ABELHAS AFRICANIZADAS: FRACASSO NA "COLONIZAÇÃO" DA AMAZÔNIA
- PESQUISADORES DO INPA SUGEREM QUE APICULTURA EM LARGA ESCALA NA REGIÃO É TEORICAMENTE INVIÁVEL
- FLORESTA NATIVA NÃO OFERECE AMBIENTE IDEAL PARA DESENVOLVIMENTO DE ABELHAS AFRICANIZADAS ALTAMENTE PRODUTIVAS
- IMPACTO DAS ABELHAS AFRICANIZADAS NAS ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO É MÍNIMO
Os pesquisadores do INPA Marcio Luiz de Oliveira e Jorge Alcântra Cunha publicaram no último número da revista científica ACTA AMAZÔNICA um interessante trabalho que aborda a presença de abelhas africanizadas na região Amazônica. Como muitos devem saber, a introdução acidental de abelhas africanas e seu posterior cruzamento com abelhas européias especializadas na produção de mel foi o grande marco que impulsionou uma verdadeira "revolução" na produção de mel por todo o Brasil, exceto a Amazônia.
No Acre, a produção de mel de abelhas é insignificante. Nos supermercados se pode comprar mel importado da Argentina ou do Piauí. Mel acreano autêntico se compra no mercado público, como se fazia 30 anos atrás: mel de abelhas nativas (principalmente jandaíra) que um ou outro agricultor trás para vender nos finais de semana. Mesmo assim, o consumidor consciente deveria se recusar a comprar esse mel pois a sua retirada resultou na destruição de uma colméia de abelha nativa. É uma produção não sustentável!
No trabalho dos pesquisadores do INPA, se tentou entender o "fracasso" das abelhas afrincanizadas na região. Para isso eles testaram a capacidade das abelhas africanizadas penetrar florestas contínuas ou fragmentos florestais e, quando isso ocorria, que distância no interior da floresta elas seriam capazes de atingir.
A introdução das abelhas africanas no Brasil
As abelhas africanas nativas possuem ampla distribuição geográfica, ocupando todo o território da África compreendido entre o Sahara e o Kalahari (Kerr, 1992). Abelhas africanas da espécie Apis mellifera scutellata foram introduzidas no Brasil em 1956. Cerca de um ano depois, 26 enxames com suas respectivas rainhas, escaparam e cruzaram com as demais subespécies de abelhas melíferas européias aqui introduzidas no século XIX: a italiana Apis mellifera ligustica, a alemã Apis mellifera mellifera e a austríaca Apis mellifera carnica. Com isso surgiram populações polí-hibridas denominadas africanizadas, com predominância de características das abelhas africanas, tais como a grande capacidade de enxamear e a rusticidade (Kerr, 1967).
Adaptação ambiental e rusticidade: chave para o sucesso das abelhas africanizadas e para a revolução na produção nacional de mel
A alta capacidade de defesa, de adaptação a ambientes inóspitos e a capacidade de reprodução com ciclo de vida mais curto que as demais subespécies aqui existentes, são características das africanizadas que muito se assemelham às das abelhas africanas nativas. Tais características permitem a ambas uma rápida ampliação da biomassa e significativo aumento populacional (Gonçalves, 1994). A conjunção de todos esses fatores contribuiu para que as abelhas africanizadas atualmente ocupem quase todo continente americano, do paralelo 33 ao sul da Argentina até o sudeste de Nevada, Estados Unidos, percorrendo cerca de 110 Km/ano (Gonçalves, 2001; Krebs, 2001).
Se por um lado, antes da introdução das africanas, a produção brasileira de mel oscilava entre 3 a 5 mil toneladas/ano, algumas décadas depois o país passou a produzir em torno de 40 mil toneladas/ano (Gonçalves, 1994). Por outro, ainda se discute os prováveis impactos na competição com as espécies de abelhas nativas, sobre as relações entre polinizadores e plantas nos ambientes naturais e sobre o sucesso reprodutivo das plantas nativas (Silveira et al., 2002).
Ausência em áreas de florestas não alteradas da Amazônia: razão para a pesquisa
Na Amazônia, a despeito da exuberância e da grande extensão territorial da floresta, as abelhas africanizadas dificilmente são vistas ou coletadas no interior de florestas densas (M.L. Oliveira, Obs. Pess.; Silva, 2005). Diante dessa observação, os pesquisadores espalharam diversas iscas no interior de fragmentos de florestas e de florestas contínuas na Amazônia central, para testar se operárias de abelhas africanizadas seriam capazes de penetrar nos mesmos.
