ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS INDÍGENAS
“A situação das crianças kaingáng de Mangueirinha aponta para uma realidade precária, na qual os indicadores do estado nutricional refletem condições ambientais e socioeconômicas amplamente desfavoráveis para o crescimento infantil”
Estado nutricional de crianças indígenas reflete condições desfavoráveis
Fernanda Marques
Agência Fiocruz de Notícias
Caracterizar o perfil nutricional de crianças do povo indígena kaingáng foi o objetivo de um estudo publicado recentemente na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico da Fiocruz. A pesquisa foi feita na Terra Indígena de Mangueirinha, no sudoeste do Paraná. “A situação das crianças kaingáng de Mangueirinha aponta para uma realidade precária, na qual os indicadores do estado nutricional refletem condições ambientais e socioeconômicas amplamente desfavoráveis para o crescimento infantil”, conclui o artigo, assinado pelos pesquisadores Adriana Masiero Kühl, da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Arlete Corso e Maurício Leite, da Universidade Federal de Santa Catarina, e João Bastos, da Universidade Federal de Pelotas.
Na pesquisa, foram investigadas cerca de 150 crianças menores de 5 anos que viviam nas comunidades Sede (ou Campina), Água Santa, Paiol Queimado, Fazenda (ou Trevo) e Mato Branco. Os resultados revelaram, por exemplo, que mais de 18% dessas crianças apresentaram peso inferior a 2,5 quilos ao nascer. Esse percentual é muito elevado, se comparado à prevalência de baixo peso ao nascer no conjunto da população brasileira, que é de pouco mais de 8%.
Quanto a outros indicadores do estado nutricional, segundo critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada quatro crianças kaingáng apresentava déficit de altura para a idade. Já o déficit de peso para a idade foi observado em cerca de 10% dos meninos e meninas pesquisados. Considerando-se as crianças que nasceram com baixo peso, elas tiveram três vezes mais déficit de altura para a idade e seis vezes mais déficit de peso para a idade, se comparadas com as crianças que nasceram com 2,5 quilos ou mais. “O peso ao nascer exerce influência decisiva no desenvolvimento pós-natal e é um importante fator de risco para o retardo no crescimento infantil, tornando as crianças mais suscetíveis à ocorrência de agravos de saúde”, destacam os pesquisadores.
O estudo indicou, ainda, que condições de moradia precárias, como falta de energia elétrica e paredes feitas de materiais não-duráveis, também estão associadas a maior risco de ambos os déficits (de altura e de peso para a idade). Embora menos frequente, o sobrepeso na infância foi outro problema identificado naquela população indígena: 6,4% das crianças apresentaram índice de massa corporal para a idade acima do recomendado. “O surgimento de casos de sobrepeso entre crianças e adolescentes, ainda que em prevalências reduzidas, ganha relevância diante das evidências de importantes mudanças no estilo de vida dos povos indígenas”, contextualizam os autores. “Tais mudanças geralmente acontecem em direção à redução dos níveis de atividade física e à ocidentalização da dieta, e parecem estar associadas ao surgimento de doenças crônicas não-transmissíveis”.
Sobre os kaingáng
Os kaingáng constituem um dos povos indígenas mais numerosos do Brasil: somam cerca de 25 mil indivíduos, distribuídos pelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No entanto, atualmente, eles estão confinados a uma pequena parcela de seus territórios originais. “A Terra Indígena de Mangueirinha encontra-se cercada por fazendas e plantações de soja, e hoje pouco resta da cobertura vegetal nativa”, comentam os autores. Nesse cenário, emergem problemas como o esgotamento dos recursos naturais e o consequente comprometimento da alimentação desse povo, que está em contato com não-índios desde o século 18.
“Frente à restrição territorial e ao esgotamento dos recursos naturais, o acesso aos alimentos acontece também por meio da aquisição comercial, feita em grande parte nos mercados das cidades mais próximas e, eventualmente, pelo recebimento de cestas de alimentos. A dieta passou a ser basicamente amilácea e rica em gorduras, destacando-se o consumo de farinhas e carnes com maior quantidade de gorduras”, relatam os pesquisadores. Somam-se a isso dificuldades na assistência à saúde e falta de saneamento básico.
