'ILUSÃO DA VERDADE': A IMPORTÂNCIA DA REPETIÇÃO PARA O SUCESSO DAS MENTIRAS
Tom Stafford
Especial para a BBC Future*
14/12/2016
A máxima
de que "basta repetir uma mentira para que ela se torne verdade" é
uma das regras básicas da propaganda política, constantemente atribuída ao
nazista Joseph Goebbels.
Entre
psicólogos, é conhecida como efeito da "ilusão da verdade". Um
experimento típico mostra como isso funciona: voluntários avaliam o quanto de
verdade há em algumas afirmações triviais. Algumas delas são reais e outras são
mentiras muito parecidas com a verdade. Após um intervalo de alguns minutos ou
de algumas semanas, os participantes fazem o teste novamente, mas desta vez
algumas das afirmações são novas.
Os
resultados mostram que as pessoas tendem a avaliar como sendo verdade
afirmações que elas já ouviram antes, mesmo que sejam falsas. Isso porque
simplesmente soam mais familiares. E assim, em um laboratório de alguma
universidade ou instituto de pesquisa, parece estar a explicação para essa
ideia de que basta repetir uma mentira para ela ser percebida como verdade.
A importância do conhecimento
Estudos
mostraram que ter conhecimentos ajuda a reconhecer a verdade
Se você
olhar à sua volta, vai perceber que todo o mundo - de publicitários a políticos
- parece estar tirando partido dessa característica da psicologia humana.
Mas se
pudéssemos fabricar uma verdade apenas repetindo uma mentira, não haveria
necessidade de tantas outras técnicas de persuasão que conhecemos.
Um
obstáculo é aquilo que já sabemos. Mesmo quando uma mentira parece plausível,
por que deixaríamos de lado aquilo que sabemos só porque a ouvimos
repetidamente? Recentemente, uma equipe da Universidade de Vanderbilt, nos
Estados Unidos, começou a testar como a "ilusão da verdade" interage
com nossos conhecimentos anteriores.
Eles
usaram afirmações aos pares - uma verdadeira e outra falsa -, mas também as
dividiram de acordo com a probabilidade de os participantes saberem a resposta.
O grupo concluiu que a "ilusão da verdade" funcionou da mesma maneira
para as afirmações verdadeiras e para as falsas, o que sugere que o
conhecimento anterior não evita erros de julgamento.
Para ter
certeza de que estavam cobrindo todas as áreas, os pesquisadores então
realizaram um estudo em que os participantes precisavam avaliar o grau de
verdade de uma afirmação, de 1 a 6, e outro em que deviam apenas dizer
"falso" ou "verdadeiro". A repetição levou algumas
afirmações ao topo da escala e aumentou as chances de classificá-las como
verdadeiras - mesmo as frases falsas ganharam mais credibilidade.
Checar os fatos
A
princípio, tudo isso parece ser uma enorme tragédia para a racionalidade
humana. Mas precisamos olhar para os números quando interpretamos a ciência
psicológica. O que os especialistas americanos de fato descobriram foi que a
maior influência na decisão de um julgamento sobre uma afirmação ser verdadeira
era justamente o fato de ela ser verdadeira.
A
repetição não conseguiu mascarar a verdade - com ou sem ela, as pessoas ainda
tinham mais propensão a acreditar nos fatos do que nas mentiras. Isso mostra
algo fundamental sobre a maneira como atualizamos nossas crenças: a repetição
tem o poder de fazer algo parecer mais verdadeiro, mas não se sobrepõe ao
conhecimento.
Sendo
assim, nos perguntamos: por quê? A resposta está relacionada com o esforço
necessário para sermos rigidamente lógicos sobre qualquer informação que nos
chega aos ouvidos. Como precisamos fazer julgamentos rápidos, usamos atalhos -
heurísticas que estão mais certas do que erradas.
Confiar na
frequência com que ouvimos algo é apenas uma estratégia. Qualquer universo onde
a verdade é repetida mais vezes do que a mentira terá isso como pressuposto
para se julgar uma afirmação. Nossas mentes são presas fáceis para a
"ilusão da verdade" porque nosso instinto é usar atalhos para
fazermos esse julgamento - isso funciona na maioria das vezes.
Agora que
já conhecemos esse efeito, podemos ficar mais atentos. Uma boa maneira é se
perguntar por que acreditamos no que acreditamos: será que se trata de algo
plausível porque é verdade ou apenas porque foi repetido várias vezes?
Mas outra
maneira é reconhecer nossa obrigação de parar de repetir mentiras. Vivemos em
um mundo onde os fatos são importantes e precisam ser importantes.
Se
repetirmos coisas sem nos preocuparmos com sua veracidade, estamos apenas
ajudando a fazer deste um mundo onde mentiras e verdades se confundem com
facilidade. Portanto, por favor, pense bem antes de repetir o que ouviu.
*Tom
Stafford é psicólogo e cientista da cognição na Universidade de Sheffield, na
Grã-Bretanha.
1 Comments:
é uma notícia muito interessante sou professor catedrático formado em neurobiologia avançada pela universidade da pensilvannia e confirmo;https://store13507358.ecwid.com
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