TAXA DE SOBREVIVÊNCIA AO CÂNCER DE MAMA NO ACRE É SIMILAR A DE PAÍSES DESENVOLVIDOS
Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano
O câncer de mama é o mais frequente
tipo de câncer entre as mulheres e atualmente se constitui em um grave problema
de saúde pública no mundo, com taxas médias de incidência e mortalidade
estimadas em 43,3 e 12,9 casos a cada 100 mil mulheres, respectivamente.
Ele não é uma doença associada com a
pobreza e dentre os 25 países com maiores taxas de ocorrência da doença no
mundo, 18 estão localizados na Europa. Bélgica, Luxemburgo, Holanda e França
apresentaram em 2018 taxas de incidência que variaram entre 99,1 e 113,2 casos
a cada 100 mil mulheres.
Embora sua taxa de mortalidade seja
maior em países desenvolvidos do que nos em desenvolvimento (74,1/100 mil x
31,3/100 mil), a taxa de mortalidade é quase similar nestes dois grupos de
países: 14,9/100 mil x 11,5/100 mil.
Desde os anos 90 a taxa de mortalidade desta
doença tem caído nos Estados Unidos, Australásia e em vários países europeus.
Essa queda tem sido associada aos efeitos combinados da realização frequente de
exames preventivos (mamografias) e melhorias no tratamento e na eficiência dos
sistemas de saúde. O percentual de sobrevida de 5 anos após o diagnóstico em
países desenvolvidos como a Espanha é superior a 80%, enquanto em países em
desenvolvimento como a Índia ele é de 77%. Nas regiões sul e sudeste do Brasil,
consideradas as mais desenvolvidas do país, ele varia de 75% no Rio de Janeiro
a 87,7% em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
No Acre, estudo de pesquisadores da UNBe da Fundação Osvaldo Cruz publicado em 2012 (com dados referentes aos anos de
2007 e 2009) indicou uma taxa de incidência de 41,5 casos de câncer de mama a
cada 100 mil mulheres com idade entre 25 e 69 anos. Em 2011 os mesmos
pesquisadores tinham publicado um artigo no qual abordaram a tendência demortalidade por câncer no Acre entre os anos de 1980 e 2006 e mostraram que a
taxa de mortalidade do câncer de mama tinha aumentado de 2,9 óbitos/100 mil
mulheres em 1993 para 6,4/100 mil em 2004.
Em 2007 o Instituto Nacional do Câncer,
ligado ao Ministério da Saúde, criou no Acre uma Unidade de Assistência de Alta
Complexidade em Oncologia (Unacon), cujo objetivo principal é oferecer
assistência geral, especializada e integral aos pacientes com câncer, atuando
no diagnóstico, estadiamento e tratamento dos pacientes. A expectativa era de
que com a instalação da Unacon, o diagnóstico e o tratamento de pessoas
afetadas pelo câncer no Acre pudesse ser aperfeiçoado, resultando na diminuição
das taxas de mortalidade da doença e aumento da sobrevida dos afetados.
Foi nesse contexto que a docente da
Uninorte-Acre, Ruth Helena Pimenta Fujimoto, desenvolveu sua dissertação de
mestrado no programa de Saúde Coletiva da UFAC entre 2012 e 2014: estimar a
sobrevida hospitalar e os fatores preditivos envolvidos em mulheres afetadas
pelo câncer de mama que foram tratadas na unidade da Unacon em Rio Branco,
Acre, entre os dias 1º. de junho de 2007 e 31 de maio de 2012. Os resultados de
seu estudo foram publicados neste mês de janeiro (Ciênc. Saúde Colet. v.24,
n.1, p.261-273, 2019) e indicam que a instalação da Unacon no Acre está dando
resultados positivos.
O estudo revelou que a taxa de
sobrevida de 5 anos após o diagnóstico da doença nas pacientes tratados na
Unacon foi de 87,3%, um valor superior ao observado em países europeus como a
Espanha (≥ 80%) e mais alto do que aqueles observados em países em
desenvolvimento como a Índia (77%) e Porto Rico (71,2%). O percentual de
sobrevivência das pacientes tratadas na Unacon foi similar ao observado em
Santa Maria-RS (87,7%) e mais elevado do que os registrados em Belo
Horizonte-MG (78,5%), Florianópolis-SC (76,2%) e Barretos-SP (74,8%).
Um dado que surpreendeu os autores do
estudo foi o fato de que 58,4% dos casos diagnosticados durante o período
pesquisado ter sido classificado nos estádios iniciais da doença (0, I e II).
Este alto percentual de diagnósticos nos estádios iniciais da doença é similar
ao observado em países desenvolvidos e nas regiões mais desenvolvidas do
Brasil. Vale ressaltar que o diagnóstico do câncer de mama em seu estádio
inicial é crucial para a sobrevivência das mulheres afetadas. Um estudo
realizado com 252 pacientes em Santa Maria-RS verificou que as taxas de
sobrevida de 5 anos após a sua detecção foram de 97% para os casos
classificados no estádio I, 87% no estádio II, 73% no estádio III e 57% para
aqueles classificados no estágio IV.
Um resultado surpreendeu os autores do
estudo. A alta incidência da doença em mulheres com menos de 40 anos: 14,3%.
Alta incidência de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos é incomum e geralmente
representa entre 5 e 7% dos casos diagnosticados. Eles também observaram que
mulheres com menos de 40 anos diagnosticadas na Unacon apresentaram um baixa
taxa de sobrevida nas faixas de 2 e 5 anos após a detecção da doença. As que
foram diagnosticadas no estádio III da doença apresentaram baixa taxa de
sobrevida depois de 2 anos de detecção da doença. Uma das possíveis razões para
esse resultado é o fato de que mulheres com menos de 40 anos geralmente
apresentam tumores mais difíceis de serem diagnosticados com precisão porque
suas glândulas mamárias são mais adensadas, o que pode levar a um diagnóstico
tardio e, consequentemente, maiores taxas de mortalidade. Além disso, é comum
que programas gratuitos de mamografia preventiva não incluam mulheres com menos
de 40 anos.
Atualmente a cirurgia é aceita como um
tratamento padrão para pacientes em estádios iniciais do câncer de mama, sendo
geralmente seguida por quimioterapia e/ou radioterapia para controlar sua
reincidência. Dentre as pacientes tratadas na Unacon, a combinação de cirurgia
+ radioterapia resultou em melhores taxas de sobrevida nas faixas de 1, 2 e 5
anos após o diagnóstico da doença, quando comparado com casos em que a cirurgia
foi seguida ou não por quimioterapia ou outra combinação de tratamento.
Na conclusão do estudo, os autores
afirmam que o diagnóstico de um estádio tardio do câncer de mama aumentou em
mais de 3 vezes o risco de morte após 2 anos de sua detecção. Da mesma forma, o
diagnóstico de tumores maiores que 2,5 cm, mesmo com margem positiva para a
realização da cirurgia para a sua remoção, receptor de progesterona negativo e
qualquer outro tratamento que não fosse cirurgia combinada com radioterapia,
afetaram a sobrevida específica de 5 anos das portadoras das doença e aumentaram
o risco de morte em dois anos.
Para saber mais: “Survival rates ofbreast cancer and predictive factors: a hospital-based study from westernAmazon area in Brazil”, de autoria de Ruth Helena Pimenta Fujimoto
(Uninorte-Ac), Rosalina Jorge Koifman (Friocruz-RJ) e Ilce Ferreira da Silva
(Friocruz-RJ), publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva, v.24, n.1,
p.261-273, janeiro de 2019.
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