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24 dezembro 2005

ISSO NÃO É NATAL!

Edilson José Gabriel (*)

Assim como milhões de brasileiros, tenho o péssimo hábito de assistir o Jornal Nacional. Diferente de milhões de brasileiros,procuro assistir o Jornal Nacional com um olhar crítico, pois nenhum veículo de comunicação tem o direito de se pretender a voz oficial do país.

Na última quarta-feira, dia 21/12, assisto à TV um pouco desatento,ocupado com afazeres domésticos quando me chamam atenção as notícias da greve dos trens e metrôs de Nova Iorque.

O tratamento dado é o de sempre: não se fala claramente quais são as reivindicações dos trabalhadores em greve, mas é dado uma ênfase muito grande aos "prejuízos" da greve. Afinal de contas, nada mais anti-capitalista que uma greve e nada mais capitalista que o noticiário da Globo.

Mas, o que realmente me chamou a atenção, e que quero abordar neste artigo, foi a entrevista com uma vendedora. Ela afirmou, textualmente: "Por causa da greve, as pessoas não estão comprando. Isso não é Natal".

Como tenho fama de moderado, vou dizer que concordo com ela, em partes. E a parte que concordo é quando ela afirma que "Isso não é Natal". Sem o menor risco de parecer piegas, nunca é demais falar sobre as origens da festa mais comemorada do mundo e alguns aspectos dessa data nos dias de hoje.

Natal é a comemoração do nascimento de Jesus Cristo. Relata-nos a Bíblia que três reis visitaram o recém-nascido, trazendo-lhe presentes. Relata-nos a história que Nicolau, bispo e santo da Igreja,viajava muito, era muito generoso e tinha o costume de dar presentes às crianças. Esse costume deu origem à lenda do Papai Noel.

O presente é, portanto, um dos símbolos do Natal e está associado à generosidade e à renúncia. O capitalismo, com sua ilimitada capacidade de absorver e perverter os costumes, a cultura e tudo que está ao seu alcance, transformou o Natal e São Nicolau num produto.

O Natal é época de consumir, de comprar (até o que não precisa). Mesmo os presentes deixam de ser expressão de generosidade, se tornando apenas um compromisso social .Nesse contexto, a frase da desavisada vendedora de Nova Iorque é inteiramente explicável. Em meio ao consumismo desenfreado, sem comprar, não há Natal.

Mas, reitero, o Natal não é isso. O nascimento de Jesus Cristo é em uma família pobre e em um local pobre. Suas primeiras visitas são de pastores de ovelhas, trabalhadores pobres. Mesmo os presentes dos magos, embora valiosos, são dados com simplicidade. Notemos ainda um detalhe. Não é o pobre que venera o rico. Mas os magos ricos que se deslocam ao pobre que acaba de nascer.

O Natal não deve ser o tempo em que nos preocupamos com o que vamos comprar. Natal é o tempo de refletirmos sobre as nossas relações, sobre as nossas realizações e, sobretudo, sobre a forma como estamos vivendo os ensinamentos do menino de Belém. Isso, sim, é Natal....

(*) Edilson José Gabriel é Diretor de Organização do Sindicato dos Bancários de Umuarama e membro da equipe da Pastoral Sócio-Política da Diocese de Umuarama