Foto: Terra Brasileira
Estado nutricional de crianças indígenas reflete condições desfavoráveis
Fernanda Marques
Agência Fiocruz de Notícias
Caracterizar o perfil nutricional de crianças do povo indígena kaingáng foi o objetivo de um estudo publicado recentemente na revista Cadernos de Saúde Pública, periódico da Fiocruz. A pesquisa foi feita na Terra Indígena de Mangueirinha, no sudoeste do Paraná. “A situação das crianças kaingáng de Mangueirinha aponta para uma realidade precária, na qual os indicadores do estado nutricional refletem condições ambientais e socioeconômicas amplamente desfavoráveis para o crescimento infantil”, conclui o artigo, assinado pelos pesquisadores Adriana Masiero Kühl, da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Arlete Corso e Maurício Leite, da Universidade Federal de Santa Catarina, e João Bastos, da Universidade Federal de Pelotas.
Na pesquisa, foram investigadas cerca de 150 crianças menores de 5 anos que viviam nas comunidades Sede (ou Campina), Água Santa, Paiol Queimado, Fazenda (ou Trevo) e Mato Branco. Os resultados revelaram, por exemplo, que mais de 18% dessas crianças apresentaram peso inferior a 2,5 quilos ao nascer. Esse percentual é muito elevado, se comparado à prevalência de baixo peso ao nascer no conjunto da população brasileira, que é de pouco mais de 8%.
Quanto a outros indicadores do estado nutricional, segundo critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada quatro crianças kaingáng apresentava déficit de altura para a idade. Já o déficit de peso para a idade foi observado em cerca de 10% dos meninos e meninas pesquisados. Considerando-se as crianças que nasceram com baixo peso, elas tiveram três vezes mais déficit de altura para a idade e seis vezes mais déficit de peso para a idade, se comparadas com as crianças que nasceram com 2,5 quilos ou mais. “O peso ao nascer exerce influência decisiva no desenvolvimento pós-natal e é um importante fator de risco para o retardo no crescimento infantil, tornando as crianças mais suscetíveis à ocorrência de agravos de saúde”, destacam os pesquisadores.
O estudo indicou, ainda, que condições de moradia precárias, como falta de energia elétrica e paredes feitas de materiais não-duráveis, também estão associadas a maior risco de ambos os déficits (de altura e de peso para a idade). Embora menos frequente, o sobrepeso na infância foi outro problema identificado naquela população indígena: 6,4% das crianças apresentaram índice de massa corporal para a idade acima do recomendado. “O surgimento de casos de sobrepeso entre crianças e adolescentes, ainda que em prevalências reduzidas, ganha relevância diante das evidências de importantes mudanças no estilo de vida dos povos indígenas”, contextualizam os autores. “Tais mudanças geralmente acontecem em direção à redução dos níveis de atividade física e à ocidentalização da dieta, e parecem estar associadas ao surgimento de doenças crônicas não-transmissíveis”.
Sobre os kaingáng
Os kaingáng constituem um dos povos indígenas mais numerosos do Brasil: somam cerca de 25 mil indivíduos, distribuídos pelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No entanto, atualmente, eles estão confinados a uma pequena parcela de seus territórios originais. “A Terra Indígena de Mangueirinha encontra-se cercada por fazendas e plantações de soja, e hoje pouco resta da cobertura vegetal nativa”, comentam os autores. Nesse cenário, emergem problemas como o esgotamento dos recursos naturais e o consequente comprometimento da alimentação desse povo, que está em contato com não-índios desde o século 18.
“Frente à restrição territorial e ao esgotamento dos recursos naturais, o acesso aos alimentos acontece também por meio da aquisição comercial, feita em grande parte nos mercados das cidades mais próximas e, eventualmente, pelo recebimento de cestas de alimentos. A dieta passou a ser basicamente amilácea e rica em gorduras, destacando-se o consumo de farinhas e carnes com maior quantidade de gorduras”, relatam os pesquisadores. Somam-se a isso dificuldades na assistência à saúde e falta de saneamento básico.
Foto: Terra Brasileira
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