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28 agosto 2020

QUEIMADAS NA AMAZÔNIA: 2019 É O TERCEIRO EM NÚMERO DE FOCOS DE CALOR NOS ÚLTIMOS 10 ANOS*

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Apesar da “propaganda” por parte do Governo Federal – replicada de forma massiva nas redes sociais por robôs e seguidores fanáticos do atual presidente – exaltando o inédito envio de forças militares a partir do final de agosto para combater focos de calor na Amazônia, o balanço das queimadas realizadas em 2019 (66.750 focos contabilizados até o final de setembro) ranqueia o ano como o terceiro pior dos últimos 10 anos.

Na verdade, se considerarmos que 2010 – quando aconteceu uma das maiores secas já registradas na Amazônia – foi um ano excepcional com inacreditáveis 102.409 focos de calor, 2019 é o segundo pior ano em termos de número queimadas registradas. Perde apenas para 2017, com 70.892 focos contabilizados.

Depois que os dados referentes ao número de focos de calor registrados em setembro (19.925) mostraram uma expressiva queda de 36% em relação a agosto, os que defendem a política ambiental do atual governo (existe isso?) se apressaram em dizer, entre outras barbaridades, que: “2019 é apenas mais um ano como outro qualquer na história da região!”, “Queimadas fazem parte da cultura local!”, “Os dados de setembro mostram que os ambientalistas estavam exagerando!”.

Vejam que o Governo Federal se viu “forçado” a enviar forças militares para fazer baixar “de qualquer forma” o número de focos de calor na Amazônia. Foi uma ação que contrariou o que falavam e pregavam os integrantes do governo e o próprio presidente quando o assunto era a preservação da floresta amazônica.

Não custa lembrar que essa ação “forçada” por parte do governo brasileiro foi resultado da gritaria dos ambientalistas e da opinião pública interna e externa, da pressão de governos europeus e do escândalo internacional que se avolumava com o “tsunami” de más notícias relativas à destruição das florestas na Amazônia brasileira.

O atual governo do Brasil deve agradecer a essa conjunção de pressões, pois sem elas os números relativos às queimadas na Amazônia em 2019 teriam sido inacreditáveis e inaceitáveis, considerando que nesse ano não temos seca. Muito pelo contrário. O ano tem se revelado excepcionalmente chuvoso. Por isso, o escândalo internacional e a vergonha a que o país se sujeitaria seriam humilhantes. Explico.

Em nota publicada em 03 de outubro, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) afirma que “Historicamente, 95% dos incêndios que ocorrem em todo o país se concentram no segundo semestre de cada ano, principalmente entre agosto e outubro. O pico ocorre geralmente em setembro”. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a média histórica de focos de calor registrada em setembro é de 33.426 focos.

Assim, em teoria, a ação dos militares (Exército e Força Nacional) e de mais de mil brigadistas do MMA evitou a ocorrência de 13,5 mil focos ou queimadas. Se esse número hipotético for somado aos focos já registrados em 2019 (66.750), o balanço de queimadas na Amazônia até o final de setembro teria passado de 80 mil focos!

No que concerne ao Acre, o número de focos de calor acumulados nesse ano de 2019 já atingiu 6.706 até o dia 17/10. Considerando que o ano ainda não acabou, é bem possível que igualaremos o número de focos de calor registrados em 2006, quando foram contabilizados 6.840 focos.

Sob o ponto de vista da fiscalização e controle, essa regressão a índices de 13 anos atrás soa como um fracasso retumbante da nova administração do Estado que assumiu o poder em janeiro.

Para superar esse fracasso, é preciso que nossas autoridades ambientais façam um balanço do que deu errado em 2019, reagrupem e recomponham suas equipes de fiscalização e controle. Elaborem um planejamento detalhado de ações para 2020 e, mais importante, viabilizem os recursos financeiros indispensáveis para os trabalhos de campos. Sem eles a efetividade da fiscalização e do controle de derrubadas e as subsequentes queimadas serão inúteis.

Mas não podemos nos iludir achando que fortalecendo apenas a fiscalização e o controle (aplicando multas) os problemas relacionados com a destruição de nossas florestas serão controlados ou resolvidos. Vale a pena investir em prevenção, em programas integrados e estruturantes de combate ao desmatamento. Em pesquisas de alternativas ao uso do fogo no preparo de áreas agrícolas, em melhoria da produtividade das terras disponíveis para o cultivo, em culturas perenes. São muitas as ações a serem feitas. Recursos para parte delas existem: as doações internacionais.

O que se deve evitar a todo custo é a repetição dos eventos acontecidos em 2019. Especialmente o gasto de recursos orçamentários escassos por parte do Governo Federal para “apagar incêndios” em nossa floresta para aplacar a pressão internacional. Apesar de ser considerado um êxito dentro do que se propôs fazer (apagar incêndios), ela não atacou as fontes desses incêndios: as derrubadas ilegais que originam, mais tarde, as queimadas.

Dito isso, e para finalizar, precisamos deixar claro que não somos contra o envio do exército para combater incêndios na Amazônia. O combate ao fogo tem razão de ser porque, dependendo da situação, o excesso de fumaça coloca em risco a saúde das pessoas, adoece muitas delas (especialmente velhos e crianças), lota hospitais e, consequentemente, aumenta as despesas na área de saúde.

*Artigo originalmente publicado no jornal A Gazeta, em Rio Branco, Acre, em 22/10/2019.

Fonte da Imagem: SOS Amazônia.