Resultados: ausência de africanizadas no interior da floresta
O estudo de Oliveira e Cunha observou que nenhuma operária de abelhas africanizadas visitou qualquer tipo de isca nos fragmentos ou na mata contínua, somente nas áreas desmatadas. Os motivos das abelhas africanizadas não terem visitado nenhum tipo de iscas dentro da floresta contínua e nem mesmo dentro dos fragmentos, ainda não estão claros, apesar de terem sido utilizadas iscas que são muito atrativas. Algumas hipóteses são sugeridas:
a) Parece que existe uma baixa densidade populacional de abelhas africanizadas na região amazônica;
b) É provável que em sua migração rumo ao norte do continente, as abelhas africanizadas, por não encontrarem condições favoráveis na Amazônia central, a contornaram através de rios, estradas e áreas abertas disponíveis;
c) Nos trópicos úmidos as abelhas melíferas européias geralmente fracassam na produção de excedentes de mel, pois suas colônias são debilitadas por fungos, doenças microbianas, ataques de formigas, abelhas e vespas ou destruídas por vertebrados predadores de ninhos. Este parece ser o caso das africanizadas também;
d) Em condições de alta pluviosidade como as existentes em grande parte da Amazônia, o aporte de néctar poderá ser menor que o consumo, isso porque as operárias não costumam sair da colméia durante as chuvas e, após as mesmas, só encontram flores lavadas. Por conta disso, os estoques de alimentos diminuem e a rainha também diminui ou pára a postura, sendo que a presença de crias é um dos fatores que evitam que abandonem o ninho. Por outro lado, aumentam as dificuldades para se alimentar as crias, ficando estas mal nutridas e sujeitas a doenças, favorecendo, por exemplo, o surgimento da podridão da cria européia;
e) É possível que por obterem os recursos necessários de modo mais fácil em ambientes abertos, as operárias não penetrem nas florestas, onde a livre circulação é dificultada e onde teriam que percorrer extensas áreas para encontrar os recursos que precisam. Em estudo recente realizado em Roraima, Silva (2005) verificou que abelhas africanizadas, italianas e cárnicas forrageiam sobretudo em ervas(43%) mais comuns em áreas abertas;
f) Outra facilidade encontrada pelas abelhas africanizadas nas áreas desmatadas é que o forrageio pode ser feito nos estratos mais baixos, onde as plantas invasoras e pioneiras atingem algo em torno de 15 m (Nee, 1995), enquanto nas florestas as copas das árvores situam-se a 30-37m em média (Bierregaard & Lovejoy, 1988);
Impacto das africanizadas nas abelhas nativas da Amazônia (abelhas sem ferrão): parece mínimo pois uma prefere áreas abertas e a outra as florestas fechadas
O estudo de Oliveira e Cunha corroboram os de Dick (2001), obtidos nas mesmas áreas. Este último autor constatou que abelhas africanizadas foram praticamente os polinizadores exclusivos dos indivíduos da árvore Dinizia excelsa (Fabaceae) localizados nas capoeiras, mas jamais foram vistas visitando os indivíduos localizados nas florestas contínuas.
Este dado indica que assim como as africanizadas herdaram a maior parte dos hábitos de nidificação, reprodução, enxameamento e características corporais das africanas, também podem ter herdado preferência por locais de vegetação adulterada, ou mais aberta como as savanas da África.
No que toca a competição direta entre as africanizadas e as nativas da Amazônia Roubik (1978, 1983) não presenciou nenhum efeito significativo das abelhas africanizadas sobre as colônias de abelhas sem ferrão (Apidae: Meliponini) em uma zona de transição de floresta-savana na Guiana Francesa. Entretanto, notou que em altas densidades de africanizadas, ocorre uma redução do número de abelhas sem ferrão (Meliponinae). Essa interferência, segundo o autor, deve ser casual ou provocada por algum tipo de interação química.
Porém, Roubik (1980) sugere que, por conta da capacidade de comunicar a distância e a posição da fonte de alimento, maior tamanho corporal e formação de colônias mais populosas, as africanizadas são superiores, na competição, às abelhas nativas.
Impactos negativos das africanizadas são mais evidentes nas plantas
Os impactos negativos parecem ser mais comuns em formações vegetativas mais abertas, onde as abelhas africanizadas, pelo visto, são mais comuns. Por exemplo, Roubik (1996b) verificou que Apis mellifera é responsável por 100% das visitas em dormideira (Mimosa pudica, Mimosaceae) em áreas de floresta levemente perturbadas na Guiana Francesa, porém, em florestas contínuas essas visitas foram mais variáveis.
