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22 dezembro 2005

MALÁRIA: FIOCRUZ CONFIRMA O USO DE COBAIAS NO AMAPÁ

Na semana passada informamos aqui sobre o uso de cobaias humanas em pesquisa sobre a malária no Amapá. O texto original, publicado no jornal O Estado de São Paulo do dia 10/12, induzia os leitores a pensar que a pesquisa em questão era responsabilidade exclusiva de uma universidade americana. Essa é uma velha tática que muitos jornalistas usam para atrair mais leitores para seus textos e por tabela, vender mais jornais. Os fatos comprovam que a coisa não era bem assim. Na verdade, as instituições brasileiras são as principais executoras da pesquisa, o Governo do Amapá está envolvido até o pescoço no assunto. Mas ficaram todos quietos enquanto seu parceiro americano, e principal fonte de financiamento da pesquisa, foi "fritado".

Hoje, 22/12, lendo O Globo, vi que a Fiocruz veio a público para se explicar. Vejam a nota abaixo:

Fiocruz confirma uso de cobaias no AP

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) admitiu ontem que a pesquisa sobre mosquitos transmissores do parasita da malária no Amapá foi adulterada, com a inclusão de termos de consentimento para picadas em voluntários que não constavam da tradução para o português do protocolo original da pesquisa. O estudo é patrocinado pelo governo americano e conduzido em parceira com a Universidade da Flórida, com a Universidade de São Paulo (USP), a Fundação Nacional de Saúde e a Secretaria de Saúde do Amapá.

Segundo Mércia Arruda, cientista da Fiocruz encarregada da análise de dados da pesquisa, o holandês Jaco Voorham omitiu, na tradução que fez para o português, a menção a picadas em voluntários. Em seguida, teria incluído a pesquisa com picadas nos formulários de consentimento — o texto obrigatório que explica ao voluntário o que é a pesquisa, que risco pode acarretar e qual a responsabilidade do pesquisador e da instituição no caso de a experiência lhe causar dano. Os formulários foram assinados pelos voluntários no Amapá.
O holandês era aluno de doutorado da Universidade de São Paulo (USP). Segundo a assessoria de imprensa da USP, ele não concluiu o curso. Com o holandês, trabalhou na pesquisa outra aluna da Faculdade de Saúde Pública da USP, Stela Branquinho. Nenhuma das instituições envolvidas na pesquisa conhece o paradeiro de Voorham.

No projeto original, não havia menção a picadas

Mércia explicou ontem que as picadas aconteceram em 2003, durante o período em que ela estava afastada do projeto. No projeto original, não havia a menção a picadas voluntárias. Pela resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, que disciplina o procedimento de pesquisas com seres humanos, uma pesquisa com picadas intencionais não poderia ser feita no Brasil, mediante pagamento a voluntários.

O pesquisador da Universidade da Flórida Robert Zimmerman, co-responsável pela pesquisa, afirmou em e-mail enviado à USP que não participou do trabalho de tradução para o português do projeto. Do ponto de vista da Fiocruz, o projeto original previa apenas o trabalho de voluntários como capturadores de mosquito, e não como voluntários de picadas.

Fonte: O Globo, 22/12/2005
By Toni Marques