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26 outubro 2005

PAISES EM DESENVOLVIMENTO: O ALTO CUSTO DA DRENAGEM DE "CÉREBROS"

Abaixo apresento tradução de um artigo do New York Times que me fez voltar no tempo e relembrar situações que testemunhei enquanto era estudante de pós-graduação nos EUA. O artigo só comprova a impressão que tive quando via as dezenas de bolsas Pós-Doc sendo oferecidas aos estudantes que concluiam seus Doutorados. Muitos deles eram estrangeiros, a maioria asiáticos atraídos para o duro trabalho nos laboratórios de biologia molecular, então em grande expansão.
Em outras ocasiões lia no mesmo NYTimes que empresários da indústria de software e hardware do vale do silício, na California, estavam "obrigando" o governo americano a oferecer e, em alguns casos prorrogar, os vistos especiais de trabalho para que até 12.000 engenheiros estrangeiros pudessem entrar nos EUA para assumir postos de trabalho que não estavam sendo preenchidos por Americanos natos. As universidades do país não conseguiam atender a demanda.
Até as escolas de segundo grau (high school) da cidade de Nova Yorque, então governada pelo prefeito Ruddy Giuliani, sairam à caça de talentos nas diferentes áreas de ciências. É que o custo de vida na cidade tinha ficado tão alto que muitos professores antigos pediram demissão e foram para os subúrbios, onde os preços e a qualidade de vida eram melhores.
Lembro que colegas meus do programa de PhD em Biologia, muitos da África, Índia e América Central, ficaram "ouriçados" com a possiblidade de conseguir o emprego e o consequente visto permanente. Alguns como meu grande amigo Rajendra (nickname: Raj), um jovem da Guiana Inglesa, decidiu tentar e parece que consegui ficar por lá. Quanto ao seu país, que tanto esperava dele quando voltasse, não havia muito o que fazer. Pagou todas as despesas dele até ele se formar na Universidade pública de lá. Ficou no prejuízo. Raj preferiu ser professor de segundo grau nos EUA a ser um líder no campo das ciências biológicas em seu país. Ele recusou a oportunidade de fazer a diferença. Preferiu ser apenas mais um.
Isto é drenagem de cérebros do terceiro para o primero mundo. Não podemos culpar unicamente os americanos por isso por que eles não forçam a barra. Apenas oferecem as oportunidades. Jogam a isca. Se os peixes fisgarem eles agradecem e fazem bom proveito dele.
Boa leitura. Reflitam sobre esse tema.

PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO SÃO OS MAIS PREJUDICADOS PELA DRENAGEM DE CÉREBROS

Tradução: Evandro J. L. Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Países pobres na África, América Central e Caribe estão perdendo, muitas vezes em quantidades impressionantes, grande parte de seus trabalhadores com nível universitário para paises desenvolvidos, de acordo com relatório do Banco Mundial publicado no dia 24/10.
O estudo documenta um padrão pertubador de "drenagem de cérebros", ou seja, a saída de trabalhadores treinados, geralmente de classe média, que poderiam ajudar a tirar os seus países da pobreza. Embora os efeitos exatos desse fato ainda sejam pouco entendidos, existe um crescente sentimento entre economistas que de este tipo de migração desempenha um papel crucial no desenvolvimento dos países.
Os resultados do estudo são baseados em extensivas pesquisas nos censos e outras informações dos 30 países que fazem parte da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que inclui a maioria dos países mais ricos do mundo.
Segundo o estudo, entre um quarto e a metade dos cidadãos com formação de nível superior de países pobres como Gana, Moçambique, Kenia, Uganda e El Salvador estão vivendo no exterior, em um dos países da OCDE. Esta proporção sobe para mais de 80% nos casos do Haiti e Jamaica. Em contraste, menos de 5% de pessoas treinadas de países em desenvolvimento mais avançados como a Índia, China, Indonésia e o Brasil estão no exterior, em alguns dos paises da OCDE.
- "Este padrão sugere que a saída em larga escala de pessoas educadas está causando danos em muitos países pobres de tamanho pequeno a médio. Os paises em desenvolvimento de maior porte estão enfrentando esta perda relativamente pequena sem maiores problemas e, em alguns casos, se beneficiando desta saída quando estes trabalhadores retornam ou investem em sua terra natal", diz Frédéric Docquier, um dos pesquisadores que liderou a pesquisa para o Banco Mundial e economista na Universidade deLeuven, na Bélgica.
- "Para um país, um terço de seus cidadãos com nível universitário morando fora, é causa para grande preocupação" diz Alan Winters, diretor do grupo de pesquisa sobre desenvolvimento do Banco Mundial.
O estudo do Banco Mundial, publicado ontem no livro "Migração Internacional, Remessas e Dreno de Cérebros," também apresenta uma análise do efeito do dinheiro que migrantes da Guatemala, Mexico e Filipinas enviam para seus países, geralmente para suas famílias. Estas remessas, conhecidas como "envios", ajudaram a reduzir a pobreza nestes países e foram uma das principais fontes de moeda estrangeira.
Mas as implicações destes envios foram mais complexas. Na Guatemala, por exemplo, famílias do meio rural que receberam esse dinheiro investiram mais na educação do que em bens de consumo. No México, crianças em famílias de migrantes tiveram menos formação educacional do que as de famílias de não migrantes, possivelmente porque suas famílias acreditam que elas eventualmente poderão emigrar para os EUA em busca de trabalhos que não exigem qualquer tipo de preparo e que não requerem alto nível de educação.
Alguns dos dados sobre o dreno de cérebros tem provocado debates. Mark Rosenzweig, um economista da Yale University, argumenta que os dados coletados pelo banco estão superestimados por que não excluiram os migrantes que chegaram nos países desenvolvidos quando ainda eram crianças, ou que tiveram a oportunidade de obter diplomas universitários nestes países. Dados da pesquisa sobre os imigrantes da Jamaica, por exemplo, mostra que quase 4 de 10 dos migrantes vieram para os EUA antes da idade de 20 anos, diz o economista.
Os pesquisadores do Banco, por outro lado, dizem que eles agora estão coletando este tipo de informação, embora nem sempre estejam disponíveis para muitos dos países estudados. Eles reconhecem que é muito importante saber onde os migrantes foram educados, mas eles e outros especialistas de fora do Banco dizem que o último relatório ainda oferece o mais compreensivo conjunto de dados sobre a magnitude do dreno de cérebros dos paises mais pobres, mesmo reconhecendo que ele é rudimentar e incompleto.
A maioria dos especialistas concorda que o êxodo de trabalhadores educados dos paises mais pobres é um sintoma dos graves problemas econômicos, sociais e políticos destes países e tem efeitos graves nas profissões mais necessárias, como as ligadas à saúde e a educação
Jagdish Bhagwati, economista da Columbia University que migrou da Índia no final dos anos 60, diz que imigrantes quase sempre estavam "votando com os pés" ao decidir abandonar países que eram economicamente problemáticos e politicamente mal conduzidos. O ato de deixar o país era uma forma de ter a atenção de seus governantes.
- "Se ficar, você não tem qualquer poder de barganha" diz ele.
Mas alguns acadêmicos estão inquirindo se a drenagem de cérebros também não está alimentando um ciclo vicioso para baixo em direção ao subdesenvolvimento - e tem tirado dos países mais pobres as pessoas com a vontade e a habilidade de resistir à corrupção e incompetência governamental.
Devesh Kapur e John McHale argumentam no seu livro "Nos dêm os seus melhores e mais inteligentes", publicado na semana passada pelo Centro para o Desenvolvimento Global, um grupo de pesquisa baseado em Washington, que a perda de pessoas que poderiam liderar e fazer diferenaça - gerentes de hospitais, lideres de departamentos universitários e reformistas políticos, entre outros - pode ajudar a deixar os países mais pobres em uma armadilha de pobreza.
- "Não é apenas a perda dos profissionais", diz Davesh Kapur, um professor associado na área de governo da Universidade do Texas, em Austin. "É também a perda da classe média".
A questão sobre o que pode ser feito para diminuir os danos é algo urgente e leva a questões difíceis, tais como uma possível limitação ou não da migração de mão de obra especializada. As políticas de imigração dos países mais ricos, incluindo os EUA, Canada, Inglaterra e Austrália, sempre se orientaram no sentido de atrair profissionais de alto nível para aumentar sua competitividade e preencher lacunas domésticas em certas áreas.
Muitos especialistas dizem que se opõe ao esforço de inibir o movimento de migrantes treinados, e estão debatendo possíveis alternativas para ajudar os países pobres a lidar com isso. Uma idéia do professor Bhagwati, proposta inicialmente nos anos 70 - que países em desenvolvimento cobrassem impostos de seus trabalhadores migrantes - está sendo novamente estudada.
Editores do livro publicado pelo Banco Mundial dizem que são necessárias políticas específicas para aumentar a renda dos profissionais capacitados nos seus próprios países.
Outros, incluindo o professor Kapur e professor McHale, um economista na Faculdade de Economia da Queen's University, em Kingston, Ontario, sugere que novas formas de compensar os países pobres mais afetados pelo dreno de cérebros têm que ser encontradas. Eles também dizem que os países ricos deveriam considerar a criação de um tipo de visto com tempo limitado que iria permitir aos profissionais capacitados trabalhar por alguns anos, antes de levar seus conhecimentos e economias de volta aos seus países.
O professor Kapur diz que para um trabalhador imigrante de alto nível proveniente de um país pobre ganhar um visto para trabalhar em um país desenvolvido é como ganhar na loteria, tendo em vista que os ganhos decorrentes de sua mudança de país são muito grandes. Não importa o tipo de solução, diz ele, os benefícios para os poucos que têm a sorte de conseguir sair precisam ser pesados contra os custos deixados para os seus conterrâneos que ficam para trás.

Link para o artigo original:
Developing Lands Hit Hardest by 'Brain Drain'
By CELIA W. DUGGER Published: October 25, 2005
The New York Times