ONGs MULTINACIONAIS: CUMPREM REALMENTE SEU PAPEL?
COMO AS ONGs "MULTINACIONAIS" ESTÃO MONOPOLIZANDO O ACESSO AOS FUNDOS INTERNACIONAIS PARA O ESTUDO E A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA EM DETRIMENTO DE ONGs NACIONAIS
WWF (Fundo Mundial para a Natureza), TNC (The Nature Conservancy) e CI (Conservation International). Estas são as organizações "multinacionais" no mundo das ONGs ambientais.
São os "mamutes" que de forma competente estão monopolizando o acesso aos recursos disponíveis para a realização de atividades relacionadas à conservação e manejo de recursos ambientais por todo o mundo. Quem tem perdido com isso? As ONGs nacionais, que sem a capacidade institucional e de lobby junto aos doadores, estão, a cada dia que passa, se tornando meros executores de ações planejadas e executadas pelas ONGs "multinacionais" acima.
Os leitores do blog talvez não tenham tido acesso a textos que explorem esse aspecto da "briga" que se trava nos bastidores de Washington, Londres, Nova Yorque, Tókio e outros grandes centros mundiais onde grandes doadores decidem o destino de seus recursos. É que ele são documentos raros.
Entretanto, Marc Jean Dourojeanni, Presidente da Fundación Peruana para la Conservación de la Naturaleza (ProNaturaleza), baseada em Lima, Perú, apresentou uma palestra esclarecedora sobre este assunto durante o Seminário MAP “Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na América Sul-Occidental: Rumo a modelos de gestão participativa”, realizado em Cobija, Pando (Bolívia), entre 30 de setembro e 02 de outubro de 2005.
Neste documento é possível ter uma clara idéia da evolução das grandes ONGs "multinacionais" e como elas estão gradativamente mudando o cenário das relações instituicionais nos paises onde atuam. De meras repassadoras de recursos arrecadados junto a seus sócios, estas organizações estão se transformando em gigantescas operações que agressivamente arrecadam e executam ações diretas nos paises onde atuam, inclusive o Brasil. Muitas ONGs locais, sem outras alternativas de financiamento, terminam aceitando realizar ações que originalmente fazem parte dos programas institucionais destas "multinacionais". No Acre, isso tem sido frequente com a SOS Amazônia, PESACRE e CTA. Um claro sintoma dessa tendência tem sido o rápido aumento do quadro local da WWF-Acre.
Para se evitar "conflitos", estas ONGs multinacionais dividiram os países e regiões em zonas específicias e dificilmente existe sobreposição de ações. Explicando: WWF e CI, por exemplo, não competem mortalmente por recursos para a realização de atividades ou programas específicos no Acre. Uma ou outra realiza a ação. Da mesma forma, a CI do Peru não pode executar ações no Brasil e vice-versa. Durante a reunião MAP realizada em Cobija, Bolívia, em 2004, foi interessante ver como foi complicado obter o apoio de algumas destas multinancionais para a realização do evento: é que o mesmo é trinacional e, teoricamente, não seria possível um evento desse tipo ser apoiado apenas por um dos escritórios destas ONGs localizado em um dos países realizadores.
Vale ressaltar que algumas organizações locais e regionais já começaram a reagir ao "rolo compressor" das ONGs multinacionais. Recentemente o MAP recusou cerca de U$ 1 milhão para a execução do programa “Conservación y Desarrollo Sostenible en la Región MAP”, proposto, entre outros, pela WWF, CI e TNC. Clique aqui para ler a a declaração do MAP Indígena relativo a essa recusa de financiamento (ao abrir a página você vai precisar fazer o download do documento).
Como aperitivo, apresentamos abaixo um breve resumo do artigo de Marc Jean Dourojeanni:
- Se analiza el cambio de actitud progresivo de las principales ONGs internacionales ambientales que permite calificarlas ahora de “ONGs transnacionales”: (1) su incorporación a nivel nacional, (2) la ejecución directa de programas y proyectos y, (3) su intermediación en la recaudación de fondos en el exterior.
- Se discuten sus consecuencias, todas negativas para el movimiento ambiental de América Latina: (1) competición desigual en la recaudación de fondos internacionales y locales; (2) erosión del dinero disponible para las operaciones debido a la intermediación estéril, (3) debilitamiento de las ONGs ambientales nacionales.
- Se concluye que gran parte del problema es responsabilidad de las propias ONGs nacionales que no han sabido mantener su independencia política y financiera ni negociar de igual a igual con las ONGs internacionales. Se proponen medidas concretas para resolver los problemas identificados.
Clique aqui para acessar a íntegra da palestra de Marc Jean Dourojeanni, que se encontra hospedada na página de Equidade Social do MAP.
WWF (Fundo Mundial para a Natureza), TNC (The Nature Conservancy) e CI (Conservation International). Estas são as organizações "multinacionais" no mundo das ONGs ambientais.
