Google
Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

24 julho 2006

ACRE: DERRUBAR PODE, QUEIMAR TALVEZ!

DECISÃO DO MP ACEITA DERRUBADAS DE ATÉ 1 HECTARE

QUEIMADAS ESTÃO PERMITIDAS EM OUTUBRO, QUANDO JÁ ESTÁ CHOVENDO NO ACRE

Assim pode ser interpretada a decisão do Ministério Público do Acre publicada no site Notícias da Hora. O anúncio foi feito nesta segunda-feira, na sede do Ministério Público Estadual pela procuradora do meio ambiente, Mery Cristina, diante de autoridades ligadas a área ambiental do Estado.

A decisão permite que pequenos agricultores de subsistência de Acrelândia, Rio Branco, Sena Madureira, Eptaciolândia, Brasiléia, Capixaba, Senador Guiomard, Porto Acre, Plácido de Castro e Assis Brasil recebam licenciamento para realizar queimadas somente a partir do mês de outubro.

Segundo o secretário estadual de meio ambiente, Edgar de Deus, a decisão foi tomada após diversas reuniões e consulta aos próprios produtores: “nós conversamos com os pequenos produtores e ficou acertado que eles aproveitem esses dois meses para se prepararem para a queima”. Segundo Edgar, o acordo estabelecido permite praticar o fogo em até um hectare.

Os fazendeiros estão proibidos de queimar pastagens, como tradicionalmente fazem todos os anos. Considerando que o preço da arroba de carne está valendo cerca de R$ 35, contra R$ 45-50 do ano passado, é de se esperar que a maioria deles sequer derrubem novas áreas de florestas como tradicionalmente faziam. Pelo menos até o preço da carne se recuperar.

A determinação do Ministério Público, enviada aos órgão ambientais, não foi, segundo o mesmo, unilateral: “foi de todos que lidam com a questão do meio ambiente, inclusive com a aprovação da sociedade”, disse a procuradora Patrícia Rego.

Em teoria as queimadas em 2006 não deverão ocorrer

Se cumprida à risca, a decisão significa que derrubadas ocorrerão, mas o fogo talvez não venha a consumir as árvores derrubadas. Como sabemos, para queimar é necessário, obviamente, derrubar a floresta. Assim, estimamos que até o final de agosto milhares de pequenos agricultores deverão por abaixo milhares de hectares de florestas primárias na região. Depois disso eles deverão aguardar algumas semanas para que as árvores sequem no solo, até atingir o estágio onde o fogo possa queima-las por completo. Árvores recém-derrubadas, muito úmidas, não pegam fogo. A determinação do MP só permite queimar depois do início de outubro.

Tem apenas um detalhe. Historicamente as derrubadas no Acre são realizadas até o final de julho, no auge do período seco, e as queimadas - em sua maioria - são realizadas na primeira semana de setembro. A razão? É que depois da primeira semana de setembro sempre acontecem chuvas, que vão ficando mais frequentes até o final do mês. No início de outubro além de chuvas frequentes, acontecem os "tornados acreanos", as famosas chuvas com ventania que costumam causar muitos prejuízos. Esperar até o fim de setembro para queimar aumenta as chances das árvores estarem encharcadas na hora que se puder fazer a queima. Quem tiver sorte vai queimar, mas a maioria provavelmente não vai ter este previlégio.

Ano político influenciou a decisão

Considerando que 2006 é um ano político e que as eleições acontecem exatamente no início de outubro, é fácil entender que a decisão do MP foi política. É que se as coisas fossem acontecer como no ano passado, haveria uma grande probabilidade da eleição acontecer em meio a um intenso fumaceiro. Eleitores tendo que votar usando máscaras podem se rebelar e votar impensadamente.

Quem diria que um dia derrubadas, queimadas e fumaça poderiam ter tanta importância política! É torcer para que os ventos não tragam para o Acre a fumaça da Bolívia, Rondônia e Mato Grosso exatamente neste período.