Também no Brasil há indícios de que, se existem impactos negativos, eles são mais comuns em formações vegetativas mais abertas. Em campos rupestres, por exemplo, Clusia arrudae (Clusiaceae) é polinizada quase que exclusivamente por abelhas Eufriesea nigrohirta (Friese, 1899). As visitas de abelhas africanizadas causaram diminuição na produção de sementes dessa planta, pois visitam intensamente as flores masculinas e raramente as femininas (Carmo & Franceschinele, 2000). Também em Vellozia leptopetala e V. epidendroides (Velloziaceae), as africanizadas promoveram efeitos negativos na polinização, diminuindo o número de sementes e afugentando outros visitantes (Jacobi, 2002).
Apesar da floresta exuberante e rica em floradas, apicultura em grande escala na região parece ser inviável
Os resultados obtidos na pesquisa comprometem, segundo os autores, a sustentabilidade e, por conseguinte, a viabilidade econômica de uma apicultura em grande escala na região amazônica, sobretudo nas áreas mais densamente vegetadas, a despeito de sua imensidão territorial e riqueza florestal.
Durante muito tempo se pensou que diante de uma floresta tão rica, as abelhas africanizadas obteriam recursos em tão grande quantidade e qualidade que tornariam a apicultura, nessa região, mais rentável que nas demais.
Se o pleno desenvolvimento da apicultura requer grandes áreas abertas para as abelhas forragearem, uma alternativa para a região amazônica seria a utilização das diversas áreas degradadas existentes, como as que outrora foram destinadas às pastagens, até como tentativa de acelerar a recuperação dessas áreas.
O fato de nenhuma operária africanizada ter sido vista visitando as iscas na floresta contínua ou mesmo nos fragmentos de floresta, ocorrendo visitas somente nas áreas desmatadas e capoeiras próximas, indica a inexistência de competição por recursos com as abelhas nativas no interior da floresta amazônica. Também indica que uma apicultura em grande escala na região seria inviável, uma vez que a floresta não é sequer visitada por essas abelhas.
Leia o artigo completo clicando aqui:
Referência: Abelhas africanizadas Apis mellifera scutellata Lepeletier, 1836 (Hymenoptera: Apidae: Apinae) exploram recursos na floresta amazônica?
- FLORESTA NATIVA NÃO OFERECE AMBIENTE IDEAL PARA DESENVOLVIMENTO DE ABELHAS AFRICANIZADAS ALTAMENTE PRODUTIVAS
- IMPACTO DAS ABELHAS AFRICANIZADAS NAS ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO É MÍNIMO
Os pesquisadores do INPA Marcio Luiz de Oliveira e Jorge Alcântra Cunha publicaram no último número da revista científica ACTA AMAZÔNICA um interessante trabalho que aborda a presença de abelhas africanizadas na região Amazônica. Como muitos devem saber, a introdução acidental de abelhas africanas e seu posterior cruzamento com abelhas européias especializadas na produção de mel foi o grande marco que impulsionou uma verdadeira "revolução" na produção de mel por todo o Brasil, exceto a Amazônia.
No Acre, a produção de mel de abelhas é insignificante. Nos supermercados se pode comprar mel importado da Argentina ou do Piauí. Mel acreano autêntico se compra no mercado público, como se fazia 30 anos atrás: mel de abelhas nativas (principalmente jandaíra) que um ou outro agricultor trás para vender nos finais de semana. Mesmo assim, o consumidor consciente deveria se recusar a comprar esse mel pois a sua retirada resultou na destruição de uma colméia de abelha nativa. É uma produção não sustentável!
No trabalho dos pesquisadores do INPA, se tentou entender o "fracasso" das abelhas afrincanizadas na região. Para isso eles testaram a capacidade das abelhas africanizadas penetrar florestas contínuas ou fragmentos florestais e, quando isso ocorria, que distância no interior da floresta elas seriam capazes de atingir.
A introdução das abelhas africanas no Brasil
As abelhas africanas nativas possuem ampla distribuição geográfica, ocupando todo o território da África compreendido entre o Sahara e o Kalahari (Kerr, 1992). Abelhas africanas da espécie Apis mellifera scutellata foram introduzidas no Brasil em 1956. Cerca de um ano depois, 26 enxames com suas respectivas rainhas, escaparam e cruzaram com as demais subespécies de abelhas melíferas européias aqui introduzidas no século XIX: a italiana Apis mellifera ligustica, a alemã Apis mellifera mellifera e a austríaca Apis mellifera carnica. Com isso surgiram populações polí-hibridas denominadas africanizadas, com predominância de características das abelhas africanas, tais como a grande capacidade de enxamear e a rusticidade (Kerr, 1967).
