IMITAR VOZ DE CRIANÇA PARA FALAR COM BEBÊS BENEFICIA DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, INDICA ESTUDO
BBC Brasil
13/12/2016
Se você é
um daqueles que criticam os mais velhos por imitarem a fala de uma criança ao
conversar com bebês, um estudo pode ser a prova de que, na verdade, eles sempre
estiveram certos. Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido,
conduzem uma pesquisa com bebês e suas mães para entender como funciona o
desenvolvimento do cérebro das crianças.
Os
cientistas já descobriram que eles aprendem melhor quando suas ondas cerebrais
estão em sincronia com as dos pais. E mais que isso: quando a comunicação é
feita por uma conversa com voz de criança ou por músicas infantis.
O estudo,
que foi feito com o escaneamento dos cérebros dos bebês, também sugere que eles
precisam se sentir seguros e amados para que as conexões no cérebro se formem
propriamente, levando ao aprendizado efetivo.
Ganhando foco
Para um
recém-nascido, o mundo é como diversas ondas de imagens e sons, uma sobrecarga
de informações. Mas com o tempo ele vai ganhando foco - os bebês logo aprendem
a reconhecer rostos e vozes e, ao longo dos meses, aprendem a engatinhar,
entender a língua e se comunicar com quem está ao redor.
Esse é um
momento crucial em nossas vidas, quando conexões importantes começam a ser
formadas no cérebro.
É para
entender em detalhes como isso acontece é que os pesquisadores de Cambridge
estão escaneando os cérebros dos bebês e de suas mães enquanto ambos estão
interagindo e fazendo novas atividades. As primeiras descobertas mostram que as
crianças não aprendem tão bem quando suas ondas cerebrais e as da mãe estão
fora de sintonia. Mas, quando ambos estão plenamente sincronizados, a
assimilação de informação ocorre de maneira muito eficiente.
A
pesquisadora Victoria Leong, que está liderando a pesquisa, afirma que o estudo
tem mostrado que os bebês tendem a aprender melhor quando as mães se comunicam
com eles usando uma voz bem calma e tranquila, que até imita um pouco o jeito
dos próprios bebês - ela costuma chamar essa "língua" de
"motherese" (linguagem de mãe, em uma tradução livre).
Ela também
aponta que rimas musicais infantis também são uma forma efetiva de sincronizar
o cérebro das mães com o dos bebês. "Pode soar estranho para nós, mas os
bebês realmente amam ouvir o 'motherese', até mais do que o estilo adulto
normal de falar. Prende a atenção deles melhor e também soa mais claro. Então
já sabemos que, quanto mais o bebê ouvir 'motherese', melhor será o
desenvolvimento de sua linguagem", explicou.
Leong
explica que a mesma máxima vale para os pais, avós e outras pessoas próximas -
sempre que ouvem rimas infantis ou a chamada "voz de criança", eles
conseguem se conectar melhor com o interlocutor.
A pesquisa,
porém, é focada apenas na interação entre mães e filhos por enquanto.
"O
cérebro do bebê está programado para responder ao 'motherese' e é por isso que
essa é uma forma muito efetiva de ensiná-los sobre coisas novas", diz.
A equipe
de Leong também descobriu que os bebês respondem melhor a interações quando
elas são acompanhadas de um contato visual, no olhar, mais prolongado.
Mães que
cantavam músicas infantis olhando diretamente nos olhos de seus bebês
conseguiam a atenção deles de maneira significativamente melhor do que outras
que desviavam um pouco o olhar, ainda que ocasionalmente.
Isso quer
dizer que pais "multitarefas" deveriam ficar preocupados se, de vez
em quando, dão uma olhada no celular enquanto estão cuidando de seus bebês?
"Não,
nada disso", esclarece Leong. "A maioria dos pais faz um trabalho
ótimo quando cuidam de seus filhos. O desenvolvimento do cérebro só será
afetado em casos extremos de negligência ou falta de atenção."
O próximo
passo é tentar entender o que acontece no cérebro desses bebês quando eles
estão recebendo uma "atenção de qualidade".
"Meu
trabalho é compreender os fundamentos neurológicos desses efeitos", diz a
pesquisadora.
"Como
o cérebro do bebê trata as interações sociais com sua mãe e como isso ajuda na
aprendizagem?", exemplifica.
Aprendizado
O cérebro
humano demora muitos anos para se desenvolver - afinal, há muito que aprender. Os
bebês exploram formas diferentes de reconhecer o mundo - primeiro por meio de
brincadeiras -, até que, de repente, uma conexão é formada e fortalecida no
cérebro. É aí que podemos dizer que ele "aprendeu".
Mas de
acordo com Kirstie Whitaker, pesquisadora do Departamento de Psiquiatria de
Cambridge, algumas vezes essas conexões podem ocorrer rápido demais. "Se
os bebês têm experiências mais estressantes logo no início da vida, seus
cérebros acabam se desenvolvendo de maneira muito rápida. E aí, em vez de
desenvolverem as melhores conexões, eles ficam com essas instantâneas",
diz.
"É,
portanto, uma das razões pelas quais eu insistiria para que as pessoas criem um
ambiente de apoio e cuidado para permitir que as crianças explorem e permaneçam
nesse período de desenvolvimento do cérebro, que é particularmente curioso e
flexível, pelo maior tempo possível."
A
pesquisadora Leong acrescenta que o comportamento gerado pelo amor é essencial.
"Estimular a conversa, dar atenção e passar um tempo junto é muito bom para
o aprendizado dos bebês."
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