ACORDO DE PARIS: TODOS PODEM GANHAR SE TIVEREM VONTADE POLÍTICA
Evandro
Ferreira
Blog
Ambiente Acreano
A
aprovação do ‘Acordo de Paris’ por parte de representantes de 195 países no dia
12 de dezembro de 2015, resultado das negociações levadas a cabo durante a 21ª
Conferência das Partes (COP-21) das Nações Unidas, representa o primeiro marco
jurídico universal na luta contra o aquecimento global.
O
acordo obriga as nações signatárias a desenvolver estratégias para limitar em
valores bem abaixo de 2ºC o aumento médio da temperatura da Terra até o ano
2100, com o compromisso de se alcançar 1,5ºC. Essa diminuição tem como
parâmetro os valores da temperatura média global observados no planeta antes do
início da revolução industrial, em meados de 1800.
A
importância histórica do momento foi capitalizada pelo presidente da França,
François Hollande, que, empolgado por estar à frente da reunião, exortou os
delegatários internacionais a considerar que o "...12 de dezembro de 2015
poderá ser um dia não somente histórico, mas uma grande data para a humanidade,
pois celebrou o primeiro acordo universal de nossa história”. Ele finalizou sua
fala ressaltando ser “algo raro na vida ter a oportunidade de mudar o mundo.
Vocês a tem. Aproveitem!"
Apesar
da euforia política, a concretização das ambiciosas metas assumidas pelos 195
países concordantes é algo difícil de ser alcançado e esse aspecto foi bem
sintetizado pelo presidente americano Barack Obama em discurso proferido na
noite da celebração do acordo reconheceu, quando afirmou que "o problema não está
resolvido com o acordo de Paris".
A
razão decorre de alguns fatos preocupantes. O aquecimento do planeta já está,
conforme informações da Organização Meteorológica Mundial, próximo de 1ºC em 2015.
E os compromissos de redução de emissões de gases do efeito estufa anunciados antes
do início da COP-21 por 187 países farão com que as emissões do planeta atinjam
em 2030 a marca de 55 gigatoneladas de CO2, número incompatível com a meta de
2°C e que, na verdade, colocam o planeta em uma trajetória de aumento de +3ºC.
Considerando
que na atualidade as emissões de CO2 estão por volta de 52 gigatoneladas, vai
ser necessário, para atingir as metas acordadas em Paris, baixar as emissões
para 40 gigatoneladas até 2030. O problema é que o acordo não especifica quais
serão as metas de redução obrigatórias para cada país. Ele apenas prevê uma
revisão, a cada cinco anos (a primeira em 2023), das metas que cada país se
dispôs a cumprir voluntariamente.
Nesse
aspecto o acordo foi pouco objetivo, vago até, porque, como criticou o governo
americano, na prática as metas não existem. Foi facultado a cada um dos países
signatários ‘levar tarefas’ para cumprir em casa.
Mas
será que todos irão conseguir cumprir o acordado?
A
resposta é muito complexa, pois depende de decisões políticas e econômicas
internas no âmbito de cada país.
No
caso do Brasil, as metas propostas para 2030 incluem uma redução de 43% das
emissões de gases causadores do efeito estufa, plantio de 12 milhões de
hectares de florestas e o fim do desmatamento ilegal em todo o país.
São factíveis? Algumas sim, como o plantio de florestas. Mas outras, como o fim do
desmatamento ilegal e a redução das emissões dependem da ‘vontade política’ dos
futuros governantes em querer alcançá-las.
Quando
as condições econômicas são favoráveis é mais fácil implementar certas ações
que, em geral, causam danos políticos aos administradores. Foi o que aconteceu
no Brasil nos últimos 10 anos. A redução de 85% do desmatamento a partir de
2005 permitiu uma redução de mais de 41% nas emissões de CO2 até o final de
2012. Essa diminuição ocorreu em um ambiente econômico extremamente favorável,
com emprego e renda em alta. Nessas condições, a fiscalização e o controle do
desmatamento ou de qualquer outra atividade ilegal e/ou danosa para o meio
ambiente tende a ter menor impacto social e político.