Adaptação ambiental e rusticidade: chave para o sucesso das abelhas africanizadas e para a revolução na produção nacional de mel
A alta capacidade de defesa, de adaptação a ambientes inóspitos e a capacidade de reprodução com ciclo de vida mais curto que as demais subespécies aqui existentes, são características das africanizadas que muito se assemelham às das abelhas africanas nativas. Tais características permitem a ambas uma rápida ampliação da biomassa e significativo aumento populacional (Gonçalves, 1994). A conjunção de todos esses fatores contribuiu para que as abelhas africanizadas atualmente ocupem quase todo continente americano, do paralelo 33 ao sul da Argentina até o sudeste de Nevada, Estados Unidos, percorrendo cerca de 110 Km/ano (Gonçalves, 2001; Krebs, 2001).
Se por um lado, antes da introdução das africanas, a produção brasileira de mel oscilava entre 3 a 5 mil toneladas/ano, algumas décadas depois o país passou a produzir em torno de 40 mil toneladas/ano (Gonçalves, 1994). Por outro, ainda se discute os prováveis impactos na competição com as espécies de abelhas nativas, sobre as relações entre polinizadores e plantas nos ambientes naturais e sobre o sucesso reprodutivo das plantas nativas (Silveira et al., 2002).
Ausência em áreas de florestas não alteradas da Amazônia: razão para a pesquisa
Na Amazônia, a despeito da exuberância e da grande extensão territorial da floresta, as abelhas africanizadas dificilmente são vistas ou coletadas no interior de florestas densas (M.L. Oliveira, Obs. Pess.; Silva, 2005). Diante dessa observação, os pesquisadores espalharam diversas iscas no interior de fragmentos de florestas e de florestas contínuas na Amazônia central, para testar se operárias de abelhas africanizadas seriam capazes de penetrar nos mesmos.
Resultados: ausência de africanizadas no interior da floresta
O estudo de Oliveira e Cunha observou que nenhuma operária de abelhas africanizadas visitou qualquer tipo de isca nos fragmentos ou na mata contínua, somente nas áreas desmatadas. Os motivos das abelhas africanizadas não terem visitado nenhum tipo de iscas dentro da floresta contínua e nem mesmo dentro dos fragmentos, ainda não estão claros, apesar de terem sido utilizadas iscas que são muito atrativas. Algumas hipóteses são sugeridas:
a) Parece que existe uma baixa densidade populacional de abelhas africanizadas na região amazônica;
b) É provável que em sua migração rumo ao norte do continente, as abelhas africanizadas, por não encontrarem condições favoráveis na Amazônia central, a contornaram através de rios, estradas e áreas abertas disponíveis;
c) Nos trópicos úmidos as abelhas melíferas européias geralmente fracassam na produção de excedentes de mel, pois suas colônias são debilitadas por fungos, doenças microbianas, ataques de formigas, abelhas e vespas ou destruídas por vertebrados predadores de ninhos. Este parece ser o caso das africanizadas também;
d) Em condições de alta pluviosidade como as existentes em grande parte da Amazônia, o aporte de néctar poderá ser menor que o consumo, isso porque as operárias não costumam sair da colméia durante as chuvas e, após as mesmas, só encontram flores lavadas. Por conta disso, os estoques de alimentos diminuem e a rainha também diminui ou pára a postura, sendo que a presença de crias é um dos fatores que evitam que abandonem o ninho. Por outro lado, aumentam as dificuldades para se alimentar as crias, ficando estas mal nutridas e sujeitas a doenças, favorecendo, por exemplo, o surgimento da podridão da cria européia;
e) É possível que por obterem os recursos necessários de modo mais fácil em ambientes abertos, as operárias não penetrem nas florestas, onde a livre circulação é dificultada e onde teriam que percorrer extensas áreas para encontrar os recursos que precisam. Em estudo recente realizado em Roraima, Silva (2005) verificou que abelhas africanizadas, italianas e cárnicas forrageiam sobretudo em ervas(43%) mais comuns em áreas abertas;
f) Outra facilidade encontrada pelas abelhas africanizadas nas áreas desmatadas é que o forrageio pode ser feito nos estratos mais baixos, onde as plantas invasoras e pioneiras atingem algo em torno de 15 m (Nee, 1995), enquanto nas florestas as copas das árvores situam-se a 30-37m em média (Bierregaard & Lovejoy, 1988);
Impacto das africanizadas nas abelhas nativas da Amazônia (abelhas sem ferrão): parece mínimo pois uma prefere áreas abertas e a outra as florestas fechadas
O estudo de Oliveira e Cunha corroboram os de Dick (2001), obtidos nas mesmas áreas. Este último autor constatou que abelhas africanizadas foram praticamente os polinizadores exclusivos dos indivíduos da árvore Dinizia excelsa (Fabaceae) localizados nas capoeiras, mas jamais foram vistas visitando os indivíduos localizados nas florestas contínuas.
