O SUS E A POPULAÇÃO IDOSA
SUS não está pronto para atender o boom da população idosa. Em 40 anos, o número de idosos vai triplicar, alcançando quase 30% da população brasileira, o que significa uma maior demanda por recursos de saúde e medicamentos. SUS terá que investir em prevenção para lidar com o boom da população idosa
Marcelo Pellegrini
Agência USP de Notícias
Estimativas apontam que, em 40 anos, o número de idosos vai triplicar, alcançando quase 30% da população brasileira, o que significa uma maior demanda por recursos de saúde e medicamentos. No entanto, para se assegurar o atendimento de saúde deste grupo em expansão será necessário um aprimoramento nos serviços e uma alteração nas políticas de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). É o que aponta o farmacêutico André de Oliveira Baldoni, pesquisador responsável por um estudo que analisou a realidade de 1000 idosos atendidos pelo SUS, de novembro de 2008 a maio de 2009, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
“Se hoje já temos enormes filas de espera e muitas vezes o mau atendimento, a perspectiva para o setor de saúde nas próximas décadas, caso não haja um planejamento imediato, para atender a demanda crescente, só tende a piorar”, diagnostica o farmacêutico, que apresentou sua pesquisa junto à Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. Segundo dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) existem no Brasil 21 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.
De acordo com Baldoni os principais fatores responsáveis pelas deficiências do SUS são a falta de padronização de medicamentos que sejam seguros e com indicação específica para os pacientes idosos, a falta de investimento e priorização da atenção primária e a carência de políticas preventivas de doenças e de profissionais que atuem na prevenção das complicações em saúde, tais como educadores físicos e nutricionistas. Segundo o pesquisador, o investimento nessas áreas poderia reduzir as complicações com o tratamento das morbidades típicas da população idosa, e com isso diminuiria gastos do sistema público de saúde. “O envelhecimento populacional deve ser enfrentado com uma conquista e não como um problema social.”
Baldoni aponta como opção melhorar e diversificar o acesso aos medicamentos seguros. “Na atualidade observa-se que nas listas padronizadas, seja de um hospital ou de um município, há poucas opções de fármacos para o tratamento da mesma doença. E com isso quem prescreve fica limitado a receitar medicamentos padronizados, pois a renda per capita do idoso geralmente é muito baixa e isso gera mais um fator limitante. É importante ressaltar que a seleção dos medicamentos para compor a lista padronizada fica a cargo dos municípios que tem autonomia para isso. Esta padronização leva em consideração vários fatores dentre eles, o perfil nosológico (doenças mais prevalentes), epidemiológico e os recurso financeiros disponíveis, geralmente limitados.”
Além disso, deve-se oferecer treinamento e capacitação para as equipes de saúde no intuito de melhor orientar os idosos sobre o uso correto das medicações. “A capacitação profissional é fundamental para orientar sobre os diferenciais da farmacoterapia para idosos e para reduzir os efeitos adversos e o uso de medicamentos inapropriados”, defende. “Atualmente, 44,2% dos idosos utilizam pelo menos um medicamento inapropriado e 46% relataram pelo menos uma queixa de evento adverso.”
O estudo revelou que 16,3% dos idosos que retiraram medicamentos pelo SUS não receberam orientação sobre o seu uso correto por nenhum profissional da saúde. “Dados como este refletem a carência de recursos humanos enfrentada pelo setor”, afirma. Além disso, uma das grandes causas das complicações encontradas no tratamento de idosos está relacionada às doses inadequadas de medicamentos.
Baldoni aponta ainda que o organismo de um idoso passa por alterações fisiológicas que prolongam o efeito da maioria dos fármacos e, por consequência, as chances de intoxicação aumentam. “Não se pode tratar uma pessoa de 65 anos como um adulto de 25 anos”, completa.
Outra política necessária é o investimento no que o pesquisador denomina de “Atenção Primária”, ou seja, na conscientização e prevenção de doenças comuns aos idosos e onerosas ao Estado, como hipertensão e diabetes. Cerca de 73% dos idosos que fizeram parte do estudo relataram possuir pressão alta. Além disso, 57,4% disseram não receber visitas dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que são profissionais fundamentais para a prevenção de doenças.
O investimento em políticas preventivas, e inserção de profissionais que atuem na prevenção das doenças da população é um caminho que reduziria substancialmente os custos futuros do SUS, diz Baldoni. “Entre os entrevistados, 59% não praticavam atividades físicas regulares, o que favorece o desenvolvimento da diabetes, por exemplo. Ao se prevenir diabetes, evita-se procedimentos caros como a hemodiálise, o tratamento com insulina e, em alguns casos, a amputação de membros”, exemplifica.
Para Baldoni, também é necessário investir em conscientização. “É preciso acabar com a cultura da automedicação, responsável por grande parte das complicações das doenças em idosos. Cerca de 31% dos entrevistados se automedicam”, alerta.
