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14 março 2010

HEPATITE E ATLETAS

Hepatite C tem altos índices de infecção entre ex-atletas

AGÊNCIA USP DE NOTÍCIAS - Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP mostrou que entre ex-atletas, profissionais ou amadores, que atuaram nas décadas de 1950, 1960, e 1970, existe uma alta prevalência de infecção do vírus da hepatite C. De acordo com o professor Afonso Dinis Costa Passos, que coordenou o estudo, isso se deve principalmente à aplicação de drogas injetáveis e ao compartilhamento de seringas. “Naqueles tempos era mais comum a aplicação de vitaminas e estimulantes nos atletas. As seringas eram de vidro e para a desinfecção passavam por um processo de fervura”, conta.
Estudo avaliou ex-atletas, profissionais e amadores, de futebol e basquete

A pesquisa envolveu 208 pessoas, todos ex-atletas profissionais ou amadores, de futebol e basquete, de Ribeirão Preto e de outras quatro cidades próximas. O trabalho de coleta de sangue foi realizado entre os anos de 2004 e 2007. De acordo com os resultados, entre as 208 pessoas analisadas, 15 delas (7,2%) foram diagnosticadas com a infecção. “Entre os 63 ex-atletas profissionais avaliados, 32 declararam ter tomado estimulantes injetáveis quando estavam em atividade e 21,9% deles mostraram resultados positivos para a doença”, revela o professor. Entre os 31 que não tomaram medicações injetáveis, nenhum apresentou a infecção.

Entre os 145 ex-atletas amadores, 19 declararam uso de medicação injetável, sendo que 36,8% deles apresentaram resultados positivos para a hepatite C. “Dos 126 que não tomavam drogas injetáveis, apenas um (0,8%) tinha a infecção”, lembra Passos.

Procedimento normal

Segundo o professor, era frequente que os atletas da época tomassem medicações, vitaminas ou estimulantes injetáveis. “Era muito comum também jogadores de futebol serem medicados por infiltrações de corticóides”, relata.

Além disso, ele lembra que a hepatite C é uma doença “silenciosa”. “Na maioria das vezes ela não apresenta um quadro agudo, por isso muitos ex-atletas podem ter a doença e sequer saber disso. O vírus pode permanecer na pessoa por 20 ou 30 anos sem que ela tenha qualquer sintoma. Mas os efeitos posteriores podem ser desde uma cirrose hepática até um câncer de fígado”, alerta.

Passos lembra que muitos ex-atletas estão contaminados pelo vírus da doença e não têm conhecimento disso. “Eles não buscam tratamento por não saberem que estão doentes”, lembra o professor. Segundo ele, a pesquisa vem confirmar observações anteriores realizadas no estado da Bahia e no Mato Grosso, que sugeriam associação entre uso de prévio de estimulantes injetáveis e hepatite C entre ex-atletas.

Recentemente, duas entidades estiveram reunidas para analisar a situação e deflagrar uma campanha nacional sobre o tema. Representantes da Federação das Associações de Atletas Profissionais (FAAP) e da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) realizaram um encontro visando lançar uma campanha de conscientização para alertar atletas que atuaram entre os anos 1960 e 1980 para o risco de estarem contaminados. A campanha deverá contar com a participação dos tricampeões da Copa do Mundo de 1970.

* Mais informações: professor Afonso Dinis da Costa Passos; email apassos@fmrp.usp.br