Este dado indica que assim como as africanizadas herdaram a maior parte dos hábitos de nidificação, reprodução, enxameamento e características corporais das africanas, também podem ter herdado preferência por locais de vegetação adulterada, ou mais aberta como as savanas da África.
No que toca a competição direta entre as africanizadas e as nativas da Amazônia Roubik (1978, 1983) não presenciou nenhum efeito significativo das abelhas africanizadas sobre as colônias de abelhas sem ferrão (Apidae: Meliponini) em uma zona de transição de floresta-savana na Guiana Francesa. Entretanto, notou que em altas densidades de africanizadas, ocorre uma redução do número de abelhas sem ferrão (Meliponinae). Essa interferência, segundo o autor, deve ser casual ou provocada por algum tipo de interação química.
Porém, Roubik (1980) sugere que, por conta da capacidade de comunicar a distância e a posição da fonte de alimento, maior tamanho corporal e formação de colônias mais populosas, as africanizadas são superiores, na competição, às abelhas nativas.
Impactos negativos das africanizadas são mais evidentes nas plantas
Os impactos negativos parecem ser mais comuns em formações vegetativas mais abertas, onde as abelhas africanizadas, pelo visto, são mais comuns. Por exemplo, Roubik (1996b) verificou que Apis mellifera é responsável por 100% das visitas em dormideira (Mimosa pudica, Mimosaceae) em áreas de floresta levemente perturbadas na Guiana Francesa, porém, em florestas contínuas essas visitas foram mais variáveis.
Também no Brasil há indícios de que, se existem impactos negativos, eles são mais comuns em formações vegetativas mais abertas. Em campos rupestres, por exemplo, Clusia arrudae (Clusiaceae) é polinizada quase que exclusivamente por abelhas Eufriesea nigrohirta (Friese, 1899). As visitas de abelhas africanizadas causaram diminuição na produção de sementes dessa planta, pois visitam intensamente as flores masculinas e raramente as femininas (Carmo & Franceschinele, 2000). Também em Vellozia leptopetala e V. epidendroides (Velloziaceae), as africanizadas promoveram efeitos negativos na polinização, diminuindo o número de sementes e afugentando outros visitantes (Jacobi, 2002).
Apesar da floresta exuberante e rica em floradas, apicultura em grande escala na região parece ser inviável
Os resultados obtidos na pesquisa comprometem, segundo os autores, a sustentabilidade e, por conseguinte, a viabilidade econômica de uma apicultura em grande escala na região amazônica, sobretudo nas áreas mais densamente vegetadas, a despeito de sua imensidão territorial e riqueza florestal.
Durante muito tempo se pensou que diante de uma floresta tão rica, as abelhas africanizadas obteriam recursos em tão grande quantidade e qualidade que tornariam a apicultura, nessa região, mais rentável que nas demais.
Se o pleno desenvolvimento da apicultura requer grandes áreas abertas para as abelhas forragearem, uma alternativa para a região amazônica seria a utilização das diversas áreas degradadas existentes, como as que outrora foram destinadas às pastagens, até como tentativa de acelerar a recuperação dessas áreas.
O fato de nenhuma operária africanizada ter sido vista visitando as iscas na floresta contínua ou mesmo nos fragmentos de floresta, ocorrendo visitas somente nas áreas desmatadas e capoeiras próximas, indica a inexistência de competição por recursos com as abelhas nativas no interior da floresta amazônica. Também indica que uma apicultura em grande escala na região seria inviável, uma vez que a floresta não é sequer visitada por essas abelhas.
Leia o artigo completo clicando aqui:
Referência: Abelhas africanizadas Apis mellifera scutellata Lepeletier, 1836 (Hymenoptera: Apidae: Apinae) exploram recursos na floresta amazônica?
1 Comments:
Cabe novas pesquisas e possivelmente, um novo cruzamento, entre a abelha nativa e a européia africanizada!,
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