“Acima de tudo a sociedade e os profissionais de saúde precisam mudar a cara da saúde passando de uma medicina curativa para preventiva, como preconiza a Organização Mundial de Saúde e o próprio SUS”, conclui.
Marcelo Pellegrini
Agência USP de Notícias
Estimativas apontam que, em 40 anos, o número de idosos vai triplicar, alcançando quase 30% da população brasileira, o que significa uma maior demanda por recursos de saúde e medicamentos. No entanto, para se assegurar o atendimento de saúde deste grupo em expansão será necessário um aprimoramento nos serviços e uma alteração nas políticas de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). É o que aponta o farmacêutico André de Oliveira Baldoni, pesquisador responsável por um estudo que analisou a realidade de 1000 idosos atendidos pelo SUS, de novembro de 2008 a maio de 2009, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
“Se hoje já temos enormes filas de espera e muitas vezes o mau atendimento, a perspectiva para o setor de saúde nas próximas décadas, caso não haja um planejamento imediato, para atender a demanda crescente, só tende a piorar”, diagnostica o farmacêutico, que apresentou sua pesquisa junto à Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. Segundo dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) existem no Brasil 21 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.
De acordo com Baldoni os principais fatores responsáveis pelas deficiências do SUS são a falta de padronização de medicamentos que sejam seguros e com indicação específica para os pacientes idosos, a falta de investimento e priorização da atenção primária e a carência de políticas preventivas de doenças e de profissionais que atuem na prevenção das complicações em saúde, tais como educadores físicos e nutricionistas. Segundo o pesquisador, o investimento nessas áreas poderia reduzir as complicações com o tratamento das morbidades típicas da população idosa, e com isso diminuiria gastos do sistema público de saúde. “O envelhecimento populacional deve ser enfrentado com uma conquista e não como um problema social.”
Baldoni aponta como opção melhorar e diversificar o acesso aos medicamentos seguros. “Na atualidade observa-se que nas listas padronizadas, seja de um hospital ou de um município, há poucas opções de fármacos para o tratamento da mesma doença. E com isso quem prescreve fica limitado a receitar medicamentos padronizados, pois a renda per capita do idoso geralmente é muito baixa e isso gera mais um fator limitante. É importante ressaltar que a seleção dos medicamentos para compor a lista padronizada fica a cargo dos municípios que tem autonomia para isso. Esta padronização leva em consideração vários fatores dentre eles, o perfil nosológico (doenças mais prevalentes), epidemiológico e os recurso financeiros disponíveis, geralmente limitados.”
Além disso, deve-se oferecer treinamento e capacitação para as equipes de saúde no intuito de melhor orientar os idosos sobre o uso correto das medicações. “A capacitação profissional é fundamental para orientar sobre os diferenciais da farmacoterapia para idosos e para reduzir os efeitos adversos e o uso de medicamentos inapropriados”, defende. “Atualmente, 44,2% dos idosos utilizam pelo menos um medicamento inapropriado e 46% relataram pelo menos uma queixa de evento adverso.”
O estudo revelou que 16,3% dos idosos que retiraram medicamentos pelo SUS não receberam orientação sobre o seu uso correto por nenhum profissional da saúde. “Dados como este refletem a carência de recursos humanos enfrentada pelo setor”, afirma. Além disso, uma das grandes causas das complicações encontradas no tratamento de idosos está relacionada às doses inadequadas de medicamentos.
Baldoni aponta ainda que o organismo de um idoso passa por alterações fisiológicas que prolongam o efeito da maioria dos fármacos e, por consequência, as chances de intoxicação aumentam. “Não se pode tratar uma pessoa de 65 anos como um adulto de 25 anos”, completa.
Outra política necessária é o investimento no que o pesquisador denomina de “Atenção Primária”, ou seja, na conscientização e prevenção de doenças comuns aos idosos e onerosas ao Estado, como hipertensão e diabetes. Cerca de 73% dos idosos que fizeram parte do estudo relataram possuir pressão alta. Além disso, 57,4% disseram não receber visitas dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que são profissionais fundamentais para a prevenção de doenças.
O investimento em políticas preventivas, e inserção de profissionais que atuem na prevenção das doenças da população é um caminho que reduziria substancialmente os custos futuros do SUS, diz Baldoni. “Entre os entrevistados, 59% não praticavam atividades físicas regulares, o que favorece o desenvolvimento da diabetes, por exemplo. Ao se prevenir diabetes, evita-se procedimentos caros como a hemodiálise, o tratamento com insulina e, em alguns casos, a amputação de membros”, exemplifica.
Para Baldoni, também é necessário investir em conscientização. “É preciso acabar com a cultura da automedicação, responsável por grande parte das complicações das doenças em idosos. Cerca de 31% dos entrevistados se automedicam”, alerta.
“Acima de tudo a sociedade e os profissionais de saúde precisam mudar a cara da saúde passando de uma medicina curativa para preventiva, como preconiza a Organização Mundial de Saúde e o próprio SUS”, conclui.
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