Entretanto,
quando as condições econômicas são desfavoráveis, como a que o país está
atravessando agora, a fiscalização e o controle do desmatamento e da redução de
emissões não serão executadas tão facilmente, pois atividades geradoras de
empregos e renda para a população tendem a ser vistas com beneplácito, mesmo
quando causam problemas ambientais.
Nessas
horas, poucos administradores públicos terão vontade e coragem política de se
opor ou farão 'corpo mole' para fiscalizar atividades de supressão de florestas para a expansão de áreas agrícolas
e pecuárias, ou mesmo à criação de indústrias poluentes e consumidoras de
recursos extraídos da natureza, como a mineração e a siderurgia.
Em
outras situações, planos já consolidados deverão ser completamente revistos,
como no caso da geração de energia do país, que terá que ser reescrito, pois os
investimentos previstos até 2024 indicam que 71% dos recursos deverão ser
dirigidos para o aproveitamento de combustíveis fósseis – basicamente o desenvolvimento
de campos de produção do pré-sal.
Nesse
caso, é quase inacreditável que com o orçamento de investimentos restrito e acossados
pela necessidade de gerar emprego e renda, futuros governantes resolvam
privilegiar a implantação de parques eólicos ou solares, em detrimento do
desenvolvimento dos campos petroliferos do pré-sal.
Se
por um lado o acordo de Paris pode enfrentar problemas localizados em alguns
dos países signatários para alcançar algumas de suas metas, por outro ele
representa uma grande oportunidade para os países que pretendem incentivar a
agricultura, pecuária e a indústria em geral de baixo carbono.
Para
financiar as iniciativas voltadas para o cumprimento de metas acertadas em
Paris, foi definido um piso mínimo que os países desenvolvidos deverão investir
em países pobres para adaptar suas economias sem ocorram aumento de emissões de
gases causadores do efeito estufa: US$ 100 bilhões/ano. Supõe-se que a captação
de parte desses recursos será facilitada nos países que tenham condições
administrativas e experiências exitosas no campo da economia de baixo carbono.
Nesse
aspecto, o Acre parece estar na vanguarda para tirar proveito da situação.
Vários programas foram e estão sendo implementados com o objetivo de gerar
compensações financeiras para produtores rurais que não desmatam ou que
promovem o reflorestamento. Já faz alguns anos que foi criado o Instituto de
Mudanças Climáticas e Regulação dos Serviços Ambientais (IMC) para estabelecer,
controlar e promover os mecanismos de investimento em serviços ambientais e
garantir a repartição de benefícios aos seus provedores. Além disso, o IMC atua
no desenvolvimento de estratégias de adaptação e mitigação dos efeitos das
mudanças climáticas no Estado.
A
vantagem decorrente da existência de políticas na área ambiental e de uma
instituição dedicada à sua execução – o IMC – só poderá ser traduzida na
captação efetiva dos recursos financeiros previstos no acordo de Paris se a
vontade política das futuras administrações estaduais sinalizarem que irão manter
ou mesmo ampliar a estrutura e a ação do IMC e de órgãos relacionados.
Não
sei se isso acontecerá caso a atual corrente política que administra o Estado
seja derrotada nas eleições majoritárias de 2018. E porque digo isso? A maioria
das reclamações na área ambiental aqui no Acre são quase sempre relacionadas à
atuação dos órgãos de fiscalização e controle de ilegalidades ambientais –
especialmente desmatamentos. E na maioria das vezes que algum prejudicado vem a
público reclamar da ‘perseguição’ desses órgãos fiscalizadores, integrantes da
oposição política não se furtam em apoiar de forma quase irrestrita tais
reclamos, como que sinalizando que ‘fiscalizar é errado, desmatar é certo’.
É
preciso que todos, independente de cores políticas, se conscientizem que sem
fiscalização e controle não tem floresta. E sem floresta o Acre perde o grande
atrativo para a captação de parte dos recursos previstos pelo acordo de Paris.
Foto: Arnaud Bouissou/ COP21
Resumo deste artigo foi publicado no jornal A Gazeta de 15/12/2015
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