Biology]

Estudos anteriores realizados em laboratório com macacos e corvídeos já haviam demonstrado que esses animais são capazes de planejar o futuro, mas o trabalho de Osvath é o primeiro a mostrar que esse comportamento pode acontecer de forma espontânea.

“Ao observar macacos na vida selvagem ou em cativeiro, os pesquisadores não podem afirmar com certeza de que se trata de uma necessidade atual ou futura”, afirma Osvath. Quando um chimpanzé quebra um galho para pescar ou coleta uma pedra para quebrar uma noz, por exemplo, trata-se de uma motivação mais imediata do que futura. O biólogo alega que seu estudo é o primeiro a mostrar de forma evidente que esses animais são capazes de se preparar para o futuro.

Segundo Osvath, os chimpanzés selvagens provavelmente têm a mesma habilidade de planejamento demonstrada por Santino em cativeiro. O biólogo acredita que essa capacidade seja essencial para a sobrevivência desses animais. “O ambiente de um jardim zoológico é menos complexo que o de uma floresta”, explica. “Os chimpanzés em cativeiro não encontram os perigos da vida selvagem ou passam por períodos de escassez de alimentos. O planejamento tem mais valor na vida ‘real’ do que em um zoo”.

Igor Waltz
Ciência Hoje On-line