São os "mamutes" que de forma competente estão monopolizando o acesso aos recursos disponíveis para a realização de atividades relacionadas à conservação e manejo de recursos ambientais por todo o mundo. Quem tem perdido com isso? As ONGs nacionais, que sem a capacidade institucional e de lobby junto aos doadores, estão, a cada dia que passa, se tornando meros executores de ações planejadas e executadas pelas ONGs "multinacionais" acima.
Os leitores do blog talvez não tenham tido acesso a textos que explorem esse aspecto da "briga" que se trava nos bastidores de Washington, Londres, Nova Yorque, Tókio e outros grandes centros mundiais onde grandes doadores decidem o destino de seus recursos. É que ele são documentos raros.
Entretanto, Marc Jean Dourojeanni, Presidente da Fundación Peruana para la Conservación de la Naturaleza (ProNaturaleza), baseada em Lima, Perú, apresentou uma palestra esclarecedora sobre este assunto durante o Seminário MAP “Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na América Sul-Occidental: Rumo a modelos de gestão participativa”, realizado em Cobija, Pando (Bolívia), entre 30 de setembro e 02 de outubro de 2005.
Neste documento é possível ter uma clara idéia da evolução das grandes ONGs "multinacionais" e como elas estão gradativamente mudando o cenário das relações instituicionais nos paises onde atuam. De meras repassadoras de recursos arrecadados junto a seus sócios, estas organizações estão se transformando em gigantescas operações que agressivamente arrecadam e executam ações diretas nos paises onde atuam, inclusive o Brasil. Muitas ONGs locais, sem outras alternativas de financiamento, terminam aceitando realizar ações que originalmente fazem parte dos programas institucionais destas "multinacionais". No Acre, isso tem sido frequente com a SOS Amazônia, PESACRE e CTA. Um claro sintoma dessa tendência tem sido o rápido aumento do quadro local da WWF-Acre.
Para se evitar "conflitos", estas ONGs multinacionais dividiram os países e regiões em zonas específicias e dificilmente existe sobreposição de ações. Explicando: WWF e CI, por exemplo, não competem mortalmente por recursos para a realização de atividades ou programas específicos no Acre. Uma ou outra realiza a ação. Da mesma forma, a CI do Peru não pode executar ações no Brasil e vice-versa. Durante a reunião MAP realizada em Cobija, Bolívia, em 2004, foi interessante ver como foi complicado obter o apoio de algumas destas multinancionais para a realização do evento: é que o mesmo é trinacional e, teoricamente, não seria possível um evento desse tipo ser apoiado apenas por um dos escritórios destas ONGs localizado em um dos países realizadores.
Vale ressaltar que algumas organizações locais e regionais já começaram a reagir ao "rolo compressor" das ONGs multinacionais. Recentemente o MAP recusou cerca de U$ 1 milhão para a execução do programa “Conservación y Desarrollo Sostenible en la Región MAP”, proposto, entre outros, pela WWF, CI e TNC. Clique aqui para ler a a declaração do MAP Indígena relativo a essa recusa de financiamento (ao abrir a página você vai precisar fazer o download do documento).
Como aperitivo, apresentamos abaixo um breve resumo do artigo de Marc Jean Dourojeanni:
- Se analiza el cambio de actitud progresivo de las principales ONGs internacionales ambientales que permite calificarlas ahora de “ONGs transnacionales”: (1) su incorporación a nivel nacional, (2) la ejecución directa de programas y proyectos y, (3) su intermediación en la recaudación de fondos en el exterior.
- Se discuten sus consecuencias, todas negativas para el movimiento ambiental de América Latina: (1) competición desigual en la recaudación de fondos internacionales y locales; (2) erosión del dinero disponible para las operaciones debido a la intermediación estéril, (3) debilitamiento de las ONGs ambientales nacionales.
- Se concluye que gran parte del problema es responsabilidad de las propias ONGs nacionales que no han sabido mantener su independencia política y financiera ni negociar de igual a igual con las ONGs internacionales. Se proponen medidas concretas para resolver los problemas identificados.
Clique aqui para acessar a íntegra da palestra de Marc Jean Dourojeanni, que se encontra hospedada na página de Equidade Social do MAP.
1 Comments:
Caro Evandro,
Esse assunto torna-se cada vez mais importante, uma vez que a monopolização dos recursos pode impactar seriamente nos resultados de muitas pesquisas. Ora, diante da carência de recursos, especialmente financeiros, alguns pesquisadores muitas vezes são pressionados a capitular diante dos ditames e interesses das Ongs transnacionais em detrimento de sua pesquisa original. Tais pressões podem produzir resultados parciais e até mesmo distantes das reais necessidades societárias/ambientais de determinada região.
Postar um comentário
<< Home